Entenda por que os combustíveis estão tão caros

Os preços dos combustíveis nunca estiveram tão caros no Brasil. Gasolina, diesel e botijão de gás vêm batendo sucessivos recordes, mesmo considerando a correção de valores antigos pela inflação, desde o fim do segundo trimestre.

A escalada do preço nas bombas reflete aumentos promovidos pela Petrobras nos preços de suas refinarias. Apenas em 2021, a estatal já elevou a gasolina em 51%. Diesel e gás de cozinha subiram 38%.

Segundo especialistas, as altas refletem a recuperação das cotações internacionais do petróleo depois de terem derretido no início da pandemia, com forte auxílio do dólar, que desde o início da pandemia ficou abaixo de R$ 5 apenas por sete dias, em junho último.

Apenas em 2021, a cotação do petróleo Brent, referência internacional de preços negociada em Londres, subiu 36,5%. Já o dólar se mantém mais estável, com alta de 1%, destaca o presidente da Abicom (Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis), Sérgio Araújo.

Petróleo e dólar são elementos básicos na política de preços dos combustíveis da Petrobras, que simula quanto custaria a venda no Brasil de combustíveis importados dos Estados Unidos, um conceito conhecido como paridade de importação.

Nessa conta entram também os custos de transporte e desembarque dos combustíveis no Brasil e a margem de lucro que a estatal teria na venda dos produtos importados. Com base nesses indicadores, e de olho nas importações por concorrentes, a área técnica da estatal decide por mexer ou não nos preços.

Essa política foi formalizada na administração de Pedro Parente, durante o governo Michel Temer, e vem sendo mantida no governo Jair Bolsonaro com algumas pequenas variações na frequência dos reajustes – a gestão do general Joaquim Silva e Luna tem respeitado prazos maiores do que a anterior.

Preço da Petrobras representa apenas uma parcela do preço final, que tem ainda impostos federais e estaduais, margens de lucro de distribuidoras e revendedores e, no caso da gasolina e do diesel, a parcela relativa à adição de etanol e biodiesel.

Atualmente, a participação da estatal representa 33,6% do preço final da gasolina, produto que tem maior incidência de impostos. No diesel, a empresa fica com 52,4% e no botijão de gás, com 48,2%.

Embora o presidente Jair Bolsonaro tente culpar governadores e outros elos da cadeia de distribuição pela escalada dos preços, a comparação entre os preços atuais e aqueles vigentes na última semana antes de seu mandato iniciar mostram que a maior pressão veio mesmo da parcela dos combustíveis.

No caso da gasolina, as maiores pressões foram exercidas pela própria gasolina (pura) e pelo etanol anidro, que é misturado ao produto final, que hoje pesam bem mais no preço final do que antes do início do governo. Impostos estaduais e margens perderam participação no período.

O quadro é semelhante quando se analisa os números do diesel, também pressionado pelo biodiesel, e do gás de cozinha. Em ambos os casos, a Petrobras passou a representar uma parcela maior na composição dos preços finais e as margens caíram. A parcela do ICMS ficou praticamente estável nos dois casos.

Isso não quer dizer que não houve aumento no valor pago de ICMS em cada litro. O imposto é calculado sobre um percentual do preço final de bomba e, portanto, acompanha as variações desse preço. A cada 15 dias, os estados definem um valor de referência, com base em pesquisas nos postos, para cobrar o imposto.

O modelo de cobrança é criticado pelo governo e pelo próprio mercado de combustíveis, por retroalimentar a alta nos postos: quando o preço de bomba sobe, o governo estadual aumenta o valor de referência, gerando outro reajuste no preço de bomba.

Mas, ainda assim, esse movimento só ocorre após aumentos nas refinarias, que vêm seguindo em 2021 a recuperação das cotações internacionais.

“Tudo, absolutamente tudo, é em função dos preços internacionais das commodities”, diz o consultor Dietmar Schupp. “A gasolina e o diesel; o etanol em função dos preços da gasolina e do açúcar; e o biodiesel em função do preço do diesel e da soja.”

“Vivemos um cenário de aquecimento e retomada da economia asiática, seguida pelos Estados Unidos”, diz o presidente do Sindigás (Sindicato das Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo), Sérgio Bandeira de Mello. “Vale para soja, milho, petróleo, propano , que a China usa em sua indústria petroquímica.”

A cotação do petróleo, porém, já esteve bem mais alta do que a atual. Em 2018, chegou a bater os US$ 150 por barril, mais do que o dobro das cotações atuais, em torno dos US$ 70. Mas no fim daquele ano o litro de gasolina girava em torno de R$ 5, em valores corrigidos pela inflação.

Parte dessa diferença de quase R$ 1 em relação ao preço atual é explicada pela desvalorização do real. Foi a moeda que mais se desvalorizou frente ao dólar após o início da pandemia, como resposta à queda na taxa de juros e ao aumento da percepção de risco por parte dos investidores.

Diante dos efeitos da escalada inflacionária sobre sua popularidade, Bolsonaro demitiu o presidente da Petrobras, zerou os impostos federais sobre o gás de cozinha e suspendeu por dois meses os mesmos impostos sobre o diesel.

Em outro movimento nesse sentido, editou medida provisória liberando a venda direta de etanol entre usinas e postos e autorizou postos a venderem combustíveis de outras marcas, alegando que a competição pode forçar os preços para baixo.

