Chuva derruba preço da energia no mercado livre, mas consumidor comum sai perdendo

A previsão da chegada de chuvas sobre os reservatórios das hidrelétricas derrubou o preço de negociação da energia no mercado livre. Mas o consumidor residencial, em vez de se beneficiar, está sendo prejudicado com esse movimento, segundo especialistas do setor.

Entidades do setor elétrico dizem que o cenário reflete uma distorção no modelo de cálculo desse preço. A Abrace (Associação Brasileira dos Consumidores de Energia) pede uma intervenção emergencial do governo no mercado para resolver o problema ainda durante a crise hídrica.

A decisão poderia ser tomada pela Creg (Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética) ou pelo CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico).

Depois de passar 13 semanas no valor máximo de R$ 583,88 por MWh (megawatt-hora), a energia no mercado livre está sendo negociada esta semana por cerca de R$ 200 por MWh, mesmo que os reservatórios ainda estejam em níveis historicamente baixos.

A queda abrupta, dizem especialistas, reflete um problema no cálculo desse valor, que é conhecido como PLD (preço de liquidação de diferenças) e é o balizador das negociações de energia na CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica).

Hoje, a previsão de chuvas representa 49% do cálculo do PLD. As chuvas passadas representam apenas 12%. “O PLD não está refletindo o preço da energia”, diz o presidente do conselho de administração da CCEE, Rui Altieri. “O nível dos reservatórios tem que ter um peso maior.”

Esse preço remunera as liquidações de contratos na câmara: quando algum agente precisa de energia extra para cumprir compromissos com seus clientes, vai pagar o PLD a empresas que tenham energia sobrando naquele período.

Assim, quem hoje está descontratado se beneficia da queda, ao contrário do que ocorreu nas semanas em que o preço estava no teto, cenário que provocou problemas financeiros em ao menos duas comercializadoras descontratadas nesse período.

Por outro lado, quem tem energia sobrando acaba recebendo menos. É o caso das distribuidoras de eletricidade, que têm contratos de suprimento de longo prazo mas estão vendendo menos com a migração de clientes ao mercado livre, o aumento da geração própria de energia e a crise econômica.

O presidente da Abradee (Associação Brasileira das Distribuidoras de Energia Elétrica), Marcos Madureira, diz que a receita com a venda das sobras de energia poderia beneficiar o consumidor, já que esses ganhos poderiam atenuar a necessidade de reajustes nas tarifas.

“Hoje estamos vivendo uma crise hídrica e quem está pagando a maior parte da conta é o consumidor do mercado regulado , com PLD chegando ao piso nas regiões Norte e Nordeste quando começar a chover em Belo Monte”, argumenta Pedrosa.

A queda do PLD é um dos motivos que levaram as distribuidoras de energia a alertar o governo sobre um rombo na conta das bandeiras tarifárias cobradas sobre a conta de luz. Para essas empresas, os R$ 14,20 por kWh (quilowatt-hora) cobrados na bandeira de escassez hídrica não são mais suficientes para bancar as térmicas.

Segundo Madureira, o problema é resultado do aumento do custo com a compra de combustível para térmicas e com a importação de energia, associado à redução de receita das distribuidoras com menores vendas e preços mais baixos no mercado livre.

Segundo projeção da consultoria MegaWhat, a conta das bandeiras deve fechar o ano com um rombo de R$ 8 bilhões, mesmo após a criação da bandeira de escassez hídrica, que elevou a taxa extra em quase 50% em setembro.

Na quarta (14), a secretária executiva do MME (Ministério de Minas e Energia), Marisete Pereira, disse que o governo está avaliando o pleito, mas sinalizou que não haverá novo aumento da taxa extra.

R$ 583,88 por MWh

É o valor máximo para o preço de liquidação de contratos no mercado livre de energia. Vigorou por 13 semanas entre o fim de junho e o fim de setembro

R$ 213,50 por MWh

Valor médio para liquidação de contratos de energia nas regiões Sudeste e Centro-Oeste nesta quinta (14).

16,82%

Nível dos reservatórios das hidrelétricas das regiões Sudeste e Centro-Oeste na quarta (13), segundo o ONS.

