Déficit de médicos de família no SUS está entre 45 mil e 65 mil

A área de atenção primária precisará de um olhar especial da gestão Luiz Inácio Lula da Silva (PT), na avaliação da presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, Zeliete Linhares Leite Zambon

Segundo ela, faltam profissionais, incentivo na carreira e investimentos

Na opinião da especialista, para uma boa gestão em saúde, o governo deverá investir na atenção primária, nos agentes comunitários de saúde, na formação do médico de família e comunidade, além de aumentar a resolutividade da atenção primária e voltar com os profissionais do Nasf (Núcleo de Apoio à Saúde da Família)

PERGUNTA – Faltam médicos de família no SUS?

ZELIETE LINHARES LEITE ZAMBON – Só no SUS o déficit varia de 45 mil a 65 mil médicos de família e comunidade. Só temos 10 mil destes profissionais.

P. – Ao que se atribui o déficit?

ZZ – Primeiro, não existia esse profissional dentro da graduação. De 2014 para cá, com a mudança da diretriz curricular nacional para os cursos de medicina, passou a ser obrigatório um professor especialista em medicina de família e comunidade, inclusive a disciplina de atenção primária transversal a todo curso. Se fizermos uma conta, vamos demorar no mínimo dez anos para formar a quantidade necessária desses especialistas

Na hora que formar, vamos precisar de mais, porque a população aumenta. A especialidade fez 41 anos no dia 5 de dezembro [Dia Nacional do Médico de Família e Comunidade], mas o formato era diferente. A partir de 2002, ela passou a ser no formato assistencial, de resolver todos os problemas da atenção primária, que equivale a 85% dos problemas de saúde das pessoas. A atuação da atenção primária também mudou. Antes, tínhamos muito a visão da prevenção. Hoje, é prevenção, cura, diagnóstico, reabilitação.

P. – De que forma o país poderia incentivar a opção pela medicina de família?

ZZ – Temos uma necessidade emergencial de provimento médico na atenção primária. Essa urgência trouxe vários programas, como o Mais Médicos e o Provab (Programa de Valorização do Profissional de Atenção Básica), em que o formado saía da graduação e recebia uma bolsa de valor muito maior que o da bolsa de residência, de R$ 4.000. A do Provab era R$ 10 mil; a do Mais Médicos passava de R$ 11 mil; e a do Médicos Para o Brasil [substituto do Mais Médicos], cerca de R$ 15 mil. Isso desestimula o recém-formado a ir para a residência em medicina de família e comunidade.

P. – Como a senhora avalia a gestão Bolsonaro em relação à saúde da família?

ZZ – Horrível. Em relação à Estratégia Saúde da Família, houve diminuição no investimento. Até por conta do congelamento de verbas para a saúde e a educação, diminuiu o investimento na resolubilidade, porque cortou verba para o fluxo de apoio a saúde da família. Isso por si só já diminuiu o incentivo da atenção primária

Na medicina de família e comunidade, pela primeira vez, não houve estímulo para bolsa de residência nessa especialidade desde quando começou o Pró-Residência [Programa Nacional de Apoio à Formação de Médicos Especialistas em Áreas Estratégicas]. Isso deixa claro que o governo não tinha intenção de valorizar a medicina de família e comunidade. Dentro do Médicos pelo Brasil, foi criada a Agência para o Desenvolvimento da Atenção Primária à Saúde com o mote de formação para a medicina de família e comunidade. Na verdade, demorou um tempão para começar o curso, o que aconteceu recentemente. Mesmo assim, deveria ter uma avaliação contínua desse processo do Médicos pelo Brasil. O programa, que é uma mistura de provimento com formação e no final titulação de especialistas em medicina e comunidade, demorou para ser posto em prática. Só retrocessos.

P. – Qual o impacto da crise na saúde sobre a medicina de família?

ZZ – Como não tinha um planejamento de como seria esse trabalho, não houve investimento, melhorias e nem manutenção das políticas já existentes. Isso fez com que as pessoas fossem mais para o pronto-socorro, descompensassem com doenças crônicas, como hipertensão arterial e diabetes, e tivessem mais AVC, infarto

A economia provoca mais gastos nos setores secundários e terciários, porque não há um cuidado na gestão da saúde das pessoas. A medicina de família e comunidade começou a ir muito para o privado. Já tinha um apelo do sistema privado por esse profissional, que foi muito valorizado lá. Além de o governo não formar mais médicos de família e diminuir os gastos em atenção primária, perdeu especialistas em medicina de família e comunidade para o setor privado, o que piorou muito a qualidade da atenção primária.