Nenhuma das medidas, porém, surtiu efeito: o novo presidente da estatal prometeu respeito à política de preços e o desconto da carga tributária acabou sendo engolido pela alta de outros componentes do preço. Para o mercado, a liberação de restrições à venda de etanol e gasolina também terá efeito limitado.

E, embora os preços das commodities tenham cedido um pouco em agosto, a expectativa do mercado é que o petróleo volte a subir, operando em um patamar entre US$ 70 e US$ 80 por barril. O banco UBS, por exemplo, vê um “aperto estrutural” com a retomada do consumo sem aumento da produção e mira US$ 75.

Governadores farão ato em defesa da democracia e do STF na segunda, diz Doria

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), disse que 24 dos 27 governadores do Brasil se reunirão nesta segunda (23) em Brasília para um ato em defesa da democracia e do STF (Supremo Tribunal Federal), diante do aprofundamento da crise entre os Poderes.

“Nunca o Brasil foi tão ameaçado como agora”, afirmou Doria, em evento neste sábado (21) no Rio de Janeiro, para angariar apoio para as prévias da eleição que definirá o candidato do PSDB à Presidência da República em 2022. O nome do partido para a disputa será escolhido em novembro.

Segundo Doria, o encontro foi articulado em parceria com o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), que coordena o grupo dos 24 mandatárias estaduais. O governador não informou quais seriam os três ausentes ao encontro desta segunda.

“Não vamos tratar de pandemia, vamos tratar de democracia. Os governadores que se sentirem à vontade em se manifestar vão também defender o Supremo Tribunal Federal e condenar qualquer flerte com o autoritarismo e iniciativas autoritárias no país”, afirmou o governador.

Na sexta-feira (20), o presidente Jair Bolsonaro enviou ao Senado pedido de impeachment do ministro do Supremo Alexandre Moraes, que coordena investigações sobre atos antidemocráticos. Neste sábado, Bolsonaro defendeu que fez tudo “dentro das quatro linhas da Constituição”.

O pedido foi entregue no dia em que a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços do cantor Sérgio Reis e do deputado Otoni de Paula (PSC-RJ), aliados do presidente. As medidas foram solicitadas pela PGR (Procuradoria-Geral da República) e autorizadas por Moraes.

O pedido de impeachment gerou como resposta uma nota de repúdio do próprio STF e aprofundou o clima de ruptura entre os Poderes. A corte disse que “manifesta total confiança” em Moraes e que “o Estado democrático de Direito não tolera que um magistrado seja acusado por suas decisões, uma vez que devem ser questionadas nas vias recursais próprias, obedecido o devido processo legal”.

Doria disse no Rio que o encontro dos governadores ganha relevância diante da proximidade com as celebrações do 7 de Setembro, quando bolsonaristas planejam sair às ruas em defesa do presidente e contra o STF.

“Há sinais de que, por conta do 7 de Setembro, movimentos sejam promovidos por bolsonaristas e bolsominions para defender o regime autoritário no país. E nós, governadores, resistiremos”, afirmou. “As manifestações são soberanas, desde que sejam pacíficas, dentro também dos limites que cada Estado estabelecer. Sem rasgar a Constituição, sem atentar contra ela e contra a vida”.

Segundo Doria, a reunião deve ter também um ato em defesa do meio ambiente, sugestão do governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), com quem o governador paulista jantou na última sexta-feira.

“Será um consórcio pró meio ambiente, chamado de Brasil Verde”, afirmou.

Antes do evento de campanha, realizado na ABI (Associação Brasileira de Imprensa), Doria se reuniu com o prefeito do Rio, Eduardo Paes (DEM) e seu secretariado.

Por falta de gás, térmicas podem passar a usar óleo diesel, mais caro e poluente

A falta de gás natural para abastecer térmicas levou o governo a pedir a autorização para uso de óleo diesel, mais caro e poluente, como combustível em algumas usinas do país. A mudança deve pressionar ainda mais a conta de luz.

Nesta terça (17), a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) autorizou a troca de combustível da Termoceará, da Petrobras, que estava parada por falta de combustível. Com a mudança, o custo de geração da usina passa a ser de R$ 1.551 por MWh (megawatt-hora), mais do que o triplo dos R$ 431atuais.

A troca havia sido solicitada pela Creg (Câmara de Regras Excepcionais para a Gestão Hidroenergética) após reunião na semana passada, em que elencou uma série de medidas para enfrentar a falta de gás natural para térmicas.

No Ceará, o problema é a falta de navios para regaseificar gás importado na forma líquida, que afeta também uma segunda térmica no estado, chamada Termofortaleza. A terceira, Vale do Açu, está recebendo gás de outras fontes.

Na autorização desta terça, a Aneel determinou que a Petrobras desloque um navio que está hoje no Rio de Janeiro para o Ceará, também atendendo a pedido da Creg.

O problema, porém, se alastra por outros estados, como reflexo da parada para manutenção do polo de Mexilhão, um dos principais produtores de gás natural do país, localizado no litoral paulista. O sistema ficará parado por 30 dias, a partir do próximo dia 29.

Em sua última reunião, a Creg também pediu à Aneel que reconheça “como prioritária e estratégica a disponibilização de gás natural” para térmicas e que determine aos fornecedores do combustível que encontrem soluções para o suprimento, incluindo a substituição por óleo diesel onde possível.

Nesse sentido, a Aneel avalia também pedido da Delta Energia para permitir o uso de diesel na usina William Arjona, a mais cara do país, localizada no Mato Grosso do Sul. O projeto foi reinaugurado em julho, como reforço contra a crise, mas corre o risco de ficar sem gás com a parada de Mexilhão.

