Bolsonaro chega a dois anos sem partido e tenta selar filiação ao PP após fracassos em série

Quase dois anos depois de entrar em atrito público e deixar o PSL, partido pelo qual se elegeu presidente da República, Jair Bolsonaro tenta acertar sua volta ao PP, sigla que lidera o centrão e por meio da qual ele iniciou sua carreira política.

Nesses quase 24 meses, o presidente e seus aliados fracassaram na tentativa de criar do zero uma legenda, a Aliança pelo Brasil, e foram estopim de rachas internos em partidos com os quais negociaram ingresso. Segundo dirigentes do PP, basta Bolsonaro bater o martelo para se filiar.

O centrão, outrora execrado por Bolsonaro e seus aliados, é hoje a base de sustentação política do governo no Congresso. Na linha de frente dessa aliança estão o presidente do PP e ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e o presidente da Câmara, Arthur Lira (AL).

Hoje, calculam integrantes da cúpula do PP, 90% dos diretórios estaduais da sigla concordam em receber Bolsonaro. A maior resistência está no Nordeste, principalmente na Paraíba, em Pernambuco e na Bahia. Mesmo assim, segundo Ciro Nogueira relatou em conversas reservadas, isso não é mais um entrave.

O próprio Lira, que temia que a entrada de Bolsonaro pudesse atrapalhar sua tentativa de reeleição no comando dos deputados em 2022, já aceitou a migração do presidente. Em troca da filiação, Bolsonaro teria o direito de escolher os candidatos ao Senado de estados considerados chave, como mostrou a Folha nesta semana.

Além de comandar a Câmara, o PP tem a quarta maior bancada da Casa, com 42 deputados. Também tem a quarta maior bancada do Senado, com 7 parlamentares.

Antes de avançar nas conversas com o PP, porém, Bolsonaro e seus articuladores negociaram o ingresso em várias outras legendas, como os nanicos PRTB e Patriota, e o PTB de Roberto Jefferson, hoje preso no bojo das investigações sobre suposta organização criminosa digital voltada a atacar as instituições e a democracia.

Tanto no PTB quanto no Patriota, a possibilidade de filiação de Bolsonaro e dos bolsonaristas acentuou crises internas.

O PTB, que com a prisão de seu presidente está interinamente sob o comando de Graciela Nienov, anunciou que irá expulsar Cristiane Brasil, filha de Jefferson, em meio a troca de acusações de interferências nas negociações para o ingresso de Bolsonaro.

No Patriota, o então presidente da legenda nanica, Adilson Barroso, um entusiasta da filiação de Bolsonaro, foi defenestrado do comando durante uma confusa realização de reuniões para tentar aprovar a entrada do presidente.

O senador Flávio Bolsonaro (RJ) chegou a se filiar à legenda, mas também deve sair. “Na verdade, o movimento feito pelo ex-presidente do partido foi através de ações irregulares, razão pela qual não concordamos e tomamos as medidas judiciais cabíveis, que culminou com o seu afastamento definitivo do cargo”, disse Ovasco Resende, que assumiu o posto de Barroso.

“O partido continua trabalhando para cumprir o seu principal objetivo, que é ultrapassar a cláusula de barreira , agindo de forma democrática”, disse Ovasco Resende, que assumiu o posto de Barroso”, completou.

A Folha de S.Paulo não conseguiu falar com o ex-presidente do Patriota. O plano A de Bolsonaro era criar um partido no qual tivesse total comando.

Para isso, deu largada em novembro de 2019 ao Aliança pelo Brasil, em um evento em Brasília ao qual compareceu sob gritos de “mito” e ao lado da primeira-dama, Michelle, e de três de seus cinco filhos: o deputado federal Eduardo (PSL-SP), o senador Flávio e Jair Renan, iniciante na vida política.

Quase dois anos depois, porém, o projeto se mostrou um fiasco. A expectativa anunciada em 2019 era a de que o partido bolsonarista fosse criado a tempo de disputar as eleições municipais de 2020, objetivo logo abandonado. A esse revés inicial se somou a chegada da pandemia, o que dificultou ainda mais a coleta de apoio.

O empresário Luís Felipe Belmonte é vice-presidente da legenda em formação, mas, na prática, é o principal responsável por ela. O presidente formal é Bolsonaro, que há tempos abandonou qualquer articulação efetiva em prol do partido. O outro vice é Flávio Bolsonaro.

“Enquanto estiver no prazo, vamos continuar trabalhando. Só vou falar que não deu depois que não der, mas, por enquanto, estou achando que dá”, diz Belmonte.

Em seis meses, o Aliança tem que conseguir completar nos cartórios eleitorais a validação da assinatura de 492 mil eleitores para pedir seu registro ao Tribunal Superior Eleitoral. Em quase dois anos de recolhimento de apoio, porém, só conseguiu 140 mil fichas consideradas aptas.

Bolsonaro já passou formalmente por oito agremiações desde que se elegeu vereador, em 1988, e durante seus sete mandatos como deputado Federal. O número é inflado, porém, pela constante alteração de nomenclatura e fusões na sopa de letras que forma o quadro partidário brasileiro desde a redemocratização.

A origem da maior parte das siglas de Bolsonaro está na Arena, partido de sustentação do regime militar (1964-1985). Sua eleição para vereador se deu pelo PDC, partido que depois se fundiria ao PDS, herdeiro direto da Arena, formando o PPR. Algumas fusões e mudanças de nomenclaturas depois levaram a sigla a desembocar no PP dos dias atuais.

Bolsonaro ainda teve breve passagens pelo PFL (que depois virou DEM e deve se transformar agora em União Brasil, após a fusão com o PSL) e PTB, voltando ao PP em 2005, onde ficou por cerca de 10 anos.

Em 2016 migrou para o nanico PSC na expectativa de se lançar candidato a presidente. Sem apoio político interno, porém, saiu novamente e, após negociar com outras siglas, se filiou ao então nanico PSL.

Descontadas as fusões e troca de nomes, Bolsonaro esteve filiado em toda a sua carreira a cinco partidos diferentes: PP e suas variações, PFL, PTB, PSC e PSL.