P. – Quais as expectativas da entidade em relação ao governo Lula?

ZZ – Sabemos que será um ano difícil pelas questões orçamentárias. Esperamos que este governo tenha claro que a atenção primária deve ser a coordenadora de todo sistema de saúde. É preciso investir na atenção primária, na formação do médico de família e comunidade, aumentar a resolutividade da atenção primária, voltar com os profissionais do Nasf e investir nos agentes comunitários de saúde, na inovação e nos sistemas de informação. Essa é a lógica de uma boa gestão em saúde

E esperamos que este governo escute os especialistas em medicina de família e comunidade. Nos acione, procure a Sociedade [Brasileira de Medicina de Família e Comunidade], que temos orientações para dar. Esperamos que o especialista em medicina de família e comunidade seja valorizado, que tenha um plano de carreira, incentivo para a formação

Assim como incentivamos os médicos de provimento emergencial com bolsas maiores, devemos incentivar os que fazem residência em medicina de família para que também tenham bolsas maiores, um processo de carreira médica e fixação dentro da Estratégia Saúde da Família.

Raio-X

Zeliete Linhares Leite Zambon

Presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade. Graduada em medicina pela Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória, médica de família e comunidade, mestre em ciências do ensino da saúde pela Unifesp. Tem MBA Executivo em gestão de saúde pelo Einstein. É coordenadora de ensino do curso de medicina da Faculdade São Leopoldo Mandic.

O que acontece se o eleitor estiver na fila e encerrar o horário da votação?

Com as longas filas registradas em muitos locais do país, eleitores correm o risco de não conseguirem votar até 17 horas, horário de encerramento das eleições.

De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), quem já estiver na fila até 17h terá o voto garantido e receberá uma senha para poder votar.

O eleitor que chegar à sessão após 17h perderá o direito ao voto.

Reforço da Pfizer após Coronavac eleva eficácia contra a Covid em 92,7%, diz estudo

Um estudo publicado nesta quarta-feira (9), na revista Nature, aponta que uma dose de reforço da vacina da Pfizer após duas da Coronavac aumenta em 92,7% a eficácia contra o coronavírus. Segundo a publicação, com o mesmo esquema vacinal é possível impedir o agravamento da Covid-19 -mortes e internações- em 97,3% dos casos.

A pesquisa foi feita com base na análise das informações de cerca de 14,3 milhões de brasileiros que realizaram teste rápido de antígeno ou RT-PCR -este foi feito por cerca de 7,3 milhões de indivíduos do montante. O banco de dados foi disponibilizado pelo Ministério da Saúde.

De 24 de fevereiro de 2020 a 11 de novembro de 2021, 23,4 milhões de pessoas se submeteram a testes de Covid por suspeita de infecção pelo coronavírus, com pico de desfechos graves entre fevereiro de 2021 e abril de 2021. Dos 13,3 milhões de exames não elegíveis para o estudo, 8,8 milhões foram realizados antes da campanha de vacinação no Brasil. Esses testes serviram apenas para conhecer o estado das infecções anteriores dos participantes e não foram utilizados na análise principal.

Além disso, foram realizados 2,6 milhões de testes em menores de 18 anos, faixa etária não incluída na pesquisa. Todos com 18 anos ou mais que relataram sintomas semelhantes aos de Covid-19 e se submeteram a exame para detecção do coronavírus entre 18 de janeiro e 11 de novembro de 2021 foram elegíveis para o estudo.

Da amostra, os vacinados com a Coronavac somam 913.052. Destes, 7.863 receberam uma dose de reforço de Pfizer. A maioria (93,4%) foi testada 30 dias após o reforço. Segundo estudos anteriores com a Coronavac, em comparação com não vacinados, de 14 dias a um mês após as aplicações, a eficácia do imunizante foi de 55% contra a infecção clássica e de 82,1% em desfechos graves.
Após seis meses, a taxa de proteção caiu para 34,7% e 72,5% contra o agravamento dos casos.

