Bolsonaro chama FHC de cara de pau e sugere financiar MST para que invada fazenda do ex-presidente

Sob a pressão dos depoimentos prestados à CPI da Covid, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) seguiu o roteiro de radicalizar o discurso em sua live da noite desta quinta-feira (20).

Além de xingar os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB), governadores e senadores da comissão parlamentar de inquérito, disse que voltou a ter sintomas de infecção pelo coronavírus e tomou cloroquina sem consultar seu médico.

Logo no início da transmissão, Bolsonaro reagiu a uma entrevista de FHC ao programa Conversa com Bial, da TV Globo. Nela, o tucano disse que votaria em Lula em segundo turno contra Bolsonaro.

Ao abordar o assunto, Bolsonaro lembrou que o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) invadiu uma fazenda da família de FHC no interior de Minas Gerais, em 2002. O atual presidente disse, em tom de ironia, que tinha vontade de financiar uma nova invasão.

“O campo não podia mais continuar em guerra como vimos até antes do governo em invasões de terra. Até no governo FHC também existia isso. Até teve uma passagem bastante notória naquele momento que invadiram a fazenda do Fernando Henrique Cardoso. Esse FHC que está dizendo agora que vai votar no Lula. Olha a cara de pau. Esse cara de pau FHC dizendo que agora vai votar no Lula. Dá uma vontade de soltar um dinheirinho para o MST da região da fazenda do FHC para o pessoal invadir de novo lá, quem sabe ele aprenda”, disse Bolsonaro.

Bolsonaro referiu-se a Lula como “ladrão de nove dedos” e disse que “onde tem PT, tem roubo”, mas os xingamentos também envolveram outras pessoas.

O presidente da República chamou o governador do Maranhão, Flávio Dino (PC do B) de “comunista gordo” e atacou também integrantes da CPI da Covid, citando nominalmente os senadores Renan Calheiros (MDB-AL), relator da comissão, Humberto Costa (PT-PE), Eduardo Braga (MDB-AM) e Omar Aziz (PSD-AM).

“Aquele pessoal que acompanha o relator integra uma verdadeira súcia”, afirmou Bolsonaro, mencionando a palavra que define uma reunião de pessoas de má índole ou de má fama ou, como disse Bolsonaro, o coletivo de vagabundos. O presidente também referiu-se a senadores como jumentos.

No contexto da CPI, elogiou apenas o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde que, em dois dias de depoimentos, distorceu informações e reforçou omissão do governo federal na crise da falta de oxigênio em Manaus.

“Pelo que fiquei sabendo agora, o Pazuello foi muito bem. Mas a CPI continua sendo um vexame nacional. Não querem investigar o desvio de recurso. Querem falar sobre -não vou falar o nome aqui para não cair a live- aquele negócio que o pessoal usa para combater a malária e eu usei lá atrás”, disse Bolsonaro em menção à cloroquina.

Temendo sanções das empresas de redes sociais por estar promovendo um remédio sem comprovação científica de eficácia para a Covid, Bolsonaro não falou o nome da droga e, em alguns momentos, referiu-se ao medicamento como “o que eu ofereci à ema”.

Bolsonaro, então, revelou que, apesar de andar sem máscara e seguir promovendo aglomeração, voltou a a ter sintomas da doença.

“Tomei aquele negócio para combater a malária e, no dia seguinte, estava bom. E vou dizer mais: há poucos dias, estava sentindo mal e, antes mesmo de procurar o médico, -olha só que exemplo que eu estou dando- eu tomei depois aquele remédio, que estava com sintoma. Tomei, fiz exame, não estava . Mas, por precaução, tomei. Qual o problema? Eu vou esperar sentir falta de ar para procurar um hospital?”, disse Bolsonaro.

Na transmissão, Bolsonaro também defendeu o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, alvo de uma operação da Polícia Federal na quarta-feira (19) com objetivo de apurar suspeitas de crimes de corrupção, advocacia administrativa, prevaricação e facilitação de contrabando que teriam sido praticados por agentes públicos e empresários do ramo madeireiro.

“Realmente, o Brasil é um país complicado, bastante complicado”, disse Bolsonaro. “O ministro Ricardo Salles, um excepcional ministro, mas as dificuldades que ele tem junto a setores aparelhados do Ministério Público, os xiitas ambientais, as dificuldades são enormes”, afirmou, ignorando que o Ministério Público não participou desta operação.

Tem alguns idiotas que até hoje ficam em casa, diz Bolsonaro sobre isolamento na pandemia

Em conversa com apoiadores na manhã desta segunda-feira (17), o presidente Jair Bolsonaro chamou de “idiotas” as pessoas que ficam em casa ao obedecer medidas restritivas para evitar a disseminação do coronavírus.

Bolsonaro também enalteceu o agronegócio, que o homenageou em um ato na Esplanada dos Ministérios no sábado (15).

Ele disse que o homem do campo não parou durante a pandemia e, assim, garantiu alimentos para quem deixou de sair às ruas.

“O agro realmente não parou. Tem uns idiotas aí, o ‘fique em casa’. Tem alguns idiotas que até hoje ficam em casa. Se o campo tivesse ficado em casa, esse cara tinha morrido de fome, esse idiota tinha morrido de fome. Daí, ficam reclamando de tudo”, disse Bolsonaro.

A fala ocorreu a apoiadores aglomerados em um cercadinho no jardim do Palácio da Alvorada. A interação foi gravada e transmitida em vídeo editado por um canal bolsonarista.

Crítico de medidas restritivas, Bolsonaro se recusa a usar máscara, promove aglomerações e faz discurso em defesa de medicamentos que não têm comprovação científica contra a Covid, como a hidroxicloroquina.

