Os louros da viagem de Bolsonaro à Rússia

A brutalidade da Rússia, ou de seu mandatário e ditador, Vladimir Putin, com a invasão da Ucrânia a pretexto de solidariedade a etnias russas, choca o mundo e as consequências do sangue derramado ficarão na história de um mundo carente de civilização. É uma ameaça à ordem europeia e um alerta às forças americanas de prontidão.

A história nos lembra que mais de quatro milhões de ucranianos, sem distinção entre mulheres, homens e crianças, foram condenados a morrer de fome por Stálin. 

Durante anos Stalin se apropriou de toda a safra de grãos e de estoques de alimentos produzidos pelos ucranianos. Eram todos destinados à alimentação de tropas militares nazistas.

O que nós perguntamos – e isto só interessa a nós, brasileiros – é o que o presidente Jair Bolsonaro foi, efetivamente, fazer na Rússia diante e na iminência de uma guerra pessoal de soberania russa?

Ao tentarmos desvendar esta insanidade, esbarramos, também, na vergonha em que nosso chefe da nação passou naquele país, deixando a diplomacia brasileira alucinada em corre-corre para tentar reverter a 

decisão do governo russo de manter o presidente brasileiro trancado, em quarentena, no hotel em que ficou hospedado em Moscou porque não é vacinado contra a Covid. Os russos exigiram que o presidente fizesse cinco testes de Covid antes de se encontrar com seu líder.

Sem dúvidas, um vexame. Bolsonaro ficou proibido de sair antes de se encontrar com o presidente russo no Kremelin, sede do governo. Nem o presidente Emmanuel Macron, da França, país membro da Otan, com quem Putin anda às turras por causa da Ucrânia, foi submetido a tão desonroso tratamento.

O lamentável é que todo aquele sofrimento de se submeter a testes de Covid, toda humilhação de ser obrigado a permanecer confinado no hotel, em quarentena, passeio vigiado de hora e meia por Moscou, sem sair do carro e, no dia seguinte ter que depositar coroa de flores para soldado comunista, toda aquela situação ensaiada e constrangedora para tirar retrato, tudo isso pra nada.

Pior que não dá nem mais para jogar fora agora ou eliminar as imagens que se pretendia usar na campanha para negar que o sujeito levou o País ao isolamento internacional. Elas serão usadas agora pela oposição, justamente com este propósito. 

E agora o presidente Putin invade a Ucrânia sem avisar, uma desfaçatez e falta de consideração. Logo quando o brasileiro, do alto de seu prestígio, credibilidade e liderança internacional, havia obtido o glorioso compromisso de não haver invasão da Ucrânia e nem guerra. 

O pior de tudo isso, fake news à parte, muitos brasileiros, bolsonaristas, é claro, acreditam ainda que a ida do presidente à Rússia foi para evitar uma guerra. 

Bem, deu no que deu. 

Gazeta do Povo publica direito de resposta da Rádio 90.1 FM

Recente matéria do jornalista Roger Pereira, da Gazeta do Povo, motivou a apresentação de um pedido resposta pela Rádio 90.1 FM, de Curitiba, que foi atendido com a publicação de esclarecimentos ao final do texto, em rodapé, como é possível conferir no site da Gazeta, já atualizado.

O texto do colunista afirma equivocadamente, induzindo os leitores ao erro, que o vínculo entre a Rede CBN nacional e a Rádio 90.1 FM terminaria em 31 de outubro de 2021 por questões ligadas à concessão da concorrente Band News FM ao Grupo JMalucelli, também detentor do sinal da CBN em Curitiba, além de outros fatores completamente alheios ao contexto do encerramento das transmissões, sem que o jornalista possuísse fonte confiável quando fez tais afirmações.

Não satisfeita com a publicação dos esclarecimentos ao final da matéria, em espaço secundário, a Rádio 90.1 informou que pedirá judicialmente o exercício apropriado do seu direito, com exclusão e substituição do texto errôneo pela resposta, no mesmo espaço e com o mesmo destaque dado ao texto do jornalista.

