(Foto: Bruno Slompo/CMC)

Fizeram meu filho e minha esposa chorar, diz Celsinho sobre caso de racismo

Celso Luís Honorato Júnior, 33, o Celsinho, diz que vai ficar marcada a cena que presenciou ao chegar ao apartamento em ..

Celso Luís Honorato Júnior, 33, o Celsinho, diz que vai ficar marcada a cena que presenciou ao chegar ao apartamento em que vive em Londrina, no interior do Paraná, no último domingo (29). Sua esposa, Carolina, e seu filho de 14 anos estavam chorando.

De acordo com o jogador, eles haviam acabado de ler o posicionamento oficial publicado pelo Brusque. O texto falava em “falsa imputação de crime” e “oportunismo” por parte do meia, que havia relatado insultos raciais em partida contra os catarinenses.

O incidente foi registrado na súmula do empate por 0 a 0 entre Brusque e Londrina, time de Celsinho, no sábado (28), pela Série B do Campeonato Brasileiro. Segundo o texto do árbitro Fábio Augusto dos Santos Sá Júnior, o atleta disse ter ouvido de um integrante do clube adversário: “Vai cortar esse cabelo, seu cachopa de abelha”.

O Brusque divulgou um texto no qual chamava a acusação de “artifício esportivo” e insinuava que o jogador se promovia com queixas desse tipo. A repercussão foi péssima, e a agremiação publicou outra nota, na segunda (30), pedindo desculpas pelo “posicionamento equivocado”.

“O meu filho mais novo tem cinco anos, não entende, tem só que brincar e ser criança mesmo. Mas o meu mais velho e a minha esposa sentiram muito, principalmente com a nota do Brusque. Ele e a minha esposa começaram a chorar. Fizeram a gente chorar”, diz Celsinho à Folha.

“Isso não vai ficar impune de maneira nenhuma. Se é cansativo para mim, exaustivo psicologicamente, se terei desgaste, eles terão o triplo disso tudo. Vou até o final, em todas as ações”, acrescentou.

Além do episódio do fim de semana, o jogador já sofreu com outras duas situações semelhantes nesta temporada, sempre com menções ao cabelo black power.

Dois profissionais da Rádio Bandeirantes de Goiânia e um locutor da Rádio Clube de Belém usaram falas racistas como “cabelo pesado”, “bandeira de feijão” e “negócio imundo” para se referir ao jogador. Eles pediram desculpas públicas e foram afastados pelas emissoras.

LEIA A ENTREVISTA COM O MEIA CELSINHO, DO LONDRINA

PERGUNTA – Quais medidas você vai tomar pelo fato?

CELSINHO – Quanto mais repercussão, mais força temos. Conversei com meus advogados e vou tomar todas as medidas possíveis, mas ainda não consigo precisar quais serão. Só tive uma reunião com os advogados para eles entenderem o caso, saberem o que de fato aconteceu.

PERGUNTA – Nos outros dois casos recentes, quais medidas você tomou?

CELSINHO – Nos dois entramos com uma queixa criminal. A de Goiânia foi despachada, os envolvidos não sei se foram ou se serão chamados para depor. A de Belém não sei se já foi despachada.

PERGUNTA – Até onde você está disposto a ir?

CELSINHO – Isso não vai ficar impune, de maneira nenhuma. Se é cansativo para mim, exaustivo psicologicamente, se terei desgaste, eles terão o triplo disso tudo. Vou até o final, em todas as ações.

PERGUNTA – O que você achou da primeira nota do Brusque?

CELSINHO – Isso é impressionante, não acontece só comigo. É aquela situação clichê em que a mulher apanha do marido e ele diz que ela apanhou porque estava com roupa curta. É uma inversão de valores absurda. É chocante. Eu não vou para um estádio de futebol olhar para a arquibancada, para os radialistas, e pedir que me xinguem. Vou para ser feliz. O que eu ganho com isso? É revoltante, mostra o despreparo das pessoas que soltaram aquela nota.

PERGUNTA – Como você recebeu a segunda nota, o pedido de desculpas?

CELSINHO – Não muda nada, o Brusque teve a oportunidade de logo na primeira nota fazer o certo. Não fizeram. Muito pelo contrário, fizeram a pior burrada que poderiam ter feito. Automaticamente por toda a repercussão, eles viram que fizeram o errado e que teriam que se retratar. Não enxergo como um pedido de desculpas natural, verdadeiro. A primeira nota é muito clara sobre o que eles pensam.

PERGUNTA – Como foi o momento da ofensa? Passou pela sua cabeça deixar a partida?

CELSINHO – Estava no banco de reservas me aquecendo no fim do primeiro tempo com meus companheiros. Começou uma discussão entre nós e o pessoal que estava na arquibancada. E, no momento que esse senhor com camisa vermelha fala sobre meu cabelo, em seguida digo ao quarto árbitro que precisavam relatar o racismo, aí eu aponto quem que falou. Foi muito rápido, e logo em seguida foi o intervalo.

Tínhamos 15 minutos para ajeitar tudo, para tentar melhorar para o segundo tempo. Ali no vestiário, o único pensamento era na melhora da equipe para sair de lá com a vitória. Preferi abafar para não influenciar no meu rendimento. Os que estavam jogando não entenderam o que estava acontecendo, mas os que estavam comigo no aquecimento sentiram, sim. Falaram: “Tio que vou cortar, sempre fez parte da minha família. Meu filho de cinco anos também tem. Vou continuar com o cabelo.