A Delta diz que a operação com óleo diesel não vai encarecer o custo da energia, já que a operação a diesel seria mais barata. A térmica foi inaugurada com custo de geração de R$ 1.741 por MWh, mas hoje já custa R$ 2.075 por MWh. Segundo a empresa, a alta acomoda elevação no preço do gás.

Além da William Arjona, a Creg citou no documento outras três usinas que correm risco de ficar sem gás: Araucária, no Paraná, Cuiabá, no Mato Grosso, e Santa Cruz, no Rio de Janeiro. Hoje, elas custam, respectivamente, R$ 1.083, R$ 701 e R$ 259 por MWh. Com óleo, a expectativa é que os valores sejam elevados.

O custo das térmicas é bancado pelas bandeiras tarifárias cobradas na conta de luz e pelo ESS (encargo de serviços do sistema), que também compõe a fatura paga pelos consumidores. Com o elevado uso de térmicas, a Aneel já prevê maior pressão sobre as tarifas, que hoje são o principal componente de pressão inflacionária.

A busca de novas fontes de geração é um dos focos da câmara criada pelo governo para enfrentar a crise energética. Em outra frente, o grupo flexibilizou restrições de vazão de água em hidrelétricas, para tentar recompor os reservatórios.

Especialistas, porém, classificam a postura do governo como “negacionista” e pedem programas de economia no consumo em busca de resultados mais rápidos sem tanta pressão na conta de luz. Dois programas desse tipo já foram anunciados, mas nenhum entrou em vigor ainda.

Em comunicado ao mercado na semana passada, a Petrobras diz que “segue envidando todos os esforços para maximizar a disponibilidade de gás ao mercado durante a parada programada, observando sempre a segurança de suas operações e o respeito ao meio ambiente”.

A companhia diz que já ampliou a capacidade de importação de gás no Rio de Janeiro, transferiu o navio do Ceará para a Bahia e vem buscando no mercado cargas de gás importado.

Consumo maior de energia eleva risco de apagões, diz consultoria

A recuperação do consumo de energia amplia os riscos de apagões localizados e demanda novas ações do governo para incentivar economia. A avaliação é de relatório de acompanhamento do mercado feito pela consultoria especializada PSR Energy.

Até julho, o consumo de energia cresceu 7,5% em relação a 2019. Para a PSR, se a taxa for a 9% entre setembro e dezembro, o risco de problemas no suprimento se torna “bastante elevado”, com uma necessidade de racionamento entre 2,7% e 6,8% da carga.

Embora o governo venha negando o risco de racionamento, a Creg (Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética) avalia um programa para incentivar consumidores de pequeno porte conectados a distribuidoras a reduzir o consumo de forma voluntária.

A proposta, diz o MME (Ministério de Minas e Energia), segue em linha com o programa de redução voluntária no consumo de energia por empresas, lançado na segunda (4), com o objetivo de deslocar parte da demanda para fora dos chamados horários de pico, quando o consumo é mais elevado.

Na avaliação da PSR, em seu relatório mensal de acompanhamento do mercado, mesmo com as medidas já em vigor, como a flexibilização das restrições operacionais de hidrelétricas e a contratação de 3,5 GW (gigawatts) em energia emergencial, o cenário segue preocupante.

“Houve uma deterioração significativa das condições de suprimento em relação às apresentadas no mês passado”, diz o presidente da PSR, Luiz Augusto Barroso, dizendo que o risco de racionamento pode ser mitigado por aumento da oferta de energia, mas o atendimento à ponta demanda novas ações.

Por isso, a consultoria sugere que o governo ofereça bônus aos consumidores residenciais que economizarem nesses períodos de maior demanda. Além disso, pede que “a comunicação com a sociedade sobre a gravidade da crise seja realizada de forma transparente e frequente”.

A resistência em implantar programas de economia de energia tem gerado críticas entre especialistas, que veem uma postura negacionista do governo em relação a crise energética. Segundo essa visão, o foco no aumento da oferta é arriscado e pressionará ainda mais a conta de luz.

Segundo dados da CCEE (Câmara Comercializadora de Energia Elétrica), o consumo de energia nos primeiros sete meses de 2021 já supera em 1,8% o registrado no mesmo período de 2019, antes da pandemia. Na comparação com 2020, a alta é de 7,5%.

A recuperação é puxada pelo mercado livre, que compreende indústrias e grandes empresas de comércio e serviços. A alta no consumo de energia ocorre a despeito de uma acomodação na atividade econômica. A produção industrial, por exemplo, vem alternando meses de crescimento com queda.

Em junho, segundo o IBGE, o indicador permaneceu no mesmo patamar alcançado em maio, equivalente ao de fevereiro de 2020, último mês antes da pandemia.

Segundo a CCEE, a alta é puxada por segmentos ligados a exportações, como metalurgia, atividade com maior consumo de energia no país, cuja demanda no primeiro semestre foi 15% maior do que no mesmo período de 2019.

Também grandes consumidores, os segmentos de minerais não metálicos e produtos alimentícios registram alta de 19% e 21% em relação ao primeiro semestre de 2019. “São setores que se beneficiam do câmbio”, diz o gerente-executivo de Segurança do Mercado e Informações da CCEE, Carlos Dornellas.