A sopa de letrinhas da vida partidária de Bolsonaro:

1988: É eleito vereador, aos 33 anos

PDC (Partido Democrata Cristão) – sigla acabaria se fundindo em 1993 com o PDS de Paulo Maluf

1993: Em seu primeiro mandato como deputado federal

PPR (Partido Progressista Reformador) – sigla surge da fusão do partido de Bolsonaro, o PDC, com o PDS, comandado por Maluf e principal herdeiro da Arena, o partido de sustentação do regime militar (1964-1985)

1995: Em seu segundo mandato como deputado federal

PPB (Partido Progressista Brasileiro) -sigla nasce da fusão do partido de Bolsonaro, o PPR, com o PP (Partido Progressista), de breve existência -havia sido criado dois anos antes a partir da fusão de PTR (Partido Trabalhista Renovador) e PST (Partido Social Trabalhista)

2003: Em seu quarto mandato como deputado federal

PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) – Deixa o PPB para se filiar ao PTB de Roberto Jefferson. Ficaria na sigla por cerca de dois anos

2005: Em seu quarto mandato como deputado federal

PFL (Partido da Frente Liberal) – tem breve passagem pelo partido presidido à época por Jorge Bornhausen. A sigla depois virou DEM e, agora, aprovou sua fusão ao PSL para virar União Brasil PP (Partido Progressista) – volta à sigla (que em 2003 mudou o nome de PPB para PP) pela qual, com outro nome, iniciou sua carreira política.

2016: Em seu sétimo mandato consecutivo como deputado federal

PSC (Partido Social Cristão) – filia-se à sigla nanica já com o objetivo de disputar a Presidência da República

2018: Candidato à Presidência da República

PSL (Partido Social Liberal) – depois de romper com o PSC e fracassar entendimentos para ingresso em siglas como o Patriota, se filia ao partido de Luciano Bivar, com quem também rompeu após a eleição

2019: Presidente da República

Aliança pelo Brasil (em montagem) – após romper com o PSL, anuncia a criação do Aliança pelo Brasil. O projeto, porém, até hoje não obteve apoio popular suficiente para sair do papel

2021: Pré-candidato à reeleição à Presidência da República

Lira reduz resistência a Bolsonaro no PP e descarta veto à filiação do presidente

Apesar de demonstrar resistência à entrada de Jair Bolsonaro no PP, o presidente da Câmara, Arthur Lira, disse a pessoas próximas que não vai atuar para barrar a entrada do mandatário no partido.

Líder do centrão e deputado pelo PP de Alagoas, ele afirmou a aliados que, hoje, cerca de 90% do partido quer o presidente da República na sigla e, por isso, não será ele quem vai impedir a filiação.

Bolsonaro está cada vez mais próximo de fechar a aliança com o PP. Como condição, pediu para escolher os candidatos que disputarão uma vaga no Senado pela legenda em 2022.

O presidente do PP, Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil, comprometeu-se a dar influência ao mandatário na sigla. Isso significa que Bolsonaro poderá escolher quem se candidatará a senador pelo menos nos estados considerados chave para ele, como é o caso do Rio de Janeiro e do Distrito Federal.

Como mostrou o Painel, as conversas para que o presidente da República se filie ao PP evoluíram na última semana, depois que Ciro começou a consultar oficialmente representantes do partido nos estados a respeito do tema.

Hoje, segundo dirigentes ouvidos pela reportagem, a maioria absoluta é favorável à migração de Bolsonaro. Os mais resistentes ao mandatário estão concentrados no Nordeste: Bahia, Paraíba e Pernambuco.

A razão para a contrariedade é o fato de os filiados avaliarem que Bolsonaro está mal nas pesquisas de intenção de voto, com menos chances de ser reeleito. Por isso, os resistentes preferem se aliar ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) localmente.

A mais recente pesquisa Datafolha mostrou que a corrida presidencial está estagnada, com Lula mantendo larga vantagem sobre Bolsonaro.

Comparado ao último levantamento, Lula oscilou de 46% para 44% e Bolsonaro, de 25% para 26%, numa hipótese em que o candidato tucano é João Doria (SP), que passou de 5% para 4%. Nesse cenário, Ciro Gomes (PDT) segue em terceiro (de 8% para 9%), tudo dentro da margem de erro.

O petista foi de 46% para 42%, e Bolsonaro se manteve em 25%, na simulação em que o nome do PSDB é Eduardo Leite (RS) –que oscilou de 3% para 4%. A diferença no cenário com o gaúcho é que Ciro Gomes (PDT) pulou de 9% para 12%.

O presidente da Câmara dos Deputados não queria Bolsonaro na legenda porque teme prejuízo à tentativa de se reeleger no comando da Casa em 2023. O cálculo de Lira é que, se Bolsonaro perder e estiver no seu partido, será muito difícil superar as resistências ao presidente e evitar contaminação de sua campanha.

Neste ano, o deputado foi eleito com a pecha de bolsonarista por ter contado com o apoio do governo, que mobilizou cargos e cedeu emendas para a eleição dele. Ainda assim, Lira teve o apoio, mesmo que não oficial, de congressistas de siglas de oposição sob o argumento de que seria independente à frente da Câmara.

Se Bolsonaro estiver filiado a seu partido, ficará mais difícil enfrentar esses entraves, avalia o deputado. De todo modo, no último fim de semana, ele afirmou a aliados que não vai agir para barrar Bolsonaro.

A aposta no PP é que a sigla vai conseguir aumentar substancialmente as bancadas na Câmara, no Senado e eleger governadores com Bolsonaro e outros puxadores de voto do segmento ideológico que entrariam na legenda.

Eleito pelo PSL, até 2018 um partido nanico, o presidente da República se aproximou ainda mais do centrão em um momento de fragilidade, quando se viu ameaçado por mais de cem pedidos de impeachment e pelo avanço da CPI da Covid.

A expectativa é que a filiação ao PP ocorra em breve. Em julho, o presidente afirmou que procurava um partido para “chamar de seu”. “Tentei e estou tentando um partido que eu possa chamar de meu e possa, realmente, se for disputar a Presidência, ter o domínio do partido. Está difícil, quase impossível”, disse em entrevista à Rádio Grande FM, de Mato Grosso do Sul.

Apesar da declaração, Bolsonaro não conseguiu impor no PP condições que tentou colocar a outros partidos, entre eles o Patriota, ao qual o senador Flávio Bolsonaro chegou a se filiar.

Em negociação com o Patriota, Bolsonaro pediu para filtrar as candidaturas ao Congresso e as filiações. Sem citar nomes, o presidente disse que queria evitar traições após a eleição, como ocorreu no PSL.

Durante a eleição de 2018, o grupo de Bolsonaro tinha a presidência do partido, com o combinado de que, após as eleições, Luciano Bivar (PE) retomaria ao poder. No primeiro ano de mandato de Bolsonaro, porém, o mandatário resistiu a devolver o comando do PSL, o que gerou uma cisão interna.

