Sem provas, Bolsonaro questiona eficácia de Coronavac e diz que mandou investigar preço

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a a questionar a eficácia da Coronavac nesta quinta-feira (22) e disse que mandou investigar uma suposta diferença de preço entre o imunizante contra Covid produzido na China, pela Sinovac, e o feito pelo Butantan, ligado ao governo de São Paulo, de seu desafeto, João Doria (PSDB).

De acordo com Bolsonaro, o governo recebeu documentos da “empresa que fabrica aí a Coronavac, a matriz lá que fornece o IFA, é na China” oferecendo o imunizante a US$ 5, enquanto o Butatan oferece a vacina a US$ 10.

O mandatário afirmou ter acionado a CGU (Controladoria-Geral da União), o Ministério da Justiça e o TCU (Tribunal de União).

“O que aconteceu com o Butantan? E outra, o Butantan também foi oficiado por nós para que se explique por que a matriz nos oferece a vacina pronta a US$ 5 e eles, Butantan, ao receber o IFA da China, nos revende a US$ 10 a vacina”, disse Bolsonaro em entrevista à rádio Banda B, de Curitiba (PR).

“Pode ser que não haja nada de errado nisso tudo, mas o Butantan nunca nos deu, nunca nos apresentou as planilhas de preço, toda a cadeia, o custo final da vacina. Só diz que são US$ 10. Então, temos agora, sim, uma questão para ser investigada. Pode não ser nada? Pode. Mas, pelo que tudo indica no momento, é algo assustador que vem acontecendo lá no Butantan”, insistiu o presidente.

Bolsonaro disse que “obviamente que interessa para nós, ao continuar usando a Coronavac no Brasil, comprar diretamente da China pela metade do preço do que pagar o dobro no Butantan”, mas afirmou que “não estou acusando de corrupção, de desvio, de nada”.

Ao longo da entrevista, Bolsonaro questionou eficácia do imunizante que garantiu o início da vacinação contra Covid no Brasil, em janeiro.

“Sabemos dos problemas que a vacina chinesa, Coronavac, vem ocasionando em alguns países, como Chile, por exemplo, e aqui no Brasil também. Pessoas que tomaram duas doses e foram infectados ou reinfectadas. Então, a eficácia da Coronavac está lá embaixo, realmente”, afirmou.

Bolsonaro disse ainda que “até hoje a Coronavac não tem comprovação científica” e que os brasileiros não querem tomar este imunizante.

“O povo chega lá, o pessoal pergunta: ‘qual a vacina tem?’. Se é Coronavac, a tendência é não aceitar”, disse Bolsonaro, antes de colocar em dúvida futuras compras do imunizante.

“Não adianta a gente comprar mais X milhões de doses da Coronavac se a população aqui não quiser tomar.”

Em entrevista ao UOL, o governador de São Paulo chamou Bolsonaro de “bobão” e “negacionista”.

“Desde março do ano passado, quando tivemos a constatação do primeiro caso (de Covid-19), ele vem se comportando como um bobo, como um negacionista, como alguém sem compaixão com seu povo. O Brasil lamentavelmente é um péssimo exemplo para o mundo, 545 mil mortes, e um presidente que defende cloroquina ao invés de defender vacina”, afirmou Doria ao portal.

Bolsonaro faz novo ataque a sistema eleitoral e justifica troca de militares pelo centrão no Planalto

Em mais uma tentativa de desacreditar o sistema eleitoral brasileiro, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse nesta quinta-feira (22) que não pode admitir que “meia dúzia pessoas, de forma secreta” contabilizem os votos no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

“Eu não estou acusando servidores do TSE. Eu não posso admitir que meia dúzia de pessoas tenham a chave criptográfica de tudo, e essa meia dúzia pessoas, de forma secreta, conte os votos numa sala lá do TSE. Isso não é admissível”, disse Bolsonaro em entrevista à rádio Banda B, de Curitiba (PR).

“A própria Constituição fala em contagem pública dos votos. O que que nós queremos? Olha o que que eu estou querendo. Estou querendo transparência. Nada mais além disso. Não podemos terminar as eleições de 2022 e o povo aí ficar na dúvida. ‘Será que este cara ganhou? Será que o processo foi limpo, foi transparente?'”, afirmou o presidente.

Bandeira do bolsonarismo, o voto impresso tem sido usado insistentemente por Bolsonaro para fazer ameaças golpistas contra as eleições de 2022. Ele já afirmou, várias vezes, que se a mudança não ocorrer não haverá eleições, o que provovou reações de partidos, do Supremo e do Congresso.

Na entrevista, Bolsonaro confirmou o nome do senador Ciro Nogueira (PP-PI) para comandar a Casa Civil e justificou a troca de um militar por um líder do centrão na reforma ministerial que decidiu conduzir agora, momento de fragilidade do governo.

“Quando eu coloco um militar dentro do governo, há críticas também: ‘Mais um militar’. Boto um parlamentar: ‘Ah, um parlamentar’. Pessoal, se você tem críticas a deputados do centro, não vote mais nesses candidatos por ocasião das eleições do ano que vem. É simples a coisa”, afirmou Bolsonaro.

Diante das críticas por se aproximar ainda mais do centrão, o mandatário disse ter nascido do grupo de partidos conhecido pela troca de apoio por cargos e emendas.

“Todo e qualquer partido tem gente boa e gente que não está muito interessada em fazer a coisa certa. Agora, eu tenho e pretendo, dentro das quatro linhas da Constituição, buscar apoio dentro do Parlamento.”

Bolsonaro disse que a reforma ministerial é algo “praticamente certo”. Vamos botar um senador aqui na Casa Civil que pode manter um diálogo melhor com o parlamento brasileiro”, afirmou.

O mandatário disse já ter conversado com o senador e que o convite foi aceito. Ele o encontrará na segunda-feira (26) para o acerto final.

“Não vamos ter problema nenhum no tocante a bem conduzirmos as questões afetas à Casa Civil. E a Casa Civil é o ministério mais importante nosso, é o que trata da coordenação entre os ministérios. Então, é uma pessoa que nos interessa pela sua experiência, que pode, no meu entender, fazer um bom trabalho aqui”, declarou.

Bolsonaro minimizou o descontentamento do atual titular da Casa Civil, o general Luiz Eduardo Ramos, que será deslocado para a Secretaria-Geral, um ministério que tem menos relevância, apesar de ficar fisicamente localizado próximo ao presidente, no Palácio do Planalto.

“Na área militar é assim, a gente costuma tomar algumas decisões sem ouvir muita gente. Se bem que o Ramos está todo dia aqui, cinco, seis vezes comigo. Ele sabe qual é o comportamento e a nossa intenção”, disse Bolsonaro.