A radicalização do discurso de Jair Bolsonaro se tornou sinal de momentos em que se sente pressionado.

Como a Folha mostrou no sábado, a deterioração política agravada com a sucessão de notícias negativas da semana passada levou o presidente a escalar na agressividade retórica e escolher o senador Renan Calheiros (MDB), relator da CPI da Covid, como seu alvo prioritário.

O receituário de Bolsonaro quando se sente pressionado inclui ameaça de edição de decreto para enfrentar medidas restritivas de prefeitos e governadores, reiteradas menções ao que chama de “meu Exército” e outras insinuações que levantam dúvidas sobre a possibilidade de uma ruptura institucional.

Aliados, porém, dizem não passar de blefe, apenas um aceno para sua base popular mais radical. No Congresso, a estratégia de fazer cortina de fumaça para encobrir os reais problemas já se tornou conhecida.

O presidente da República também voltou nos últimos dias a colocar sob suspeita o sistema eleitoral brasileiro e a atribuir a Deus a exclusividade de poder tirá-lo do cargo.

“Já falei que sou imorrível, já falei que sou imbrochável e também sou incomível”, disse aos apoiadores nesta segunda-feira.

Bolsonaro viu sua popularidade cair e a pressão da comissão parlamentar de inquérito sobre ele crescer. Recorreu a armas que já conhece, como criticar a esquerda, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que foi a Brasília no início de maio e avançou sobre alguns dos atuais aliados do governo.

Na semana passada, foi divulgada pesquisa Datafolha que apontou queda de popularidade do presidente. O governo tem a aprovação de 24% dos brasileiros, a pior marca de seu mandato até aqui.

A pesquisa também mostrou que Lula lidera corrida eleitoral de 2022. O petista alcança 41% das intenções de voto no primeiro turno, contra 23% de Bolsonaro. No segundo turno, Lula marca 55% contra 32% de Bolsonaro.

Lula tenta isolar Bolsonaro na direita radical para 2022, e presidente se agarra a anticomunismo

Enquanto o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se agarra à bandeira do anticomunismo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quer deixá-lo isolado na direita radical para as eleições 2022.

Depois de avançar sobre aliados políticos do adversário, Lula se prepara para ampliar o leque de conversas a partir de agora e disse que vai procurar o empresariado.

“A gente precisa voltar a conversar com todo mundo. Conversar com empresários, conversar com os sindicatos, conversar com os trabalhadores, conversar com os partidos políticos para que a gente possa ter certeza que estamos trabalhando para recuperar a democracia no nosso país e voltarmos a ter um país feliz, onde as pessoas todas possam viver em paz”, afirmou Lula em um vídeo que publicou nas redes sociais na sexta-feira (7).

O anúncio da intenção do petista de procurar empresários ocorre no momento em que Bolsonaro busca se reaproximar de representantes do PIB (Produto Interno Bruto).

O apoio do empresariado é considerado fundamental para a manutenção da governabilidade do presidente, mas ficou ameaçado diante da condução do enfrentamento da pandemia de Covid-19, que já matou mais de 420 mil pessoas no Brasil.

A presidente nacional do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), disse que, nesta semana, as próximas agendas de viagens e encontros começarão a ser discutidas.

A equipe do ex-presidente está cautelosa em relação a rodar o Brasil para não provocar aglomerações, um contraponto a Bolsonaro que Lula tem buscado fazer desde que recuperou seus direitos políticos.

Ao longo da semana passada, Lula não dialogou apenas com nomes da esquerda, mas foi atrás de antigos aliados, que hoje têm alguma relação com Bolsonaro, e de nomes mais à direita que criticam o atual presidente, como  Rodrigo Maia (DEM-RJ), que deve migrar para o PSD.

Nos últimos dias, Lula recebeu Gilberto Kassab (PSD), visitou José Sarney (MDB) –movimento que Bolsonaro havia feito uma semana antes– e telefonou para Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado, que chegou ao posto com ajuda do presidente da República.

Antes da viagem a Brasília, Lula já havia tido uma conversa por telefone com Valdemar Costa Neto, presidente do PL.

Tanto o PSD como o PL têm nomes de seus quadros ocupando ministérios importantes –Fábio Faria (PSD) é ministro das Comunicações e Flávia Arruda (PL) chefia a Secretaria de Governo.

Em conversas com embaixadores de sete países, o ex-presidente discutiu a degradação do meio ambiente no Brasil, um dos pontos fracos da gestão Bolsonaro.

Com parlamentares de diversas legendas, Lula procurou viabilizar ambiente favorável para o aumento do valor do auxílio emergencial para R$ 600 até o fim da pandemia.

No ano passado, foram cinco parcelas de R$ 600 e quatro de R$ 300. Em abril deste ano, o governo começou a pagar quatro parcelas de R$ 150, R$ 250 ou R$ 375.

É num contexto de buscar a diversidade que Lula quer incluir conversas com o empresariado e com diferentes partidos de outros espectros.

“Iniciamos um processo de intensa articulação na direção de Lula liderar uma ampla frente para enfrentar Bolsonaro e tratar os problemas que o Brasil está vivendo. Quando ele defende um plano de reconstrução do Brasil, pretende liderar uma ampla coalizão que não fique restrita ao PT”, disse o deputado José Guimarães (PT-CE), que acompanhou a maior parte da agenda de Lula em Brasília.

Lula ainda não admite ser candidato, embora políticos que se encontraram com ele na semana passada digam que, para eles, está evidente a disposição do petista em enfrentar Bolsonaro em 2022.