De qualquer maneira, mesmo sem veiculação adequada, a publicação da resposta representa avanço, pois mostra um raro reconhecimento, pela Gazeta do Povo, que o mau jornalismo pode e deve ser coibido.

Confira a íntegra da resposta da Rádio 90.1 FM:

“DIREITO DE REPOSTA

Em matéria veiculada no site da GAZETA DO POVO em 18/10/2021 o jornalista ROGER PEREIRA afirmou que a Rádio CBN Curitiba não teria conseguido renovar o seu contrato com o grupo Globo porque (i) a JMalucelli, proprietária da emissora, também seria concessionária de outra rádio concorrente; (ii) porque o seu titular estaria envolvido na “Operação Rádio Patrulha”, do Ministério Público, e porque, finalmente, (iii) o Grupo JMalucelli teria firmado um acordo de leniência admitindo a prática de irregularidades em contratos com o governo do Paraná.

Exceto pela notícia sobre o término do contrato de concessão, todas as demais informações publicadas pelo jornalista são errôneas e induzem o leitor ao erro, uma vez que:

Primeiro: até a notificação de não renovação por parte da RÁDIO EXCELSIOR (“REDE CBN”), ocorrida em 28/09/2021, não houve qualquer tratativa – formal ou informal – de extensão do prazo contratual entre as partes.

Segundo: nos contatos pessoais e por escrito, via carta, telefone, e-mail ou WhatsApp, entre os representantes da Rede CBN e da Rádio 90.1 FM, jamais existiu alegação ou insinuação de que a concessão da Rádio Band News ao grupo JMalucelli seria fator de rescisão do contrato de veiculação da CBN em Curitiba.

De igual modo, nunca se falou entre as partes sobre a Operação Rádio Patrulha, sobre seus envolvidos ou eventuais efeitos de tal investigação sobre o contrato de concessão da CBN, daí porque resta claro que as afirmações feitas pelo jornalista da Gazeta do Povo são fruto apenas de sua mente criativa, e não de fonte confiável, devendo ser veementemente rechaçadas.

Terceiro: o acordo de leniência citado na reportagem não envolve o grupo econômico JMalucelli nem a ele se estende, a título solidário ou subsidiário, eis que limitado a apenas 3 (três) pessoas jurídicas que o integram.

Essa informação é de caráter público e sua manipulação constitui maliciosa tentativa de tratar o todo pela parte, quando se sabe que o grupo JMalucelli é formado por um universo de mais de 80 (oitenta) empresas, sem que a Rádio 90.1 FM jamais tenha sido investigada nem citada em operação policial alguma.

A Rádio 90.1 FM não apenas foi excluída de qualquer investigação ou acordo com o MP – porque, como dito, nunca foi referida em qualquer procedimento criminal – como também divulgou amplamente todas as operações das autoridades policiais e do Ministério Público, em âmbito local ou nacional, inclusive a “Operação Rádio Patrulha”, sempre que tais fatos foram notícia.

A tentativa de “embaralhar” os fatos e empresas e encobrir a verdade não pode nem deve prosperar, sob pena de se subverter por completo o papel do jornalismo informativo.

Quarto: o prazo contratual entre a Rede CBN e a Rádio 90.1 FM foi abreviado em 60 (sessenta) dias, para 31.10.2021, de comum acordo entre as partes e por iniciativa da Rádio 90.1 FM, dentro de um espírito de absoluta tranquilidade e de mútuas concessões, inclusive a dispensa do pagamento de multas e encargos, sem o veneno nem a interferência dos “fatores” especulados na matéria.