Em sua avaliação, mesmo a indústria voltada ao mercado interno tem tido bom desempenho, pois já se adaptou às operações em meio à pandemia. Alguns segmentos pesquisados pela EPE, porém, como transporte e veículos, ainda patinam em relação a 2019.

O impacto da recuperação no consumo de energia já levou CCEE e ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) a rever para cima suas projeções em 2021. Em novembro de 2020, o operador projetava uma carga média de 69.072 MW (megawatts) médios durante o ano seguinte.

Na primeira revisão da estimativa, em meio ao aumento dos casos de Covid em março, a projeção foi reduzida para 68.939 MW média. Mas, na segunda revisão, no fim de julho, ela subiu para 69.940 MW médios, 1,2% acima do projetado no fim de 2020.

“O resultado acima do esperado para o PIB do 1º trimestre, bem como o avanço na vacinação, levaram a uma revisão da projeção de PIB de 2021 de 3% para 5%”, escreveu o ONS, ressaltando que o mercado de trabalho enfraquecido e a inflação alta podem segurar a recuperação.

A CCEE acredita que o cenário ainda não indica risco de racionamento, considerando que a base de comparação mais elevada, diante da retomada econômica do fim de 2020, vai reduzir a taxa de crescimento do consumo no segundo semestre para algo em torno de 2,5%.

Na reunião desta quarta, a Creg anunciou mais medidas para enfrentar a crise, como novos estudos para a flexibilização de vazões em reservatórios, autorizações para a contratação de térmicas e busca de ampliação da capacidade de importação de gás natural.

As novas ações foram recomendadas pelo CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico), diante de percepção de que as condições hidrológicas ruins sobre as principais bacias se repetiram em julho, quando o volume de chuvas sobre o país foi equivalente a 54% da média de longo prazo.

Petrobras diz não ter definição sobre vale-gás prometido por Bolsonaro

Após o presidente Jair Bolsonaro dizer que a Petrobras tem um plano para reduzir o custo do botijão de gás para a população de baixa renda, a empresa afirmou em nota que “não há definição” quanto a programas do tipo e que qualquer projeto dependeria de aprovação pela área de governança da companhia.

O estatuto da estatal a proíbe de financiar políticas públicas que gerem prejuízo às suas operações.

Segundo o texto, a participação em investimentos ou a concessão de subsídios não lucrativos depende do estabelecimento de contrapartidas financeiras.

Na sexta (30), em entrevista ao Programa do Ratinho, do SBT, Bolsonaro disse que a Petrobras tem “uma reserva de aproximadamente R$ 3 bilhões para atender realmente esses mais necessitados”. “Seria um vale-gás, seria o equivalente –no que está sendo estudado até agora– a um bujão de graça a cada dois meses”, afirmou.

GÁS DE COZINHA ACUMULA ALTA DE 66% NO GOVERNO BOLSONARO

Desde o início do governo Bolsonaro, o preço do gás de cozinha vendido pela Petrobras acumula alta de 66%, reflexo da desvalorização cambial e de uma mudança na política de preços da estatal, que deixou de subsidiar o produto vendido para envase em botijões de 13 quilos.

Na semana passada, segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis), o botijão custava, em média no país, R$ 92,79. Em alguns locais, a pesquisa da agência encontrou o produto sendo vendido por R$ 130.

A escalada, que atinge de maneira mais forte a população de baixa renda, vem tendo impacto na popularidade do presidente, que isentou o produto de impostos federais, mas sem grande efeitos sobre os preços.

Na nota divulgada no sábado (31), a Petrobras indica que os R$ 3 bilhões citados por Bolsonaro referem-se aos dividendos que a empresa distribuiu ao governo pelos lucros realizados no ano. Ao todo, disse a companhia, foram distribuídos R$ 10,3 bilhões durante o ano.

Mas afirmou que, embora contribua com discussões sobre eventuais programas voltados a famílias vulneráveis, “não há definição quanto à implementação e o montante de participação em eventuais programas”.

A Petrobras defendeu ainda que manterá sua política de acompanhamento das cotações internacionais, criticada por sindicatos, partidos de oposição e por caminhoneiros, que sofrem com a disparada do preço do diesel, mas apoiada pelo mercado financeiro e pela área econômica do governo.

O descontentamento com a elevação dos preços levou Bolsonaro a demitir, em fevereiro, o ex-presidente da Petrobras Roberto Castello Branco, que comandava a estatal desde o início do governo, por indicação do ministro da Economia, Paulo Guedes.

Seu substituto, o general Joaquim Silva e Luna, assumiu sob expectativa de recuo na política de preços, mas até o momento vem seguindo as cotações internacionais, embora com uma frequência de reajustes menor do que a praticada por seus antecessores.

Empresas do setor veem como solução a instituição de um subsídio direcionado à população de baixa renda, nos moldes do vale-gás citado por Bolsonaro, que teria maior impacto social do que o corte dos impostos federais para todos os consumidores.

O tema tem gerado debates no Congresso, diante de notícias sobre o aumento do uso de lenha ou carvão para cozinhar alimentos por dificuldade para adquirir o gás de cozinha em um cenário de desemprego e alimentos também em alta.

Na entrevista ao SBT, Bolsonaro atribuiu os altos preços do gás de cozinha no país à cobrança do ICMS por governadores, à margem de lucro dos vendedores e ao custo do frete. Mesmo discurso adotado quando o assunto é a alta de outros combustíveis, como gasolina e diesel.