O quanto o ex-presidente vai conseguir avançar em direção ao centro e à direita moderada vai depender da disposição dos partidos de lançar candidatos ou de aderir a uma frente ampla.

Hoje, legendas como PDT, PSD e PSDB, por exemplo, indicam intenção de disputar a eleição presidencial como protagonistas.

Pessoas próximas ao petista dizem acreditar que ainda falta muito tempo para as eleições e que não há unanimidade interna nas siglas, o que pode permitir mais adiante alianças inviáveis no momento.

Já nos estados, aliados de Lula veem mais viabilidade na formação de frentes amplas. O Rio de Janeiro é onde o diálogo mais avançou nos últimos dias. Por enquanto, o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) é o favorito para disputar por esta frente o Governo do Rio, enfrentando o nome que dará palanque para Bolsonaro.

Pelo lado do presidente da República, o avanço das articulações esbarra no fato de Bolsonaro ainda não ter decidido para qual partido irá. Aliados do mandatário reclamam nos bastidores da indefinição e cobram a decisão que havia sido prevista para março.

Enquanto isso, Bolsonaro procura manter sua militância aquecida. Nos últimos dias, intensificou críticas a Lula e ao socialismo e ao comunismo, do qual acusa o petista de ser representante.

“Nós podemos mudar o destino do Brasil, depende de cada um de vocês. Deixar bem claro, tem eleições no ano que vem, não estou falando se vou disputar ou não vou, mas é a hora de você se preparar para ajudar a mudar o destino do Brasil. Você pode mudar o destino do Brasil se você trabalhar corretamente”, disse Bolsonaro em sua live de 29 de abril, logo após relacionar maiores índices de pobreza à existência de um maior número de políticos de partidos de esquerda.

Bolsonaro volta a contestar foco de CPI da Covid, distorce tratamento com cloroquina e descarta se vacinar agora

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a contestar nesta quarta-feira (28) o foco da CPI da Covid no Senado.

Ao interagir com apoiadores na porta do Palácio da Alvorada, Bolsonaro voltou a distorcer o tratamento ineficaz com cloroquina e voltou a dizer que quer ser o último brasileiro a se vacinar.

“Você vê: essa CPI vai investigar o quê? Eu dei dinheiro para os caras. No total, foram mais de R$ 700 bilhões, auxílio emergencial no meio. Muitos roubaram dinheiro, desviaram”, disse Bolsonaro, fazendo menção genérica a prefeitos e governadores.

“Agora, vem uma CPI para querer investigar conduta minha? Se ele foi favorável à cloroquina ou não. Pô, se eu tiver um novo vírus aí, eu vou vou tomar de novo, eu me safei em menos de 24 horas, assim como milhões de pessoas”, prosseguiu o presidente, ignorando que não há evidência científica de que o remédio que defende seja útil no enfrentamento à doença.

A comissão parlamentar de inquérito foi instalada na terça-feira (27) no Senado, confirmando nos postos mais importantes da comissão parlamentares independentes ou de oposição ao governo.

Numa derrota para o Palácio do Planalto, Renan Calheiros (MDB-AL) foi indicado relator pelo presidente eleito do colegiado, Omar Aziz (PSD-AM), após seguidas tentativas de aliados de Bolsonaro de minar a CPI, que terá duração inicial de 90 dias -podendo ser prorrogada por um igual período.

Logo após assumir o posto, Renan fez forte discurso com recados ao governo, ataques ao negacionismo durante a pandemia e a defesa de que culpados existem e devem ser punidos “emblematicamente”.

Ao deixar o Alvorada, Bolsonaro participou de reunião do comitê de enfrentamento à Covid, mas não apareceu para o pronunciamento à imprensa no Palácio da Alvorada. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, por sua vez, teve que responder aos jornalistas sobre a CPI.

“A CPI, isso é uma atribuição do Parlamento. Se eles me convocam, eu vou lá. E vou discutir abertamente o que eu tenho feito no Ministério da Saúde”, disse Queiroga. “Vamos contribuir com a sociedade brasileira, vamos prestar as informações que os senhores senadores desejarem. Estamos todos juntos no objetivo do enfrentamento da pandemia”, afirmou o ministro da Saúde.

Os ministros da Saúde devem ser convocados à CPI em ordem cronológica. O primeiro, que deve prestar depoimento na próxima semana, é Henrique Mandetta, que chefiou a pasta no início da pandemia, em 2020.

Ainda na porta do Palácio da Alvorada, Jair Bolsonaro voltou a dizer que só será imunizado “quando o último brasileiro tomar vacina”.

“Eu sou chefe de Estado, tenho que dar exemplo. O meu exemplo é este: já que não tem para todo mundo ainda, o mundo todo não tem vacina ainda, tome na minha frente”, afirmou.

A declaração foi dada ao lado do ministro da Casa Civil, general Luiz Eduardo Ramos. No dia anterior, Ramos disse em uma reunião que tomou escondido a vacina contra a Covid-19 e que Bolsonaro está com a vida em risco. Para não perder o mandatário para o coronavírus, o auxiliar afirmou que está tentando convencê-lo a tomar a vacina.

Bolsonaro também voltou a criticar prefeitos e governadores por causa de medidas restritivas adotadas para conter a pandemia.

“Falam tanto em Constituição, né? Os que defendem a Constituição falam tanto, e está lá, estuprado o artigo 5º da Constituição. Os caras têm mais poder, um simples decreto, mais poder que um estado de sítio”, afirmou Bolsonaro.

O artigo 5º da Constituição diz que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.

