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Inflação desacelera em abril, mas em 12 meses vai a 6,76% e se distancia do teto da meta

Com a trégua nos valores da gasolina, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) desacelerou o ritmo de alta..

Com a trégua nos valores da gasolina, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) desacelerou o ritmo de alta para 0,31% em abril. Em março, o indicador havia registrado aumento de 0,93%.

No entanto, a inflação acumulada teve novo repique. O IPCA no período de 12 meses encerrados em abril subiu para 6,76%. No acumulado até março, havia ficado em 6,10%.

Ou seja, o indicador permanece acima do teto da meta de inflação de 2021. O centro da meta deste ano é de 3,75%, com limite de 5,25%. A taxa de 6,76% é a maior desde novembro de 2016.

Os dados de abril foram divulgados nesta terça-feira (11) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Os números vieram em patamar similar ao esperado pelo mercado. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam variação de 0,29% em abril. Em 12 meses, a estimativa era de aumento de 6,74%.

Conforme o IBGE, o ritmo menor no mês passado é explicado, principalmente, pelo comportamento do grupo de transportes, cujos preços recuaram 0,08%. Dentro do segmento, o destaque veio dos combustíveis, com baixa de 0,94%.

Os preços da gasolina caíram 0,44%, na primeira retração após 10 meses, quando houve alta acumulada de 42,39%. O etanol, por sua vez, recuou 4,93%.

Durante a pandemia, o IPCA ganhou corpo com o aumento nos valores de alimentos e, mais recentemente, de combustíveis. Alta do dólar e avanço das commodities ajudam a explicar a elevação sentida no bolso dos consumidores ao longo da crise sanitária.

Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, oito tiveram alta em abril. O único com queda foi transportes.

O maior impacto (0,16 p.p.) e a maior variação (1,19%) no mês vieram de saúde e cuidados pessoais. No dia 1º de abril, o governo autorizou o reajuste de até 10,08% nos preços dos medicamentos, dependendo da classe terapêutica.

A segunda maior contribuição (0,09 p.p.) para o resultado veio de alimentação e bebidas, com avanço de 0,40%, acelerando em relação ao mês anterior (0,13%).

“A alta de alimentos tem a ver com as proteínas. Houve elevação nos preços de carnes, leite, frango em pedaços. Tem relação com o aumento da ração animal. Vimos commodities como o milho e soja subindo. Acabam aumentando o custo para o produtor e o consumidor final”, explicou Pedro Kislanov, gerente da pesquisa do IBGE.

Habitação, o terceiro maior grupo do levantamento, teve alta menor em abril, de 0,22%. Em março, o segmento havia avançado 0,81%. A desaceleração está relacionada à alta menos intensa do gás de botijão (1,15%) frente a março (4,98%) e ao recuo da energia elétrica (-0,04%), que havia subido 0,76% no mês anterior.

“Há uma pressão que não fará a inflação convergir para a meta neste ano. Em abril, a desaceleração foi possível graças à gasolina. O IPCA, por outro lado, teve pressão de itens como medicamentos e proteína animal. Esse espalhamento da inflação é preocupante”, avalia o economista André Braz, pesquisador do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

Em uma tentativa de frear os preços, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central voltou a subir a taxa básica de juros no último dia 5. Com a confirmação de aumento de 0,75 ponto percentual, a Selic passou para 3,50% ao ano. Após a reunião, comunicado do Copom indicou nova alta na mesma magnitude em junho, para 4,25%.

Segundo o economista-chefe da corretora Necton Investimentos, André Perfeito, a queda nos preços de combustíveis tende a ser de caráter “transitório”. Para Perfeito, a nova elevação de alimentos e o avanço de produtos farmacêuticos devem tornar “mais evidente” a inflação no dia a dia dos brasileiros.

Analistas do mercado financeiro projetam IPCA de 5,06% ao final de 2021. A estimativa integra a edição mais recente do boletim Focus, divulgada na segunda-feira (10) pelo Banco Central. Há um mês, a previsão estava em 4,85%.

Braz frisa que, em maio, o IPCA deve ser pressionado pela entrada em vigor da bandeira vermelha, que encarece as contas de luz no país. Com isso, o economista vê perspectiva de a inflação ultrapassar 7% no acumulado.

Na visão do economista, os preços podem perder fôlego no segundo semestre, com estabilidade maior do câmbio. Ainda assim, o IPCA deve estourar a meta neste ano, projeta Braz.

“As famílias sentem mais a inflação neste momento. Além dos preços em alta, o desemprego está em elevação. A falta de renda aumenta o mal-estar”, diz.