R$ 7,97 bilhões

Rombo projetado pela consultoria MegaWhat para a conta de bandeiras tarifárias ao fim do ano, mesmo com alta de quase 50% na taxa extra da conta de luz.

Taxa extra na conta de luz não será suficiente para bancar térmicas, diz MME

A secretária executiva do MME (Ministério de Minas e Energia), Marizete Pereira, afirmou nesta quarta-feira (14) que a bandeira tarifária de escassez hídrica, implementada em setembro, não está sendo suficiente para cobrir a elevação de custos dos combustíveis usados pelas térmicas do país.

Segundo ela, o governo vem analisando alternativas para cobrir o rombo, mas não há expectativa de elevar novamente a taxa extra sobre a conta de luz, que passou de R$ 9,49 para R$ 14,20 por cada 100 kWh (quilowatts-hora) consumidos.

Pereira explicou que as projeções de gastos com térmicas até o fim do ano foram frustradas pela elevação das cotações do gás natural e do óleo diesel, combustíveis usados para poupar água nos reservatórios das hidrelétricas brasileiras.

Assim, as distribuidoras de eletricidade começam a reclamar dos impactos financeiros provocados pelo descasamento entre os valores que recebem do consumidor e os montantes que têm que desembolsar para pagar pela energia.

“A bandeira de escassez hídrica não será suficiente para a cobertura de todos os recursos que utilizamos para a segurança energética”, disse a secretária do MME, em entrevista virtual após o Enase (Encontro Nacional do Setor Elétrico). “Os preços dos combustíveis estão subindo muito.”

Na última sexta (8), por exemplo, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) autorizou a elevação dos custos de geração de energia de três térmicas no país para repasse do aumento dos preços dos combustíveis no Brasil e no exterior.

Movida a gás natural, a térmica Araucária, no Paraná, passará a receber R$ 2.553,20 por MWh (megawatt-hora) gerado, se tornando a usina mais cara do país. As térmicas Potiguar 1 e 3, a óleo diesel, tiveram seus preços alterados para R$ 1.379,89.

Antes, a usina William Arjona, no Mato Grosso do Sul, também já havia tido autorização para aumentar o preço de venda da energia, também sob o argumento de que precisava repassar elevações no preço do gás natural.

A secretária do MME não quis detalhar que medidas estão sendo consideradas, alegando que o tema ainda está sendo estudado. Mas disse que não há expectativa de reajuste no valor da bandeira de escassez hídrica, que vai vigorar até abril.

“Vai aumentar a tarifa de energia? Isso não está ainda no cardápio que a gente está analisando”, afirmou. “A bandeira se iniciou em setembro e vigora até abril de 2022. Em maio, a Aneel vai definir o novo patamar de bandeira tarifária.”

A elevação dos custos das usinas pressiona ainda mais a tarifa de energia em meio a um cenário de inflação de dois dígitos e mercado de trabalho ainda sofrendo os efeitos da pandemia. A fatura é dividida entre todos os consumidores de eletricidade do país.

O gás natural bateu recorde histórico na semana passada, respondendo à elevação da demanda na Europa e na China em meio a uma crise global de oferta de energia, que também levou o carvão a patamares recordes.

O petróleo, por sua vez, vem operando acima dos US$ 80 por barril, nos maiores patamares desde 2018. Há duas semanas, a Petrobras elevou o preço do óleo diesel em 8,9%, mas ainda não conseguiu eliminar a defasagem em relação ao mercado internacional.

Com a seca sobre os reservatórios das principais hidrelétricas brasileiras, as térmicas respondem atualmente por cerca de um quarto da geração de energia no país, o que justificou a adoção da bandeira de escassez hídrica.

O diretor-geral do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), Luiz Carlos Ciocchi, repetiu nesta quarta que não vê possibilidade de racionamento de energia este ano. Segundo ele, as medidas adotadas pelo governo e a chegada das chuvas já vêm dando resultados no enfrentamento da crise energética.

Ele disse, porém, que a situação de 2022 ainda merece atenção e defende a manutenção da operação das térmicas. “Não vemos risco de racionamento nenhum em 2021, mas todas as medidas adotadas devem ser mantidas para temos situação mais confortável em 2022.”