Em quinto e último lugar: as falsas informações e associações indevidas lançadas na matéria objeto da presente resposta causam prejuízos ao nome e à imagem da Rádio 90.1 FM, cuja trajetória de bons serviços prestados ao jornalismo curitibano e paranaense é incontestável, sendo necessária a presente resposta para que se restabeleça a verdade, em respeito ao leitor.

Atenciosamente,

Rádio 90.1 FM”

Editorial: A bilionária Copel que virou as costas para os paranaenses

No que se transformou a Copel (Companhia Paranaense de Energia do Paraná) que, até pouco tempo atrás era orgulho dos paranaenses? A empresa era reconhecida não só pela eficiência técnica como prestadora de serviços, mas, sobretudo, pelo atendimento diferenciado à população, em especial à camada mais fina da sociedade.

A Copel, infelizmente, acabou se transformando em uma empresa que virou as costas para os paranaenses. Se rendeu ao capitalismo, com grandes negócios na bolsa de valores, visando apenas o lucro extremo e o paternalismo do seu quadrado. “Investimento social” não existe mais no vocabulário da Copel.

Hoje, a Copel, dona do monopólio da energia elétrica que movimenta as indústrias e que ilumina o campo e as cidades em 394 dos 399 municípios do Estado, não é mais dos paranaenses. Não existe mais valor, apenas tarifa e as regras do poder econômico avalizado pela agência reguladora, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).

MONOPÓLIO NATURAL

A Copel, como bem define o professor e colunista do Paraná Portal, José Pio Martins, é um monopólio natural. “Se você não aceitar essa regra, o problema é seu, você não tem opção. Logo, não existe ‘formação de preço’ e nós, consumidores, pagamos uma tarifa que é fixada por eles, unilateralmente, não pelo mercado concorrencial”.

A resposta deles a qualquer questionamento da imprensa ou dos representantes do povo paranaenses na Assembleia Legislativa ou mesmo no Congresso Nacional é curta e grossa: é o governo que controla preço.

Nos últimos cinco anos a energia elétrica teve os seguintes reajustes de preços:

  • 2021: + 8,97%
  • 2020: – 0,95%
  • 2019: + 1,85%
  • 2018: + 15,06%
  • 2017: + 6,09%

No último dia 22 de junho, a Aneel aprovou o mais recente cálculo de revisão tarifária periódica. O reajuste médio para os consumidores residenciais foi de 8,9%. A Copel Distribuição S/A atende 394 municípios do Paraná e tem 4,8 milhões de unidades consumidoras.

ENERGIA CARA ATRAPALHA CADEIA PRODUTIVA

O impacto deste aumento recai sobre a carestia. Segundo o professor de economia do Ibmec, Tiago Sayão, deixar as luzes apagadas não irá promover alívio significativo no bolso. O problema maior é que a alta na tarifa de energia tem impacto no preço dos alimentos, produtos que ocupam a maior parte da renda dos mais pobres.

Com altos reajustes, todo o custo é repassado ao consumidor. “A produção de frango, por exemplo, consome muita energia e esse aumento do custo de produção vai ser repassado na ponta. Até a carne branca vai ficar mais cara”, observa o economista.

Entre os itens de consumo e serviços da amostra do IPC de agosto de 2021, a luz ocupou o primeiro lugar entre os produtos com maior impacto na inflação do mês, com aumento de 4,96%. Em julho, a luz já havia sofrido reajuste de 3,69%, impulsionando o impacto do grupo de utilidades públicas sobre o resultado da inflação. Em apenas dois meses, esse grupo já apresenta 4,3% de aumento.

COPEL ACUMULA LUCROS E AUMENTOS

O jornalista Angelo Sfair, da BandNews FM e Paraná Portal, mostra em reportagem desta quarta-feira (15) que a Copel registrou, nos últimos três anos, lucros líquidos cada vez maiores, passando de R$ 1,4 bilhão em 2018 para R$ 3,9 bilhões em 2020. Somente no ano passado, a diferença entre as receitas totais e os custos operacionais aumentou 89% em relação ao período anterior. Apesar disso, a empresa continuou a adotar reajustes conforme o teto estabelecido pela Aneel, a Agência Nacional de Energia Elétrica.