“Ele não saiu. Ele continua sendo ministro, um ministério importante que ele ocupa também, chama-se ministro palaciano, está o tempo todo em contato conosco. E esses ministros palacianos sempre trazem informações de outros ministérios.”

Bolsonaro também confirmou que o atual chefe da Secretaria-Geral, Onyx Lorenzoni, vai ocupar o Ministério do Trabalho e Previdência, que será recriado a partir do desmembramento de duas secretarias do ministro Paulo Guedes (Economia).

“Esse que é o quadro pintado aqui agora. Nenhuma mudança drástica no meu entender. Acho que melhora a interlocução com o Parlamento e nós continuamos dentro da normalidade aqui, conduzindo o destino da nação”, afirmou.

Bolsonaro aproveitou a entrevista para rebater críticas por sua aproximação com o centrão, o que ele e aliados condenaram durante toda a campanha presidencial de 2018.

Naquela época, o atual titular do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno, chegou a cantar “se gritar pega centrão, não fica um, meu irmão”. Bolsonaro disse que não pode governar com apenas um quinto da Câmara e disse que o termo “centrão” é pejorativo.

“São alguns partidos que lá atrás se uniram na campanha do . São pouco mais de 200 pessoas. Se você afastar esse partido de centro, sobram 300 votos para mim. Se afasta cento e poucos parlamentares de esquerda, PT, PCdoB e PSDB, eu vou governar com um quinto da Câmara. Não tem como governar com um quinto da Câmara”.

As mudanças serão feitas em meio a uma série de pressões sobre Bolsonaro, incluindo mais de cem pedidos de impeachment na Câmara, perda de popularidade, desvantagem sobre Lula nas pesquisas eleitorais para 2022, investigação da CPI da Covid no Senado, instabilidades na base governista e negociações do fundo eleitoral bilionário.

A aliança de Bolsonaro com o centrão, buscada pelo presidente no ano passado diante de uma série de pedidos de impeachment que já se acumulavam na Câmara, enterrou de vez o discurso bolsonarista, explorado à exaustão durante a campanha de 2018, de que o presidente não se renderia ao que chamava de a velha política do “toma lá, dá cá”.

Para atender o centrão, o governo faz promessas de liberação de bilhões em emendas parlamentares e agora prepara até a recriação de ministérios, contrariando outro discurso da campanha, o do enxugamento da máquina pública.

Hoje o governo Bolsonaro tem 22 ministérios, 7 a mais do que os 15 prometidos na campanha eleitoral -sob a gestão de Michel Temer (MDB), seu antecessor, eram 29 ministérios. A administração atual chegou a ter 23 ministérios, mas o Banco Central perdeu este status com a aprovação de sua autonomia.

Fragilizado, Bolsonaro prepara mudanças no governo para ceder mais poder ao centrão

Em seu momento de maior fragilidade no governo, Jair Bolsonaro (sem partido) prepara uma reforma ministerial com a previsão de dar mais poder ao centrão, bloco político que era criticado no discurso do atual presidente e que se tornou sua base de sustentação no Congresso.

O mandatário disse nesta quarta-feira (21) que as mudanças ocorrerão até a próxima semana, mas a expectativa é a de que se concretizem até sexta (23).

Elas serão feitas em meio a uma série de pressões sobre Bolsonaro, incluindo mais de cem pedidos de impeachment na Câmara, perda de popularidade, desvantagem sobre Lula nas pesquisas eleitorais para 2022, investigação da CPI da Covid no Senado, instabilidades na base governista e negociações do fundo eleitoral bilionário.

O desenho definido por enquanto envolve trocas em três pastas: o senador Ciro Nogueira (PP-PI) vai para a Casa Civil no lugar do general Luiz Eduardo Ramos, que passa para a Secretaria-Geral, hoje ocupada por Onyx Lorenzoni (DEM-RS).

Já Onyx, pelos planos atuais, ocupará o Ministério do Trabalho e da Previdência, que será recriado com a publicação de medida provisória prevendo a divisão do Ministério da Economia, de Paulo Guedes.

A aliança de Bolsonaro com o centrão, buscada pelo presidente no ano passado diante de uma série de pedidos de impeachment que já se acumulavam na Câmara, enterrou de vez o discurso bolsonarista, explorado à exaustão durante a campanha de 2018, de que o presidente não se renderia ao que chamava de a velha política do “toma lá, dá cá”.

Para atender o centrão, o governo faz promessas de liberação de bilhões em emendas parlamentares e agora prepara até a recriação de ministérios, contrariando outro discurso da campanha, o do enxugamento da máquina pública.

Hoje o governo Bolsonaro tem 22 ministérios, 7 a mais do que os 15 prometidos na campanha eleitoral -sob a gestão de Michel Temer (MDB), seu antecessor, eram 29 ministérios. A administração atual chegou a ter 23 ministérios, mas o Banco Central perdeu este status com a aprovação de sua autonomia.

Um dos objetivos da troca é organizar a base do governo e dar mais visibilidade a ações de Bolsonaro que serão tomadas daqui em diante, como a reformulação do Bolsa Família, considerada peça-chave para a campanha à reeleição do mandatário em 2022.

Além disso, o presidente pretende se aproximar ainda mais do centrão. O senador Ciro Nogueira é presidente nacional do PP e um dos principais líderes do bloco de partidos que sustenta a base de apoio a Bolsonaro no Congresso.

“Estamos trabalhando, inclusive, uma pequena mudança ministerial, que deve ocorrer na segunda-feira, para ser mais preciso, para a gente continuar aqui administrando o Brasil”, disse Bolsonaro em entrevista à rádio Jovem Pan de Itapetininga, também transmitida por suas redes sociais.

A troca na Casa Civil também contempla a insatisfação no Congresso com o atual ministro, o general da reserva Luiz Eduardo Ramos. Bolsonaro estava sendo pressionado a trocar o general da Casa Civil e estudava fazer essa alteração. ​

Amigo de Bolsonaro que ganhou força ao coordenar a última dança das cadeiras no governo, em março, Ramos vinha sendo alvo de queixas de parlamentares, inclusive do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), correligionário e muito próximo a Ciro Nogueira.

Auxiliares de Bolsonaro relataram que Ramos demonstrou insatisfação com a mudança. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, ele se disse surpreendido.

“Eu não sabia, estou em choque. Fui atropelado por um trem, mas passo bem”, afirmou Ramos, que se disse “um soldado” que “não escolhe missão”, mas explicitou que a mudança é por “motivos políticos”.

“Se eu estivesse sendo trocado por alguém formado em Oxford ou Harvard, tudo bem, poderiam dizer que falhei. Mas é por um político aliado do presidente, é assim que funciona”, disse.

Bolsonaro avalia que precisa melhorar sua articulação politica, especialmente no Senado, onde a CPI da Covid avança sobre o governo e onde tramitam duas significativas indicações do Palácio do Planalto -a do atual advogado-geral da União, André Mendonça, para uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal) e a da recondução de Augusto Aras ao comando da PGR (Procuradoria-Geral da República).