“Você toma as duas doses da Coronavac e tem uma proteção principalmente para a doença grave, mais ou menos o que sabíamos. Após seis meses, essa proteção cai e aí, quando a pessoa toma a terceira dose da Pfizer, essa proteção chega num nível altíssimo, tanto para a infecção não complicada quanto para a doença grave”, explica Guilherme Werneck, pesquisador da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

“A Coronavac é uma ótima vacina, mas a proteção decresce com o tempo, então a terceira dose da Pfizer é fundamental para oferecer proteção principalmente para a Covid grave.” Para a população com 80 anos ou mais, a imunização com as três doses se mostra muito importante. “A proteção com a segunda dose para os idosos já não era tão boa e eles estavam desprotegidos, mas voltaram a atingir um patamar alto quando receberam a Pfizer”, afirma Werneck.

A reportagem questionou o pesquisador sobre o período de duração da proteção oferecida pela Pfizer, mas ainda é cedo para obter a resposta, pois há necessidade de um acompanhamento mais longo, de acordo com Werneck. O estudo publicado na Nature tem a participação de 14 cientistas de universidades brasileiras e internacionais.

Um estudo do Ministério da Saúde realizado em parceria com a Universidade de Oxford mostra que a dose de reforço com a vacina da Pfizer aumentou em 175 vezes o número de anticorpos neutralizantes. O número chega a ser quase três vezes maior que o de outros imunizantes aplicados no Brasil. Com a vacina da AstraZeneca o aumento foi de 85 vezes e com a vacina da Janssen, de 61 vezes.

A Coronavac foi o que teve menor resposta imune, sendo que houve aumento de sete vezes dos anticorpos neutralizantes. Em outro estudo, divulgado em dezembro do ano passado, pesquisadores israelenses afirmaram que a aplicação de três doses da vacina da Pfizer contra a Covid oferece proteção significativa contra a ômicron.

A pesquisa, realizada pelo centro médico Sheba e pelo Laboratório Central de Virologia do Ministério da Saúde, comparou o sangue de 20 pessoas que receberam duas doses de 5 a 6 meses anteriores a dezembro com o sangue do mesmo número de indivíduos imunizados com a dose de reforço há um mês.

Proteção contra Covid beira 100% com terceira dose de vacina, diz estudo

Um estudo realizado com 1.310 colaboradores do Hospital das Clínicas de São Paulo mostrou que após a terceira dose do imunizante contra a Covid-19 a produção de anticorpos sobe para 99,7%, muito perto da totalidade.

O trabalho teve o apoio do Instituto Todos pela Saúde, do Itaú. Para ampliar a proteção contra a variante ômicron, no sábado (18), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, anunciou a redução do intervalo de aplicação da dose de reforço da vacina contra a Covid-19 de cinco para quatro meses.

Os participantes da pesquisa estavam em acompanhamento desde o início da pandemia e receberam as duas primeiras doses da Coronavac e o reforço da Pfizer. A dosagem de anticorpos é uma das formas de medir a proteção de uma vacina.

Para a infectologista do Hospital das Clínicas e responsável pelo estudo, Silvia Figueiredo Costa, provavelmente, se as duas primeiras doses tivessem sido de outro imunizante, a resposta seria semelhante, o que ressalta a importância do reforço. Porém, não é possível confirmar essa hipótese no momento, uma vez que estudos sobre a dose de reforço começaram a sair recentemente.

“O que nos deixa mais tranquilos, como parte da população brasileira, do Chile e de outros países receberam a primeira e a segunda dose da Coronavac, após o reforço com a vacina de outro fabricante houve essa pontuação bem elevada de produção de anticorpos”, avalia Costa.

O reforço não impede as formas leves da doença, mas protege da hospitalização. “Nós não tivemos nenhum caso com a terceira dose que tenha sido internado”, afirma.

Para a análise, os anticorpos foram medidos quatro vezes e as amostras de soro coletadas submetidas ao teste de anticorpos da classe IgG (Imunoglobulina G) pelo método de quimioluminescência.

“É um teste de última geração, o mesmo método do ano passado, mas que agora está avaliando três partes da proteína S na África, que está com baixa taxa de vacinação e em alguns países na Ásia para que não tenhamos novas variantes circulando. Os dados com a ômicron mostram que a terceira dose, dependendo da vacina tomada anteriormente, têm uma produção de anticorpos de 70%”, diz a médica.

