Aedes aegypti dengueFiocruz/Vinicius Marinho Scaled

Aumento da dengue está associado às mudanças climáticas e degradação ambiental

Estudo ressalta que crescimento de casos tem relação com a degradação ambiental

As constantes ondas de calor causadas pelas mudanças climáticas, associadas à urbanização incompleta e à grande circulação de pessoas estão influenciando na expansão da dengue em todo o Brasil. Na região Sul, por exemplo, a doença não era tão expressiva.

Isso é o que revela um estudo do pesquisador Christovam Barcellos, do Observatório de Clima e Saúde, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde. No artigo, Barcellos ressalta que isso está ocorrendo por conta da degradação ambiental das barreiras naturais.

“No interior do Paraná, Goiás, Distrito Federal e Mato Grosso do Sul, o aumento de temperaturas está se tornando quase permanente. A gente tinha cinco dias de anomalia de calor, agora são 20, 30 dias de calor acima da média ao longo do verão. Isso dispara o processo de transmissão de dengue, tanto por causa do mosquito quanto pela circulação de pessoas”, explica o pesquisador.

Regiões com altitudes elevadas, que antes funcionavam como barreira para a transmissão da dengue, tornaram-se áreas de altas taxas de incidência. O estudo aponta os casos da doença coincidem, em grande parte, com o Rio Paraná. Essas regiões, até 2013, registravam apenas alguns dias de altas temperaturas, já que a mata era preservada.

Em 10 anos, o cenário de preservação ambiental mudou e, com isso, a barreira que existia e que freava a transmissão da dengue foi destruída. O estudo deixa claro que, embora exista uma tendência ascendente na temperatura média da superfície global, a distribuição do calor em cada região pode variar dependendo da cobertura vegetal.

A região Sul, por exemplo, que apresentava baixa frequência de anomalias, passou a ter até 10 dias de anomalias de temperatura por mês nos últimos anos. “Entre os fatores socioambientais implicados estão a ocorrência de eventos climáticos extremos, como secas e inundações, e a expansão da fronteira econômica em direção à Amazônia por meio da construção de estradas e da degradação de florestas virgens”, detalha o artigo.

A reprodução do mosquito da dengue é viável entre 18 e 33 °C e a faixa ideal para manutenção da transmissão do vírus é de 21 a 30 °C. Na última semana, o Paraná decretou situação de emergência para a dengue por 90 dias.

O objetivo é reforçar as ações de controle e combate à doença. Entre os principais pontos estão a intensificação das visitas domiciliares, recomendações relacionadas à aquisição de larvicidas e a importância do cumprimento das determinações sanitárias.

Em Curitiba, cinco bairros concentram quase metade dos casos de dengue confirmados em 2024 na cidade. Até 8 de março, a capital paranaense somava 808 diagnósticos positivos da doença, de acordo com dados da prefeitura.

Só na Cidade Industrial de Curitiba, são 94 confirmações. Os outros quatro bairros com mais casos são, na ordem: Cajuru (75), Campo do Santana (73), Sítio Cercado (73) e Tatuquara (54). Os cinco bairros, juntos, contabilizam 45% dos casos de dengue na cidade.

“A concentração desses mosquitos acaba sendo nos locais onde a gente tem uma maior possibilidade de o mosquito se proliferar, recipientes e espaços das casas com acúmulo de água. Com esse calor intenso e tanta chuva a proliferação do mosquito é mais rápida e intensa”, explica a secretária municipal de Saúde, Beatriz Battistella.

 Ao todo, o Paraná soma 90.972 confirmações. Dos 399 municípios do Estado, 397 registraram notificações. As regionais de saúde com mais casos confirmados são a de Apucarana, com 17 mil, Cascavel, com 11 mil, e Francisco Beltrão, com 8 mil.