“Parlamentar experiente, com boa interlocução na Câmara e no Senado, Ciro Nogueira reúne as credenciais para ampliar o apoio ao governo, avançar com a agenda econômica e contribuir para a construção de políticas públicas. Excelente escolha do presidente Bolsonaro no sentido de aperfeiçoar a relação com o Congresso!”, escreveu em uma rede social o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE).

No Planalto, Ramos não era próximo da ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda (PL-DF), que, por sua vez, precisava de alguém com maior trânsito entre os senadores para ajudá-la na articulação política do Executivo.

Além disso, havia no Planalto o temor de que Ciro Nogueira se distanciasse do governo.

Ele já vinha aparecendo cada vez menos em defesa de Bolsonaro na CPI da Covid e, na semana passada, não escondia sua insatisfação com a liberação de recursos para o Governo do Piauí. O governador Wellington Dias (PT) é seu adversário político.

O senador aceitou o convite para assumir a Casa Civil ainda na terça. Ciro Nogueira seria candidato ao governo de seu estado, mas, com a decisão de virar ministro, já admite a pessoas próximas que deve abrir mão de entrar na disputa.

O plano de alterações no governo também se consolidou após Bolsonaro afirmar que vai vetar um fundo eleitoral turbinado de R$ 5,7 bilhões, promessa que tem potencial de desagradar parlamentares do centrão.

O presidente e seu governo vêm assistindo a uma escalada de impopularidade. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), hoje seu principal adversário, ampliou vantagem nas intenções de voto para 2022 e cravou 58% a 31% no 2º turno, segundo pesquisa mais recente do Datafolha.

Diante deste cenário, a pressão sobre Bolsonaro cresceu no Congresso. Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o vice-presidente da Câmara, deputado Marcelo Ramos (PL-AM), disse que as ameaças de Bolsonaro sobre a não realização das eleições de 2022 são um “claro crime de responsabilidade”.

Ele afirmou que estuda a possibilidade de acatar um pedido de impeachment no exercício provisório da presidência. Recentemente, ele pediu para ter acesso aos pedidos protocolados na Câmara.

Um dos ministérios mais importantes na Esplanada, a Casa Civil tem a função de organizar e coordenar as diferentes ações de governo. A pasta atua sempre que uma determinada medida necessita da articulação de dois ou mais ministérios.

O chefe da Casa Civil despacha a poucos passos do gabinete presidencial e costuma ser chamado a opinar antes das principais decisões do mandatário.

Por essas características, a Casa Civil tem um histórico de ex-ministros que atuaram como braço direito dos seus presidentes.

No início do governo Lula, por exemplo, o ministério ficou com José Dirceu, homem forte do PT que só deixou o posto na esteira do escândalo do mensalão. A substituta de Dirceu foi Dilma Rousseff, que acabou sucedendo o próprio Lula na Presidência.

Eleita, Dilma escolheu Antonio Palocci para a Casa Civil, que assumiu o cargo com status de superministro -ele durou poucos meses no Planalto e pediu demissão após revelações feitas pela Folha de S.Paulo sobre o aumento de seu patrimônio.

Depois do impeachment de Dilma, o ex-presidente Michel Temer escalou um de seus aliados mais próximos para a Casa Civil. Como ministro, Eliseu Padilha também atuou como um articulador político do governo, envolvendo-se de perto nas negociações que levaram à aprovação do teto de gastos e à rejeição, na Câmara, de denúncias feitas pela PGR contra Temer.

Ao escolher Ciro Nogueira, Bolsonaro consolida ainda mais seu casamento com o centrão, bloco de partidos fisiológicos que reúne cerca de 150 parlamentares. Atualmente há representantes do grupo na Secretaria de Governo, com Flávia Arruda, nas Comunicações, com Fábio Faria (PSD-RN, mas que deverá se filiar ao PP), e na Cidadania, com João Roma (Republicanos-BA).

O centrão já foi alvo de críticas tanto de Bolsonaro como de seus auxiliares mais próximos. Ainda antes de assumir o GSI (Gabinete de Segurança Institucional), o general Augusto Heleno cantou num ato partidário: “se gritar pega centrão, não fica um meu irmão”.

Por uma questão de sobrevivência, o discurso eleitoral de Bolsonaro deu lugar ao pragmatismo. No início da aproximação com o bloco, o mandatário se justificou como necessidade de governabilidade.

A mudança também representa um afastamento dos militares do núcleo decisório do governo. General da reserva, Ramos sai de um cargo estratégico para um ministério de menor importância.

Sob o guarda-chuva da Secretaria-Geral está a SAJ (Subchefia para Assuntos Jurídicos), estrutura que tem despachos diários com o presidente. Mas seu titular, Pedro Cesar Sousa​, hoje reporta-se diretamente a Bolsonaro.

O rearranjo no Palácio do Planalto também pode ter um componente eleitoral, uma vez que Bolsonaro teve seus planos de ingresso no nanico Patriota dificultados por problemas internos da legenda.

Diante disso, o mandatário voltou a considerar filiação ao PP.

Por um lado, a parceria garantiria ao presidente apoio político e mais recursos para a campanha de reeleição em 2022, enquanto que o partido passaria a ter perspectiva de eleger uma bancada ainda maior de deputados federais.

Por outro lado, Ciro Nogueira é um presidente partidário forte, o que dificulta a intenção original de Bolsonaro de controlar a legenda que o abrigará para o pleito do ano que vem.

NÚMERO DE MINISTÉRIOS

Antes de Bolsonaro

29 (gestão Michel Temer), sendo 1 (3,4%) comandado por mulher

​Promessa de campanha de Bolsonaro

15

Da posse de Bolsonaro até 10/06/2020*

22, sendo 2 (9%) comandados por mulheres

De 10/06/2020 a 24/02/2021**

23, sendo 2 (8,7%) comandados por mulheres

24/02/2021 a 30/03/2021*

22, sendo 2 (9%) comandados por mulheres

De 30/03/2021 a 21/07/2021

22, sendo 3 (13,6%) comandados por mulheres

Com a recriação do Ministério do Trabalho

23, sendo 3 (13%) comandados por mulheres

*recriação do Ministério das Comunicações

** Banco Central ganha autonomia e perde status de ministério

* indicação de Flávia Arruda para a Secretaria de Governo

Fragilizado, Bolsonaro prepara reforma ministerial com líder do centrão na Casa Civil e recriação do Trabalho

Em seu momento de maior fragilidade no governo, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse nesta quarta-feira (21) que fará uma reforma ministerial na próxima semana.

