Família do Sudoeste aposta em capacitação e consegue construir o próprio laticínio

Durante anos, uma cena ficou clássica em Santa Izabel do Oeste, no Sudoeste do Paraná. De repente, estacionava um carro cheio de produtos coloniais frescos na sombra de uma árvore, de onde saía Nilza Grossi Toledo Bach, produtora rural da Linha Nova, na área rural do município, sabendo que os moradores daquela casa sempre ficavam com uma ou duas peças de queijo. Outro morador, duas quadras para a frente, pegava três. E assim, de casa em casa, bem antes de ter seu laticínio, Nilza esvaziava o carro sem ver o tempo passar.

Nilza vendia os produtos de porta em porta em uma história de lida no campo que começou há mais de 30 anos. Em 1988, o casal Nilza e Altair Renato Bach comprou duas vacas. Logo, os filhos foram chegando: Rafael, Raquel e Angela. Primeiro, a ideia era dar leite para a criançada. Mas sempre sobrava e surgiu a ideia de fazer queijo para vender. A matriarca começou em casa, com os utensílios que tinha, usando sua cozinha doméstica para fazer o produto artesanalmente.

Não demorou muito para a qualidade do queijo dos Bach ganhar fama e correr toda a região. Mas a produção seguiu de forma artesanal até 2008, quando o dono de um restaurante famoso por ser parada de viajantes e ônibus de turismo fez uma proposta para a família. O estabelecimento repassaria os equipamentos profissionais que possuía na época para fazer queijos e os Bach podiam pagar com mercadorias. Assim, ocorreu o primeiro passo em direção à profissionalização do negócio.

 

Antes do laticínio, família Bach trabalhava mais com agricultura

Durante a história da família, sempre houve a dedicação a diversas atividades, além do leite. No início, a agricultura era o carro-chefe. Com o tempo, outras atividades entraram e saíram do portfólio da propriedade. Eles já venderam, por exemplo, geleias, hortaliças em geral, embutidos, conservas e diversos outros produtos do gênero. Em comum, o fato de que sempre que surgia uma ideia nova, a qualificação entrava em cena. Para se ter ideia, a família Bach já participou de 23 treinamentos promovidos pelo SENAR-PR, nas áreas de produção de alimentos, turismo rural, bovinocultura de leite e agricultura.

Esse total inclui os cursos feitos pelo casal, os três filhos e a esposa de Rafael (filho mais velho), Cristina Marchiori Bach, que também se envolve nas atividades da propriedade. O mais recente foi o Programa Herdeiros do Campo, que está ajudando a envolver todos os membros da família nos negócios. Mesmo Raquel (filha do meio), que não mora na propriedade, auxilia diretamente na parte financeira dos negócios da família.

Angela Bach, a filha mais nova, participou junto com o pai, em 2016, do Herdeiros do Campo. Ela se formou em Medicina Veterinária em 2014 e teve um papel decisivo na construção de um laticínio próprio.

Aliás, lembra daquela cena de Nilza batendo de porta em porta? Às vezes ela sente saudade e vai fazer suas entregas de carro para clientes especiais. Mas hoje, a família Bach é dona de um laticínio que vende queijos em todo o Paraná e até mesmo para Estados vizinhos.

Reforço na capacitação

A segunda onda de profissionalização do negócio começou quando Angela entrou na faculdade, em 2009. Na época, o irmão Rafael e a cunhada Cristina estavam na linha de frente em cuidar das vacas na propriedade. Ele foi atrás de informações sobre financiamentos para ampliar a produção e construir um laticínio. A estrutura foi erguida, mas por problemas no projeto, não conseguiram as licenças sanitárias. “Eu fiquei dois anos lutando com isso, tentando encontrar uma saída, porque não tínhamos como derrubar e construir novamente. Nesse tempo, ficamos sem poder vender para fora do município. Foi um período muito difícil”, lembra Angela.

Depois de analisar as possibilidades e ir atrás dos órgãos regulamentadores, finalmente os Bach fizeram as adequações e conseguiram as licenças necessárias. Desde 2019, o laticínio está a todo vapor, colocando produtos em vários supermercados. A propriedade, hoje, conta com quatro funcionários, além da mão de obra familiar. “Por dia, a gente produz 900 litros de leite, com uma média de 40 vacas em lactação. Dá uns 100 quilos de queijo por dia. Não trabalhamos com estoque, pois é um produto fresco”, relata a veterinária.

Angela considera a formação acadêmica e os cursos do SENAR-PR cruciais para a família ter vencido os momentos mais desafiadores. “Se a gente não tivesse metido a cara e peitado, talvez tivéssemos desistido, feito outra coisa”, reflete.