A crítica encontra eco entre os revendedores de botijão. “Alguns estados estão exagerando no apetite da arrecadação de ICMS sobre o gás de cozinha!”, escreveu em suas redes sociais nesta segunda (2) a Abragás (Associação Brasileira das Entidades de Classe de Gás LP).

Os estados defendem que o valor do ICMS apenas acompanha a alta nas bombas e que a responsabilidade pelos aumentos é da política de preços da Petrobras.

O IBGE está na idade da pedra lascada, diz Guedes

O ministro Paulo Guedes (Economia) questionou a metodologia da pesquisa de emprego do IBGE (Instituto Nacional de Geografia e Estatística), que mostrou nesta sexta (30) a taxa de desemprego de 14,6% no trimestre encerrado em maio.

Guedes defendeu que os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) do governo federal mostram que o Brasil está criando empregos “muito rapidamente”.

O Caged retrata apenas o mercado de trabalho formal, ou seja, empregos com carteira assinada. Já o IBGE, por meio da Pnad, abrange também o setor informal da economia.

“Estamos gerando praticamente 1 milhão de empregos a cada três meses e meio”, afirmou, em entrevista após evento na sede do Ministério da Economia no Rio de Janeiro.

O ministro disse que a Pnad está atrasada, ao usar entrevistas por telefone para calcular a taxa de desemprego, enquanto o Caged trabalha com dados oficiais das empresas.

“Vamos ter que rever, acelerar os procedimentos do IBGE, porque o IBGE ainda está na idade da pedra lascada”, afirmou o ministro.

Ele frisou que o Caged mostrou a geração de 309 mil empregos em junho. “Desde o início do ano, já criamos 1,5 milhão de empregos. Desde a pandemia, que cortou 1milhão de empregos, já criamos 2,5 milhões.”

Especialistas, no entanto, questionam os dados divulgados pelo Caged. Desde janeiro do ano passado, houve uma mudança na metodologia da pesquisa, que passou a ser alimentada por informações provenientes do eSocial, sistema de escrituração que unificou diversas obrigações dos empregadores.

Além de reunir mais informações na mesma base de dados, o novo Caged tornou obrigatório informar a admissão e demissão de empregados temporários. Antes, essa comunicação era facultativa.

O ministro Paulo Guedes (Economia) durante solenidade no Palácio do Planalto, em Brasília Pedro Ladeira – 13.jul.21/Folhapress ** Ao comparar um mesmo período (abril a dezembro de 2019) usando a série antiga e a nova do Caged, o pesquisador Bruno Ottoni, do iDados e do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), encontrou uma diferença de 74% entre os resultados –ou seja, pela nova metodologia, o saldo de vagas observado foi muito maior.

A discrepância entre os dados observados nas duas pesquisas levou o Itaú Unibanco a criar um indicador próprio sobre mercado de trabalho. Na visão de Luka Barbosa, economista da instituição, tanto o Caged e a Pnad estariam descalibrados –o primeiro, mostrando uma recuperação muito forte, enquanto a segunda vai no sentido contrário.

Em relação ao Caged, o banco identificou uma diferença acumulada de 304 mil postos de trabalho a mais entre abril e dezembro de 2019 após as mudanças metodológicas adotadas pelo governo, em comparação com o formato anterior da pesquisa.

Já em relação à Pnad, o Idat-Emprego –como o indicador do Itaú foi batizado– indicou uma taxa de desemprego para o trimestre encerrado em fevereiro de 14,2%, menor do que a observada na pesquisa do IBGE, de 14,5%.

Guedes esteve no Rio para participar do lançamento de um aplicativo para facilitar a compra de domínio de áreas da União por proprietários de imóveis nessas áreas, processo conhecido como remição de foro.

O programa é parte de um esforço do governo Jair Bolsonaro (sem partido) para vender ativos imobiliários da União. No caso da remição de foro, o governo não vende o imóvel, mas o domínio sobre o terreno.

Ao adquirir o domínio, o proprietário deixa de pagar taxas anuais pelo uso, conhecidas como foro, e o laudêmio, taxa de 5% cobrada sobre a transferência do imóvel.

O objetivo do aplicativo é agilizar o processo de compra do domínio, que hoje depende de um processo de avaliação do imóvel. O serviço começará com 4.137 imóveis da Avenida Atlântica, em Copacabana e no Leme, zona sul do Rio, mas será estendido para todo o país.

Segundo o ministério, os recursos da venda de domínios dos imóveis em áreas da União serão destinados a impulsionar políticas públicas e reduzir a dívida do Estado.

Negacionismo do governo na crise de energia custará caro, dizem especialistas

Um mês após a criação do comitê de gestão da crise energética, a resposta do governo para enfrentar o risco de apagões ainda se limita a garantir a oferta de energia, sem programas voltados à economia no consumo.

O primeiro programa relacionado à demanda está em fase final de elaboração, diz o MME (Ministério de Minas e Energia), mas ainda não há prazo para começar a funcionar. Para especialistas, a estratégia é arriscada e deve pressionar ainda mais a conta de luz.

Em mesa-redonda com a imprensa nesta terça (27), especialistas do Instituto Clima e Sociedade classificaram a resposta do governo à crise como negacionista, por minimizar os riscos e evitar incentivos à economia de energia.

“A gente vê ministros e outras figuras aparecendo e negando que estamos diante de um risco de racionamento e de apagões”, disse a consultora do instituto, Amanda Ohara. “Se na pandemia, em que lidavam com vidas humanas, houve negação, imagina na energia, no início de um período eleitoral.”