O martelo sobre as mudanças foi batido nesta quarta (20). O desenho que estava definido até a manhã desta quarta-feira envolve trocas em três pastas: Ciro Nogueira (PI) vai para a Casa Civil no lugar do general Luiz Eduardo Ramos, que passa para a Secretaria-Geral, ocupada por Onyx Lorenzoni (DEM).

Já Onyx, pelos planos atuais, ocupará o Ministério do Trabalho e Emprego, que será recriado com a divisão do Ministério da Economia, de Paulo Guedes. A expectativa é a de que as mudanças se concretizem até sexta (22), com a publicação da medida provisória que recriará o Ministério do Trabalho.

Como a Folha mostrou no mês passado, Bolsonaro estava sendo pressionado a trocar Ramos da Casa Civil e estudava fazer essa alteração.

Um dos objetivos da troca é organizar a base do governo e dar mais visibilidade a ações de Bolsonaro que serão tomadas daqui em diante, como a reformulação do Bolsa Família, consideradas peça-chave para a campanha à reeleição do mandatário.

Além disso, o presidente pretende se aproximar ainda mais do centrão. Nogueira (PI) é presidente nacional do PP, um dos principais líderes do bloco de partidos que sustenta a base de apoio a Bolsonaro no Congresso.

“Estamos trabalhando, inclusive, uma pequena mudança ministerial, que deve ocorrer na segunda-feira, para ser mais preciso, para a gente continuar aqui administrando o Brasil”, disse Bolsonaro em entrevista à rádio Jovem Pan de Itapetininga, também transmitida por suas redes sociais.

A possível troca na Casa Civil também contempla a insatisfação no Congresso com o atual ministro, o general da reserva Luiz Eduardo Ramos.

Amigo de Bolsonaro que ganhou força ao coordenar a última dança das cadeiras no governo, em março, Ramos vinha sendo alvo de queixas de parlamentares, inclusive do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), correligionário e muito próximo a Ciro.

Bolsonaro sabe que precisa melhorar sua articulação politica, especialmente no Senado, onde a CPI da Covid avança sobre o governo e onde duas significativas indicações do Palácio do Planalto -a do atual advogado-geral da União, André Mendonça, ao STF (Supremo Tribunal Federal) e a da recondução de Augusto Aras ao comando da PGR (Procuradoria-Geral da República).

Além disso, há no Planalto o temor de que Ciro Nogueira se distancie do governo. Ele já vem aparecendo cada vez menos em defesa de Bolsonaro na CPI da Covid e, na semana passada, não escondia sua insatisfação com a liberação de recursos para o governo do Piauí, seu adversário político.

Bolsonaro indica André Mendonça, seu ministro terrivelmente evangélico, para vaga no Supremo

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) indicou o atual ministro da AGU (Advocacia-Geral da União), André Luiz de Almeida Mendonça, 48, para a vaga no STF (Supremo Tribunal Federal) aberta pela aposentadoria de Marco Aurélio Mello.

A indicação de Mendonça representa não apenas a escolha de um contumaz defensor do presidente para a corte, a segunda feita por Bolsonaro. A escolha dele também é um aceno à base evangélica. Desde 2019, o mandatário prometia indicar um nome “terrivelmente evangélico” para o STF.

A promessa foi descumprida em outubro de 2020, quando escolheu Kassio Nunes Marques para a vaga de Celso de Mello. Mas agora, com o eleitorado evangélico dividido entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o chefe do Executivo cumpriu o que prometeu.

A indicação é só o primeiro passo de Mendonça rumo a uma cadeira no STF. Para chegar lá, o pastor presbiteriano precisará ser sabatinado e aprovado pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado. Depois disso, o escolhido de Bolsonaro ainda precisa ser aprovado pelo plenário da Casa.

Para não se frustrar, Mendonça já vinha conversando com senadores para diminuir a resistência a seu nome. O candidato a ministro do Supremo tende a ter mais dificuldade diante da nova tensão entre os Poderes provocada por declarações golpistas de Bolsonaro, que, sem provas, acusa fraudes nas eleições e chegou a acenar com a possibilidade de que o pleito não aconteça no ano que vem.

Pós-graduado em direito pela UnB (Universidade de Brasília) e pastor na Igreja Presbiteriana Esperança, na capital federal, Mendonça é doutor em estado de direito e governança global e mestre em estratégias anticorrupção e políticas de integridade pela Universidade de Salamanca, na Espanha.

Ele integra a AGU desde 2000, quando encerrou sua atividade como advogado concursado da Petrobras (1997-2000). Chegou ao governo pelas mãos do hoje ministro do TCU (Tribunal de Contas da União) Jorge de Oliveira, amigo da família Bolsonaro, e do ministro da CGU (Controladoria-Geral da União), Wagner Rosário, com o apoio da bancada evangélica.

No governo Bolsonaro desde o primeiro dia, foi o responsável por indicar o atual ministro da Educação, Milton Ribeiro, também pastor presbiteriano. Mendonça deixou o comando da Advocacia-Geral da União em abril de 2020 para assumir a vaga deixada pelo ex-juiz Sergio Moro no Ministério da Justiça.

“Temos aqui um gigante do Vale do Ribeira. Esse pequeno grande homem, de um cérebro, de uma mente invejável. Muito obrigado por existir, meu prezado, depois da Damares , terrivelmente evangélico”, disse Bolsonaro na posse de Mendonça como ministro da Justiça, em 29 de abril do ano passado.

“Não sei o que é o terrivelmente. Eu sou evangélico”, respondia o ministro quando lhe perguntavam se ele era o “terrivelmente evangélico” do chefe.

Quem trabalhou com Mendonça diz que a religião é algo muito presente no dia a dia dele. Assessores o descrevem como alguém muito educado e atribuem isso à religiosidade.

Essa característica agrada o presidente, que, em uma entrevista recente, disse que o subordinado levou os colegas às lágrimas em uma reunião ministerial quando afirmou sua convicção religiosa.

Bolsonaro chegou a sugerir que, com Mendonça no STF, a corte comece sessões com orações. “Uma pitada de religiosidade, de cristianismo dentro do Supremo, é bem-vinda.”

À frente do Ministério da Justiça, André Mendonça protagonizou episódios polêmicos que o ajudaram a conquistar parte da resistência que encontra até agora no meio político.

A maioria deles envolvia a LSN (Lei de Segurança Nacional), um entulho da ditadura militar que voltou a ser usado contra críticos do presidente a pedido do próprio Bolsonaro.

Segundo relatos de assessores, no começo da gestão Bolsonaro, em sua primeira temporada como ministro da AGU, Mendonça chegou a fazer uma apresentação da LSN, mostrando como a lei estava praticamente morta.

Mas, depois, quando passou a ser instado pelo chefe a defendê-lo daquilo que considerava ofensas, o ministro passou a argumentar que estaria prevaricando se não seguisse a legislação. Um projeto para revogar a LSN está em tramitação no Senado.