Novo desafio para infraestrutura

No fim de 2019, um temporal destelhou a cobertura da sala de ordenha e jogou tudo para cima da queijaria. “Eu não sabia o que fazer. Depois de estar tudo arrumado, perfeito, aquilo ali desanimou. Tínhamos seguro, mas não cobria tudo. Deu aquela desanimada, mas conseguimos nos reorganizar e colocar tudo em pé novamente”, compartilha Angela.

Passados os sustos, a família agora tem intenção de seguir investindo para melhorar a infraestrutura da propriedade. O que atrapalha, na visão de Angela, são os processos burocráticos que, muitas vezes, não são pensados para os laticínios menores.

“O problema para os pequenos é que só tem legislação para laticínio grande. Então, muitas vezes, é preciso fazer ofício para tentar explicar a realidade de um laticínio pequeno”, exemplifica.

 

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Cartilha do Descomplica Rural orienta produtores no Paraná

A Faep, o governo do Paraná e o Instituto Água e Terra (IAT) lançaram uma cartilha voltada a orientar produtores rurais paranaenses em relação a mudanças no processo de licenciamento ambiental trazidas pelo programa Descomplica Rural. O material foi desenvolvido por técnicos da FAEP e do IAT. Milhares de cópias da publicação serão distribuídas aos sindicatos rurais e entidades do setor agropecuário de todo o Estado. O produtor rural também pode acessar o conteúdo integral clicando aqui.

A cartilha traz um conteúdo explicativo sobre o licenciamento ambiental, definindo conceitos básicos e apresentando as modalidades de licenças que existem no modelo atual. Em seguida, há um capítulo dedicado a cada uma das cadeias produtivas cujo processo de licenciamento ambiental foi desburocratizado por meio do Descomplica Rural: aquicultura, avicultura, bovinocultura (de corte e leite) e suinocultura. Para cada uma dessas atividades, a publicação traz detalhes de exigências da legislação, de acordo com o porte dos empreendimentos. Ainda, ao longo das 84 páginas, o material traz um capítulo introdutório sobre licenciamento ambiental (modalidades e conceitos) e, no final, uma série de anexos com declarações, diretrizes e formulários de análises.

 

Descomplica Rural modernizou licenciamento ambiental

“O Descomplica Rural modernizou o processo de licenciamento ambiental em atividades que são muito importantes para a economia do Paraná. Com essa cartilha, a nossa intenção é levar informação aos técnicos das entidades do setor e também aos produtores, para que possam viabilizar seus empreendimentos respeitando as leis ambientais e com segurança jurídica”, diz o presidente da FAEP, Ágide Meneguette.

Lançado em janeiro de 2020, o Descomplica Rural é um programa do governo do Paraná que tem por objetivo agilizar os processos de licenciamento ambiental no campo, com seguranças ambiental e jurídica. Para isso, o programa promoveu uma reforma nas resoluções de licenciamento ambiental, atualizando o porte e a classificação dos empreendimentos rurais. Desta forma, tem sido possível dar celeridade aos licenciamentos, induzindo o desenvolvimento sustentável e abrindo caminho para a geração de novos negócios.

 

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SENAR-PR abre edital para instrutores do PER

O SENAR-PR está com inscrições abertas para o credenciamento de novos profissionais, por meio de pessoas jurídicas, para a prestação de serviços de instrutoria em Formação Profissional Rural (FPR) no Programa Empreendedor Rural (PER) 2020. O formulário de inscrição e documentação solicitada devem ser enviados até o dia 26 de fevereiro.

Os pré-requisitos para os instrutores são ensino superior completo em Administração, Ciências Agrárias ou áreas afins, experiência comprovada em aplicação de treinamentos, domínio do pacote Office, além do interesse e disponibilidade para se desenvolver como facilitador de pelo menos uma turma do PER em 2020. O edital estabelece que os instrutores podem ser recrutados para atuar em todos os municípios do Paraná, conforme demanda e convocação. Não poderão participar da seleção empresas individuais, microempreendedores individuais (MEI), Empresa Individual de Responsabilidade Limitada (Eireli) e cooperativas.

Processo

A seleção será composta por cinco fases, incluindo análise de currículos dos profissionais, provas técnica e pedagógica (via EaD) e treinamentos técnicos presenciais ofertados pelo SENAR-PR. A capacitação e seleção dos candidatos acontecerão simultaneamente à condução de uma turma do PER 2020 após resultado da primeira etapa do treinamento técnico. O processo seletivo ocorre entre fevereiro e agosto, com o resultado final dos aprovados divulgado em setembro.