Planejada nos moldes da câmara que coordenou o racionamento de 2001, a Creg (Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética) foi criada pelo governo Jair Bolsonaro no dia 28 de junho, também com o objetivo de propor medidas para enfrentar uma crise hídrica.

É liderada pelo MME, com participação de ministérios de outras áreas afetadas e já vinha sendo alvo de críticas desde a sua composição, que excluiu órgãos responsáveis pela regulação e planejamento dos setores de energia, água e meio ambiente.

Neste primeiro mês de atuação, focou suas atenções na gestão dos reservatórios das hidrelétricas para garantir alguma folga ao fim do período seco e na contratação de térmicas emergenciais, tema de uma resolução publicada no fim da semana passada.

Ainda assim, com a retomada da economia, o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) emitiu alerta na semana passada sobre a possibilidade de esgotamento da potência para atendimento aos horários de maior consumo no fim do ano.

O alerta reforçou no mercado a percepção de que, sem controle da demanda, o risco de apagões localizados nos horários de picos é elevado. “Não tem varinha de condão que faça aparecer oferta de energia”, diz o ex-diretor do ONS Luiz Eduardo Barata.

Por isso, diz, o governo deveria apresentar a situação com mais transparência, convocando a população a contribuir. O programa de deslocamento da demanda que será lançado em breve tem foco na indústria, que poderia deslocar a produção dos horários de pico para momentos de menor consumo.

Inicialmente, a previsão era que o programa fosse anunciado em julho, mas, segundo o MME, a proposta técnica para apresentação ao mercado ainda está em fase final de preparação. Depois, deve ficar um período em consulta pública para contribuições.

A proposta da indústria prevê o pagamento de compensações pela participação das empresas, em valores menores do que o custo de acionamento de térmicas, mas os detalhes do texto que será levado a consulta pública ainda não foram divulgados.

Especialistas no setor dizem que o deslocamento de demanda e a contratação emergencial de térmicas podem minimizar os riscos de 2021, mas não são suficientes para recuperar os níveis dos reservatórios para um 2022 menos dependente de chuvas. Além disso, representam pressão adicional na tarifa.

“A pior coisa que o governo está fazendo no momento é não preparar os brasileiros para a situação difícil que vamos enfrentar”, diz o físico José Goldemberg, ex-secretário de Meio Ambiente de São Paulo. “Pelo contrário, está tranquilizando as pessoas.”

O governo aposta na entrada de 15 gigawatts (GW) em nova capacidade de geração entre 2021 e 2022, o equivalente a 8% da capacidade instalada atual, além de 16 mil quilômetros de novas linhas de transmissão, elevando a malha em 10%.

Mas a possibilidade de ocorrência do fenômeno La Niña no próximo período chuvoso acrescenta riscos adicionais, ao reduzir as chuvas no centro-sul e ampliar no Nordeste, diminuindo a capacidade de geração eólica, num ano com perspectivas de retomada mais forte da economia.

Em nota divulgada nesta terça, o ministério afirmou que mantém no ar uma campanha pelo uso consciente de energia e água e que as medidas já em vigor estão produzindo os resultados esperados -embora o nível dos reservatórios permaneça em queda.

“Não há indicativo de corte de carga e, portanto, de apagões nem no pior cenário utilizado “, afirmou o MME. “Não obstante, as medidas em curso contemplam ações visando obter adicionais de geração que permitem que a operação do sistema conte com mais ‘folga’ entre a oferta e a demanda.”

No texto, o ministério elenca outras medidas adotadas para enfrentar a crise, como a revisão de regras para importação de energia e negociações com empreendedores para antecipar obras. E conclui que “a energia elétrica não será um gargalo para a retomada da economia”.

Petrobras completa 40 dias sem reajuste, mas combustíveis ainda sobem nas bombas

Após um início de ano de forte alta nos preços dos combustíveis, o Brasil completa nesta quinta (10) 40 dias sem reajustes nas refinarias. Nos postos, porém, os preços continuam subindo, sob efeitos de repasses de ICMS e do aumento dos biocombustíveis.

Levantamento feito a pedido da Folha pelo Ineep (Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis) indica que a estatal vem evitando repasses imediatos das volatilidades externas após a mudança no comando da companhia.

Os dados mostram, por exemplo, que a empresa deixou de acompanhar um repique nas cotações internacionais no início de maio, quando o preço médio praticado em suas refinarias chegou a ficar R$ 0,08 por litro abaixo do valor de referência calculado pela ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis).

“Aparentemente, essa gestão está mais preocupada com a volatilidade”, diz a pesquisadora do Ineep Carla Ferreira, ressaltando que ainda é cedo para conclusões. “Talvez estejam com outra lógica, de olhar os preços de uma forma mais alongada do que o Castello Branco.”

A estatal diz que não alterou sua política de preços. “A Petrobras monitora permanentemente o mercado e, a partir de uma percepção de realinhamento de patamar, seja de câmbio, seja de cotações internacionais de petróleo e derivados, realiza reajustes de preço”.

Castello Branco foi demitido por Bolsonaro em fevereiro, em meio à escalada dos preços no início do ano, em um processo conturbado que derrubou as ações da companhia e levou a uma debandada inédita no conselho de administração da estatal.

Para seu lugar, Bolsonaro nomeou o general Joaquim Silva e Luna, que estava em Itaipu Binacional e assumiu defendendo que buscaria reduzir a volatilidade, mas prometendo “conciliar interesses de consumidores e dos acionistas”.