O então ministro da Justiça também causou polêmica ao apresentar habeas corpus em favor do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub para evitar que ele tivesse de prestar depoimento ao STF no âmbito do inquérito das fake news.

A decisão foi criticada por especialistas por ter sido ele, e não a AGU (Advocacia-Geral da União) ou um advogado pessoal -o que consideram mais apropriado para a situação-, a apresentar o pedido e também por se tratar da defesa de alguém que havia se tornado algoz do Judiciário.

Também no ano passado, Mendonça foi alvo de críticas por causa de um relatório produzido pelo governo sobre a atuação de 579 professores e policiais identificados como antifascistas.

Segundo reportagem do UOL, o Ministério da Justiça, sob comando de Mendonça, produziu um dossiê com nomes e, em alguns casos, fotografias e endereços de redes sociais das pessoas monitoradas.

A pasta afirmou ao STF à época que não produz “dossiê” contra opositores e que nunca monitorou adversários com “viés investigativo, punitivo ou persecutório penal”.

Em resposta à corte, o então ministro da Justiça disse não negar a existência deste tipo de levantamento, mas afirmou que a pasta atua conforme a lei que disciplina a atividade de inteligência do governo federal.

Em março deste ano, Mendonça deixou o Ministério da Justiça e voltou a chefiar a AGU. A mudança ocorreu em meio a uma dança das cadeiras promovida por Bolsonaro.

Em abril, já novamente como advogado-geral da União, Mendonça voltou a ser alvo de críticas por usar argumentos religiosos para defender no STF a reabertura de templos em meio à pandemia.

Mendonça afirmou que os cristãos estão dispostos a morrer pela fé e fez diversas citações à Bíblia e a Deus. Disse ainda que aquele julgamento não era um debate entre vida e morte e que vivíamos em uma “sociedade tensa” em que parecia ser proibido divergir da posição de outras pessoas.

“Ser cristão, em sua essência, é viver em comunhão em Deus e com o próximo. A Constituição não compactua com a discriminação das manifestações públicas de fé”, disse.

“Não há cristianismo sem vida comunitária, não há cristianismo sem a casa de Deus. É por isso que os verdadeiros cristãos não estão dispostos, jamais, a matar por sua fé, mas estão sempre dispostos a morrer para garantir a liberdade de religião e culto. Que Deus nos abençoe e tenha piedade de nós”, afirmou em sua sustentação oral há três meses.

Mendonça foi corregedor da AGU na gestão de Fabio Medina Osório, no governo Michel Temer (MDB).

Conheceu Bolsonaro em 21 de novembro de 2018, no mesmo dia em que foi escolhido para comandar a Advocacia-Geral da União. A conversa, no gabinete da transição no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) de Brasília, durou cerca de 40 minutos.

O então presidente eleito nada perguntou. Os questionamentos ficaram a cargo do general Augusto Heleno, que assumiria o GSI (Gabinete de Segurança Institucional), e de Jorge Oliveira, que se tornaria ministro da Secretaria-Geral da Presidência -responsável por analisar o currículo de Mendonça e apresentá-lo ao chefe- antes de ser indicado ao TCU.

Em outubro de 2002 o advogado publicou no jornal Folha de Londrina um artigo sobre a eleição do ex-presidente Lula.

Intitulado “O povo se dá uma oportunidade”, o texto tem tom otimista. Nele, Mendonça afirma que “o Brasil cresceu e seu povo amadureceu, restando consolidada a democracia não só porque o novo presidente foi eleito pelo povo, mas porque saiu do próprio povo”.

“Fato inédito no Brasil. Um país, até então, governado por reis, por presidentes escolhidos em gabinetes ou ainda quando eleitos, lideranças formadas nas camadas sociais mais privilegiadas, sem experiência vivencial com a realidade dos milhões de brasileiros miseráveis e marginalizados (…), pelos próximos quatro anos será governado por um líder popular”, escreveu na época.

Mendonça foi procurado, mas ignorou as tentativas de contato da reportagem.

Não há espaço para prosperar pedido de impeachment, diz Mourão após denúncia de propina de US$ 1 por dose

Mesmo diante da denúncia do representante de uma vendedora de vacinas que afirmou ter recebido pedido de propina de US$ 1 por dose em troca de fechar contrato com o Ministério da Saúde, o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) disse nesta quarta-feira (30) não ver espaço para que prospere um pedido de impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

“Acho que não há espaço para prosperar um pedido de impeachment. Estamos a um ano e pouco das eleições. Vamos deixar o processo prosseguir e chegar a outubro do ano que vem para ver o que acontece”, afirmou Mourão.

Luiz Paulo Dominguetti Pereira, que se apresenta como representante da empresa Davati Medical Supply, disse à Folha de S.Paulo que recebeu pedido de propina de US$ 1 por dose em troca de fechar contrato com o Ministério da Saúde. A oferta teria partido do diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, em encontro no restaurante Vasto, no Brasília Shopping, em 25 de fevereiro.

Roberto Dias foi indicado ao cargo pelo líder do governo Bolsonaro na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). Sua nomeação ocorreu em 8 de janeiro de 2019, na gestão do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM). A Folha de S.Paulo tentou contato com Dias na noite desta terça-feira (29). Mas ele não atendeu as ligações.

“É um relato, né? Você sabe que esses assuntos não chegam para mim. Só tomo conhecimento pela imprensa. Não tenho como avaliar”, disse Mourão, quando instado a comentar a revelação de pedido de propina.

Roberto Dias foi exonerado do cargo. A demissão foi publicada no “Diário Oficial da União” desta quarta. Questionado se as últimas revelações envolvendo a compra de vacinas abalam o discurso anticorrupção do governo, Mourão afirmou que não vê a situação dessa maneira.

“O presidente falou uma coisa que é certa, ele não tem condições de controlar tudo o que está acontecendo dentro do governo. Isso é uma realidade. Então, compete a cada ministro controlar o seu feudo. E se for detectada alguma coisa que está irregular, que se tome as providências de acordo com a lei. Isso é normal acontecer”, afirmou.

Emails obtidos pela Folha mostram que o Ministério da Saúde do governo de Jair Bolsonaro negociou oficialmente venda de vacinas com representantes da Davati Medical Supply.

As mensagens da negociação foram trocadas entre Roberto Ferreira Dias, Herman Cardenas, que aparece como CEO da empresa, e Cristiano Alberto Carvalho, que se apresenta como procurador dela.

Em entrevista à Folha, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) que, com o irmão Luis Ricardo Miranda, chefe do departamento de importação do Ministério da Saúde, denunciou suspeita de irregularidade no contrato de compra da vacina Covaxin, disse que Dias é quem dá as cartas na pasta.