O trabalho ainda sequenciou amostras de funcionários do grupo estudado que testaram positivo para Covid-19 ao longo da pesquisa e observou que, entre os meses de março e julho, houve predominância de infecções causadas pela variante gama (P.1): março, 91%; abril, 98,5%; maio, 98,9%; junho, 100%; e julho, 88,5%.

A delta começou a ser identificada também em julho entre funcionários do HC, quando era 6,5% dos casos, e nos meses seguintes tornou-se predominante: agosto, 79,8%; setembro, 97,4%; outubro e novembro, 100%.

Esse sequenciamento não detectou a presença da ômicron. “Mesmo no Brasil está havendo uma procura menor pela terceira dose, o que nos preocupa bastante. Indivíduos com alguma doença de base e população acima de 60 anos sem a terceira dose podem sofrer um impacto maior na manifestação clínica da Covid-19 e necessidade de hospitalização, e podemos evitar isso”, afirma a médica.

A médica orienta que a terceira dose é importante, mas não deve ser encarada como um passaporte para a não adesão ao distanciamento social e ao uso de máscara, pois a população pode ter a forma assintomática da Covid-19 e transmitir, inclusive para as crianças. “A pandemia não acabou e temos que evitar o surgimento de variantes.”

O Governo de São Paulo anunciou nesta segunda-feira (20) a prorrogação da obrigatoriedade do uso de máscara em espaços coletivos até 31 de janeiro de 2022. O objetivo é aumentar a proteção contra a Covid-19, do influenza, causador da gripe, e de outros vírus respiratórios.

Cidades do interior de SP cancelam Carnaval por causa da Covid

Ao menos 27 cidades do interior de São Paulo não terão Carnaval de rua em 2022. O temor é que o evento, sinônimo de aglomeração, favoreça a propagação de Covid. Entre os municípios que cancelaram o evento, estão Mogi das Cruzes, Ubatuba e Taubaté.

O Carnaval de rua de 2022 na capital paulista ainda depende das aprovações dos órgãos de Saúde que avaliam o cenário epidemiológico da pandemia da Covid-19. A prefeitura recebeu 867 inscrições de desfiles de blocos de rua -os cortejos serão entre os dias 19 de fevereiro e 6 de março.

Em Franca, o prefeito Alexandre Ferreira (MDB) anunciou nesta segunda-feira (22) que não haverá eventos promovidos pela prefeitura no Carnaval do ano que vem.

Ele alegou que o trânsito de pessoas de outros municípios para a cidade é uma preocupação, mesmo com a maior parte da população já tendo recebido duas doses da vacina contra a Covid-19.

“Atravessamos a pior fase da pandemia neste ano. Todos nós sofremos muito, perdemos muitas pessoas Depois de tanto sofrimento, tanta angústia, dor e esforço, não podemos mais correr riscos”, afirmou o prefeito.

Numa reunião conjunta em Guariba (a 339 km de São Paulo), 12 prefeituras decidiram não realizar o Carnaval do ano que vem, entre elas Jaboticabal, Taquaritinga e Monte Alto.

“Foi decidido por unanimidade que as cidades não realizarão o Carnaval em respeito às vítimas da Covid-19 e também o receio de uma nova onda do coronavírus”, afirmou o prefeito de Guariba, Celso Romano (PSDB).

Na última terça-feira (16), a Secretaria de Cultura de Taubaté se reuniu com os presidentes de escolas de samba e blocos da cidade e informou sobre o cancelamento do Carnaval do ano que vem.

A prefeitura propôs que as escolas organizem ações em suas sedes ou barracões, respeitando as regras sanitárias, e prometeu dar o apoio necessário para isso. Em nota, a Prefeitura de Mogi das Cruzes diz que a Secretaria de Cultura está estudando formas de suprir a demanda artística.

Em suas redes sociais, a Prefeitura de Lins afirma que a pandemia ainda não acabou e, por isso, foi cancelado o investimento público. “O ano de 2022 será de apoio e reestruturação dessas entidades para que nos próximos anos tudo possa voltar à normalidade.”

Para justificar o cancelamento da festa em Cunha, a prefeitura afirma que, além da possibilidade de um novo surto de Covid, quer respeitar o enlutamento de quem perdeu familiares para o vírus. O argumento é utilizado também pela Prefeitura de Monteiro Lobato.