O discurso animou investidores, que mantêm a confiança na valorização das ações da companhia, diante da perspectiva de distribuição de elevados dividendos já em 2021. Nicholas Exel, colaborador do site financeiro Seeking Alpha, classifica as ações da Petrobras como “uma barganha”.

Apesar da recuperação das cotações do petróleo nas últimas semanas, chegando a ultrapassar a barreira dos US$ 70 por barril, a gestão Silva e Luna vem sendo beneficiada pela valorização do real frente ao dólar no mesmo período.

Entre o último anúncio de reajuste, no dia 30 de abril, e esta terça (8), a cotação da moeda americana no Brasil caiu 7%, de R$ 5,44 para R$ 5,04. A desvalorização do real no início do ano foi o principal fator de pressão sobre os preços dos combustíveis, que vêm batendo recordes históricos em 2021.

Assim, as cotações internacionais se aproximaram do preço interno após o repique do início do mês. Segundo cálculo da Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis), nesta segunda (7) a defasagem média do diesel era de 1% e a da gasolina, 2%.

Nas bombas, apesar da falta de reajustes, os preços continuam em alta. Na semana passada, o litro do diesel foi vendido no país, em média, a R$ 4,490, valor 0,5% superior ao registrado um mês antes. A gasolina comum subiu 1,7% no período, para R$ 5,656 por litro.

Para especialistas, a alta reflete repasses de elevações no preço de referência para cobrança do ICMS e biocombustíveis pressionados pela elevação das cotações internacionais e pela seca. No caso do diesel, houve também o fim da isenção de impostos federais concedida por Bolsonaro em março, que durou dois meses.

No dia 1º de junho, 22 estados e o Distrito Federal elevaram os preços de referência para cálculo do ICMS no diesel e outros quatro mantiveram o valor. No caso da gasolina, houve elevação em 19 estados e no Distrito Federal.

O litro do biodiesel subiu de R$ 4,425 para R$ 5,536 entre o primeiro e o último leilão realizado pelo governo, mesmo com a redução do percentual de mistura obrigatória de 12% para 10% –medida que teve o objetivo de tentar conter a escalada.

Já o preço do etanol anidro, que é misturado à gasolina, vem sendo pressionado pela seca sobre a lavoura, que atrasou a colheita da safra. Na primeira semana de junho, o valor de venda do produto pelas usinas de São Paulo subiu 0,88% em relação à semana anterior, para R$ 3,43 por litro.

Em nota enviada à Folha, a Petrobras disse ainda que “os estudos e monitoramentos elaborados pelas áreas técnicas de comercialização da Petrobras suportam a tomada de decisão e a proposição de reajustes de preço, sendo observado permanentemente o ambiente de negócios e o comportamento dos seus competidores”.

Desemprego atinge em janeiro maior nível para o período na série histórica, diz IBGE

A taxa de desemprego no trimestre encerrado em janeiro foi de 14,2%, a pior para o período desde o início da pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2012. Ao todo 14,3 milhões de brasileiros estavam em busca de uma vaga no no período.

A taxa ficou estável em relação ao trimestre móvel encerrado em outubro e, segundo o IBGE, ainda contabiliza efeitos do crescimento do emprego nos últimos meses de 2020, período em que normalmente comércio e serviços contratam para as festas de fim de ano.

Por isso, diz a gerente da pesquisa, Adriana Beringuy, os dados trazem um aumento de 2% no contingente de brasileiros ocupados, que chegou a 86 milhões de pessoas, 1,7 milhão a mais no mercado de trabalho em relação ao trimestre encerrado em outubro.

A maior parte do aumento na ocupação, porém, veio da população informal: o número de empregados sem carteira assinada no setor privado subiu 3,6% (339 mil pessoas), os trabalhadores por conta própria sem CNPJ aumentaram em 4,8% (826 mil) e os trabalhadores domésticos sem carteira, cresceram 5,2%.

“O trabalhador por conta própria e o empregado no setor privado sem carteira permanecem sendo aqueles que estão contribuindo mais para o crescimento da ocupação no país”, diz Beringuy. Com isso, a taxa de informalidade no trimestre encerrado em janeiro foi de 39,7%.

 

Gostaria de trabalhar, mas não procurou emprego

O IBGE detectou ainda recorde entre os desalentados, aquele grupo que gostaria de trabalhar mas não procurou emprego. Ao todo, 5,9 milhões de pessoas se encontravam nessas condições no trimestre encerrado em janeiro.

Janeiro é o primeiro mês após o fim do auxílio emergencial, em dezembro. Embora o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tenha afirmado que o efeito do fim do benefício na economia foi menor que o esperado, são esperados grandes impactos no mercado de trabalho.

O desemprego deve ainda sofrer impactos do aumento das medidas de restrições para enfrentar o avanço da pandemia por todo o Brasil, que neste momento limitam o funcionamento do comércio e dos serviços não essenciais nas maiores cidades brasileiras.

Pesquisa Datafolha divulgada na semana passada mostra que 79% dos brasileiros acreditam em aumento do desemprego nos próximos meses. Para outros 10%, a taxa vai ficar como está. Para 10%, vai diminuir. É o pior resultado registrado nas pesquisas do instituto, considerando a série histórica iniciada em 1995.

O novo auxílio emergencial, de até R$ 350, começa a ser pago no dia 16 de abril, primeiro para beneficiários do programa Bolsa Família. Este ano, não foi possível solicitar o auxílio ao governo. Todos os beneficiários que receberão as novas parcelas são pessoas que já receberam no ano passado.

