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Efeito Amazonas pode se espalhar pelo Brasil, alerta relatório do BC

Efeito Amazonas pode se espalhar pelo Brasil, alerta relatório do BC

Os efeitos da crise no Amazonas, avaliados em estudo do Banco Central, mostram como o recrudescimento da pandemia coloca..

Eduardo Cucolo - Folhapress - terça-feira, 16 de março de 2021 - 15:02

Os efeitos da crise no Amazonas, avaliados em estudo do Banco Central, mostram como o recrudescimento da pandemia coloca em xeque a recuperação da economia, não apenas no estado ao norte do país mas em todo o Brasil, por afetar principalmente o setor de serviços, o que mais emprega e que ainda não voltou ao nível pré-crise.

Os dados constam do Relatório Regional do BC, que trouxe um capítulo sobre a evolução da pandemia no Amazonas e seu impacto na economia, incluindo a comparação com os dados nacionais e também com o restante da região Norte.

“Os indicadores de alta frequência sugerem que a contração econômica ocorrida em janeiro no Amazonas tem magnitude similar à observada em abril de 2020 e que sinais de acomodação em patamar ainda baixo aparecem a partir da segunda semana de fevereiro”, diz o BC.

“Dadas as dinâmicas distintas de evolução da Covid-19 nos estados brasileiros, o caso do Amazonas sinaliza os possíveis impactos de um agravamento severo da epidemia em outras regiões”, afirma a instituição.

Segundo o estudo, as transações de bens e serviços efetuadas com cartão de débito registraram recuo de 13% na média móvel de sete dias até 10 de fevereiro, em relação ao mesmo período do ano anterior, com destaque para as contrações em vestuário e calçados (82%) e restaurantes e similares (54%), dois dos seguimentos mais afetados pela queda na circulação de pessoas.

O consumo de energia pela indústria local também despencou.

Nos demais estados da região, os dados foram positivos em praticamente todos os segmentos no mesmo período.

A instituição também mostra que o aumento de mortes e da contaminação no Amazonas levou a uma nova queda na circulação por restaurantes, shoppings e cinemas, entre outros serviços de lazer.

Antes da nova explosão de casos, a circulação por esses locais estava acima do patamar pré-crise em todos os estados da região Norte. Depois, caiu mais acentuadamente no

Amazonas, local mais afetado pelo recrudescimento da pandemia até o momento. Estava 47% abaixo do nível pré-crise no dado da média móvel de sete dias úteis até 12 de fevereiro.

A queda no restante da região e na média nacional foi bem inferior, 24% e 15%, respectivamente, no mesmo período, segundo o indicador de mobilidade Google Mobility, citado pelo BC.

Em nível nacional, o setor de serviços também mostrou um melhor desempenho antes da atual onda de aumento de contágio e morte, que ganhou força em fevereiro e março, deflagrando novas rodadas de isolamento social por todo o Brasil.

O IBGE informou que, o volume do setor de serviços cresceu 0,6% em janeiro, em relação a dezembro. A indústria também teve ligeiro crescimento (0,4% na comparação mensal), enquanto o comércio registrou retração de 0,2%.

A leitura agora é que, por causa do atraso no programa nacional de vacinação e da falta de ação do governo federal no combate ao coronavírus, a piora na crise sanitária vai comprometer os resultados dos três setores já em fevereiro, com possibilidade de números ainda piores a partir de março.

A CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) diminuiu de 3,5% para 3,4% a expectativa de crescimento em 2021 e atribui a mudança, entre outros fatores, à lentidão da adoção de medidas de combate ao agravamento da pandemia do novo coronavírus.

“A tendência é que o setor de serviços consiga compensar apenas parcialmente a queda recorde de volume de receitas observada em 2020 (-7,6%), considerando um cenário de redução moderada dos atuais níveis de isolamento social até o fim deste ano”, afirma o presidente da entidade, José Roberto Tadros.

A necessidade de avançar no controle da crise sanitária para minimizar os efeitos econômicos da pandemia tem sido defendida por economistas do setor privado e também pela equipe econômica do governo federal.

Além de a piora na crise sanitária reduzir a circulação de pessoas, de forma voluntária ou não, ela aumenta a pressão por mais gastos em um momento de crise fiscal, como mostra a necessidade de se recriar o auxílio emergencial.

Como mostrou o jornal Folha de S.Paulo, o próprio presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deu início a uma ofensiva, com foco na busca por vacinas, para tentar estancar perda de popularidade causada pelo aumento do número de mortes e pela tímida evolução na imunização da população contra o coronavírus.

Em evento recente, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, mostrou dados de Israel que apontam queda no número de mortes e internações após a vacinação de idosos e disse que isso reduz o medo das pessoas com o vírus e faz a economia voltar à normalidade mais rapidamente. “Assim você retira o fator medo e as coisas voltam a funcionar”, afirmou.

O ministro Paulo Guedes (Economia) também tem afirmado que a prioridade é “vacina, vacina e vacina” e que, sem vacinação em massa, a economia não se sustenta.

Reportagem da Folha de S.Paulo do início do mês passado já mostrava que indicadores econômicos preliminares apontavam os efeitos do fim do auxílio emergencial e da piora na questão da saúde sobre o nível de atividade em janeiro.

Alguns desses indicadores mostram que a atividade continuou a perder força até o início de março, quando o agravamento da questão sanitária, antes mais restrito a algumas cidades, alcançou todo o país.

O Indicador de Atividade da Genial Investimentos, elaborado pela equipe do economista José Márcio Camargo, recuou em 12 dos últimos 14 dias. “O indicador aponta arrefecimento da atividade econômica desde o início do ano. Com o recrudescimento da pandemia, a tendência é que os indicadores de mobilidade urbana e número de voos domésticos continuem recuando nos próximos dias”, afirma a instituição, citando alguns dos componentes do índice.

O Idat (Indicador Diário de Atividade) do Itaú Unibanco ainda estava, no começo deste mês, 14% abaixo do nível verificado em meados de março de 2020, em uma situação praticamente de estabilidade desde outubro do ano passado.

Na sexta-feira (12), o banco revisou as projeções de crescimento da economia brasileira neste ano de 4% para 3,8% em 2021 e de 2,5% para 1,8% em 2022. A revisão se deveu à deterioração das condições financeiras resultante do aumento do risco fiscal.

Para o banco, a despeito do aumento do distanciamento social, o impacto da questão fiscal sobre a redução do crescimento será menor em 2021 do que em 2022, em consequência do crescimento global robusto e do impulso vindo da vacinação neste ano.

“Ainda deve demorar alguns meses para que a imunização impacte de forma clara a dinâmica da pandemia. Além disso, o surgimento de variantes do vírus é um risco à eficácia das vacinas que tem que ser monitorado à frente”, diz a instituição.

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