(Foto: Ricardo Duarte/Internacional)

Humanização no tratamento devolve esperança para pacientes da Covid-19

Quem tem acesso aos leitos de UTI da ala clínica da Covid-19 do Hospital Vitória, em Curitiba, vez ou outra se surpreend..

Quem tem acesso aos leitos de UTI da ala clínica da Covid-19 do Hospital Vitória, em Curitiba, vez ou outra se surpreende com um som diferente do habitual: os aparelhos de monitoramento dos pacientes. Por vezes é um hit pop, como Dua Lipa, ou uma canção clássica do rock dos anos 90.

“A música te tira do ambiente que você está, você consegue sair daqui”, relata Ari, paciente da enfermaria,  emocionado com o carinho e a esperança que saí através do alto-falante de um rádio.

Além de uma playlist musical, a equipe da FEAS (Fundação Estatal de Atenção à Saúde) também produz um cartaz com fotos, mensagens e detalhes sobre o paciente. Assim, o corpo clínico consegue humanizar o atendimento que é tão difícil e incerto na ala Covid-19.

“Quando trazemos um pouco da família, das preferências e da história desse paciente para o ambiente tão técnico como o de uma UTI, por exemplo, torna aquela realidade mais acolhedora”, explicou Bruno de Mello, que é gerente assistencial do Hospital Vitória e participou da abertura dos leitos para pacientes do novo coronavírus, em março de 2020.

O cartaz, que fica no box com indicações médicas e próximo ao leito, diz qual é a comida preferida da pessoa, o time do coração e se há algum familiar esperando por ele. Ali também aparece o estilo musical preferido, no caso de Ariel é rock e blues (veja abaixo). Seja paciente da UTI, que estão sedados, ou da enfermaria, todos escutam músicas que gostam alguns minutos por dia.

O levantamento das preferências musicais é feito pela equipe de psicologia e serviço social. “Os pacientes relatam os efeitos desta prática, tornando o ambiente menos impessoal, mais acolhedor e minimizando a ansiedade deste período hospitalizado”, relata Mello.

Para deixar o período da internação ainda mais receptivo, a equipe de Saúde realiza todos os dias videochamadas com os familiares, fazendo com que a solidão e incerteza fiquem de lado por alguns minutos.

Ações como estas, que podem parecer pequenas para quem vê de fora, são grandes para quem está hospitalizado. A música, as fotos e as conversas com quem ficou em casa se tornam combustível para que os pacientes tenham mais força para lutar contra a Covid-19.

“A foto aqui deles Prontuário afetivo pacientes covid-19 Hospital Vitória, Curitiba Prontuário Afetivo do casal Benedito e Angelina, internados no Hospital Vitória, em Curitiba (Colaboração)

PRONTUÁRIO AFETIVO DEVOLVE PROXIMIDADE ENTRE PACIENTES E PROFISSIONAIS DA SAÚDE

Mas a humanização no tratamento não sensibiliza somente quem é cuidado. Quem administra remédios, controla a saturação do oxigênio e realiza exames também fica comovido, já que por alguns segundos o paciente de uma doença grave se torna um conhecido. “Sensibiliza toda a equipe de saúde sobre a pessoa que estão cuidando…não focar só na doença e nas questões técnicas.

“, argumenta Mello.

A proximidade física, que antes era fundamental no tratamento dos pacientes, é devolvida através das músicas e fotos para os profissionais da saúde. Hoje em dia, o gesto mais nobre é o distanciamento, por isso é necessário pensar em ações que transformem o ambiente.

“Todas as atitudes que nós desenvolvemos buscam preencher esse espaço que a presença da família deixa (…) e assim a gente vai tornando o ambiente mais leve, essa realidade que é tão difícil um pouco mais tranquila. Tanto para o paciente como para o profissional de saúde”, finaliza Bruno.

A musicoterapia surgiu em 1944 e é usada no tratamento, reabilitação ou prevenção da saúde e bem-estar de pacientes. A técnica ganhou os corredores de diversos hospitais do país durante a pandemia da Covid-19, já que a música traz esperança para um ambiente, por vezes, de sofrimento.

“Aqui você tem muito tempo para pensar e uma música vai te levar para um caminho bom (…) a música tranquiliza, mas o principal é te tirar de um ambiente, em um momento que te reprime e a música te tira, te traz lembranças”, explica Ariel.