Já a Prefeitura de Suzano diz que a decisão foi tomada após estudo técnico da Secretaria Municipal de Saúde junto ao Comitê Municipal de Enfrentamento ao Coronavírus (Covid-19).

Para cancelar o Carnaval de 2022, a Prefeitura de São Bento do Sapucaí afirma que levou em conta a dificuldade em controlar e manter os protocolos sanitários com a presença de turistas e moradores.

Em Santo Antônio do Pinhal, a prefeitura cancelou o evento mesmo estando há dias sem registrar casos de Covid.

“O Carnaval a gente terá uma próxima oportunidade, quem sabe mais a frente, no segundo semestre, se tudo correr bem. Assim como outras cidades também colocaram essa situação, poderemos fazer um Carnaval fora de época”, disse o prefeito Anderson José Mendonça, o Parrão (PSDB) à rádio Pinhal FM.

CIDADES QUE CANCELARAM O CARNAVAL:

Suzano

Franca

Ubatuba

Taubaté

Santo Antônio do Pinhal

Potirendaba

Mogi das Cruzes

Itápolis

Lins

Ibitinga

Cunha

Monteiro Lobato

Roseira

São Bento do Sapucaí

Guariba

São Simão

Dumont

Barrinha

Pitangueiras

Taquaritinga

Jaboticabal

Dobrada

Santa Ernestina

Monte Alto

Pradópolis

Paraibuna

Natividade da Serra

Duas doses da vacina da AstraZeneca têm proteção de 93,6% contra mortes por Covid-19

Um estudo recente feito com dados de 61.164 moradores do estado de São Paulo com idades entre 60 e 79 anos e que receberam o imunizante AstraZeneca mostra que a vacina oferece alta proteção contra casos sintomáticos, hospitalizações e mortes de Covid-19.

A análise foi feita entre os dias 17 de janeiro e 2 de julho, época de alta circulação da variante gama (P.1).

O estudo usou informações de indivíduos com doença respiratória aguda e submetidos ao teste RT-PCR identificados nos bancos de dados de vigilância (e-SUS e Sivep-Gripe). A estimativa da efetividade da AstraZeneca foi feita comparando os grupos vacinados e não vacinados com resultado positivo para Covid-19 versus os vacinados e não vacinados que tinham testes negativos.

“A principal mensagem desses resultados é o incremento que temos com o esquema vacinal completo. É muito importante porque sai de cerca de 62% para prevenção de óbito e vai para 94%. Reforça a ideia que é necessário o esquema vacinal completo para uma excelente proteção”, afirma o infectologista da Fiocruz, Julio Croda, que também é professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul e membro do Centro de Contingência do Coronavírus do estado de São Paulo. De acordo com a pesquisa, a eficácia da vacina da AstraZeneca

28 dias após a primeira dose é de 33,4% contra casos sintomáticos, 55,1%, hospitalizações e 61,8%, mortes.

Os percentuais tornam-se bem mais robustos 14 dias após a segunda dose: 77,9% contra casos sintomáticos, 87,6%, internações e 93,6%, mortes.

Croda lembra, porém, que todas as vacinas aprovadas são boas. “Todas protegem contra casos graves, hospitalizações e óbitos e qualquer variante, mas não existia esse dado para a gama. É o primeiro estudo de efetividade no Brasil para essa variante.”

Coronavac Os pesquisadores também apresentaram novos dados de um estudo que avaliou a eficácia da Coronavac, produzida no Brasil pelo Instituto Butantan, diante da alta circulação da variante gama.

O estudo foi feito de 17 de janeiro a 29 de abril com 43.774 moradores no estado de São Paulo acima de 70 anos e que receberam a Coronavac.

De acordo com os resultados, 14 dias após a aplicação de duas doses a efetividade da vacina foi de 41,6% contra casos sintomáticos, de 59% contra hospitalizações e 71,4% contra mortes.

Na faixa etária entre 70 a 74 anos, a eficácia da Coronavac contra casos sintomáticos é de 61,8%, de 80,1% contra hospitalizações e de 86% contra mortes.

No entanto, a proteção da Coronavac cai na população com 80 anos ou mais – 28% contra casos assintomáticos, 43,4% contra hospitalizações e 49,9% contra mortes.

“Os dados são melhores que os da vacina da gripe, que previne 40% de mortes para acima de 80 anos”, ressalta Croda.