Petrobras sobe preços da gasolina e do gás de cozinha em 7,2%

A Petrobras anunciou nesta sexta (8) aumentos de 7,2% nos preços da gasolina e do gás de cozinha em suas refinarias. O preço do óleo diesel, que foi reajustado na semana passada, permanecerá estável.

Segundo a estatal, o litro da gasolina vendida por suas refinarias passará de R$ 2,78 para R$ 2,98, um reajuste médio de R$ 0,20. Em nota, a empresa destacou que é o primeiro aumento em 58 dias.

Já o quilo do gás de cozinha passará de R$ 3,60 para R$ 3,86, alta de R$ 0,26. Assim, os 13 quilos necessários para encher um botijão custarão na refinaria o equivalente a R$ 50,15.

O preço do gás de cozinha nas refinarias da estatal ficou 95 dias sem reajustes, embora as cotações internacionais tenham disparado com o aumento da demanda na Europa.

Segundo a estatal, os reajustes “refletem parte da elevação nos patamares internacionais de preços de petróleo, impactados pela oferta limitada frente ao crescimento da demanda mundial, e da taxa de câmbio, dado o fortalecimento do dólar em âmbito global”.

Em comunicados sobre os reajustes, a companhia defende que a variação dos preços é importante “para garantir que o mercado siga sendo suprido em bases econômicas e sem riscos de desabastecimento pelos diferentes atores responsáveis pelo atendimento às diversas regiões brasileiras”.

Na semana passada, a estatal subiu o preço do diesel em 8,9%, no primeiro reajuste depois de 85 dias.

A escalada dos preços dos combustíveis é um dos principais fatores de pressão sobre a inflação brasileira, que em setembro acelerou para 1,16%, a maior alta para o mês desde o início do Plano Real.

Com a forte elevação, o IPCA também quebrou a barreira simbólica dos dois dígitos no acumulado de 12 meses. Nesse período, a alta chegou a 10,25%.

Para tentar reverter os impactos dos aumentos sobre sua popularidade, o presidente Jair Bolsonaro vem colocando o tema como principal prioridade do seu governo.

Na semana passada, recebeu o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) no Palácio da Alvorada para discutir alternativas para segurar os preços.

No início desta semana, Lira propôs mudanças no ICMS, sugerindo que os preços de referência para a cobrança do imposto sejam calculados com base na média de 12 meses e não mais de duas semanas.

A medida, porém, foi criticada por estados e municípios, diante da perspectiva de perda de arrecadação, e teria pouco impacto nos preços, segundo o setor de combustíveis.

Os reajustes da gasolina e do diesel não compensam toda a defasagem em relação ao mercado internacional, que estava em R$ 0,52 por litro na quarta (6), segundo projeções das importadoras de combustíveis.

A tendência é que a estatal siga pressionada, já que as cotações internacionais do petróleo mantém-se acima dos US$ 80 por barril e o dólar permanece na casa dos R$ 5,50.

Crise de energia na China impacta economia e pode ser mais uma trava ao PIB no Brasil

Da falta de fertilizantes ao aumento do preço da energia, com implicações sobre a inflação e a balança comercial, o Brasil deve sofrer fortes impactos da crise energética chinesa, que vem obrigando o país asiático a promover apagões programados por falta de capacidade de geração.

O cenário adverso se soma ao desarranjo na cadeia logística internacional, que já vem prejudicando diversos setores da economia, e pode ser mais uma trava na recuperação econômica brasileira após o período mais crítico da pandemia.

Os primeiros impactos já são sentidos pelo agronegócio, com maior dificuldade para comprar defensivos e fertilizantes, pela mineração, que vê as cotações internacionais em queda, e pelo setor de energia, afetado pelos preços recordes do gás natural.

“A China é o maior destino das exportações do Brasil, tanto de produtos agroindustriais quanto de minérios”, ressalta o pesquisador da Universidade de Johanesburgo, na África do Sul, Paulo César Morceiro. “Isso é mais um limitante para destravar o crescimento do PIB “.

Um dos principais produtos de exportação do Brasil, o minério de ferro despencou nos últimos meses, passando do patamar recorde superior a US$ 210 por tonelada em julho para a casa dos US$ 110 por tonelada.