Governo negocia com a Pfizer mais 100 milhões de doses de vacina contra Covid

O governo brasileiro está negociando com a Pfizer a compra de mais de 100 milhões de doses até o final deste ano, totalizando 200 milhões de unidades da farmacêutica. O anúncio foi feito pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria, em uma rede social.

“O Ministério da Saúde está negociando a compra de um novo lote com mais 100 milhões de doses da vacina da Pfizer. A negociação começou há cerca de 20 dias e a pasta busca dar celeridade ao processo”, escreveu o ministro.

A Folha confirmou com uma fonte da farmacêutica que a negociação está em curso e que, pelas primeiras conversas, seriam adquiridos mais 100 milhões de doses até o final do ano.

A farmacêutica não se pronunciou oficialmente até a publicação desta reportagem. Procurado, Faria também não respondeu sobre a previsão de entrega até o fim do ano.

O governo já contratou a compra de 100 milhões de vacinas e, na semana passada, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, anunciou que a Pfizer antecipará 2 milhões de doses, elevando o total de imunizantes fornecidos pela fabricante para 15,5 milhões até junho.

Em 8 de março, após reunião entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o CEO mundial da Pfizer, Albert Bourla, o governo havia anunciado 14 milhões de doses de imunizantes da farmacêutica até junho.

No fim daquele mês, o cronograma foi recalibrado para 13,5 milhões de doses, valor incrementado depois para os 15,5 milhões anunciados por Queiroga. De acordo com integrantes do governo e da Pfizer, as primeiras doses chegarão ao Brasil ainda em abril.

O primeiro contrato com a Pfizer foi assinado após uma série de desentendimentos com o governo.

Como a Folha mostrou em março, a gestão Jair Bolsonaro (sem partido) rejeitou no ano passado proposta da farmacêutica que previa 70 milhões de doses de vacinas até dezembro deste ano. Do total, 3 milhões estavam previstos até fevereiro, o equivalente a cerca de 20% das doses já distribuídas no país até aquele momento.

Esse, inclusive, deve ser um dos temas abordados na CPI da Covid no Senado, que tem previsão de ser instalada em 27 de abril.

O contrato só foi assinado depois que Bolsonaro sancionou projeto de lei aprovado pelo Congresso que cria um ambiente jurídico mais favorável para que as cláusulas exigidas pela farmacêutica sejam atendidas, como a que isenta a empresa de responsabilidade por eventuais eventos adversos.

Embora tenha feito reuniões anteriores com representantes do governo, a farmacêutica fez a primeira oferta em 14 de agosto de 2020, segundo informações obtidas pela Folha. A proposta previa 500 mil doses ainda em dezembro de 2020, totalizando 70 milhões até dezembro deste ano.

A Pfizer aumentou a oferta inicial quatro dias depois, elevando para 1,5 milhão o número de doses ainda em 2020, com possibilidade de mais 1,5 milhão até fevereiro de 2021 e o restante nos meses seguintes.

Sem aprovação do governo, uma nova proposta foi apresentada em 11 de novembro. Com o passar do tempo, governos de outros países foram tomando o lugar do Brasil, e as primeiras doses ficariam para janeiro e fevereiro –2 milhões de unidades. Dessa vez, o contrato ficou em vias de ser assinado, segundo pessoas envolvidas nas negociações disseram à Folha.

Duas das propostas feitas antes da que o governo aceitou previam vacinas no fim do ano passado, quando imunizante passou a ser aplicado em países como Reino Unido e EUA. A terceira previa as vacinas em janeiro. Agora, membros do ministério tentam negociar com a empresa entregas a partir de maio.

Em 7 de dezembro, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou o plano para iniciar a vacinação em São Paulo no dia 25 de janeiro com as doses da Coronavac, envasadas pelo Instituto Butantan, ligado ao estado.

Bolsonaro, então, ensaiou reação na tentativa de contrapor o adversário político. Dias depois, o Ministério da Saúde chegou a anunciar um memorando de intenção para obter doses da Pfizer, mas a assinatura do contrato foi brecada pelo governo por causa das cláusulas contratuais envolvidas na negociação.

A partir daí, pressionado por não ter fechado o acordo, o governo federal passou a fazer críticas públicas à empresa.

Em 23 de janeiro, o ministério divulgou carta em que afirma que um eventual acordo causaria “frustração aos brasileiros” por envolver apenas 2 milhões de doses na entrega inicial. Naquela mesma semana, no entanto, a pasta comemorava ter importado número semelhante de doses do imunizante Oxford/AstraZeneca por meio da Fiocruz.

Em 15 de fevereiro, a Pfizer fez nova oferta ao governo, a que foi acatada, de 100 milhões de doses, 30

LEIA MAIS: Hospital de Curitiba cria Centro para atender pacientes com sequelas da Covid-19

Em minoria, governistas miram estados na CPI da Covid e apontam conflito de Renan na relatoria

Com a iminência da instalação da CPI da Covid, senadores governistas se preparam para mirar as investigações na destinação dada a recursos federais repassados a estados e municípios e, de imediato, fazem campanha virtual contra o senador Renan Calheiros (MDB-AL) para tentar barrá-lo na relatoria da comissão.

Já os críticos do governo, que são maioria na CPI (7 dos 11 integrantes são independentes ou oposição declarada), trabalham para que os primeiros requerimentos sejam para convocar três ex-ministros e buscar por material do MPF (Ministério Público Federal) e do TCU (Tribunal de Contas da União) sobre a atuação do governo no combate à pandemia, como mostrou o jornal Folha de S.Paulo no domingo (18).

De imediato, governistas, mesmo os que não são senadores, lançaram nas redes sociais a campanha #RenanSuspeito, sob o argumento de que o senador não pode ser relator, já que um dos focos da CPI são os estados –seu filho, Renan Filho (MDB) é governador de Alagoas.