Croda ressalta que não se pode comparar a AstraZeneca com a Coronavac. “Apesar da diferença nas estimativas, não há diferença entre as vacinas”, afirma.

Para o pesquisador ainda não há dados suficientes que apontem para a necessidade da revacinação. “Teremos que ficar de olho em duas populações: idosos e imunossuprimidos. E talvez profissionais de saúde. Pode ser que no idoso seja necessário para a população em geral.

Em um ano será que ela se manterá? Não temos como afirmar agora.”

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Em dois meses, país tem mais de 23 mil novas internações de crianças

Dados do Sivep-Gripe (Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe) contabilizados e analisados pela plataforma SP Covid-19 Info Tracker, mostram que nos meses de março e abril de 2021 foram registradas no país 23.411 novas internações de crianças por SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave), com confirmação ou suspeita de Covid-19.

Foram 13.011 internações de crianças com idades entre 0 e 14 anos em março e 10.400 em abril, de acordo com a plataforma, criada por pesquisadores da USP e da Unesp com apoio da Fapesp para acompanhar a evolução da pandemia.

Até o dia 17, o mês de maio havia registrado 4.733 internações desse público, atingindo 7.164 novas internações no dia 24 –ou seja, 2.431 novas hospitalizações em sete dias.

“Pouco se discutiu a questão dos casos e internações de crianças porque na primeira onda se falava que elas eram resistentes à Covid-19 e aos casos mais severos”, afirma Wallace Casaca, coordenador da plataforma.

“Com o surgimento das variantes, o cenário mudou. É importante abrir esse debate. Em 2021, a pandemia ficou mais letal para jovens e crianças. Além das variantes, houve o reflexo da reabertura das escolas em fevereiro, o que não deveria ter ocorrido.”

Se comparados os meses de dezembro de 2019, quando a Covid-19 ainda não havia sido detectada no Brasil, e de 2020, o aumento nas novas internações de crianças por SRAG foi de 618%, passando de 1.062 para 7.626 hospitalizações. Em relação às mortes, a alta foi de 218,18%.

Para Francisco Ivanildo de Oliveira Junior, infectologista e gerente de qualidade do Sabará Hospital Infantil, o aumento no percentual de crianças internadas reflete a explosão de casos de Covid-19 entre a população.

“Durante algum tempo houve uma minimização da gravidade em criança. Covid-19 em criança não é uma gripezinha. A gente sabe, e os números estão aí para mostrar, que pode ter formas graves. Com menos de um ano de idade, a chance de desenvolver forma grave é maior, com comprometimento pulmonar importante e pneumonia”, explica.

De janeiro a 24 de maio de 2021, o país registrou 46.717 novas hospitalizações e 886 mortes. O período concentra 60,9% do total de novas internações de crianças e 36,9% das mortes notificadas em 2020.

“Quando você vai estudar e entender por que a criança morre de Covid-19, você vê que tem muito mais determinantes socioeconômicas, a etnia, região onde mora, a dificuldade de acesso ao serviço de saúde e a um atendimento adequado”, afirma Oliveira Junior.

Em todo o período, a faixa etária entre zero e quatro anos concentra o maior número de internações (28.361) e mortes (522). Em maio, por exemplo, dos 7.164 registros, 4.448 estão nesse intervalo etário.

“Daqui para a frente, uma coisa que está sendo vista em países com a vacinação mais avançada, a população vacinada adoecerá menos e a infantil começará a ter uma representatividade maior nas estatísticas da doença”, diz Oliveira Junior.

Em 2021, o mês com a média mais alta de novas internações foi março (420), seguido por abril (347), fevereiro (327), maio (299) e janeiro (225).

“A Covid-19 também é perigosa para o público infantil. Por exemplo, a SIM-P (Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica) tem em torno de 8% de taxa de mortalidade”, explica Marcelo Otsuka, pediatra, infectologista, coordenador do Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia e vice-presidente do departamento de infectologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo.

Caracterizada pelo comprometimento de múltiplos órgãos e sistemas, a SIM-P é uma alteração relacionada a uma resposta imunológica desencadeada pela infecção pelo coronavírus.

A doença pode ocorrer na vigência da infecção, com a presença do vírus, ou semanas após o quadro agudo. Pelo menos 80% das crianças com a síndrome precisam ser internadas em UTI.