O setor siderúrgico, que poderia se beneficiar com os cortes de produção na China, vê o cenário com desânimo, já que há excesso de produção global de aço. “Existe todo um processo de guerra de mercado no mundo que trava um pouco a exportação”, diz Cristina Yuan, diretora de assuntos institucionais do Instituto Aço Brasil.

Os especialistas dizem que outras cadeias produtivas podem ser afetadas diretamente, pela elevada dependência de materiais e equipamentos chineses, como a de eletroeletrônicos e a automotiva, ampliando a pressão já exercida pelo desarranjo da indústria global provocada pela pandemia.

Há ainda os efeitos indiretos provenientes de uma esperada desaceleração da economia chinesa. “A desaceleração da China impactaria o mundo todo, pois atualmente cerca de um terço do crescimento mundial deve-se apenas ao país”, diz Morceiro.

Em relatório divulgado nesta semana, o banco Goldman Sachs estima que 44% da atividade industrial chinesa está baseada nas nove províncias com pior situação energética e que os cortes na produção devem levar o país a registrar crescimento zero no terceiro trimestre.

O mercado espera algum tipo de intervenção do governo central chinês para solucionar a crise, mas lembra também que o país já vem enfrentando uma turbulência com as dificuldades financeiras da gigante Evergrande, o que pode limitar o poder de reação.

“Se continuar assim teremos um superávit comercial bem magrinho em 2022”, afirma o presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro avalia. Ele avalia, porém, que a situação chinesa é uma oportunidade para que o Brasil eleve o valor agregado de suas exportações.

“Hoje exportamos para a China basicamente matéria prima bruta, como soja em grão. Lá eles industrializam”, diz ele. “Só que agora a China está paralisando fábricas que produzem o óleo de soja. Podemos fazer aqui.”

No setor de energia, uma preocupação futura é o impacto da crise no processo de transição energética, já que a falta de energia na China ocorre em meio a um esforço para reduzir a geração a carvão e descarbonizar a economia.

O professor de planejamento energético da Coppe/UFRJ, Maurício Tolmasquim, lembra que a China é o país que mais investe hoje em renováveis, como solar e eólica, mas acabou sendo prejudicada por uma combinação entre desequilíbrio na oferta de carbono e seca sobre reservatórios de hidrelétricas.

“É fundamental para o planeta que o governo central da China não volte atrás nas metas de redução de gases do efeito estufa”, diz ele. “Seria muito ruim se essa crise resultasse em um retrocesso.”

Petrobras sobe preço do diesel em 8,9%

Após 85 dias sem reajuste, a Petrobras anunciou nesta terça-feira (28) aumento de 8,9% no preço do diesel em suas refinarias. O anúncio ocorre um dia depois de mais uma sequência de ruídos entre o governo e a estatal em relação aos preços dos combustíveis.

A partir desta quarta (29), o litro do diesel sairá das refinarias da estatal custando, em média, R$ 3,06, um aumento de R$ 0,25 em relação ao valor vigente até esta terça. É a primeira vez que o preço do combustível nas refinarias ultrapassa a barreira dos R$ 3.

Segundo a Petrobras, o reajuste “reflete parte da elevação nos patamares internacionais de preços de petróleo e da taxa de câmbio”. Nesta segunda (27), a empresa já havia sinalizado que promoveria o reajuste, por entender que o preço do petróleo atingiu um novo patamar.

“Esse ajuste é importante para garantir que o mercado siga sendo suprido em bases econômicas e sem riscos de desabastecimento pelos diferentes atores responsáveis pelo atendimento às diversas regiões brasileiras: distribuidores, importadores e outros produtores, além da Petrobras”, afirmou a estatal nesta terça.

No comunicado sobre o reajuste, a empresa disse que durante os 85 dias sem reajuste “evitou o repasse imediato para os preços internos devido à volatilidade externa causada por eventos conjunturais”, repetindo discurso adotado pela gestão do general Joaquim Silva e Luna.

Chuvas melhoram reservatórios do Sul, mas Centro-Oeste ainda verá seca em outubro

O ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) informou nesta sexta-feira (24) que outubro deve trazer um bom nível de chuvas para a região Sul, ajudando a recuperar os reservatórios castigados pela seca nos últimos meses.