Hoje, dos 53 deputados do PSL, cerca de metade é aliada do presidente da República e deve acompanhá-lo para o partido que ele escolher para disputar a reeleição. Por causa do histórico e de resistências ideológicas, Bolsonaro enfrentou divisões também no Patriota.

Os aliados do presidente queriam incluir no DNA do Patriota valores cristãos e uma posição contrária à legalização do aborto para tentar reconquistar votos de evangélicos na eleição de 2022.

A ala da sigla mais ligada ao antigo PRP (Partido Republicano Progressista), que se fundiu ao Patriota em 2018, rejeita embarcar na proposta de transformá-lo em um símbolo da agenda bolsonarista. A intenção de Flávio Bolsonaro era a de controlar a sigla com seu pai.

Adilson Barroso, então presidente da legenda com quem ele negociava as condições, foi tirado do posto e teve seus atos anulados após ter afastado dirigentes do Patriota para obter maioria no diretório nacional, mudar o estatuto e abrir espaço para que Jair Bolsonaro e seus aliados tivessem o comando da legenda.

Com o fracasso no acordo, Flávio e Bolsonaro passaram a reavaliar a estratégia. Após sair do PSL, Bolsonaro se mobilizou a partir de 2019 para criar um partido próprio, a Aliança Pelo Brasil. O projeto, porém, acabou deixado de lado para 2022 diante da dificuldade de coletar as assinaturas necessárias para viabilizá-lo.

União Brasil será nome de partido formado por fusão de DEM e PSL

As cúpulas do DEM e do PSL decidiram que vão chamar de União Brasil o partido que resultará da fusão das legendas. Também foi escolhido um novo número para representá-lo nas urnas: 44.

Ambas as decisões foram tomadas a partir de pesquisas qualitativas feitas pelos partidos. Segundo o presidente do DEM, ACM Neto, União Brasil foi o que teve a melhor aceitação nos estudos e busca representar o fim da polarização.

“Os brasileiros querem união e pôr fim à polarização, aos antagonismos”, disse. “A gente partiu do princípio de que, sendo um partido novo, o ideal era que tivesse um número novo, e este foi o que obteve a unanimidade entre as pessoas que discutiram a definição”, explicou Neto sobre o número escolhido.

As executivas tanto do DEM como do PSL aprovaram dar continuidade ao processo de fusão e convocaram convenções nacionais para o dia 6 de outubro.

Os eventos ocorrerão de forma conjunta. Uma vez que a fusão for aprovada nas convenções, o processo será encaminhado ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para dar que seja formalizada a criação do novo partido.

Uma vez consolidada a fusão, a tendência é que o PSL, que tem 53 congressistas na Câmara, perca cerca de metade da bancada, formada por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

O DEM também deverá perder apoiadores. A expectativa de ambas as siglas, porém, é que outros quadros migrem para a nova legenda.

A ideia dos dirigentes do provável novo partido é lançar candidato à Presidência ou apoiar formalmente um nome que não seja Bolsonaro.

Nesse movimento, o DEM trabalhará para manter na legenda o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que tem sido assediado pelo PSD. E tentará trazer nomes relevantes, como Geraldo Alckmin (PSDB-SP), ex-governador de São Paulo, e Romeu Zema (Novo-MG), governador de Minas Gerais.

“Com essa sinalização, esperamos concluir a fusão e formar um partido que terá papel relevante em 2022”, disse à reportagem o vice-presidente do PSL, Antônio de Rueda.

Com a união das siglas, o novo partido poderá ser o maior no Congresso.

A cúpula do DEM decidiu negociar a fusão para ter um “corpo que pudesse carregar seu conteúdo”, como afirmaram caciques da legenda à reportagem reservadamente, após a perda de filiados de destaque em 2021 e a rejeição da volta das coligações partidária pelo Senado.

De um lado, o PSL deverá ter um dos maiores tempos de televisão em 2022, além de um robusto fundo eleitoral e partidário. Do outro, o DEM, um partido que já teve papel relevante no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), mas que hoje, com uma bancada de 28 deputados, não tem a importância que já teve um dia.

A fusão de ambas as siglas , na avaliação de dirigentes do DEM, além de uma questão de sobrevivência devido às mudanças nas regras eleitorais, tem por objetivo garantir a relevância dos dois partidos após as eleições de 2022.

Isso porque o PSL foi nanico por cerca de 25 anos, desde a sua fundação, em 1994, até 2018, quando abrigou Bolsonaro na disputa pela Presidência da República.

A onda bolsonarista fez o partido eleger a segunda maior bancada da Câmara e, com isso, ter a segunda maior fatia da verba pública partidária e eleitoral a partir de 2019.

Porém, sem Bolsonaro, que rompeu com a sigla ainda em 2019, o PSL dificilmente terá desempenho perto do que conseguiu em 2018, mesmo com os cofres de campanha cheios.

As eleições municipais de 2020 foram uma prévia. O partido elegeu 90 prefeitos, nenhum deles em grandes cidades.

Já o DEM está longe dos áureos tempos dos anos 1980 e 1990, quando sob o nome de PFL (Partido da Frente Liberal) chegou a ter a maior bancada da Câmara e a presidir as duas Casas do Congresso, além de ter a vice-presidência da República.

Com a chegada do PT ao poder, o partido trilhou o caminho da oposição e acabou entrando em declínio.

Em 2007, na tentativa de se renovar, trocou o comando e mudou o nome para Democratas. Em 2014, chegou ao fundo do poço, tendo eleito apenas 21 deputados federais.

O partido ganhou um novo fôlego após o impeachment de Dilma Rousseff (PT), em 2016, e com a eleição de Rodrigo Maia (RJ) para a presidência da Câmara. Em 2019, venceu também o Senado, com Davi Alcolumbre (AP).

A sucessão de Maia, em 2021, porém, levou a um racha no partido. Seu candidato, Baleia Rossi (MDB-SP), acabou derrotado por Arthur Lira (PP).

Maia se disse traído nessa disputa por ACM Neto, atual presidente da legenda, fez duras críticas e acabou expulso da sigla que presidiu de 2007 a 2011.

Além de perder o ex-presidente da Câmara, a sigla também viu a saída de Rodrigo Garcia (PSDB), vice-governador de São Paulo, e ainda teme que Pacheco deixe a legenda e vá para o PSD, pelo qual tem sido assediado.

Bolsonaro usará marco dos mil dias para viajar o país, inaugurar obras e tentar recuperar popularidade

Na esteira do pior patamar de reprovação ao governo desde que tomou posse, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) planeja uma sequência de eventos para celebrar a semana em que completa mil dias de mandato.