“Se a CPI vai investigar os repasses da União a estados, tem sentido o possível relator ser PAI de um dos governadores?”, escreveu em uma rede social a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), integrante da tropa de choque de Bolsonaro no Legislativo.

“Ele tem um filho que é governador. Tem conflito de interesse”, argumentou o senador Eduardo Girão (Podemos-CE).

Renan nega suspeição e rebate as críticas. “A história não alegará minha suspeição jamais porque agirei coletivamente, não agirei monocraticamente. Designarei sub-relatores para os variados temas, inclusive este . Quantas campanhas já sofri em rede social. Estão fazendo campanha contra a pessoa errada”, afirmou.

Girão se declara independente, mas atua com outros três senadores na defesa de Bolsonaro na CPI.

Apesar de integrar um grupo minoritário no colegiado, ele diz estar trabalhando para viabilizar sua candidatura à presidência da CPI, enfrentando o senador Omar Aziz (PSD-AM), que tende a ficar com o posto, pelo acordo com a maioria (que inclui Renan).

Na tarde de domingo (18), Girão disse que estava no Senado e que havia conversado por telefone com seis de seus colegas em busca de apoio à sua candidatura.

O senador disse que a ideia é focar em 20 estados em que ocorreram operações da Polícia Federal.

No requerimento de criação de CPI com foco ampliado que ele apresentou ao Senado para fazer frente ao pedido original, com foco exclusivo no governo federal, Girão lista investigações envolvendo 17 estados –São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Pernambuco, Bahia, Ceará, Piauí, Pará, Roraima, Amazonas, Maranhão, Tocantins, Amapá, Santa Catarina, Sergipe, Rondônia e Acre.

“Ninguém tira leite de pedra porque leite é de vaca. Acharam que iam cassar o presidente Bolsonaro na CPI das Fake News e quebraram a cara, porque a vida é o que é, não o que eles querem que seja”, disse o líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO). Ele não é membro da CPI da Covid.

A CPI pode ser instalada na quinta-feira (22), embora alguns governistas digam acreditar que isso pode ser adiado.

Como a Folha de S.Paulo mostrou no domingo, a ideia dos parlamentares críticos ao governo é mapear logo no começo as ações do Executivo na aquisição de remédios para tratamento precoce, como a hidroxicloroquina, para verificar quanto de dinheiro público foi usado na compra de medicamentos sem eficácia comprovada.

As prioridades deles nas sessões iniciais da comissão devem ser as convocações do general Eduardo Pazuello, que era responsável pelo Ministério da Saúde, Ernesto Araújo, que chefiava a pasta das Relações Exteriores, e Fernando Azevedo, que comandou a Defesa.

Senadores também discutem a convocação do atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. A compra de vacinas também está na mira desse começo de trabalho da comissão.

Outro objetivo de membros da oposição e dos independentes nas primeiras semanas é tentar comprovar que o Planalto agiu de maneira deliberada em busca da denominada “imunidade de rebanho”, na contramão da orientação de especialistas na área.

“Já estão fazendo pré-julgamento, já está pronto o relatório, então? As convocações, tudo? Isso é bobagem. Primeiro temos que sentar, os 11, para conversar, para ver como vai acontecer, o plano de trabalho e tal. Não dá para fazer em cima da coxa, assim. Não foi nem montada a comissão”, disse o senador Jorginho Mello (PL-SC), que integra a comissão.

Renan classificou uma eventual disputa entre Girão e Aziz como “a disputa da vacina com a cloroquina”.

“Esta gente do governo continua errando, criando dificuldades para a minha indicação nas redes sociais, com ameaças de que vai baixar o terror com operação da PF. Nada disso me intimida nem à CPI, que será isenta, independente e buscará a verdade para dar às vítimas da pandemia”, disse o senador à reportagem.

O senador disse que não irá perder tempo “com briguinhas políticas, disse-me-disse, com campanhas “.

O ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), mandou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), instalar a CPI da Covid em 8 de abril. Seis dias depois, o plenário do STF confirmou a decisão do ministro.

A decisão representa uma derrota para o presidente Bolsonaro, que trabalhou para evitar a instalação da comissão, e reforçou a pressão sobre o Senado.

Após a ordem judicial de Barroso, Bolsonaro mobilizou sua base aliada e conseguiu ampliar o objeto da CPI para que também apure os repasses do governo federal a estados e municípios, o que dilui a pressão de uma investigação focada apenas no Palácio do Planalto.

O requerimento de criação da CPI foi lido na terça-feira (13) por Rodrigo Pacheco.

A decisão do plenário do Supremo foi recebida pelos senadores como uma pressão contra eventuais medidas que busquem retardar a comissão.

A crise política desencadeada com a decisão de Barroso foi ampliada após o senador Jorge Kajuru (Cidadania-GO) divulgar um diálogo que teve com Bolsonaro por telefone em que o tema era o assunto entre os dois.

Na ligação, o presidente pressiona o senador para ampliar o objeto da CPI e pede para o parlamentar também pedir ao Supremo que seja determinada a abertura de impeachment contra ministro da corte no Senado.

Não é a primeira vez que o STF determina a instalação de CPIs a pedido da oposição. Em 2005, o Supremo mandou instaurar a dos Bingos, em 2007, a do Apagão Aéreo, e, em 2014, a da Petrobras.