Diante desses lucros exorbitantes, a Copel descarrega parte dessa gorda bolada ao seu funcionalismo quando deveria reverter em tarifa mais barata. Ninguém é contra a distribuição de lucros, o que é saudável dentro de uma organização, seja ela pública ou privada. Mas, no caso da Copel, ela também deveria reverter parte desse lucro aos consumidores industriais ou residenciais porque são eles os responsáveis pela gorda conta dividida entre acionistas e funcionários.

Operação Rádio Patrulha. A leviandade do julgamento antecipado por um jornal paranaense, à revelia da Justiça

Na última sexta-feira (20), a 2ª Turma do STF declarou as Justiças Estadual e Federal do Paraná incompetentes para conduzir as investigações das Operações Rádio Patrulha e Integração.

As decisões, unânimes entre os 3 Ministros que participaram do julgamento, citam que não foram observados os artigos 109, inciso IV, da Constituição e 35 do Código Eleitoral, que fixam a competência da Justiça Eleitoral para “processar e julgar os crimes eleitorais e os comuns que lhe forem conexos”.

No caso da Operação Rádio Patrulha, iniciada com base na colaboração premiada do empresário Tony Garcia, a decisão do STF registra existirem “claras as menções relacionadas à obtenção de recursos com fins eleitorais”, daí ser obrigatória a remessa de todo o processo para a justiça especializada, que deverá analisar, inclusive, se é o caso de declarar a nulidade de todos os atos praticados até agora pela 13ª Vara Criminal de Curitiba, por onde o processo tramitou.

Não custa relembrar que, diferentemente de remeter a investigação à Justiça Eleitoral, a Operação Rádio Patrulha determinou, à época, a expedição de mandados de busca e apreensão e até prisões, que alcançaram agentes públicos, políticos e empresários paranaenses, com grande estardalhaço nos meios de comunicação, por envolverem supostos desvios de recursos públicos.

Com a nova decisão do Supremo, tudo deverá ser necessariamente reavaliado pelos olhos da Justiça Eleitoral, a partir do zero.

Tudo isso, para quem acompanha esses casos, provoca certa repulsa, pois um grande grupo de comunicação paranaense vinha cobrindo ambas as operações, principalmente a Rádio Patrulha, como fato consumado, com manchetes sensacionalistas e textos recheados de meias verdades ou até mentiras, desrespeitando a regra básica do bom jornalismo que recomenda ouvir os dois lados e dar oportunidade ao contraditório.

Como é elementar, a falha no método compromete o resultado, mas isso parece não importar. Tal veículo de comunicação preferiu desferir inverdades para se firmar como viés justiceiro, não se preocupando com a verdade, mas sim em falar o que a sociedade poderia querer ouvir. Pura diversão, pirotecnia, circo.

Tão nocivo quanto cobrir com parcialidade as investigações, é ver esse grupo de comunicação tentar influenciar o Poder Judiciário para conseguir a paralisação de uma obra energética na região dos Campos Gerais porque torres de energia passariam dentro da propriedade de um de seus sócios.

Diante de tal irresponsabilidade, pesados processos judiciais certamente baterão à porta de tal veículo de imprensa, pois motivos não faltam relativos à forma como a Operação Rádio Patrulha foi tratada em suas páginas.

O Jornalista, autor da matéria, é ex-funcionário do grupo de um dos empresários massacrado nas levianas tintas, mostrando um claro conflito de interesse.

Não foi observado o sigilo de informação declarado pela Justiça. Não foi ouvida a outra parte. Ou seja, as reportagens foram maldosamente unilaterais.

Antigos réus, que agora podem inclusive deixar de ser, dependendo da ótica a ser dada pela Justiça Eleitoral, já haviam sido dados como condenados, inclusive com detalhes sórdidos e até condenação, não pela Justiça, mas pelo jornalista e seu veículo de comunicação.