A ideia original do presidente é fazer viagens para todas as regiões do país, num esforço concentrado para apresentar entregas como estradas, casas populares e até hidrelétrica.

A confirmação das agendas nos estados, no entanto, depende do teste de Covid-19 que ele deve realizar neste fim de semana, após o ministro Marcelo Queiroga (Saúde) ter se infectado em Nova York. Caso o resultado seja negativo, o mandatário terá luz verde para deixar o isolamento.

Com as viagens e os eventos, Bolsonaro espera recuperar parte da sua popularidade. Segundo o Datafolha divulgado na semana passada, 53% da população considera a gestão do presidente ruim ou péssima, um novo recorde.

A ideia de integrantes do Palácio do Planalto é que, liberado do isolamento, Bolsonaro visite ao menos uma cidade de cada região e participe por videoconferência de inaugurações de impacto.

Durante as viagens, além das solenidades de lançamento das obras, o presidente deverá conceder entrevistas a rádios locais. A medida faz parte de uma nova estratégia de comunicação que busca dar capilaridade às ações do governo.

No dia 27 de setembro, quando o governo completa mil dias, o plano é fazer um ato no Planalto.

De 28, terça-feira, a 1º de outubro, sexta-feira, Bolsonaro deve ir para Nordeste, Norte, Sudeste, Centro-Oeste e Sul. As duas últimas regiões serão visitadas no mesmo dia pelo presidente, na sexta.

O chefe do Executivo está sendo aconselhado a participar dos eventos mais vistosos, como inaugurações de hidrelétrica ou rodovias. Mas caberá ao próprio Bolsonaro a escolha das cidades e dos eventos que participará.

Segundo auxiliares palacianos, o chamado “entregaço” já vinha sendo organizado há pelo menos quatro meses. Foram concentradas todas as entregas de ministérios previstas para setembro em uma única semana.

Estão planejados eventos que vão da alçada desde do Ministério da Defesa até a Saúde, passando por Educação, Desenvolvimento Regional, Ciência e Tecnologia e Infraestrutura, entre outros.

A lista de obras está sendo finalizada. A expectativa é que sejam incluídos atos de assinatura de concessão de aeroportos e rodovias, além da liberação de trechos duplicados em estradas.

Com a série de eventos, a meta do Planalto é tentar emplacar uma agenda positiva nos estados, diante das pesquisas de opinião que mostram Bolsonaro em desvantagem em relação ao seu provável adversário no ano que vem, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A mais recente pesquisa Datafolha mostrou que a corrida presidencial está estagnada, com Lula mantendo larga vantagem sobre Bolsonaro na dianteira da disputa.

Comparado ao último levantamento, Lula oscilou de 46% para 44% e Bolsonaro, de 25% para 26%, numa hipótese em que o candidato tucano é João Doria (SP), que passou de 5% para 4%. Nesse cenário, Ciro Gomes (PDT) segue em terceiro (de 8% para 9%), tudo dentro da margem de erro, de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

O petista foi de 46% para 42%, e Bolsonaro se manteve em 25%, na simulação em que o nome do PSDB é Eduardo Leite (RS) -que oscilou de 3% para 4%. A diferença no cenário com o gaúcho é que Ciro Gomes (PDT) pulou de 9% para 12%.

Durante as atividades dos mil dias, no mesmo dia e no mesmo horário, a previsão é que ocorram eventos simultâneos em diferentes estados do país com os ministros.

Bolsonaro quer participar presencialmente de um e, por videoconferência, aparecer nos demais. Nas cerimônias, o Planalto também pretende apresentar vídeo com o que foi entregue pelo governo federal aos estados.

Antes da pandemia, o governo realizava eventos no Planalto a cada cem dias para apresentar o que teria feito no período. Esta deve ser a primeira vez que Bolsonaro viajará com esse propósito.

O governo prepara eventos em dias e cidades distintas com os ministros como estrelas. O ministro da Economia, Paulo Guedes, deve participar de cerimônia em Florianópolis em 1º de outubro.

Já a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, organiza a celebração de mil dias do governo Bolsonaro no Pará. Ela tem questionado ministérios sobre ações voltadas ao estado para consolidar em uma apresentação.

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, seria o destaque do evento em João Pessoa, onde nasceu, mas está cumprindo isolamento em Nova York para respeitar a quarentena da Covid.

O ministro Rogério Marinho (Desenvolvimento Social) vai a Alagoas, São Paulo, Tocantins e Minas Gerais –nesses dois últimos estados ele acompanha o presidente.

A Covid deve levar ao desfalque nas celebrações de outra ministra. Tereza Cristina (Agricultura) recebeu resultado positivo em teste para o vírus e não deve mais viajar para o Amapá, onde lideraria as entregas no estado.

A pasta deve ser representada pelo secretário-executivo, Marcos Montes.

A entrega de obras, a recuperação da economia e o lançamento do Auxílio Brasil, programa que reformulou o Bolsa Família, são as apostas de líderes do centrão para tentar alavancar a popularidade do presidente.

Outra aposta dos dirigentes de siglas do centrão era que Bolsonaro moderasse seu discurso e parasse de provocar as instituições.

Após os protestos de 7 de Setembro, o presidente escreveu uma carta na qual disse que só agrediu ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) no “calor do momento” e desde então tem mantido um tom menos belicoso , apesar de políticos e magistrados desconfiarem do tempo que a moderação vai durar.

Nesta semana, em entrevista à revista Veja, Bolsonaro afirmou que não existe nenhuma chance de tentar um golpe no país.

“Daqui pra lá, a chance de um golpe é zero. De lá pra cá, a gente vê que sempre existe essa possibilidade”, disse o presidente na entrevista.

“De lá pra cá é a oposição, pô. Existem cem pedidos de impeachment dentro do Congresso. Não tem golpe sem vice e sem povo. O vice é que renegocia a divisão dos ministérios. E o povo que dá a tranquilidade para o político voltar”, disse.

Bolsonaro diz que bloqueios atrapalham economia e pede que caminhoneiros liberem vias

O presidente Jair Bolsonaro pediu a aliados que façam contato com caminhoneiros alinhados ao governo para liberar as rodovias bloqueadas depois dos protestos de raiz golpista do dia 7 de setembro.

Em uma mensagem de áudio, o presidente diz que a interrupção do trânsito prejudica a economia. Dois ministros do governo confirmaram à Folha que Bolsonaro enviou a gravação.

“Fala para os caminhoneiros aí que são nossos aliados, mas esses bloqueios aí atrapalham a nossa economia. Isso provoca desabastecimento, inflação, prejudica todo mundo, em especial os mais pobres. Então, dá um toque nos caras aí, se for possível, para liberar, tá ok? Para a gente seguir a normalidade”, diz Bolsonaro.