Os conteúdos a serem ministrados pelos instrutores já fazem parte da programação do PER reformulado, com o foco voltado para o núcleo familiar do participante para futuras tomadas de decisões dos negócios rurais. Os temas são sensibilização, evolução da empresa-família, objetivos de longo prazo da família, definição de estratégias para os objetivos de longo prazo, definição de metas de curto e médio prazo, engenharia do negócio, estudo de mercados e análise da viabilidade do plano de negócios proposto e atendimento dos objetivos da família. No total, a carga-horária é de 140 horas.

A remuneração será feita à empresa contratada conforme carga-horária das ações ou atividades realizadas (número de horas/aula), de acordo com regras e valores definidos pelo SENAR-PR. O edital completo, com descrição de todos os requisitos, etapas e documentos necessários, está disponível no site www.sistemafaep.org.br, na seção Editais, ou neste link: http://bit.ly/31H3Fbn. A relação dos candidatos aprovados em cada fase poderá ser acessada nos mesmos locais.

Em evento da FAEP, governador anuncia desburocratização de licenciamentos ambientais

O governador do Paraná, Carlos Massa Junior, assinou durante a Assembleia Geral da FAEP, nesta segunda-feira (27), um protocolo de intenções que lança o Programa Descomplica Rural. A iniciativa, que envolve a Secretaria de Desenvolvimento Sustentável e do Turismo (Sedest) e o governo estadual, visa promover o desenvolvimento sustentável por meio de ações que garantam agilidade na concessão de licenciamentos ambientais. A FAEP teve uma contribuição direta na construção da iniciativa, que visa proporcionar segurança jurídica, bem como processos qualificados e consistentes e que estejam de acordo com as necessidades dos setores econômicos produtivos e da preservação ambiental.

Para o presidente da FAEP, Ágide Meneguette, entre vários pontos, o principal mérito do Descomplica Rural é ter sido construído com a participação direta do setor produtivo, o que permite estar adequado com a realidade do campo. “O produtor vive com um emaranhado de burocracia, pois precisa bater em várias portas para conseguir tocar o seu negócio. O Descomplica Rural irá dar condição de trabalho. Ou seja, o governo irá fazer o favor de não atrapalhar os produtores”, ressalta.

Na ocasião da assinatura do Protocolo de Intenções, o governador Carlos Massa Junior destacou o fato da nova metodologia criada irá permitir a abertura de empreendimentos rurais em poucos dias. “Processos que hoje levam três, seis meses, até um ano, serão feitos em poucos dias. E mais que isso, queremos tirar investimentos que estão na fila para que possam gerar empregos e riquezas e servir de exemplo para atrair novos investidores”, diz o governador.

Márcio Nunes, secretário da Sedest, classificou o lançamento como um momento histórico. “Vivemos momento único, no qual conseguimos sentar todos na mesma mesa, nossos técnicos com os técnicos de sindicatos rurais, produtores e todos os nossos parceiros para unir esforço e escrever o Descomplica Rural”, enfatizou. “Esta é a primeira vez que surge um programa de governo com essa magnitude e que não é lançado em Palácio, mas junto com os produtores rurais, é um ato histórico, que reconhece o papel daqueles que querem investir no Estado do Paraná. O maior programa social que pode existir é a geração de empregos”, completou.

De acordo com o presidente em exercício do Instituto Água e Terra (IAT), José Volnei Bisognin, o Descomplica Rural irá agilizar o processo de licenciamento ambiental no Paraná, inclusive tirando da fila cerca de 10 mil pedidos que estão em trâmite. “Irá facilitar muito a vida do homem do campo. Além de facilitar os pedidos de licenciamento ambiental, os prazos de operação foram dilatados, em alguns casos, em até dez anos, onde antes era de dois”, destaca Bisognin. Em 2019, mais de 30 mil licenças ambientais foram emitidas no Paraná.

O Programa

O Descomplica Rural pretende agilizar a liberação de licenças ambientais executando uma revisão criteriosa de normas e procedimentos da Sedest e entidades vinculadas. Uma das principais ações será a inserção do licenciamento dos empreendimentos que ainda são licenciados pelo Sistema Integrado Ambiental (SIA). Entre eles, estão: saneamento; cemitérios; fauna silvestre; geração, transmissão e subestação de energia; náuticos; minerários; rodoviários; aeroportos e aeródromos; atividades portuárias; transporte por dutos; além de obras diversas, como por exemplo dragagem, canais para drenagem, retificação de curso de água, entre outros.

Outras frentes de trabalho abrangidas pelo programa serão a elaboração da resolução de pátio de caminhões; a revisão da Resolução CEMA nº 088/2013; a elaboração da resolução de piscicultura; a formulação da Portaria de regulamentação do Decreto nº 11.515/2018 – que dispõe sobre formas, prazos e procedimentos para a regularização ambiental das propriedades rurais no Estado do Paraná; entre outros.