Economia
Crise de energia na China impacta economia e pode ser mais uma trava ao PIB no Brasil

Crise de energia na China impacta economia e pode ser mais uma trava ao PIB no Brasil

Da falta de fertilizantes ao aumento do preço da energia, com implicações sobre a inflação e a balança comercial, o Bras..

Nicola Pamplona - Folhapress - domingo, 3 de outubro de 2021 - 10:33

Da falta de fertilizantes ao aumento do preço da energia, com implicações sobre a inflação e a balança comercial, o Brasil deve sofrer fortes impactos da crise energética chinesa, que vem obrigando o país asiático a promover apagões programados por falta de capacidade de geração.

O cenário adverso se soma ao desarranjo na cadeia logística internacional, que já vem prejudicando diversos setores da economia, e pode ser mais uma trava na recuperação econômica brasileira após o período mais crítico da pandemia.

Os primeiros impactos já são sentidos pelo agronegócio, com maior dificuldade para comprar defensivos e fertilizantes, pela mineração, que vê as cotações internacionais em queda, e pelo setor de energia, afetado pelos preços recordes do gás natural.

“A China é o maior destino das exportações do Brasil, tanto de produtos agroindustriais quanto de minérios”, ressalta o pesquisador da Universidade de Johanesburgo, na África do Sul, Paulo César Morceiro. “Isso é mais um limitante para destravar o crescimento do PIB “.

Um dos principais produtos de exportação do Brasil, o minério de ferro despencou nos últimos meses, passando do patamar recorde superior a US$ 210 por tonelada em julho para a casa dos US$ 110 por tonelada.

O setor siderúrgico, que poderia se beneficiar com os cortes de produção na China, vê o cenário com desânimo, já que há excesso de produção global de aço. “Existe todo um processo de guerra de mercado no mundo que trava um pouco a exportação”, diz Cristina Yuan, diretora de assuntos institucionais do Instituto Aço Brasil.

Os especialistas dizem que outras cadeias produtivas podem ser afetadas diretamente, pela elevada dependência de materiais e equipamentos chineses, como a de eletroeletrônicos e a automotiva, ampliando a pressão já exercida pelo desarranjo da indústria global provocada pela pandemia.

Há ainda os efeitos indiretos provenientes de uma esperada desaceleração da economia chinesa. “A desaceleração da China impactaria o mundo todo, pois atualmente cerca de um terço do crescimento mundial deve-se apenas ao país”, diz Morceiro.

Em relatório divulgado nesta semana, o banco Goldman Sachs estima que 44% da atividade industrial chinesa está baseada nas nove províncias com pior situação energética e que os cortes na produção devem levar o país a registrar crescimento zero no terceiro trimestre.

O mercado espera algum tipo de intervenção do governo central chinês para solucionar a crise, mas lembra também que o país já vem enfrentando uma turbulência com as dificuldades financeiras da gigante Evergrande, o que pode limitar o poder de reação.

“Se continuar assim teremos um superávit comercial bem magrinho em 2022”, afirma o presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro avalia. Ele avalia, porém, que a situação chinesa é uma oportunidade para que o Brasil eleve o valor agregado de suas exportações.

“Hoje exportamos para a China basicamente matéria prima bruta, como soja em grão. Lá eles industrializam”, diz ele. “Só que agora a China está paralisando fábricas que produzem o óleo de soja. Podemos fazer aqui.”

No setor de energia, uma preocupação futura é o impacto da crise no processo de transição energética, já que a falta de energia na China ocorre em meio a um esforço para reduzir a geração a carvão e descarbonizar a economia.

O professor de planejamento energético da Coppe/UFRJ, Maurício Tolmasquim, lembra que a China é o país que mais investe hoje em renováveis, como solar e eólica, mas acabou sendo prejudicada por uma combinação entre desequilíbrio na oferta de carbono e seca sobre reservatórios de hidrelétricas.

“É fundamental para o planeta que o governo central da China não volte atrás nas metas de redução de gases do efeito estufa”, diz ele. “Seria muito ruim se essa crise resultasse em um retrocesso.”

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