Aliados do presidente temem que as manifestações de caminhoneiros nas estradas em apoio a Bolsonaro prejudiquem o governo caso os efeitos econômicos da paralisação se espalhem. Em algumas cidades, já há relatos de falta de combustíveis.

Caminhoneiros realizaram paralisações em trechos de rodovias em ao menos 15 estados. Somente no Paraná, são pelo menos 19 pontos de bloqueios nas rodovias estaduais, de acordo com a Polícia Rodoviária Estadual (PRE).

Sem apoio formal de entidades da categoria, os motoristas são alinhados politicamente ao governo ou ligados ao agronegócio.

Parte dos manifestantes segue a pauta dos protestos liderados por Bolsonaro na última terça-feira (7), com ataques ao STF (Supremo Tribunal Federal) e pressões pela destituição de ministros da corte.

Na gravação, o presidente pede que as discussões políticas sejam feitas pelas autoridades em Brasília.

“Deixa com a gente em Brasília aqui agora. Não é fácil negociar, conversar por aqui com outras autoridades, não é fácil. Mas a gente vai fazer a nossa parte aqui, vamos fazer a nossa parte aqui, tá ok?”, diz Bolsonaro.

Segundo o Ministério da Infraestrutura, os prostestos “não se limitam às demandas ligadas à categoria”. As principais pautas dos caminhoneiros hoje são preço do combustível e piso mínimo do frete. “Não há coordenação de qualquer entidade setorial do transporte rodoviário de cargas”, afirmou a pasta. Entidades de caminhoneiros corroboram essa posição.

PIB estancado impõe cenário eleitoral adverso para Bolsonaro em 2022, avaliam líderes do centrão

Apesar de o ministro Ciro Nogueira (Casa Civil) ter minimizado o encolhimento do PIB no segundo trimestre deste ano, dirigentes e líderes de partidos do centrão admitem que o cenário para o futuro da economia é pessimista e apontam dificuldades para implementar as medidas que alavancariam a popularidade de Jair Bolsonaro.

Ciro, presidente licenciado do PP, e integrantes de outras siglas apostam na reformulação do Bolsa Família, na recuperação econômica e na inauguração de obras em 2022 como vitrines na campanha de Bolsonaro à reeleição.

Os indicadores desta semana, porém, dão um banho de água fria nessa perspectiva, avaliam líderes e dirigentes de partidos como PP, PL, DEM e Republicanos.

Na terça (31), o governo mandou ao Congresso um Orçamento enxuto, sem aumento no programa social nem espaço fiscal frouxo para ministérios.

No mesmo dia, o ministro Bento Albuquerque (Minas e Energia) anunciou aumento de 6,78% na conta de luz e fez pronunciamento na TV pedindo para a população poupar energia.

Já nesta quarta (1º), o IBGE anunciou uma variação negativa do PIB de 0,1% neste trimestre em relação ao anterior.

Tudo isso ocorre enquanto o governo tenta parcelar pagamento de precatórios -dívidas reconhecidas pela Justiça- e o tom autoritário do presidente afasta investimentos.

Os dados econômicos geram uma perspectiva de que a retomada da popularidade de Bolsonaro será mais difícil do que imaginavam políticos.

” é catastrófico e sem perspectiva. É um avião num ‘cumulonimbus’ com um piloto que não sabe o que fazer”, afirmou o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM).

Em reserva, um dirigente partidário disse não ver mais chances de Bolsonaro recuperar a popularidade e ser reeleito em 2022.

Apesar do cenário de pessimismo traçado por ala do centro e do centrão, Ciro Nogueira publicou mensagens no Twitter nas quais usou a comparação com o segundo trimestre de 2020 para argumentar que o resultado “confirma a recuperação da nossa economia”.

“O PIB brasileiro no segundo trimestre deste ano cresceu 12,4% em relação ao mesmo período do ano passado e confirma a recuperação da nossa economia, que já está no mesmo patamar do final de 2019 e início de 2020”, afirmou.

“Ao comparar com o 1º trimestre de 2021 o PIB recuou 0,1%. O suficiente para pessimistas dizerem que a economia está ruim, mas prefiro o otimismo de ver que o Brasil já está no nível pré-pandemia, confiante na recuperação iniciada com o avanço da vacinação e das reformas em curso”, escreveu.

A mensagem de Ciro Nogueira contrastou com a do próprio ministro Paulo Guedes (Economia) e Roberto Campos Neto (Banco Central). Guedes, ao comentar o resultado do PIB, afirmou que o período foi o mais trágico da pandemia e que o desempenho econômico “andou de lado”.

O desempenho do PIB vem do resultado negativo da agropecuária (-2,8%) e da indústria (-0,2%). Por outro lado, os serviços avançaram 0,7% no período.

“Foi o trimestre mais trágico, quando a pandemia abateu mais brasileiros, foi abril, maio e junho deste ano, com a segunda onda. Foi justamente quando entrou de novo o auxílio emergencial, a expansão dos programas de assistência. Nós mantivemos a responsabilidade fiscal de um lado e o compromisso da saúde dos brasileiros de outro lado”, afirmou o ministro.

Já Campos Neto afirmou que a projeção do PIB para 2021 provavelmente será revisada para baixo por causa do resultado do último trimestre.

Como mostrou reportagem da Folha de S.Paulo nesta quarta, analistas esperam um crescimento abaixo de 2% para 2022, de volta ao ritmo fraco do final do governo Michel Temer (MDB) e início da gestão Bolsonaro.

O resultado negativo na economia soma-se à crise hídrica e ao risco de ocorrer um apagão no ano que vem.

A principal aposta do governo, a reformulação do Bolsa Família, está condicionada ao parcelamento do pagamento de precatórios, em negociação com o STF (Supremo Tribunal Federal).

Bolsonaro quer aumentar de R$ 190 para R$ 400. Já a equipe econômica trabalha com um valor próximo de R$ 300, já considerado alto.

Ainda assim, congressistas do PP dizem que, com a alta da inflação e das contas de energia, o consumidor está sentindo cada vez mais o resultado da economia.

E que, embora o programa social possa levar alívio a populações mais pobres, parte da classe média que também votou em Bolsonaro seguirá sentindo os efeitos negativos.

O PP ainda não vislumbra um desembarque do governo. Se isso ocorrer, deverá ser no ano que vem, às vésperas da eleição.

Publicamente, integrantes dos partidos da base do governo seguem no discurso de que será possível recuperar a popularidade do presidente.