Segundo o operador, porém, a previsão para as regiões Sudeste e Centro-Oeste, consideradas a caixa-d’água do setor elétrico brasileiro, ainda é de chuvas abaixo da média. Nessa área, a expectativa é que os reservatórios cheguem ao fim do próximo mês, com 12,6% de sua capacidade de armazenar energia.

Os meses de outubro e novembro são cruciais para a travessia da crise energética. A partir daí, espera-se que as chuvas de verão reduzam a pressão sobre as hidrelétricas e ajudem a recompor os reservatórios.

Em sua programação mensal da operação, o ONS vê chuvas perto da média em outubro no Sul, o que deve ajudar a elevar em 5 pontos percentuais o nível dos reservatórios da região, que chegariam ao fim do mês com 35,6% de sua capacidade de armazenar energia.

Já no Sudeste e no Centro-Oeste, as chuvas devem ficar em 57% da média histórica, reduzindo ainda mais o nível dos reservatórios, que nesta quinta (23) estavam em 17,48%. O Nordeste também perderá água, com os reservatórios chegando ao fim do mês em 26,1%, contra 42,75% nesta quinta.

Apesar dos apelos pela economia de energia, o ONS entende que a retomada do segmento de serviços e a manutenção da atividade industrial contribuirão para um aumento de 1,3% no consumo nacional de energia no mês que vem.

A maior alta, de 3,5%, deve ocorrer no Nordeste. A pior, de 0,4%, no Sudeste.

Apesar da manutenção do quadro crítico, o diretor-geral do ONS, Luiz Carlos Ciocchi, disse nesta quinta que não há possiblidade de racionamento de energia no país em 2021. Ele não descartou, porém, apagões localizados em horários de pico.

“Esse período de outubro a novembro é mais crítico, a carga aumenta, o calor aumenta, o uso de ar condicionado aumenta, mas temos as termelétricas e acreditamos que teremos condição de enfrentar o atendimento com segurança”, afirmou.

Em outubro, o governo deve realizar leilão emergencial para a contratação por cinco anos de térmicas que hoje estão sem contrato, mas vêm gerando energia a preços elevados para ajudar a enfrentar a crise.

O leilão tem o objetivo de ajudar a encher novamente os reservatórios, que estão em níveis historicamente baixos. Com contratos mais longos, o governo espera reduzir o custo dessa energia emergencial.

Nesta quinta, em sua live semanal, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez um apelo para que a população economize eletricidade e pediu que as pessoas, se puderem, tomem banho frio.

“Se puder apagar uma luz na tua casa apaga, eu peço por favor. Não use elevador. Tomar banho é bom, mas se puder tomar banho frio é muito mais saudável, ajuda o Brasil”, afirmou.

“A gente pede a Deus que agora em novembro, final de outubro, venha chuva para valer no Brasil. Para que a gente não tenha problema no futuro, que podemos ter problema no futuro”, disse Bolsonaro.

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Botijão pode passar de R$ 100 com disparada do preço internacional do gás

A escalada da cotação internacional do propano, matéria-prima para o gás de cozinha, joga pressão sobre os preços do botijão, que já se aproximam dos R$ 100, em média, no país. Em alguns locais mais distantes, esse valor até já é praticado. Apesar desse aumento pesar no bolso do consumidor, o mercado vê grande defasagem dos preços internos e espera novo reajuste em breve.

Impulsionada pela demanda chinesa por matérias-primas petroquímicas, a cotação do propano na região do Golfo do México, nos Estados Unidos, subiu quase 15% em um mês. Em 2021, o valor do produto tem alta acumulada de 96%.

Os preços desse combustível costumam subir durante o inverno no hemisfério norte, quando a demanda por aquecimento cresce.

“Este ano, contudo, os preços subiram durante os meses de verão, quando os estoques normalmente são recompostos, devido à alta demanda internacional e à menor oferta global”, diz o Departamento de Energia dos Estados Unidos.

O movimento, diz a agência de informações do departamento, é global. O desequilíbrio entre a crescente demanda e a reduzida produção, afirma, levou os preços na Ásia e na Europa a mais do que dobrarem no período de um ano.