Prévia da inflação vai a 0,93% em março com alta dos combustíveis

Com forte pressão do preço da gasolina, a prévia da inflação de março disparou para 0,93%, contra 0,48% no mês anterior, informou nesta quinta (25) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Em 12 meses, o índice acumula alta de 5,52%.

Foi a maior taxa do indicador do IBGE que mede a prévia da inflação, o IPCA-15, para um mês de março desde 2015. Pela primeira vez desde 2016, o índice acumulado em 12 meses supera o teto da meta estabelecida pelo Banco Central para o ano, que é de 5,25%.

Ainda sob efeito da sequência de reajustes promovidos pela Petrobras, a gasolina contribuiu sozinha com 0,56 ponto percentual do IPCA-15. O produto registra alta de 11,18% em março, reflexo dos seis reajustes promovidos pela Petrobras entre o início de 2020 e a semana passada.

Na última sexta (19), a estatal reduziu pela primeira vez o preço do combustível no ano, com queda de 5%. Nesta quinta (25), houve novo corte, de 4%, mas os repasses ainda não chegaram totalmente às bombas.

A gasolina é o produto com maior peso na inflação, mas o IBGE detectou alta também em outros combustíveis: o etanol subiu 16,38% em março; o óleo diesel, 10,66%; e o gás natural veicular, 0,39%. Assim, o custo dos transportes subiu 3,79%, contra 1,11% em fevereiro.

Os combustíveis impactaram também o custo da habitação, que subiu 0,71% na prévia da inflação de março, informou o IBGE. A alta foi puxada pelo gás de botijão (4,60%), no décimo mês consecutivo de alta, e do gás encanado (2,52%). A taxa de água e esgoto (0,68%) também acelerou em relação a fevereiro.

Principal fator de pressão da inflação durante o primeiro ano de pandemia, o preço dos alimentos segue em desaceleração. Nesta prévia da inflação de março, tiveram alta de 0,12%, contra 0,56% no mês anterior.

“Os alimentos para consumo no domicílio caíram 0,03% após sete meses consecutivos de alta, sobretudo por conta das quedas de tomate (-17,50%), a batata-inglesa (-16,20%), o leite longa vida (-4,50%) e o arroz (-1,65%). No lado das altas, as carnes aumentaram 1,72%”, disse o IBGE.

A alimentação fora do domicílio também desacelerou, registrando 0,49% em março frente 0,56% de fevereiro. A perda de ritmo foi foi influenciada pelo lanche (0,64%) e pela refeição (0,33%), itens que, em fevereiro, aumentaram 1,20% e 0,37%, respectivamente.

A avaliação é que, além de fatores sazonais, o fim do auxílio emergencial contribuiu para a desaceleração de preços dos alimentos, ao reduzir o poder de compra do brasileiro e, consequentemente, a demanda por determinados itens.

Dos nove grupos pesquisados pelo IBGE, apenas um teve deflação. Foi o custo da educação, que caiu 0,51% após alta de 2,39% em fevereiro, quando foram captados os reajustes anuais de cursos regulares.

Todas as regiões pesquisadas no IPCA-15 apresentaram alta no mês, disse o IBGE. A maior foi na região metropolitana de Belém (1,49%), em função da gasolina (12,44%). A menor foi na região metropolitana do Rio de Janeiro (0,52%), influenciado pelas quedas do tomate (-21,73%) e da batata-inglesa (-16,91%).

O cálculo do IPCA-15 usa a mesma metodologia da pesquisa do IPCA, o indicador oficial de inflação do país. A diferença está no período de coleta dos preços, que no primeiro caso é iniciada na segunda quinzena do mês anterior, e na abrangência geográfica, com menos localidades pesquisadas.

O IPCA fechado do mês já se aproximava do teto da meta em fevereiro, quando o índice de 12 meses ficou em 5,20%. O resultado fechado de março só será divulgado no início de abril. Se a tendência for mantida, será a primeira vez que o IPCA de 12 meses ficará acima do teto da meta desde novembro de 2016, quando foi de 6,99%.

Naquele ano, porém, o indicador fechou dezembro em 6,29%, pouco abaixo do limite superior de 6,50% estabelecido pelo Banco Central.

A escalada inflacionária dos últimos meses levou o Copom (Comitê de Política Econômica) do Banco Central a elevar a taxa básica de juros pela primeira vez desde 2015. A alta de 0,75 ponto percentual surpreendeu o mercado, que esperava 0,5 ponto percentual.

De acordo com a ata da reunião, divulgada na terça (23), a avaliação do comitê é que que a atividade econômica não sofrerá tanto com a pandemia quanto em 2020, mas os choques de preços, ainda que pontuais, ameaçam o cumprimento das metas de inflação.

“Além do ritmo forte de crescimento dos últimos meses, com consequente redução da ociosidade econômica, houve uma reversão das expectativas de inflação, que passaram a se situar na parte superior do intervalo de tolerância da meta para o ano de 2021 e ao redor da meta para o ano de 2022”, diz a ata.

Nesta segunda (22), o mercado elevou mais uma vez suas projeções para inflação e taxa básica de juros neste ano e no próximo, segundo o relatório Focus, do Banco Central. A estimativa agora é que a inflação feche o ano em 4,71%, contra 4,60% na semana anterior. A projeção para a taxa Selic em 2021 subiu de 4,5% para 5%.