“Eu acho assim, nada ali acontece se o Roberto não quiser. Tudo o que aconteceu, inclusive a pressão sobre o meu irmão, é sob a aprovação dele. Sem ele, ninguém faz nada. Isso é uma das únicas certezas que tenho”, afirmou o deputado.

A suspeita sobre a compra de vacinas veio à tona em torno da compra da vacina indiana Covaxin, quando a Folha revelou no dia 18 de junho o teor do depoimento sigiloso do servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda ao Ministério Público Federal, que relatou pressão “atípica” para liberar a importação da Covaxin. Desde então, o caso virou prioridade da CPI da Covid no Senado.

A CPI suspeita do contrato para a aquisição da imunização, por ter sido fechado em tempo recorde, em um momento em que o imunizante ainda não tinha tido todos os dados divulgados, e prever o maior valor por dose, em torno de R$ 80 (ou US$ 15 a dose).

Meses antes, o ministério já tinha negado propostas de vacinas mais baratas do que a Covaxin e já aprovadas em outros países, como a Pfizer (que custava US$ 10). A crise chegou ao Palácio do Planalto após o deputado Luis Miranda, irmão do servidor da Saúde, relatar que o presidente havia sido alertado por eles em março sobre as irregularidades.

Bolsonaro teria respondido, segundo o congressista, que iria acionar a Polícia Federal para que abrisse uma investigação. A CPI, no entanto, averiguou e constatou que não houve solicitações nesse sentido para a PF.

Ao se manifestar sobre o assunto, Bolsonaro primeiro disse que a Polícia Federal agora vai abrir inquérito para apurar as suspeitas e depois afirmou que não tem “como saber o que acontece nos ministérios”.

Nesta terça, o Ministério da Saúde decidiu suspender o contrato com a Precisa Medicamentos para obter 20 milhões de doses da Covaxin. Segundo membros da pasta, a decisão atual é pela suspensão até que haja novo parecer sobre o caso. A pasta, porém, já avalia a possibilidade de cancelar o contrato.

Já nesta segunda-feira (28) a Folha também revelou que o advogado do deputado Ricardo Barros atuou como representante legal da vacina chinesa Convidecia no Brasil, participando inclusive de reunião com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

Sócio do genro de Barros até março deste ano, o advogado Flávio Pansieri participou de reunião com a Anvisa no dia 30 de abril.

Segundo o site da agência, a pauta da reunião referia-se às “atualizações sobre a desenvolvimento da vacina do IVB & Belcher & CanSinoBio a ser submetida a uso emergencial para a Anvisa”.

Integrantes da CPI da Covid querem apurar a negociação da Convidecia com o Ministério da Saúde. A empresa Belcher Farmacêutica, com sede em Maringá (PR), atuou como representante no país do laboratório CanSino Biologics no Brasil, responsável pelo imunizante. Barros tem base eleitoral em Maringá.

No domingo (27), Barros divulgou nota por ter sido citado pelo deputado Luis Miranda em depoimento à CPI da Covid como parlamentar que atuou em favor da aquisição de vacinas superfaturadas.

Para se defender, o líder do governo apresentou a íntegra da defesa preliminar enviada à Justiça Federal. O documento é assinado por Pansieri.

O advogado também assumiu a defesa de Barros no STF (Supremo Tribunal Federal), após o deputado ter sido delatado por executivos da construtora Galvão Engenharia.

Além de atuar na defesa de Barros, Pansieri acompanhou o líder do governo durante encontro com o presidente Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto no dia 24 de fevereiro, durante a posse do deputado do centrão João Roma (Republicanos-BA) como ministro da Cidadania.

Não tenho como saber o que acontece nos ministérios, diz Bolsonaro sobre caso Covaxin

Ao comentar com apoiadores nesta segunda-feira (28) a denúncia de irregularidades na compra da vacina Covaxin, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse que não tem como saber o que acontece nos ministérios de seu governo.

Em entrevista à Folha de S.Paulo publicada horas antes, o deputado Luis Miranda (DEM-DF) afirmou que o esquema de corrupção do Ministério da Saúde pode ser “muito maior” do que o caso Covaxin, investigado pela CPI da Covid do Senado e pela Procuradoria.

A existência de denúncias de irregularidades em torno da compra da vacina indiana Covaxin foi revelada pela Folha no dia 18, com a divulgação do depoimento sigiloso de Luis Ricardo ao Ministério Público Federal. Desde então, o caso virou prioridade da CPI no Senado.

“Ele , o da Justiça, o da Educação. Não tenho como saber o que acontece nos ministérios, vou na confiança em cima de ministro, e nada fizemos de errado”, disse Bolsonaro.

Bolsonaro reconheceu novamente ter recebido a visita de Luis Miranda, mas afirmou que “aqui vem tudo quanto é tipo de gente”. “Não posso falar: ‘Você é deputado, deixa eu ver tua ficha aí’. Eu ia receber pouca gente. Recebo todo mundo”, disse.

O presidente também rebateu o entendimento de que o caso Covaxin trinca o discurso anticorrupção do governo, como a Folha mostrou na semana passada.

“Agora, os caras botam a narrativa ‘a vacina fissura o governo Bolsonaro no tocante à corrupção'”, queixou-se o presidente, que alegou que nenhuma vacina foi de fato comprada. “Inventaram a corrupção virtual, né? Não recebemos uma dose, não pagamos um centavo”, disse Bolsonaro.

Um dos apoiadores se referiu aos senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM), presidente da comissão, e ao deputado Renildo Calheiros (PC do B-PE), irmão do relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), como “os três patetas”, e Bolsonaro reagiu.

“Não são patetas, são bastante espertos. Sabem o que querem. Querem o Brasil como era antigamente e viver na impunidade. Eles estão fazendo a coisa para eles bastante certas. Eles estão de parabéns para os objetivos deles”, afirmou.

Após o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), entrar no centro das apurações da CPI da Covid no Senado sobre supostas irregularidades na compra da Covaxin, a oposição quer paralisar votações no Congresso.

Líderes do centrão, no entanto, dizem que ainda não há clima para travar debates, e esperam desdobramentos das acusações apresentadas pelo servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda e seu irmão, o deputado Luis Miranda (DEM-DF).

Congressistas da oposição avaliam citar o caso Covaxin no superpedido de impeachment que será apresentado contra Jair Bolsonaro na próxima semana, ou elaborar uma proposta específica sobre as suspeitas de irregularidade.

Ainda discutem com movimentos sociais a possibilidade de antecipar protestos contra Bolsonaro que estavam marcados para o fim de julho.

Já senadores governistas da CPI minimizam as declarações do servidor e do deputado e dizem que não havia má-fé da Precisa

Medicamentos, que negociou a vacina com o Ministério da Saúde, ao apresentar documento com dados errados. Os papéis foram parcialmente retificados.