Assim, a tendência é que as elevadas cotações se mantenham pelos próximos meses, com possíveis impactos para o consumidor brasileiro, que já vem sofrendo com a escalada interna em meio ao um cenário de elevado desemprego.

A Petrobras não reajusta o preço do gás de cozinha desde o início de julho, quando promoveu aumento de 6%, e vem operando abaixo da paridade de importação calculada pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis) há três semanas consecutivas.

Na semana passada, seu preço de venda em Santos, um dos dois pontos de importação do produto no país, estava 7% abaixo do valor considerado adequado pelo órgão regulador. Empresas do setor, porém, falam que a diferença é ainda maior, considerando que a estatal tem ganhos de eficiência nas importações.

A Petrobras vem repetindo que mantém a política de alinhamento às cotações internacionais, mas “busca evitar o repasse imediato para os preços internos da volatilidade externa causada por eventos conjunturais”.

A estatal alega também que o conceito de paridade de importação varia de acordo com a estrutura e a eficiência comercial de uma empresa. Durante parte do ano, segundo os dados da ANP, a Petrobras praticou preços do gás acima da paridade de importação.

Na semana passada, a companhia foi alvo de críticas do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e do presidente da Câmara, Arthur Lira (DEM-AL) por mexer nos preços com muita frequência. Lira chegou a sugerir que a empresa deveria “dividir com o povo brasileiro o pouco da riqueza”.

Embora a Petrobras não tenha mexido no preço do gás de cozinha desde julho, o produto continua em alta na revenda. Na semana passada, o botijão bateu R$ 98,33, alta de 1,5% em relação ao praticado na semana anterior e de 5% em um mês.

Apenas em 2021, o preço médio do botijão de 13 quilos subiu 30%. No ano, a Petrobras aumentou seu preço de refinaria em 38%, acompanhando a recuperação do petróleo e a desvalorização cambial.

O cenário vem levando famílias de baixa renda a optar por lenha ou carvão para cozinhar, o que gerou no Congresso um esforço para aprovar um subsídio para a compra do combustível.

Na semana passada, o deputado federal Christino Áureo (PP-RJ) concluiu relatório sobre projeto de lei que cria o programa Gás Social, que garantiria metade do valor do botijão a inscritos nos programas sociais do governo com recursos dos royalties do petróleo e da Cide (contribuição cobrada sobre a venda de combustíveis).

Governo pede novos estudos sobre retorno do horário de verão

Apesar de crescente pressão de setores econômicos, o Ministério de Minas e Energia avalia que a volta do horário de verão teria impacto limitado no consumo de eletricidade do país e não ajudaria a enfrentar a crise energética atual.

Ainda assim, afirma que pediu novos estudos ao ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) para avaliar a questão “à luz da atual conjuntura de escassez hídrica”, em meio a pressões de setores econômicos pelo retorno do programa extinto em 2019 pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

“A contribuição do horário de verão é limitada, tendo em vista que, nos últimos anos, houve mudanças no hábito de consumo de energia da população, deslocando o maior consumo diário de energia para o período diurno”, diz o ministério, em nota.

“Assim, no momento, o MME não identificou que a aplicação do horário de verão traga benefícios para redução da demanda”, continua, frisando que pediu que o ONS “reexaminasse a questão”. O operador disse que não comentaria o tema.

Setores como o de turismo, serviços e shoppings centers vêm pressionando o governo pelo retorno do programa. Além da possibilidade de economizar energia, eles seriam beneficiados com o aumento da circulação de pessoas no início da noite.

Nesta segunda-feira (13), o pleito ganhou apoio também do ICS (Instituto Clima e Sociedade), Idec (Instituto de Defesa do Consumidor) e IEI (sigla para Iniciativa Energética Internacional), que consideram que o governo precisa lançar mão de todas as medidas de economia possíveis.

“O ganho é pequeno, mas nesse momento precisamos contar megawatt por megawatt”, disse o ex-diretor do ONS Luiz Eduardo Barata, em mesa redonda com jornalistas para apresentar estudo sobre programas de eficiência energética.