O que resta agora? Aos suspeitos, precipitadamente condenados pelo jornal, seguir sua defesa, no foro correto, que é a Justiça Eleitoral. Ao jornal, e ao jornalista, além da consciência, caberá responder também à Justiça, para que façam jornalismo com responsabilidade e ética e não com a intenção de perseguir ninguém.

É preciso, é necessário, correto, que a imprensa tenha responsabilidade e respeite regras éticas elementares, se é que tal veículo continuará vivo para ver o final dessa história.

 

O fim melancólico da Gazeta do Povo

É conhecida a máxima de que a imprensa é o oxigênio da democracia, mas hoje notamos, cada vez mais, um certo desencanto com o jornalismo e até mesmo revolta, com gente agredindo e jogando pedras em repórteres nas ruas, em situações extremas.

Alguma coisa está errada. E o erro certamente está nas mãos daqueles que dirigem os veículos de comunicação, pois perderam o controle ou o compromisso com a qualidade informativa.

É preciso resgatar a objetividade do jornalismo. A imprensa tem o dever de apresentar fatos e dizer coisas que podem até não agradar os leitores, os políticos ou membros do sistema judiciário. Mas deve fazê-lo com responsabilidade.

O abandono desses valores, o descaso com padrões minimamente éticos e com a qualidade no tratamento da informação têm produzido a queda de impérios do jornalismo no país.

O Paraná observa, por semelhante, o declínio, em velocidade surpreendente, de um grupo de comunicação social que por dezenas de anos foi visto como porta-voz da sua sociedade: o jornal Gazeta do Povo e a Rede Paranaense de Comunicação (RPC), com televisões e emissoras de rádio espalhadas por todo o estado.

É um desfecho melancólico, porém previsível, numa sociedade cada vez menos ingênua, mais bem informada – por variadas fontes de notícia – e mais conectada. Uma decepção para a sociedade paranaense, que acompanha o visível desmoronamento de um império que levou um século para ser construído e nada deixa no lugar.

Na luta desesperada pela sobrevivência, acumulando enormes passivos financeiros e judiciais nos últimos anos, o jornalismo desse grupo tornou-se apelativo, recorrendo sistematicamente a manchetes escandalosas, a argumentos rasos e delirantes e à exposição de fatos recortados de tal forma que acabam por disseminar o discurso do ódio, a maledicência e a desconstrução de pessoas, empresas e famílias, sem lhes dar espaço adequado para resposta.

O rebaixamento do padrão moral, somado a um cenário de crise financeira e a uma biografia esfacelada, levam o grupo de comunicação à iminência de se tornar, ele próprio, notícia nas páginas policiais.

São, hoje, mais de 400 ações de primeira e segunda instância em tramitação na Justiça do Trabalho, segundo certidão recente, que mostram um caminho sem volta e que deve resultar em um desembolso estimado em dezenas de milhões de reais.

Empresas associadas no interior do Estado estão derretendo ou passando às mãos de sócios que apostaram no negócio e agora estão vendo seu dinheiro literalmente virar pó.

Ações como da TV Oeste Paraná (Globo Cascavel) estão bloqueadas. Na TV Cultura (Globo Maringá) há registro de bens arrolados pela Receita Federal para garantia do pagamento de débitos fiscais.

Nesta carruagem sem cocheiro, o grupo empresarial tenta acomodar e administrar um imenso prejuízo, como é o caso da Gazeta do Povo, em que o passivo ultrapassou R$ 190 milhões depois de um erro na curva, em que o jornal impresso foi fechado para que a empresa se aventurasse, sem suficiente conhecimento, na mídia digital.

Diante dessa sucessão de reveses e prejuízos, um dos sócios vendeu suas ações por apenas R$ 1 para deixar de arcar com as volumosas somas negativas mensais e anuais.