O QUE ACONTECEU APÓS A REVELAÇÃO DO CASO PELA FOLHA

Reportagem aponta pressão atípica (18.jun)

Em depoimento mantido em sigilo pelo MPF (Ministério Público Federal) e obtido pela Folha, Luís Ricardo Fernandes Miranda, chefe da divisão de importação do Ministério da Saúde, afirmou ter sofrido pressão de forma atípica para tentar garantir a importação da vacina indiana Covaxin

‘É bem mais grave’ (22.jun)

Irmão do servidor do Ministério da Saúde, o deputado federal Luís Miranda (DEM-DF) disse à Folha que o caso é “bem mais grave” do que a pressão para fechar o contrato

Menção a Bolsonaro (23.jun)

Luis Miranda afirmou ter alertado o presidente sobre os indícios de irregularidade. “No dia 20 de março fui pessoalmente, com o servidor da Saúde que é meu irmão, e levamos toda a documentação para ele”

CPI aprova depoimentos (23.jun)

Os senadores da comissão aprovaram requerimento de convite para que o servidor Luís Ricardo Miranda preste depoimento. A oitiva será nesta sexta-feira (25) e o deputado Luis Miranda também será ouvido.

Os parlamentares também aprovaram requerimento de convocação (modelo no qual a presença é obrigatória) do tenente-coronel Alex Lial Marinho, que seria um dos autores da pressão em benefício da Covaxin. A CPI também decidiu pela quebra de sigilo bancário, fiscal, telefônico e telemático de Lial Marinho

Denúncia grave (23.jun)

Presidente da CPI, o senador Omar Aziz (PSD-AM) afirmou que as denúncias de pressão e a possibilidade de que o presidente Jair Bolsonaro tenha tido conhecimento da situação talvez seja a denúncia mais grave recebida até aqui pela comissão

Bolsonaro manda PF investigar servidor e deputado (23.jun)

O presidente mandou a Polícia Federal investigar o deputado Luis Miranda e o irmão dele, Luis Ricardo Fernandes Miranda. O ministro da Secretaria-Geral, Onyx Lorenzoni, e Elcio Franco, assessor especial da Casa Civil e ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde, foram escalados para fazer a defesa do presidente. Elcio é um dos 14 investigados pela CPI

Empresa diz que preço para Brasil segue tabela (23.jun)

A Precisa Medicamentos, representante no Brasil do laboratório indiano Bharat Biotech, afirmou que o preço de US$ 15 por dose da vacina oferecido ao governo segue tabela mundial e é o mesmo praticado com outros 13 países

Governistas dizem que Bolsonaro repassou suspeitas a Pazuello (24.jun)

Senadores governistas da CPI afirmaram que o presidente pediu que Pazuello verificasse as denúncias envolvendo a compra da Covaxin assim que teve contato com os indícios

‘Acusação é arma que sobra’ (24.jun)

Bolsonaro fustigou integrantes da CPI, repetiu que não há suspeitas de corrupção em seu governo e afirmou que a acusação sobre a vacina é a arma que sobra aos seus opositores. “Me acusam de quase tudo, até de comprar uma vacina que não chegou no Brasil. A acusação é a arma que sobra”, disse o presidente na cidade de Pau de Ferros, no Rio Grande do Norte

‘Foi o Ricardo Barros que o presidente falou’ (25.jun)

Em depoimento à CPI da Covid, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), que é irmão do servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, afirmou ter alertado Bolsonaro. “A senhora também sabe que foi o Ricardo Barros que o presidente falou”, disse o parlamentar à senadora Simone Tebet (MDB-MS). Segundo ele, Bolsonaro afirmou: “Vocês sabem quem é, né? Sabem que ali é foda. Se eu mexo nisso aí, você já viu a merda que vai dar, né? Isso é fulano. Vocês sabem que é fulano”

Bolsonaro pede para PF investigar deputado e irmão que apontaram suspeita na compra da Covaxin

O presidente Jair Bolsonaro mandou a Polícia Federal investigar o deputado Luis Miranda (DEM-DF) e o irmão dele, Luis Ricardo Miranda, servidor do Ministério da Saúde, por declarações de ambos sobre supostas irregularidades no contrato de compra da vacina indiana Covaxin.

O pedido de investigação foi anunciado nesta quarta-feira (23) pelo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Onyx Lorenzony.

“O presidente determinou que a Polícia Federal abra uma investigação sobre as declarações do deputado Luis Miranda, sobre as atividadades do seu irmão, servidor público do Ministério da Saúde, e sobre todas essas circustâncias expostas no dia de hoje”, disse Lorenzoni.

O ministro disse que o governo pedirá um processo disciplinar contra o servidor, além de apurações sobre denunciação caluniosa, fraude processual e prevaricação.

Lorenzoni não citou pedido de investigação sobre possíveis irregularidades no contrato.

O caso em torno das suspeita da compra da Covaxin pelo governo Bolsonaro foi revelado no jornal Folha de S.Paulo na sexta-feira passada (18), com a divulgação do teor do depoimento do servidor Luís Ricardo Miranda, do Ministério da Saúde.

Ele disse em oitiva no Ministério Público Federal que recebeu uma pressão “atípica” para agilizar a liberação da vacina indiana, desenvolvida pelo laboratório Bharat Biotech.

Irmão do servidor da Saúde, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF) disse nesta quarta-feira (23) que alertou Bolsonaro, em 20 de março, sobre possíveis irregularidades na compra.

Segundo o parlamentar, naquele encontro, Bolsonaro prometeu acionar a Polícia Federal para investigar o caso. “Para poder agir imediatamente, porque ele compreendeu que era grave, gravíssimo”, disse Miranda.

O parlamentar afirmou que não recebeu retorno do presidente ou da PF. “Não era só uma pressão que meu irmão recebia. Tinha indícios claros de corrupção.”

O governo fechou contrato para compra da Covaxin em 25 de fevereiro, no momento em que tentava aumentar o portfólio de imunizantes e reduzir a dependência da Coronavac, que chegou a ser chamada por Bolsonaro de “vacina chinesa do João Doria”.

A Covaxin é produzida pelo laboratório indiano Bharat Biotech, e negociada no Brasil pela empresa Precisa Medicamentos.

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Governo fará racionamento para evitar apagão de energia, diz Lira

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse nesta terça-feira (22) que o Brasil terá que passar por um “período educativo” de racionamento de energia para evitar uma “crise maior”.

Segundo Lira, o diagnóstico foi feito pelo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, em uma reunião na semana passada.

“O ministro Bento esteve comigo fazendo uma análise do cenário, garantindo que não vamos ter nenhum tipo de apagão, mas vamos ter que ter um período educativo aí de algum racionamento para não ter nenhum tipo de crise maior”, afirmou Arthur Lira.

Em 2001, penúltimo ano do governo Fernando Henrique Cardoso, o país sofreu uma série de apagões e teve de passar por um forte racionamento. Quem não economizava luz, dentro de uma cota por consumidor, pagava mais caro pela conta no fim do mês.