*

OS MEMBROS TITULARES DA CPI

Governistas

Jorginho Mello (PL-SC), Eduardo Girão (Podemos-CE), Marcos Rogério (DEM-RO) e Ciro Nogueira (PP-PI)

Demais

Humberto Costa (PT-PE), Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Renan Calheiros (MDB-AL), Otto Alencar (PSD-BA), Omar Aziz (PSD-AM), Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Eduardo Braga (MDB-AM)

Suplentes

Jader Barbalho (MDB-PA), Luis Carlos Heinze (PP-RS), Angelo Coronel (PSD-BA), Marcos do Val (Podemos-ES), Zequinha Marinho (PSC-PA), Rogério Carvalho (PT-SE) e Alessandro Vieira (Cidadania-SE)

Mourão diz que governo deveria ter entendido que Covid-19 não acabaria em 2020 e mantido auxílio emergencial

O vice-presidente da República, Hamilton Mourão (PRTB), disse nesta sexta-feira (16) que o governo deveria ter entendido que a pandemia de Covid não terminaria em dezembro do ano passado e, por isso, mantido o auxílio emergencial, que ficou suspenso até abril.

“A curva da economia, a curva social, que foi a questão das linhas de crédito abertas, do auxílio emergencial que foi pago, ele deveria ter sido prolongado. Tínhamos que ter entendido que a pandemia iria prosseguir, não iria terminar em 31 de dezembro do ano passado para que a gente conseguisse manter essas duas curvas numa situação mais favorável possível”, disse o vice-presidente em entrevista à rádio Gaúcha.

No ano passado, foram cinco parcelas de R$ 600 e quatro de R$ 300. Os desembolsos dobravam para mães chefes de família. Foram gasto R$ 293 bilhões para atender 67,9 milhões de pessoas.

Uma nova rodada do benefício começou a ser paga em abril, com valores inferiores. São quatro parcelas de R$ 150, R$ 250 ou R$ 375. O governo prevê um gasto de R$ 44 bilhões para atender 45,6 milhões pessoas.

No ano passado, o pagamento fez disparar a popularidade de Bolsonaro, que se refere ao benefício como “o maior programa social do mundo”. Mourão também criticou a comunicação do governo durante a pandemia do coronavírus.

“Julgo que tínhamos que ter uma comunicação mais eficiente junto à população como um todo de modo que a população entendesse a gravidade desta doença”, afirmou à radio.

O vice-presidente, porém, se recusou a criticar os maus exemplos dados pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) durante toda a pandemia.

“Sou o vice-presidente do presidente Bolsonaro, então não compete a mim tecer este tipo de crítica, que, para mim, é deslealdade. O que eu tiver que falar a este respeito eu falo intramuros”, afirmou.

Na noite de quinta-feira (15), o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, anunciou na live do Jair Bolsonaro (sem partido) uma antecipação nas datas de saques da primeira parcela do auxílio emergencial.

Com a mudança, a autorização para saques ou transferências desses valores pelos beneficiários será antecipada em até 18 dias, a depender da data de nascimento.

A alteração não afeta as datas de liberação do auxílio no aplicativo da Caixa, com possibilidade de uso do dinheiro para pagamentos digitais. Até o momento, também não houve alteração do calendário original de saques e transferências da segunda e da terceira parcelas.

O calendário original previa a liberação de saques, em geral, a cada dois dias, de acordo com o mês de aniversário do beneficiado. Agora, as autorizações serão feitas em dias seguidos, agilizando o processo.

Só Deus me tira da cadeira presidencial, diz Bolsonaro em live, após decisão do STF sobre Lula

Logo após o STF (Supremo Tribunal Federal) ter decidido pela anulação das condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) usou sua live semanal para fazer comparações entre seu governo e o do petista. Durante a transmissão, Bolsonaro voltou a dizer que “só Deus me tira da cadeira presidencial”.

“E me tira, obviamente, tirando a minha vida. Fora isso, o que nós estamos vendo acontecer no Brasil não vai se concretizar, mas não vai mesmo. Não vai mesmo, tá ok?”, indagou o presidente logo no início da live.

“Se o Lula voltar pelo voto direto, pelo voto auditável, tudo bem. Agora, veja qual vai ser o futuro do Brasil com o tipo de gente que ele vai trazer para dentro da Presidência”, completou Bolsonaro.

O presidente ressaltou que o país não quebrou “no último ano” e que não quer se intitular “faxineiro do Brasil”, mas alguém que vai resolver os problemas do país.

“Querem criticar meu governo, fiquem à vontade, mas puxem um pouquinho pela memória para ver como era no passado”, disse.

Em uma crítica ao petista, Bolsonaro, que trabalha na escolha de seu segundo ministro para o STF (Supremo Tribunal Federal), lembrou que quem for eleito em 2022 será responsável pela escolha de mais dois nomes para a corte.

“Se o Lula for eleito, em março de 2023, ele vai escolher mais dois ministros para o Supremo Tribunal Federal”, ameaçou.

A decisão do STF de anular as condenações de Lula já era esperada por Bolsonaro. No início de março, quando o ministro Edson Fachin tornou o petista elegível, o presidente foi informado por assessores jurídicos que a decisão tinha respaldo da maioria dos integrantes da corte e que ela deveria ser confirmada pelo plenário.

A aposta no Palácio do Planalto é a de que, com uma possível candidatura de Lula em 2022, haverá novamente uma eleição polarizada entre a esquerda e a direita, sem espaço para o crescimento de nomes de centro.

A avaliação é a de que a polarização permite ao presidente disputar em um cenário no qual ele tem mais familiaridade: que é por meio da adoção de um discurso radical de defesa da pauta de costumes e de crítica a bandeiras progressistas.

Para assessores palacianos, em uma campanha contra um candidato de centro, o presidente precisaria moderar seu discurso político para ter mais chances de avançar sobre eleitores que o apoiaram na última eleição, como os liberais e os lavajatistas.