Entre os hospitais públicos de referência para a criança na cidade de São Paulo –Hospital Infantil Cândido Fontoura (zona leste), Hospital Infantil Darcy Vargas (zona sul) e Hospital Municipal Menino Jesus (Centro)–, a média diária de internações por Covid-19 confirmada ou suspeita também alcançou índices altos.

No Cândido Fontoura, que é estadual, março, abril e maio de 2021 registraram a maior média diária de hospitalizações –19, 29 e 22. No Darcy Vargas, que também pertence ao estado, o índice ficou na casa dos 7.

A média mais baixa foi do Menino Jesus, gerenciado pela prefeitura de São Paulo com a entidade filantrópica Instituto de Responsabilidade Social Sírio-Libanês. Caiu de 4 em março para 1 em abril e maio.

Os dados dos três hospitais são da SP Covid-19 Info Tracker com base no Censo Covid.

No Sabará Hospital Infantil, que é privado, de janeiro a 24 de maio de 2021, 98 crianças foram internadas por Covid-19, o equivalente a 15,78% do total de casos positivos atendidos pela instituição (621).

No ano passado inteiro, foram 73 internações –13% dos casos (541). Março e janeiro registraram os maiores números –30 e 26, respectivamente.

A mensagem dos especialistas é de atenção e respeito aos protocolos de proteção contra a infecção pelo coronavírus.

“Se os adultos tomarem os cuidados necessários, a chance de a criança pegar é muito menor”, ressalta Otsuka.

“A gente recomenda que a partir dos dois anos de idade a criança já seja treinada pela família a utilizar a máscara para evitar se infectar e fazer o mesmo com outras pessoas”, diz Oliveira Junior.

Os especialistas defendem a volta às aulas presenciais, contanto que as escolas estejam estruturadas.

“As escolas devem ser as últimas a fechar, dentro de um processo de lockdown ou qualquer nome que se dê, e as primeiras a reabrir desde que tenham estrutura. Estamos há mais de um ano nesta pandemia. Não é aceitável que as escolas não estejam preparadas. Quando eu falo de escola pública, não estou responsabilizando o diretor. Temos que pensar no gestor público”, afirma Oliveira Junior.

“Temos grande probabilidade de nas próximas semanas, no decorrer do mês de junho, de ter um grande aumento de casos. Já percebemos isso nos hospitais, as UTIs estão mais cheias, alguns locais do interior estão em situação grave no ponto de vista de lotação de UTIs. Pode ser que se chegue a um momento em que seja necessário parar novamente. Vamos começar mais uma onda ou um repique partindo de um patamar muito alto. É muito preocupante o que está para acontecer”, completa.

Para Otsuka, a volta às aulas de forma presencial pode ter contras.

“É lógico que temos um risco potencial de ter mais infecção, mas os estudos não demonstram isso. Pelo contrário. O prejuízo que as crianças estão apresentando é irremediável, tanto no aprendizado e no desenvolvimento psicomotor.

Os pais precisam saber se os protocolos nas escolas estão sendo cumpridos. Agora, se você tem pessoas de potencial risco em casa, as crianças não devem ir. Tudo precisa ser analisado”, afirma.

Oliveira Junior faz um alerta em relação à vacinação. Nos países que começaram a vacinar mais cedo, as crianças já estão sendo inseridas no processo de imunização.

“Aqui nós só vamos conseguir controlar a situação de forma duradoura e efetiva quando ampliarmos a vacinação.

Não vejo outra saída. A participação da criança será importante dentro do processo de imunidade coletiva. Se eu não vaciná-la, o vírus continuará circulando na população pediátrica.”

País registra 1ª morte por reinfecção de Covid-19 com variantes brasileiras

Um homem de 39 anos, morador do município de Campo Bom, a 57 km de Porto Alegre, foi infectado por duas variantes do coronavírus em um intervalo de três meses e 11 dias.

A primeira infecção, detectada em 30 de novembro, foi assintomática; a segunda, em 11 de março de 2021, o levou à morte.

Na ocasião, o paciente apresentou falta de ar, fadiga, dificuldade respiratória e saturação menor que 95%. O agravamento do quadro fez com que fosse levado à UTI e intubado.

