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Não Olhe para Cima é um filme que se vê com gosto, apesar de excessos

Não Olhe para Cima é um filme que se vê com gosto, apesar de excessos

“Não Olhe para Cima” começa como um filme normal de meteorito prestes a acabar com a vida na Terra. Mas pouco depois que..

Martha Feldens - segunda-feira, 20 de dezembro de 2021 - 08:00

“Não Olhe para Cima” começa como um filme normal de meteorito prestes a acabar com a vida na Terra. Mas pouco depois que a descoberta é feita numa universidade do estado americano de Michigan o tom começa a mudar. Os dois cientistas, o doutor Mindy, papel de Leonardo DiCaprio, e Kate Dibiasky, papel de Jennifer Lawrence, são chamados com urgência a Washington -à Casa Branca, mais precisamente.

Mas, em vez de serem atendidos de imediato pela presidente Meryl Streep, levam um chá de cadeira de sete horas. Motivo -o fulano indicado para a Suprema Corte pela personagem de Streep está para ser bloqueado, tais e tantas são as sujeiras que tem em sua folha corrida.

Desde então a Casa Branca começa a ser o palco de uma comédia burlesca, com uma presidente dedicada em tempo integral a ganhar as próximas eleições legislativas. Ela entende que do meteorito prestes a acabar com o planeta pode cuidar mais tarde.

Admitamos, ela está longe de ser a única irresponsável do pedaço. Por exemplo, a diretora-geral da Nasa não defende os cientistas. Mas ela foi indicada pela presidente. É uma anestesiologista, quer dizer, não entende bulhufas de assuntos espaciais -em compensação é uma importante doadora da campanha da presidente.

Desde então, Adam McKay está em seu ambiente natural -a oposição aos usos e costumes dos Estados Unidos do século 21. Assim, a substituição do jornalismo pela mídia, a submissão da ciência à mídia, o poder de sedução da mídia -aqui representada por Cate Blanchett- , a busca de audiência a todo preço, o cuidado obsessivo com as pesquisas e com os “likes”, a política como um espetáculo cada vez mais vagabundo, a transformação definitiva dos doadores de campanha em investidores de campanha.

Ou seja, estamos num estágio em que a política se transforma num espetáculo cada vez mais vagabundo e gira em torno de uma nação de imbecis -é de um estado demencial que se trata.

Mas chega um momento em que as coisas se tornam sérias o bastante para até a pateta presidencial se dar conta de que precisa fazer alguma coisa. Ela decide enviar uma missão destinada a destruir um meteorito. Claro, isso não pode ficar barato -é preciso montar um espetáculo cheio de bandeiras e, sobretudo, promover um novo herói nacional. Que, no caso, é um velho professor de ginástica fanfarrão, com cara de general latino-americano.

Quem achar que toda essa palhaçada parece em vários pontos com o Brasil -só que aqui não é de um filme que se trata- não estará longe da verdade. Quem entender que o burlesco do filme passa do ponto em vários momentos, também. Em filmes passados, McKay tentou explicar da maneira mais didática possível o que foi o grande “crash” de 2008, depois buscou carimbar um vice-presidente dos Estados Unidos como ser altamente perigoso.

Desta vez parece ter desistido de tentar falar a sério. Sua nova empreitada em vários aspectos lembra o Stanley Kubrick de “Dr. Fantástico”. Embora menos vigoroso que o filme de Kubrick, perto da média do cinema americano contemporâneo é um luxo. E, excessos à parte, um filme que se vê com prazer.

NÃO OLHE PARA CIMA

Quando: Em exibição nos cinemas; estreia na Netflix em 24/12

Classificação: 16 anos

Elenco: Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence e Meryl Streep

Produção: EUA, 2021

Direção: Adam McKay

Avaliação: Muito bom

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