“A queda do PIB foi mínima, sobretudo se considerarmos o impacto que a pandemia causou e causa na atividade econômica”, disse o deputado Marcelo Aro (PP-MG).

“A meu sentir, não teremos prejuízos na adaptação dos programas de assistência, tampouco reflexos diretos no controle da inflação. Em comparação com os anos imediatamente anteriores, é perceptível inclusive um certo crescimento.”

Para se cacifar na 3ª via, Pacheco abusa do emcimadomurismo

Cotado como um nome de terceira via na corrida ao Planalto em 2022, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), tem adotado postura equilibrista ao alterar momentos de reação a arroubos autoritários de Jair Bolsonaro com complacência em relação a falas e ações do mandatário.

Em momento de crise institucional e repetidas ameaças à democracia, a posição de Pacheco é alvo de crítica nos bastidores do Senado, com oposicionistas, independentes e até mesmo governistas pedindo postura mais firme do presidente do Congresso.

Os críticos consideram a mudança de atitude ainda mais necessária, considerando-se que à frente da Casa Legislativa vizinha está o aliado do Planalto, Arthur Lira (PP-AL), que silencia em situações delicadas, segue ao lado do governo na elaboração da pauta da Câmara e não dá indício nenhum de que pode analisar a abertura de um pedido de impeachment.

Para congressistas, o jeito conciliador de Pacheco tem relação com a tentativa do senador de se cacifar como alternativa para fugir à polarização protagonizada por Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e efetivamente se colocar como uma opção de centro em 2022.

Apesar de ser filiado ao DEM, o PSD é um dos partidos que tentam atrair Pacheco para disputar a Presidência da República.

Apesar das críticas, Pacheco não indica que vai mudar a postura. O presidente do Senado tem dito a interlocutores que falas extremadas do presidente são apenas retórica.

Pacheco só adotará um posicionamento mais duro se Bolsonaro cruzar o que o senador definiu como “linha vermelha”, que é o caso de quando as palavras viram ações.

Exemplo recente foi a iniciativa de Bolsonaro de enviar ao Senado pedido de abertura do processo de impeachment contra o ministro do STF (Supremo Tribunal federal) Alexandre de Moraes. Em menos de uma semana, Pacheco anunciou ter consultado a advocacia da Casa e decidido arquivar o processo.

“Pacheco prima pela institucionalidade, ao tomar uma decisão que é prerrogativa dele, então merece todo o nosso respeito”, afirmou o líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (MDB-TO).

“Então dessa forma eu renovo a minha esperança nele, assim como entendo também que a gente precisa discutir permanentemente a separação dos Poderes. Porque o presidente Bolsonaro também deve ter preservada as suas prerrogativas, assim como o presidente do Supremo, ministro Luiz Fux”, disse.

A decisão de Pacheco foi saudada no Senado, mesmo por aqueles que o criticavam.

“Eu queria, alto e bom som, em nome da Comissão Parlamentar de Inquérito, dizer ao Brasil que nós estamos comemorando a decisão enfática, coerente, patriótica do presidente do Senado Federal em arquivar essa loucura que significa esse pedido de impeachment”, afirmou o relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDB-AL), durante sessão da comissão.

“E, como fiz críticas anteriores, eu queria me redimir e, de público, elogiar o presidente do Senado Federal”, disse.

Renan havia criticado o colega por ele não se posicionar contra arroubos de Bolsonaro. Muitos senadores chegaram a apontar que a cúpula da CPI tinha assumido para si uma função de Pacheco, ao divulgar notas condenando as posturas do presidente e ao se reunir com Moraes para prestar solidariedade.

Nos momentos críticos, Pacheco evita declarações conflituosas com Bolsonaro. Mesmo quando vai se pronunciar sobre atitudes do presidente, busca englobar no discurso chefes de outros Poderes. Ele pede serenidade e ações em prol da pacificação a todos, ainda que os ataques sejam unilaterais.

Ao afirmar “não antever fundamentos técnicos, jurídicos e políticos” para o impeachment de Moraes, o senador teve o cuidado de acrescentar que também não antevê esses mesmos fundamentos em relação ao presidente da República, uma decisão que cabe a Lira.

Pacheco ainda foi criticado no início de sua gestão por segurar a instalação da CPI da Covid, iniciada apenas após decisão do STF. Ele argumentava que não era o momento para se apontar culpados.

Aliados de Pacheco enaltecem o estilo conciliador. Afirmam que suas articulações ajudam a diminuir a tensão e pacificar as instituições.

O presidente do Senado ainda trabalha para colocar na mesma mesa Bolsonaro, Fux, Lira e ele próprio. Ele também deve se reunir em breve com governadores, para tratar da crise institucional.

Um interlocutor de Pacheco ressalta, por exemplo, que ele esteve duas vezes nas duas últimas semanas com o comandante do Exército, general Paulo Sérgio. Em todos os encontros teriam tratado da crise e seus perigos.

Ao discutir especificamente eleições, esses mesmos aliados afirmam que Pacheco só teria a perder se “saísse de cima do muro”, seja em defesa ou seja em críticas a Bolsonaro ou ao ex-presidente Lula.

Isso porque atrairia contra si a ira de um dos polos, em um momento em que tenta viabilizar sua candidatura ao Palácio do Planalto.

Além disso, eles avaliam que Pacheco se beneficia da polarização e seu “emcimadomurismo” o deixa imune, em um momento em que os extremos se digladiam. Esse acirramento dos ânimos pode aumentar a pressão por uma terceira via, da qual ele é apontado como uma das opções.

Em manifestação enviada à Folha, Pacheco afirmou que pauta posicionamentos no propósito de defesa da democracia e do Congresso, além de buscar o restabelecimento do diálogo entre os Poderes.

“Aos que me cobram mais acirramento, relembro que externei a minha posição em meio a ataques ao sistema eleitoral, quando afirmei que quem porventura atuasse fora da Constituição seria lembrado como inimigo da nação”, afirmou em nota.

Ele destacou ainda que decidiu pelo arquivamento do pedido de impeachment feito por Bolsonaro contra Moraes e lembrou que o Senado aprovou a revogação da LSN (Lei de Segurança Nacional), “um resquício do período da ditadura militar”.

“Não cabe a mim estabelecer nenhum tipo de queda de braço ou discussão inócua com o presidente da República. Prezo pela busca de entendimento nas vias democráticas da discussão de ideias e projetos para que o país avance nos temas que precisam, urgentemente, serem resolvidos”, disse.