Tais prejuízos levaram à demissão de centenas de pessoas, muitas delas competentes, mas alheias à incompetência administrativa que as levou ao olho da rua.

Antes do atual estágio crítico, o grupo envolveu-se noutras aventuras igualmente arriscadas, como o jornal tabloide – Primeira Hora – que absorveu velhos jornalistas vindos de São Paulo para se aposentarem no Paraná.

O grupo também se aventurou com a televisão OTV e fechou as portas. Mais tarde, para concorrer com a Folha de Londrina, lançou o Jornal de Londrina e deu no que deu: o veículo acabou e contabilizou mais prejuízos.

Mais recentemente, um comunicado da direção da empresa aos proprietários de bancas de revistas de jornais da capital anunciava o fechamento da revista semanal

Gazeta do Povo. Abriu outra que até agora ninguém entendeu qual a linha editorial. Está mais para o tradicional “malho” para sobrevivência.

A empresa também fechou parte do complexo de comunicação no Tarumã, em Curitiba, onde funcionava a redação da Gazeta do Povo e da revista, optando pelos trabalhos em home office, o que sinaliza para a demissão, em curto prazo de tempo, de mais jornalistas e mais prejuízos em equipamentos de informática.

Para tentar pelo menos uma saída honrosa, as quatro rádios do grupo estariam à venda, bem como todo o grupo RPCOM, que foi oferecido a dois empresários paranaenses por R$ 900 milhões.

Depois de minuciosas análises, os potenciais interessados chegaram à conclusão de que, no máximo, o grupo poderia valer R$ 400 milhões e refugaram da compra, que seria intermediada por um conhecido publicitário de Curitiba.

Se o grupo RPC Gazeta do Povo se nega a cumprir o básico de suas obrigações financeiras e legais, coloca-se em frontal oposição aos princípios que alardeia identificá-lo.

O jornalismo “de resultados”, pautado na exposição escandalosa de alguns ‘fatos’ supostamente investigados, tenta tirar água da pedra para manter a audiência. Mas o resultado é, claramente, pífio.

Nesta semana, por exemplo, estamparam reportagem na capa, com direito a show pirotécnico sem ouvir o “outro lado”, como reza a cartilha básica do jornalismo em qualquer lugar.

A notícia e a opinião, para a RPC e a Gazeta do Povo, têm sido avaliadas pela ótica de seus próprios negócios, o que é lamentável. Disso poderá constatar ser veraz qualquer investigação séria do Ministério Público.

Matérias utilizadas como ferramentas para a instabilidade, a hostilidade ou pura e simples vendeta prestam um desserviço aos nobres propósitos da imprensa e, no limite, à própria liberdade de expressão, pois a seletividade na exposição dos fatos, em prejuízo da verdade, constitui negação da própria razão de existir do jornalismo.

Empresários e políticos paranaenses que estiveram sentados à mesa com o saudoso Francisco da Cunha Pereira Filho, em discussões de temas voltados à defesa das camadas mais necessitadas e de investimentos no Estado, hoje são massacrados pelas tintas e palavras dúbias.

Enfim, testemunhamos hoje um momento histórico: o ocaso de um grupo de comunicação que perdeu a identidade, não passa de uma pálida sombra do que já foi.

O custo do descompromisso com a tradição e história é alto, o gosto é amargo, mas ao que parece a conta chegou. E o preço é alto.

Paraná caminha a passos lentos na vacinação e combate da Covid-19

O presidente Jair Bolsonaro começa a pagar a pesada conta pela displicência com que tratou e vem tratando o problema da pandemia do coronavírus no País, com a perda acelerada de popularidade. Foi irresponsável na condução da crise, com seus múltiplos efeitos trágicos.

Assim, um dia após o país bater recorde de 2.798 mortes em 24 horas, Bolsonaro bate, também, recorde de rejeição ao seu trabalho na condução da crise na saúde. 54% dos brasileiros reprovam sua gestão, segundo pesquisa Datafolha.