Para deputados governistas, no entanto, uma polarização significa um cenário mais difícil ao presidente em um segundo turno. Eles lembram que uma coisa é enfrentar um candidato como o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad e outra é ser adversário de Lula, que conta com “recall eleitoral”.

Nesta quinta-feira (15), ainda durante o julgamento, auxiliares do presidente ressaltavam que, a partir de agora, Bolsonaro intensificará em sua retórica o embate com o PT, focando, sobretudo, na crítica a escândalos de corrupção.

A ideia defendida por aliados do governo é de que Bolsonaro ressalte que o retorno de Lula significa a volta da impunidade e saliente que a atual gestão não está envolvida em denúncias de irregularidades, apesar das acusações contra o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ).

A aposta é de que o discurso anticorrupção, adotado na disputa eleitoral de 2018, ainda encontra apoio junto a um eleitorado de centro, que, mesmo insatisfeito com Bolsona​ro, poderia votar no presidente devido a uma rejeição aos governos petistas.

O entorno do presidente, no entanto, lembra que um apoio por meio de uma retórica anticorrupção pode ser anulado diante de desempenho ruim da atual gestão no combate à pandemia da covid-19.

A avaliação geral é a de que a CPI da Covid, que deve ser instalada na próxima semana pelo Senado, pode derrubar ainda mais a popularidade do presidente e afetar seu potencial eleitoral para 2022.

CPI da Covid dá maior poder de fogo ao Senado sobre Bolsonaro

A decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), de mandar o Senado instalar uma CPI da Covid-19 deu ao chefe da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), um poder de fogo sobre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que antes estava mais restrito ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

Para auxiliares de Bolsonaro, além de um novo capítulo da crise entre os Poderes, a medida do Judiciário permite ao Senado chegar com mais poder de barganha à mesa de negociações para pressionar o governo pela concessão de cargos e verbas.

Assessores no Palácio do Planalto lembram que não há nenhum ministro senador e que, hoje, deputados têm mais facilidade na liberação de emendas parlamentares, recursos públicos usados para irrigar bases eleitorais.

O entorno de Bolsonaro considera que essa relação tende a ficar mais equilibrada a partir da instalação da comissão parlamentar de inquérito, prevista para esta terça-feira (13).

Todos os ministros oriundos do Congresso são da Câmara -Tereza Cristina (DEM-MS), da Agricultura; Onyx Lorenzoni (DEM-RS), da Secretaria-Geral; Fábio Faria (PSD-RN), das Comunicações; e, mais recentemente, João Roma (Republicanos-BA), da Cidadania; e Flávia Arruda (PL-DF), da Secretaria de Governo.

O principal motivo dessa maior atenção aos deputados, salienta um assessor do presidente, é porque é na Câmara que começa um eventual processo de impeachment contra o chefe do Executivo.

Foi por esse raciocínio, por exemplo, que a Secretaria de Governo, responsável pela negociação de cargos e emendas, foi entregue a uma deputada -o nome do líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO), chegou a ser considerado para o posto.

Pacheco, que chegou ao comando do Senado com apoio explícito do Planalto, sempre se disse contrário à instalação de uma comissão neste momento, mas, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo na última sexta-feira (9), afirmou que não vai “trabalhar um milímetro para mitigar a CPI nem para que não seja instalada nem para que não funcione”.

“Eu considero que a decisão judicial deve ser cumprida”, afirmou o presidente do Senado.

A pressão para instalar uma CPI para investigar a atuação do governo no enfrentamento da pandemia representou um dos primeiros desafios de Pacheco no comando da Casa.

Três dias após tomar posse, em 4 de fevereiro, senadores anunciaram que o requerimento do líder da oposição, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), havia recolhido as assinaturas necessárias.

Em sua decisão na última quinta-feira (8), Barroso disse que estão presentes os requisitos necessários para a abertura da comissão parlamentar de inquérito, incluindo a assinatura favorável de mais de um terço dos senadores, e que o chefe do Senado não pode se omitir em relação a isso.

Em uma derrota ao presidente do Senado, Barroso afirmou que não cabe a Pacheco fazer uma análise de conveniência em relação à abertura da CPI e que ele é obrigado a fazê-la quando estão cumpridas as exigências da Constituição sobre o tema.

O gesto deixou Bolsonaro furioso, segundo relataram ainda na quinta-feira pessoas que trabalham no Palácio do Planalto. Na manhã de sexta, o presidente externou isso ao gravar para um canal bolsonarista no momento em que interagia com seus apoiadores.

“Pelo que me parece, falta coragem moral para o Barroso e sobra ativismo judicial”, disse Bolsonaro. E escreveu em rede social que “falta-lhe coragem moral e sobra-lhe imprópria militância política”.

O presidente seguiu nos ataques pessoais ao ministro do STF.

“Barroso, nós conhecemos teu passado, a tua vida, o que você sempre defendeu, como chegou ao Supremo Tribunal Federal, inclusive defendendo o terrorista Cesare Battisti. Então, use a sua caneta para boas ações em defesa da vida e do povo brasileiro, e não para fazer politicalha dentro do Senado Federal.”

Horas mais tarde, o magistrado afirmou que seu entendimento era baseado na jurisprudência do Supremo e que havia consultado todos os colegas da corte antes de tomar a decisão.

Ao menos dois ministros do STF discordaram da decisão de Barroso. Primeiro, por ter sido monocrática e, depois, por avaliarem que o momento não é o ideal para abrir uma CPI e provocar conflitos entre Poderes.

