Foto: DER PR

Intervenção na Petrobras derrete indicadores financeiros do Brasil

Os principais indicadores financeiros do Brasil têm forte deterioração nesta segunda-feira (22), após Jair Bolsonaro (se..

Os principais indicadores financeiros do Brasil têm forte deterioração nesta segunda-feira (22), após Jair Bolsonaro (sem partido) interferir no comando da Petrobras e sinalizar outras mudanças em estatais, contaminando as ações de todas as empresas do governo na Bolsa de Valores brasileira.

Na sexta (19), Bolsonaro indicou o general Joaquim Silva e Luna como novo presidente da petroleira. Se confirmado pelo conselho de administração da companhia, ele substituirá Roberto Castello Branco, alvo de críticas do presidente.

No sábado (20), Bolsonaro disse que vai “meter o dedo na energia elétrica”, e que, “se a imprensa está preocupada com a troca de ontem, na semana que vem teremos mais”.

“A expectativa é de ingerência em outras estatais. A expectativa do mercado é que André Brandão seja demitido”, diz André Machado, sócio-fundador da escola de traders Projeto os 10%.

Assim como Castello Branco, Brandão também foi alvo de críticas do presidente. Em janeiro deste ano, ele foi ameaçado de demissão por Bolsonaro após atritos com relação à reestruturação do banco.

As ações do Banco do Brasil caem 11,18%, a R$ 28,98 cada, por volta de 11h45.

O Ibovespa, principal índice acionário do país, cai 5%, a 112.466 pontos, menor patamar desde 3 de dezembro.

O dólar sobe 2,60%, a R$ 5,5240. Na máxima do pregão, foi a R$ 5,53. O turismo está a R$ 5,68.

Nesta fim de semana, a Necton elevou a projeção do dólar ao fim de 2021 de R$ 5,30 para R$ 5,50.

O risco-país medido pelo CDS de cinco anos sobe 14,28% a 186 pontos.

O CDS funciona como um termômetro informal da confiança dos investidores em relação a economias, especialmente as emergentes. Se o indicador sobe, é um sinal de que os investidores temem o futuro financeiro do país, se ele cai, o recado é o inverso: sinaliza aumento da confiança em relação à capacidade de o país saldar suas dívidas.

Em um sinal de aversão a risco do mercado e de alta da Selic no curto prazo, os juros futuros operam em alta.

Juros futuros são taxas de juros esperadas pelo mercado nos próximos meses e anos. São a principal referência para o custo de empréstimos que são liberados atualmente, mas cuja quitação ocorrerá no futuro.

O juro para outubro de 2023 foi de 6% na sexta (19) para 6,16% no momento. A taxa para de julho de 2025 foi de 6,91% para 7,19%.

Segundo analistas, a intervenção de Bolsonaro fortalece a perspectiva de alta da Selic em março – atualmente a taxa está na mínima recorde de 2%.

De acordo com a pesquisa Focus divulgada pelo Banco Central nesta segunda, a expectativa para a raxa básica de juros subiu para 4% ao final de 2021, de 3,75% na semana anterior. Para 2022 o projeção para o juros foi mantida em 5%.

Outro ponto de tensão é a volta do auxílio emergencial para os vulneráveis afetados pela crise da Covid-19. Investidores temem que o benefício seja aprovado sem contrapartidas fiscais, ameaçando o teto fiscal do governo em 2021.

As ações preferenciais (mais negociadas) da Petrobras caem 19,50%, a R$ 22,00 cada, e as ordinárias (com direito a voto), recuam 19,55 %, a R$ 21,80.

Na Bolsa de Nova York, as ADRs (certificados de ações negociados nos Estados Unidos) da Petrobras recuam 20%, a US$ 8 cada.

A XP Investimentos rebaixou sua recomendação para as ações da Petrobras de neutro para venda neste domingo (21). O preço-alvo foi revisado de R$ 32, na avaliação anterior, para R$ 24, tanto para ações ordinárias quanto para as preferenciais.

Segundo a corretora, a substituição no comando da estatal representa uma derrota para o ministro Paulo Guedes (Economia), que defendia a permanência do atual executivo no cargo e era contra intervenções na companhia.

Para o mercado, há risco de permanência de Guedes no governo, mas não o veem deixando a pasta no momento.

A Eletrobras, também alvo de Bolsonaro, opera em forte queda. As ações preferenciais da estatal recuam 4,23%, a R$ 28,05 cada, e as ordinárias, 4,50%, a R$ 27,80.

Analistas do Credit Suisse reduziram a recomendação para as ações da elétrica e cortaram preços-alvo dos papéis, citando fala do presidente.

“Uma afirmação que pode ter muitas implicações”, escreveu a equipe do Credit Suisse em relatório no domingo (21), no qual apontou que eventual intervenção governamental no setor “pode aumentar a percepção de risco”, principalmente por levantar ecos de medidas do governo para reduzir tarifas em 2012 que impactaram empresas, principalmente estatais.

As ações preferenciais (sem direito a voto e mais negociadas) da Telebras, também estatal, cai 3,6%, a R$ 27. As ordinárias caem 4%, a R$ 72.

A Sabesp, do governo paulista, recua 3,77%, a R$ 37,77.