Economia
Reajustes salariais ficam abaixo da inflação em julho com piora nas condições para negociar

Reajustes salariais ficam abaixo da inflação em julho com piora nas condições para negociar

Os reajustes salariais negociados entre empresas e trabalhadores seguem encolhendo e chegaram, em julho, ao pior resulta..

Fernanda Brigatti - Folhapress - quarta-feira, 25 de agosto de 2021 - 09:44

Os reajustes salariais negociados entre empresas e trabalhadores seguem encolhendo e chegaram, em julho, ao pior resultado dos últimos 12 meses.

Enquanto a inflação medida pelo INPC, o índice usado nos reajustes, acumulou 9,2% em 12 meses, a média dos aumentos de salários ficou em 7,6%, segundo o Salariômetro, da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).

Com a defasagem, o trabalhador perdeu poder de compra. O salário que recebe hoje, mesmo reajustado, vale menos do que há um ano.

As negociações de categorias com data-base em julho não foram as primeiras a resultar em uma média negativa -janeiro, março e abril já haviam sido de perdas-, mas o encolhimento de 1,6 ponto percentual foi o mais alto dos últimos 12 meses.

Quase seis a cada dez acordos e convenções fechados no mês passado terminaram com percentuais menores do que o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e tipo como padrão para os reajustes.

Ele é o índice utilizado pelo governo federal para a correção anual do salário mínimo e das aposentadorias e pensões pagas pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).

A diferença entre o INPC e o IPCA é a base da pesquisa. Enquanto o primeiro apura o impacto da variação de preços entre famílias que ganham até cinco salários mínimos, o segundo pesquisa os efeitos nos orçamentos com renda de até 40 pisos.

Segundo o Salariômetro, somente um de cada quatro acordos e convenções fechados em julho chegaram a ganhos reais aos trabalhadores. O piso médio negociado ficou em R$ 1.345.

Quem tem data-base vencendo nos próximos meses deve encontrar negociações salariais complicadas, diante das projeções de inflação persistente. A previsão da Fipe é que a escalada de preços comprima ainda mais os aumentos das remunerações.

A situação fica mais delicada quando se considera a alta da inflação a partir de gastos básicos das famílias, com os quais fica mais difícil fazer cortes e economizar. O grupo de despesas com alimentação em casa acumula alta de preços de 16,4% nos 12 meses até julho, segundo o IBGE.

Pesquisa do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) mostra que o custo médio da cesta básica de alimentos aumentou em 15 capitais brasileiras no mês passado. Leite integral, açúcar, pó de café e tomate foram itens que subiram na maioria das cidades pesquisadas pelo departamento de estudos.

A mais cara foi encontrada em Porto Alegre (RS), por R$ 656,92. Em um ano, a cesta de alimentos na capital gaúcha subiu 28,50%, diz o Dieese. Em São Paulo (SP), a compra desses produtos custou R$ 640,51 em julho, uma alta de 22,06% em 12 meses.

Outra despesa que disparou -e foi o principal peso sobre o IPCA em julho- foi a energia elétrica residencial, que acumula alta de 20,09%. A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) reajustou em 52% a cobrança extra prevista no sistema de bandeiras tarifárias.

Esse dispositivo permite o repasse do custo maior de geração de energia ao consumidor. A crise hídrica pela qual o país passa reduziu a capacidade de geração das hidrelétricas, exigindo o acionamento de usinas térmicas, que são mais caras. A bandeira vermelha mais cara começou a ser cobrada em julho.

No Salariômetro de julho, a Fipe inclui ainda a projeção do INPC para os próximos meses, segundo previsões dos bancos Itaú e Santander. As categorias que negociam em setembro poderão ter de brigar com uma inflação entre 10,1% e 10,2% em 12 meses.

Das 238 convenções coletivas e acordos registrados no Ministério do Trabalho e Previdência em julho, somente 73 conseguiram evitar que os salários perdessem valor. A maior parte delas (66) veio do comércio atacadista e varejista, onde o reajuste mediano ficou em 9,5%.

As demais foram no setor bancário e de serviços financeiros, onde os trabalhadores conseguiram empatar com a inflação em 12 meses. Análise feita pelo Dieese nos dados do Ministério do Trabalho e Previdência mostram que, de janeiro a junho deste ano, o setor com mais perdas salariais em relação à inflação foi o de serviços.

Em 65,3% das negociações, o aumento acordado ficou abaixo do INPC. Na indústria, a proporção de negociações que não repõem a inflação foi de 40,3%. No comércio, de 33,6%.

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