Este caso, que foi o primeiro confirmado de morte no Brasil por reinfecção pelo coronavírus, inédito também em infecção por variantes diferentes, está relatado em um artigo científico produzido por 15 pesquisadores brasileiros comandados pelo Laboratório de Microbiologia

Molecular da Universidade Feevale, em Novo Hamburgo (RS), publicado na plataforma Research Square.

De acordo com o artigo, o paciente encontrou várias pessoas, incluindo o pai, quando este estava em um quarto de hospital onde havia outros pacientes diagnosticados com Covid-19.

“Independentemente desse caso, uma dúvida que vem muito à cabeça das pessoas é se a reinfecção é mais grave ou branda. Depende do histórico. Pessoas com uma primeira infecção muito branda tendem a não ter uma resposta imune muito duradoura e protetora. Nesses casos, a segunda infecção é mais severa”, explica Fernando Rosado Spilki, coordenador da Rede Corona-ômica BR-MCTI e professor do mestrado em virologia da Universidade Feevale.

As comorbidades, segundo Spilki, são complicadores para a Covid-19. O paciente em questão tinha diabetes e doença cardiovascular crônica.

O pesquisador observa que, mesmo com variantes com mutações similares, como é o caso da P.1 e P.2 -ambas de origem brasileira-, é possível se reinfectar.

“A outra coisa que me chamou a atenção é que a primeira infecção foi com P.1, que surgiu em Manaus em meados de novembro. Você vê como o Brasil está interconectado que acabou que essa pessoa, logo no final de novembro, já tinha a variante P.1”, afirma.

Por enquanto, sabe-se que o homem não viajou. O estudo continua em andamento, no sentido de rastrear seus contatos próximos. A Vigilância Sanitária local também trabalha nas investigações para identificar como ocorreu a contaminação.

Os pesquisadores examinaram dezenas de amostras dos mesmos dias durante novembro e dezembro de 2020. A análise foi intensificada nos três primeiros meses de 2021, quando descobriram que a reinfecção havia sido um fato isolado, de acordo com Spilki.

“No final de janeiro, a P.1 entrou com toda a força e dominou o cenário no Rio Grande do Sul. Hoje, ela é quase totalitária. Na Argentina e no Uruguai foram feitas detecções pontuais de P.1, em meados de janeiro, mas não houve transmissão. Depois, a partir de fevereiro, nestes dois locais, e agora, o vírus se disseminou numa nova introdução. O mesmo ocorreu no Rio Grande do Sul; no início não houve transmissão e, depois, foi terrível. A P.1, e agora temos também a P.2”, explica.

Um estudo publicado em 14 de abril na revista Science mostra que a P.1, identificada em Manaus, surgiu em novembro de 2020, cerca de um mês antes do aumento expressivo de novos casos e óbitos de Srag (Síndrome Respiratória Aguda Grave) naquela cidade. Além disso, a variante é cerca de 1,7 a 2,4 vezes mais transmissível e apresentou rápida evolução na cidade.

O caso de reinfecção ocorrido no Rio Grande do Sul serve como alerta para que os cuidados como distanciamento físico, uso de máscaras e evitar aglomerações sejam mantidos mesmo após a vacinação e período de imunização, que acontece três semanas após a segunda dose, em média.

“É muito comum, e tem ocorrido com os vacinados também, que os indivíduos infectados se imaginem imunes. Esse e outros estudos abrem esse alerta. Mesmo que você tenha tido Covid-19, precisa manter o cuidado. Você até pode estar protegido clinicamente, mas, dependendo da imunidade, da fase que está na vacinação, ainda que não tenha a doença, pode transmitir. As pessoas continuam expostas e potenciais transmissoras”, alerta Spilki.

Em dezembro, o Ministério da Saúde confirmou o primeiro caso de reinfecção pelo coronavírus ocorrido com uma profissional de saúde de 37 anos num intervalo de 116 dias. Na ocasião, ela morava no Rio Grande do Norte e trabalhava na Paraíba.

Para Spilki, pelo menos nos primeiros anos, a prevenção contra a Covid-19 exigirá, provavelmente, a vacinação anual.

“O que eu tenho bastante medo é que estamos com a vacinação muito lenta e, provavelmente, não conseguiremos fechar a meta, a menos que ocorra uma intensificação inesperada daqui para a frente. Olha o tamanho do desafio. Precisaremos ter um incremento muito forte para, no ano que vem, fazermos a provável revacinação”, completa Spilki.

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