A opinião é compartilhada pela ABCE (Associação Brasileira das Companhias de Energia Elétrica). “Por mais que nao faça grandes diferenças, poupar é sempre bom”, diz o diretor-presidente da entidade, Alexei Vivan.

Ele ressalta que o país está gerando toda a sua capacidade térmica, o que vem pressionando as tarifas de energia já em 2021 e com tendência de pressão sobre 2022 também.

Segundo projeção do Idec, o horário de verão economizaria entre 2% e 3% do consumo no início da noite.

O deslocamento do horário de maior consumo para o início da tarde a partir da popularização dos aparelhos de ar condicionado reduziu o impacto do horário de verão no sistema, o que acabou sendo uma das justificativas para a sua extinção.

Para o governo, a menor economia não justificava o transtorno provocado a trabalhadores que precisam acordar cedo e tomar o transporte público com o céu ainda escuro. “Não fazia sentido em um momento de tranquilidade no setor elétrico, mas agora qualquer economia é bem vinda”, frisa Vivan.

Na segunda-feira (13), Barata lembrou que o próprio ONS foi contrário ao fim do horário de verão, mas prevaleceu o argumento de que a economia não compensava os transtornos.

Com atraso, segunda maior térmica do pais entra em operação nesta quinta

A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) aprovou o início das operações, a partir desta quinta-feira (16), da usina termelétrica GNA 1, a segunda maior do país, mais um reforço para o setor elétrico em meio ao período mais crítico da crise hídrica.

Com custo de geração de R$ 552 por MWh (megawatt-hora), a térmica vai acrescentar 1.338 MW ao sistema, que precisava de 5,5 mil MW para garantir o abastecimento até o início das chuvas, segundo as últimas projeções do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico).

“A entrada dessa usina será muito benéfica para o setor, especialmente na atual conjuntura. A energia será injetada no sistema na região sudeste, a mais castigada com a estiagem dos reservatórios”, disse, em nota, o diretor-geral da Aneel, André Pepitone.

A energia gerada pela térmica é capaz de abastecer 4 milhões de habitantes. Por estar na região Sudeste, corre menos risco de ter a capacidade de entrega impactada por gargalos no sistema de transmissão de energia do país.

A térmica tinha início de operações previsto para o primeiro semestre, mas teve que esticar o cronograma devido a problemas durante a fase de implantação e comissionamento dos equipamentos.

O projeto é controlado pela Prumo, dona do Porto do Açu, pela petroleira BP e pela fabricante de equipamentos elétricos Siemens. A princípio, operará com gás importado em navios, mas o plano é conectar um gasoduto do pré-sal ao porto para abastecer a usina.

Contratada em leilão de energia de 2017, a GNA 1 tem um custo de produção menor do que as térmicas contratadas de forma emergencial pelo governo para enfrentar a crise hídrica. Mas ainda assim, a tendência é que opere a plena carga nos próximos meses, pressionando ainda mais a conta de luz.

Seus investidores têm outra térmica em construção no porto, a GNA 2, com potência de 1.672 MW, com previsão de início das operações em 2024. Neste momento, diz a Aneel, o Porto do Açu se tornará o maior complexo termelétrico do país.

O início das operações da GNA 1 é comemorado pelo governo como mais uma medida para enfrentar a seca sobre os reservatórios das hidrelétricas do Centro-Sul e minimizar os riscos de apagões antes que as chuvas de verão comecem a cair.

No sábado (11), o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, esteve no norte de Minas Gerais para cerimônia de início de operações de uma linha de transmissão que amplia em 25% a capacidade de exportação de energia do Nordeste para o resto do país.

Com capacidade para transportar 1,3 mil MW, esse projeto permitira um melhor aproveitamento do parque gerador nordestino, que se desenvolveu de forma acelerada nos últimos anos com a construção de parques eólicos e solares.

No evento, Albuquerque voltou a dizer que, com as medidas já adotadas pelo governo, o risco de racionamento de energia em 2021 está descartado. O governo, porém, começa a olhar com preocupação para 2022 e já aprovou a contratação emergencial de térmicas por mais cinco anos.

A contratação é justificada por avaliação do ONS e da EPE (Empresa de Pesquisa Energética) sobre o cenário após as chuvas de verão. O país entrará o ano com os reservatórios em níveis muito baixos e, para não passar sufoco, precisa ampliar a capacidade de geração.