Mais desolador ainda é quando observamos que gestores estaduais não deram, no início, a devida atenção em relação ao mostro que saiu da China para devastar o mundo.

No Paraná, as autoridades sanitárias tinham amplo conhecimento do perigo, mas também negligenciaram ao não fazer uma previsão, no caso, de medicamentos, leitos hospitalares, equipamentos e contratação de pessoal para atender à demanda que surgia no horizonte.

Por isso, a grave e trágica crise sanitária que colocou o País no epicentro da pandemia aos poucos também está revelando o despreparo e a incapacidade gerencial de pretensos líderes com a falta de planejamento, chegando a limites do território da displicência vergonhosa.

O caso do Estado do Paraná passa a ser emblemático neste cenário, com gestores titubeantes na condução do combate ao vírus, acontecendo por demandas imediatas causadas pela doença, a ponto de chegarmos ao colapso do sistema de atendimento hospitalar e que pode também se estender para a rede funerária.

Como explicar, por exemplo, que no Estado tenha em seu estoque a ridícula quantidade de sedativo para tratamento de pacientes que necessitam de intubação, suficientes apenas para mais dois dias, como disse o secretário estadual da Saúde.

Ainda: como explicar que o Paraná, que sempre foi um Estado modelo em ações de gestões públicas e privadas, pode estar tão atrasado na vacinação de pessoas idosas. Enquanto São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso e alguns do Nordeste estão vacinando idosos com 72 anos aqui, no Paraná, ainda estamos na faixa etária de 77 anos. Em Curitiba, a justificativa da Prefeitura Municipal é a de que a programação depende do número de vacinas repassadas pelo Ministério da Saúde. É vergonhoso.

Temos que questionar como o Estado chegou a uma situação dessas com ausência absoluta de providências antecipadas e de planejamento, com  previsibilidade de que esse medicamento poderia faltar, agravando ainda mais o quadro da tragédia?

Entre outras coisas, a pandemia acaba revelando como o País está carente de homens e mulheres qualificados  para o exercício da gestão pública, para enfrentar desafios,  principalmente diante de catástrofes como a que estamos vivendo, e da qual o Paraná não fica de fora.

Não que seja talvez possível, pela índole de muitos deles, que se revelem líderes como o ex-primeiro-ministro britânico Winston Churchill, que  mudou a História do planeta ao opor corajosa resistência contra o nazismo na Segunda Guerra Mundial, enquanto outras nações caíam de joelhos, mesmo Londres sendo colocada abaixo pelos bombardeios.

Poderiam ter ao menos a coragem de não serem omissos. No Paraná, o governador assiste a uma luta hercúlea de prefeitos desesperados com o avanço da contaminação, como faz o prefeito de Curitiba,  e o governo do Estado ainda assim adota apenas medidas paliativas, tentando agradar a gregos e troianos. E não impõe a outros municípios que sejam adotadas restrições de circulação de pessoas e, se preciso o fechamento de atividades não essenciais.

De que vai adiantar o esforço do prefeito de Curitiba, com todo o ônus que possa haver, se alguns municípios da região metropolitana continuam funcionando como se nada houvesse, sem que o governo do Estado também faça sua parte? Não podemos afirmar que o governador do Paraná tenha se mantido omisso. Mas, neste caso, demorou a adotar medidas, a ter atitude.

O que nos parece é que o governador Ratinho Junior, ao longo do período da pandemia, temia retaliação do presidente perturbado. Esta na hora do Governo do Paraná bater na mesa e mostrar ao País que aqui tem comando, coragem, planejamento, competência e a ousadia  necessária diante das calamidades. Está na hora de Ratinho Junior cobrar igualdade nas vacinas e não ficar atrás do Rio Grande do Sul.

Afinal, lealdade ele provou ao presidente Bolsonaro.