Não é a primeira vez que o STF determina a instalação de CPIs a pedido da oposição. Em 2005, o Supremo mandou instaurar a dos bingos, em 2007, a do apagão aéreo, e, em 2014, a da Petrobras.

Bolsonaro também pressionou Barroso a determinar que o Senado desengavetasse um dos processos de impeachment de ministro do Supremo que se acumulam na Casa.

“Se tiver moral, um pingo de moral, ministro Barroso, mande abrir o processo de impeachment contra alguns dos seus companheiros do Supremo Tribunal Federal”, afirmou Bolsonaro na sexta.

A declaração, segundo auxiliares presidenciais, é jogo de cena. Eles dizem que o chefe do Executivo sabe que Pacheco não vai abrir um processo de impedimento de magistrado, embora bolsonaristas radicais insistam há quase dois anos para que o Senado entregue a cabeça de um ministro do STF como maneira de intimidar a corte.

Sem efeito prático real, o ataque de Bolsonaro a Barroso teve dois objetivos: marcar posição de que considera a decisão do ministro uma interferência de um Poder em outro e jogar para seu público, o que, a tirar pela movimentação de grupos bolsonaristas em aplicativos de mensagem, surtiu resultado.

Nos últimos dois anos, o então presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), trabalhou com apoio do governo para impedir a abertura da chamada CPI da Lava Toga, que investigaria juízes das cortes superiores.

O governo sabe que será difícil conseguir reverter a decisão de Barroso pelo plenário do STF, então, começou a agir no Congresso.

Nova articuladora política do governo, Flávia Arruda começou a fazer telefonemas ainda na noite de quinta, após a divulgação da decisão de Barroso.

O Planalto quer ganhar tempo. Além de querer adiar o desgaste do governo, o Executivo está preocupado com os impactos que o aumento da tensão política podem ter nas negociações sobre o Orçamento 2021, que ainda não foi sancionado por Bolsonaro.

Na operação de procrastinação, partidos aliados devem retardar as indicações dos membros do colegiado, postergando o início das investigações.

Se a articulação de governistas funcionar, a CPI da Covid não deve ser efetivamente criada antes do julgamento do caso pelo plenário do Supremo.

Em outra frente há uma tentativa de inviabilizar a comissão alegando questões sanitárias, pois a pandemia já matou três senadores, além de funcionários dos gabinetes.

Emissários do Executivo também tentam convencer alguns dos 32 signatários do requerimento de criação da CPI a recuar -a decisão de Barroso só vale se a CPI tiver assinatura de 27 dos 81 senadores- e mobilizam líderes partidários para que solicitem a Pacheco a não realização da CPI por risco à saúde.

Outro argumento empregado pelos apoiadores do governo é que a comissão mista das Fake News está parada.

Além disso, apontam que a realização de sessões virtuais -uma alternativa para evitar aglomeração em plenário em encontros presenciais- inviabilizaria, por exemplo, a apreciação de documentos sigilosos.

O governo também tem tentado convencer senadores pelo medo, alegando a possibilidade de ampliação do escopo da CPI para atingir prefeitos e governadores, o que comprometeria aliados importantes dos congressistas, inclusive os da oposição, pouco mais de um ano antes das eleições de 2022.

Caso a CPI seja instalada nesta semana, a intenção é esvaziar as sessões não garantindo o quórum sob o argumento de que não há segurança para estarem presentes.

Paralelo a isso, o senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) desengavetou uma proposta para que nenhum ministro do STF possa, isoladamente, suspender um ato normativo, como lei ou decreto. Isso só seria possível após apoio da maioria absoluta da corte, ou seja, seis votos.

Bolsonaro vê falta de coragem e imprópria militância política de Barroso ao mandar abrir CPI

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse nesta sexta-feira (9) que falta moral ao ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso, que, no dia anterior, mandou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), instalar uma CPI da pandemia de Covid-19.

“Pelo que me parece, falta coragem moral para o Barroso e sobra ativismo judicial”, disse Bolsonaro a apoiadores. E escreveu em rede social. “Falta-lhe coragem moral e sobra-lhe imprópria militância política.”

“Barroso, nós conhecemos teu passado, a tua vida, o que você sempre defendeu, como chegou ao Supremo Tribunal Federal, inclusive defendendo o terrorista Cesare Battisti. Então, use a sua caneta para boas ações em defesa da vida e do povo brasileiro, e não para fazer politicalha dentro do Senado Federal.”

Na noite de quinta-feira (8), Bolsonaro disse que o STF interfere nos outros Poderes ao mandar abrir a CPI da Covid. O mandatário citou ainda pedidos de impeachment de ministros da corte que estão no Senado e, na visão dele, deveriam ser apreciados.

Em entrevista à CNN Brasil, Bolsonaro disse que “não há dúvida de que há uma interferência do Supremo em todos os Poderes”.

“Agora, no Senado, tem pedido de impeachment de ministro do Supremo. Eu não estou entrando nesta briga, mas tem pedido. Será que a decisão não tem que ser a mesma também, para o Senado botar em pauta o pedido de impeachment de ministro do Supremo?”, indagou Bolsonaro.

“Não está na hora de, em vez de ficar procurando responsáveis, unir Supremo, Legislativo, Executivo para a busca de soluções? O que que vai levar a abertura da possível CPI? As provas que estamos no caminho certo, que fizemos tudo o possível estão aí”.

Já nesta sexta, aos apoiadores, voltou a cobrar a abertura de pedidos de impeachment contra magistrados. “Se tiver moral, um pingo de moral, ministro Barroso, mande abrir o processo de impeachment contra alguns dos seus companheiros do Supremo Tribunal Federal”, afirmou.