Governo ensaia desistência de reforma do Imposto de Renda e irrita Lira

Diante do imbróglio em torno da reforma do Imposto de Renda, cresceu nos últimos dias a incerteza no governo sobre a possibilidade de o projeto ir adiante e integrantes do Executivo chegaram a mencionar a chance de a proposta ser retirada de tramitação.

Essa hipótese, porém, irritou o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e a ala política do governo -que agora se esforça para encontrar consenso em torno de uma nova proposta.

Lira já tentou levar o projeto de lei apresentado pelo governo ao plenário por três vezes, mas a deliberação foi adiada por falta de acordo.

A dificuldade de aprovação fez governo e Congresso mudarem a proposta em diferentes ocasiões, aumentando isenções e prometendo mais recursos para municípios em outros projetos.

O relator da proposta, deputado Celso Sabino (PSDB-PA), elaborou o rascunho de uma PEC (proposta de emenda à Constituição) para elevar os repasses da União a prefeitos por meio do FPM (Fundo de Participação dos Municípios). Mas nem isso foi suficiente para aprovar o texto.

As várias mudanças reacenderam incômodos no Ministério da Economia com o projeto. Para uma ala da equipe econômica, o texto está ficando com penduricalhos e puxadinhos que afetam as contas públicas e desfiguram até o espírito original proposto pela Receita.

O próprio secretário especial da Receita, José Barroso Tostes Neto, pediu publicamente cautela com o texto na quarta-feira (18) e mostrou preocupação com medidas adicionais que podem ampliar isenções.

“Sabemos que nem sempre o melhor do ponto de vista técnico é o melhor do ponto de vista político, e isso certamente está sendo considerado nas discussões feitas em torno do projeto de lei”, afirmou Tostes em evento do Santander.

Diante das preocupações sobre o projeto, aliados do governo relatam que o ministro Paulo Guedes (Economia) chegou a manifestar o interesse de retirar a proposta da pauta da Câmara. Mas o movimento gerou reação de Lira, que tem interesse no projeto.

A resposta de Lira fez o governo voltar logo à mesa de negociação. Agora, o Planalto tenta costurar um novo texto com parlamentares.

Parlamentares trabalham com um prazo de duas semanas para elaborarem o novo texto e querem votá-lo em 1º de setembro. Como o jornal Folha de S.Paulo mostrou, integrantes do governo procuraram até mesmo a oposição para buscar um consenso.

Entre os pontos que devem ser conversados com a oposição estão a adoção de uma alíquota progressiva na taxação de dividendos. O próprio líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), citou no plenário nesta semana que esse ponto era alvo interesse de parlamentares.

A oposição também defende que a declaração simplificada volte aos critérios anteriores e avaliam que a correção da tabela de Imposto de Renda foi tímida -a faixa de isenção deveria ser maior, na avaliação dos partidos de esquerda.

No Planalto, a possibilidade de retirar o projeto também é mencionada. Mas a ala política procura uma solução. A maior preocupação entre auxiliares palacianos hoje é o fato de o Auxílio Brasil em 2022 estar em grande parte condicionado à aprovação do projeto do Imposto de Renda.

Sem os recursos dessa arrecadação, o governo precisaria encontrar uma nova e robusta fonte de receita. O Auxílio Brasil é uma das principais promessas de Bolsonaro para a campanha eleitoral.

Uma possibilidade já em discussão no Planalto e na equipe econômica é, como plano B, ampliar o corte em isenções fiscais para gerar recursos para o Auxílio Brasil. A estratégia, no entanto, pode enfrentar dificuldades diante de lobbies no Congresso.

Outro argumento usado no Executivo para se insistir no projeto do Imposto de Renda é que o governo já trabalhou muito no texto e o recuo poderia causar um estrago ainda maior do ponto de vista político.

Uma eventual desistência da reforma pode desagradar Lira, que, desde a campanha para a sucessão de Rodrigo Maia (sem partido-RJ), vem buscando se aproximar do mercado financeiro e é um dos principais defensores de uma reforma no Imposto de Renda.

Lira disse, na quarta-feira (18), que o projeto não irá para a gaveta e que será votado. Além disso, cobrou maior envolvimento dos ministros Ciro Nogueira (Casa Civil) e Flávia Arruda (Secretaria de Governo).

Um eventual impasse com Lira viria num momento especialmente delicado para o governo, que depende dos parlamentares para aprovar diferentes projetos neste ano e já enfrenta desgaste com o Senado e o Supremo Tribunal Federal (STF) em meio à insistência do presidente Jair Bolsonaro em pautas como o impeachment dos ministros da Corte Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes.

Líder do governo diz que Bolsonaro o mencionou após ver foto de reportagem

O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), afirmou nesta quinta-feira (12) que na conversa com o deputado Luís Miranda (DEM-DF), o presidente Jair Bolsonaro apenas questionou se havia participação dele no processo de compra da vacina covaxin após ver a foto dele numa matéria.

Segundo Miranda, Bolsonaro citou o nome do líder do governo quando conversavam sobre suspeitas de irregularidades envolvendo a aquisição do imunizante.

Nesta quinta, Barros se defendeu dizendo que primeiro, o presidente não teria afirmado que houve a participação dele.

Em segundo lugar, diz que só o citou porque foi provocado ao ver uma foto numa reportagem levada por Miranda a respeito de ação contra a empresa Global, que tem os mesmos sócios da Precisa, que intermediou o contrato de compra da Covaxin com o Ministério da Saúde.

“Luis Miranda faz um teatro… Ele levou minha foto numa matéria da Global. E provavelmente foi a esse fato que o presidente se referiu”, disse Barros.

A Global responde a um processo de improbidade administrativa por não ter entregado medicamentos contratados pelo Ministério da Saúde na época em que o líder do governo era ministro.

Jair Bolsonaro até hoje não negou as declarações de Miranda. Para Barros, não há o que desmentir já que para ele o presidente não fez nenhuma afirmação sobre a participação dele em algum esquema de irregularidades na compra da covaxin.

Barros também disse que Roberto Ferreira Dias, ex-diretor de logística do ministério, exonerado após denúncia de cobrança de propina, não foi uma indicação sua ou de seu partido. Disse que foi indicação do ex-deputado Abelardo Lupion (DEM-PR).

Explicou ainda que o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta até mesmo sugeriu indicar Dias para reduzir a influência do PP, partido de Barros.

“Não temos ninguém lá, vocês vão chamar todo mundo aqui e todo mundo vai dizer que não “, afirmou.

DISCUSSÃO NA CPI

Em um momento de grande discussão durante a sessão, o presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM), rebateu críticas do líder do governo Bolsonaro na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR).