De acordo com o presidente da Câmara, o governo já está em tratativas com o STF (Supremo Tribunal Federal) para evitar a judicialização de uma medida provisória que está sendo gestada pelo governo.

“Ele esteve na residência oficial na semana passada, mas muito en passant, nada com texto ainda, mas com perspectivas de que estavam tratando de alguma medida para isso, negociando inclusive dentro do Supremo para ter segurança jurídica sobre qualquer medida que pudesse vir a anunciar”, disse Lira aos jornalistas, após participar de um evento no Palácio do Planalto ao lado do presidente Jair Bolsonaro.

O governo trabalha no texto de uma medida provisória que dá poderes para um comitê interministerial interferir na gestão de hidrelétricas e cria as bases para um eventual racionamento de energia.

Com a pior seca dos últimos 91 anos e os reservatórios nos níveis mais baixos das últimas décadas, o MME (Ministério das Minas e Energia) prepara esta MP para pavimentar o caminho de medidas emergenciais que podem ser necessárias para um cenário de agravamento da crise hidrológica ainda no segundo semestre deste ano.

Entre as ações está um possível “programa de racionalização compulsória do consumo de energia elétrica”.

Bento Albuquerque e Arthur Lira tiveram um encontro em 15 de junho. Eles debateram a possibilidade de racionamento de energia e encarecimento da conta de luz no país.

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Planalto vê manifestações muito vermelhas, e Bolsonaro procura reforçar polarização

O Palácio do Planalto avaliou as manifestações de sábado (19) em defesa do impeachment do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como “muito vermelhas” e quer usar a partidarização dos atos para reforçar a ideia de que quem está indo às ruas é, mais do que contra o governo, a favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Esse entendimento, para integrantes do Planalto, pode afastar dos protestos aquele público que, apesar de ser contra Bolsonaro, não é a favor de Lula. Além disso, reforça a polarização da direita contra a esquerda que o presidente vem trabalhando desde 2018.

O próprio Bolsonaro, que evitou se manifestar sobre os atos no fim de semana, aproveitou a interação com apoiadores na frente do Palácio da Alvorada na manhã desta segunda-feira (21) para associar as passeatas de sábado em todo o país aos “petralhas”, como apoiadores do PT são pejorativamente chamados por adversários.

O presidente também os relacionou ao consumo de mortadela, embutido que recheia sanduíches e que passou a ser associado a uma espécie de pagamento dado a participantes de manifestações de esquerda.

“Eu acho que eu vou acabar com as manifestações dos petralhas. Comam mortadela, pessoal, faz bem à saúde. Comam mortadela, que faz bem à saúde. Vai acabar com as manifestações. Entendeu a jogada? Porque tudo que eu apoio é o contrário, então, estou apoiando agora o consumo de mortadela no Brasil”, disse Bolsonaro a apoiadores na manhã desta segunda.

A conversa foi gravada e transmitida por um canal de internet simpático ao presidente e que tem acesso à área restrita aos apoiadores no jardim da residência oficial.

O presidente também se referiu pejorativamente a Lula e afirmou que o petista só vencerá a eleição em 2022 se houver fraude.

Em defesa da PEC (proposta de emenda à Constituição) do voto impresso, Bolsonaro voltou a afirmar nos últimos dias, sem apresentar qualquer prova, que os pleitos presidenciais mais recentes foram fraudados.

“Só na fraude o nove dedos volta. Agora, se o Congresso aprovar e promulgar , teremos voto impresso. Não vai ser uma canetada de um cidadão como este daqui, que não vai ter voto impresso. Pode esquecer isso daí”, afirmou Bolsonaro em referência velada ao presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ministro Luís Roberto Barroso, crítico da adoção do voto impresso.

Entende-se ainda que as manifestações estão ficando cada vez mais associadas ao PT, o que reforça o discurso governista e a polarização para 2022.

Isso deixa Bolsonaro em uma certa zona de conforto, já que ele vem sustentando desde a eleição passada o discurso anti-PT lastreado na tese de risco de implementação do comunismo no Brasil.

Como a Folha mostrou, em busca de recuperar a popularidade até a eleição, Bolsonaro tem diversificado os palcos para discursos radicais. Ele tem participado de motociatas pelo país e ido a cultos, além das tradicionais lives, interações com apoiadores no Alvorada e discursos inflamados em agendas oficiais.

Ao reforçar o discurso de que quem foi à rua no fim de semana é petista e que o PT está tentando converter as manifestações de “fora, Bolsonaro” em “pró-Lula”, o presidente e aliados dizem acreditar que os protestos devam perder força, uma vez que eleitores de centro-direita que estão se manifestando contra Bolsonaro não são necessariamente a favor da volta do ex-presidente.

Para não inflar o caráter eleitoral, que emerge em faixas e cantos pró-Lula, o ex-presidente decidiu não comparecer, mas incentivou apoiadores a irem às ruas. O petista busca ainda evitar aglomerações para se contrapor a Bolsonaro.

O ato de sábado foi o segundo contra Bolsonaro em todo o país. O primeiro aconteceu em 29 de maio.

A Folha também mostrou que, hoje, a Campanha Fora, Bolsonaro é majoritariamente de esquerda -composta por frentes como a Povo sem Medo, a Brasil Popular e a Coalizão Negra por Direitos, que reúnem centenas de entidades, entre elas MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), UNE (União Nacional dos Estudantes), CMP (Central de Movimentos Populares) e Uneafro Brasil.

Partidos de esquerda, como PT, PSOL, PC do B, PCB, UP, PCO e PSTU, também integram a organização dos atos.

A segunda manifestação teve novas adesões -centrais sindicais, o Movimento Acredito e siglas como PSB, PDT e Rede, que dizem não estimular as aglomerações, mas não proibiram a presença de quadros.

O próprio PT e o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), até então mais discretos, resolveram endossar a segunda manifestação com mais afinco.

Uma reunião de avaliação dos atos anti-Bolsonaro e planejamento de possíveis novas manifestações está marcada para esta terça-feira (22). As ações de rua são vistas com cautela por parte dos organizadores em meio à pandemia do coronavírus.

No sábado, o país chegou a 500 mil mortos em decorrência da Covid, com o ritmo de óbitos e contaminações em alta. A grande maioria dos manifestantes usou máscara, mas houve aglomerações.

Mesmo isolado de Bolsonaro, o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) atacou as manifestações justamente pelo aspecto sanitário.

“Existe gente que não gosta do nosso governo, que é contra, oposição. Isso faz parte de qualquer sistema democrático. Agora, é uma aglomeração, né? É um risco que essas pessoas se submeteram”, afirmou Mourão nesta segunda ao chegar à Vice-Presidência, um anexo do Palácio do Planalto.