Nesta terça (14), os reservatórios das hidrelétricas do Sudeste e do Centro-Oeste estavam com 18,38% de sua capacidade de armazenamento de energia. A previsão do ONS é que, com as medidas de reforço na oferta e contenção da demanda, cheguem a novembro em 11,3%.

O lago de Ilha Solteira, maior hidrelétrica da bacia do Rio Paraná, atingiu o limite mínimo para operação da hidrovia Tietê-Paraná, estipulado em 323 metros acima do nível do mar, o que não ocorria desde a seca de 2014/2015, quando o transporte foi totalmente paralisado na rota.

Em condições normais, diz o ONS, a geração de energia na usina seria comprometida, mas essa restrição foi flexibilizada e o operador pode levar o nível até 314 metros. Considerando este limite, diz a operadora da usina, a CTG (China Three Gorges), o reservatório ainda está com 56% de sua capacidade de armazenamento de energia.

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Governo deve anunciar novo valor da bandeira tarifária da conta de luz nesta terça

O governo deve anunciar nesta terça-feira (31) o novo valor da bandeira tarifária cobrada na conta de luz para bancar a operação de usinas térmicas. A expectativa é que o valor seja elevado em ao menos 50%.

A proposta de cobertura adicional dos custos das térmicas foi discutida apresentada pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) ao CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico) na última segunda (30). O governo, porém, não confirmou o novo valor.

Atualmente, os consumidores pagam R$ 9,49 a cada 100 kWh (quilowatt-horas) consumidos. Se confirmado o aumento nesta terça, será a segunda elevação do valor desde o fim de junho, quando a bandeira mais cara foi reajustada em 52%.

A alta no preço da energia é um dos principais fatores de pressão na inflação, que deve superar os 7% em 2021, segundo projeções de instituições financeiras compiladas pelo relatório Focus, do Banco Central.

Com a maior crise hídrica dos últimos 91 anos, as hidrelétricas perderam espaço na oferta, enquanto o governo se viu obrigado a acionar térmicas, que são mais poluentes e mais caras.

Na reunião desta segunda, o CMSE aprovou a operação de três novas térmicas, como reforço à capacidade de geração para evitar apagões em horários de maior demanda enquanto as chuvas não chegam para reforçar os reservatórios das hidrelétricas.

A lista inclui as usinas Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, e Cuiabá, no Mato Grosso, que poderão ser acionadas entre outubro e março de 2022. Já a usina Termonorte 1 poderá ser acionada por um período de seis meses a partir de setembro de 2021.

“Os cenários apresentados pelo Operador reforçam a criticidade do momento”, disse, em nota, o MME (Ministério de Minas e Energia). O texto afirma, porém, que as medidas já tomadas garantem o atendimento do mercado nos cenários analisados.

Especialistas do setor dizem que, para absorver o elevado custo das térmicas, a bandeira vermelha nível dois, mais cara e vigente atualmente, deveria dobrar. Para a TR Soluções, o valor ideal chegaria a R$ 19 a cada 100 kWh.

A crise levou o presidente Jair Bolsonaro a admitir, na semana passada, que hidrelétricas podem parar de operar por falta de água. “Estamos no limite do limite. Algumas vão deixar de funcionar se essa crise hidrológica continuar existindo”, disse.

Segundo a consultoria Volt Robotics, o Brasil tem hoje 30 hidrelétricas já sofrendo perda de potência por causa dos baixos níveis dos reservatórios. O impacto na geração de energia soma 7 GW (gigawatts), o equivalente à metade da capacidade de Itaipu, a segunda maior hidrelétrica do mundo.

A perda de potência ocorre em usinas que hoje operam com menos de 25% de sua capacidade de armazenamento de água. Elas somam uma potência instalada de 23,5 GW, o equivalente a um quinto da capacidade hidrelétrica brasileira, e as perdas tendem a se acentuar na medida em que os rios continuem baixando.

Segundo o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), algumas dessas usinas podem chegar a novembro com menos de 10% de sua capacidade de armazenamento de energia, caso o país não consiga novas fontes de geração e não tenha sucesso no incentivo à economia de luz.