Barros foi questionado sobre a suposta frase do presidente Jair Bolsonaro, que teria dito ao deputado Luis Miranda (DEM-DF), que as denúncias de irregularidades envolvendo a compra da Covaxin seria um “rolo” de Barros.

O líder do governo afirmou que o relator Renan Calheiros (MDB-AL) só aceitava fatos que interessava “a sua narrativa”.

“Os seus comentários sobre a Comissão Parlamentar de Inquérito, o senhor faça daquela porta pra fora”, rebateu Omar Aziz. Os microfones depois foram cortados, porque uma grande discussão se instalou no plenário.

CASO COVAXIN

Os senadores da CPI da Covid aprovaram requerimento para tentar obter na Justiça a publicidade do contrato de compra da vacina indiana Covaxin. O contrato, intermediado pela brasileira Precisa Medicamentos, acabou cancelado após o surgimento de inúmeros indícios de irregularidades.

A CPI já havia aprovado requerimento para ter acesso ao contrato, mas o Ministério da Saúde teria informado que o documento era sigiloso. O requerimento aprovado nesta quinta-feira, portanto, prevê autorização para ingressar na Justiça com um mandado de segurança para obter acesso ao documento.

IRREGULARIDADES NO CASO COVAXIN

Ao chegar para a sessão da CPI da Covid para o seu depoimento, o líder do governo Bolsonaro na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), disse que o presidente nunca mencionou seu nome em conversas sobre irregularidades na compra da vacina Covaxin.

Barros disse que se trata apenas de uma “narrativa” da CPI, que será encerrada hoje.

Em depoimento à CPI, o deputado Luis Miranda (DEM-DF) disse que levou as denúncias envolvendo a Covaxin ao presidente Jair Bolsonaro, que teria respondido que se tratava de “um rolo” de Barros.

“Nunca tratei desse assunto com o presidente que uma das partes não confirma”, afirmou o deputado, que chegou para o depoimento acompanhado de sua esposa, filha e três advogados.

“O presidente não pode desmentir o que ele nunca disse”, completou.

Barros também disse ser grato aos senadores pela oportunidade de esclarecer os fatos, mas por outro lado falou que seu nome foi citado centenas de vezes em perguntas aos depoentes, insinuando irregularidades. Mas afirma que nunca houve falas que comprovassem sua participação em esquemas.

“Era importante para a CPI ter algo para se apegar. Hoje vamos encerrar essa narrativa. Eu não participei de nenhuma negociação da Covaxin”.

JAIR BOLSONARO

O presidente Jair Bolsonaro disse nesta quinta-feira (12) não ter certeza, mas convicção, de que o líder do governo, Ricardo Barros (PP-PR), vai se sair bem em depoimento à CPI da Covid nesta manhã.

O ex-ministro da Saúde e líder do governo entrou na mira dos senadores em meio à investigação sobre supostas irregularidades na compra da Covaxin. O deputado Luis Miranda (DEM-DF) disse à comissão que levou denúncia ao presidente e que ele teria dito que “era coisa do Barros”.

“Não digo que tenho certeza, mas tenho convicção, pelo que conheço Ricardo Barros, neste caso específico da vacina, onde a CPI me acusa de corrupção sem ter comprado uma dose, sem ter pago um real, acho que ele vai se sair bem lá”, disse Bolsonaro em entrevista a uma rádio.

O presidente disse que Miranda tenta jogá-lo contra Barros e que não vai ficar “batendo boca com deputado”. “Como eu não defendi Ricardo Barros? É líder do governo na Câmara. Se eu tivesse demitido da liderança do governo, aí sim, podia pensar diferente”, afirmou. Bolsonaro disse ainda que hoje Barros vai explicar o que aconteceu e que está ansioso para isso.

Pacheco diz que proposta de voto impresso, defendida por Bolsonaro, deve se esgotar na Câmara

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), afirmou nesta sexta-feira (6) que não admitirá “retrocessos democráticos” e que há uma tendência do Congresso Nacional a rechaçar a mudança do voto eletrônico para o impresso, como defende Jair Bolsonaro.

Se isso ocorrer, avaliou Pacheco em entrevista à GloboNews, todos “haverão de respeitar” o resultado das eleições de 2022.

Na quinta-feira (5), uma comissão especial na Câmara rejeitou o relatório do deputado Filipe Barros (PSL-PR) favorável à PEC do voto impresso.

O parecer a favor da PEC foi rejeitado por 23 votos a 11. A seguir, o deputado Junior Mano (PL-CE) foi escolhido para fazer um novo parecer, que vai refletir a posição majoritária da comissão, contrária à mudança. O texto pode ser votado nesta sexta-feira (6).

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), indicou que pode levar o tema à análise do plenário, mas Pacheco avalia que o caso pode ser concluído ainda na Casa vizinha.

“O que se avizinha é uma solução com a votação de ontem na comissão da Câmara dos Deputados, um reconhecimento, de que a tese do presidente, de seus apoiadores e parlamentares, é uma tese que a principio será vencida. Sendo vencida, todos aqueles que foram vitoriosos na tese, e derrotados na tese, haverão de respeitar, porque isso é democrático, o resultado das eleições de 2022”, afirmou Pacheco.

“O que não podemos é questionar a pretexto disso a lisura e legitimidade das eleições de 2022. Há uma tendência muito forte a partir dessa votação na Câmara que este assunto se encerre na Câmara. Caso não se encerre, o Senado, no seu momento oportuno, prevalecendo a maioria, decidirá a respeito desse tema”, continuou o presidente do Senado.

A declaração é dada em meio a declarações golpistas de Bolsonaro, que tem questionado a possibilidade de haver eleição no ano que vem caso o voto impresso não seja aprovado.

O mandatário tem apontado, sem apresentar provas, que pode ter havido fraude no pleito de 2018.

Enquanto defende mudança no sistema eleitoral, o presidente também partiu para o ataque contra ministros do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e do STF (Supremo Tribunal Federal).

Nesta sexta, na entrevista à Globonews, Pacheco repetiu que qualquer um que pregar que não haverá eleições em 2022 “será apontado como inimigo da nação”.

Ele reafirmou confiança no sistema eleitoral brasileiro e se solidarizou com os que são alvos de ataque do presidente.

“Eu reafirmo a minha confiança no TSE e na Justiça Eleitoral, mas nunca deixei de considerar a possibilidade de discutir esse tema. Agora o Congresso vai se pronunciar, e começou ontem numa comissão da Câmara dos Deputados dizendo que não se deve alterar o sistema eleitoral eletrônico no Brasil. E esse é o papel do Congresso, afirmar suas posições legislativas”, disse o senador.