Foto: Cido Marques

Ter microfone poderoso é dar voz ao meu filho, diz Marcos Mion

Os 13,5 milhões de seguidores de Marcos Mion nas redes sociais acompanham a vida do apresentador como um reality show.AN..

Os 13,5 milhões de seguidores de Marcos Mion nas redes sociais acompanham a vida do apresentador como um reality show.

Em seu perfil principal no Instagram, a Mionzada aparece em séries como a mais recente que mostra a chegada do quarto cachorro da família, o mini goldendoodle Pudim, para desespero de Suzana Gullo, mãe dos três filhos do casal.

O primogênito, Romeo, completa 16 anos em 23 de junho e virou nome da lei que instituiu a carteira de identificação para autistas.

No Dia do Orgulho Autista, celebrado nesta sexta (18), Mion é referência em ativismo. “Autismo não é só uma causa. É propósito ter um microfone poderoso para ser a voz do meu filho e dos 2 milhões de autistas no país”, afirma.

Ciente dos privilégios de poder bancar os melhores terapeutas para o filho, Mion criou a comunidade Pró-Autismo no Facebook, que tem 267 mil membros.

O garotão da MTV, que completa 42 anos neste domingo, virou paizão de família, comunicador de massa e pioneiro nas redes sociais, vetadas aos filhos. É pai também de Donatella, 12, e Stefano, 11.

À reportagem Mion fala sobre a saída da Record e a ida para a Netflix, negacionismo na pandemia e paternidade responsável. É autor de três livros infantis, entre eles “Pai de Menina”, que já vendeu 60 mil exemplares.

Exposição nas redes

“Quanto entrei na Record em 2010, era avesso a abrir minha intimidade. Com a vontade de me tornar um comunicador popular, entendi que não ia mais ter essa divisória entre vida pessoal e profissional.

Os próprios diretores da Record falavam: “Você tem uma família incrível, é pai como poucos. Mostra esse outro lado”. Minha imagem era do maluco da MTV.

Meus filhos aparecem muito nas minhas redes, mas é controlado, debaixo da minha lupa. São loucos para ter canal no YouTube, conta própria no Instagram, numa época em que 90% dos amigos têm.

Rede social é proibido na minha casa. Se os criadores recomendam uma idade mínima e não deixam os próprios filhos entrarem, por que eu vou deixar os meus? Sabemos dos malefícios para mentes em formação.

Num primeiro momento, eles tiveram conta fechada no Instagram. Só pra família. Stefano começou a sofrer do mal de querer postar em vez de viver. Simplesmente cortei. Expliquei como funcionam os algoritmos, que é perigoso.”

Produtor de conteúdo

“As redes sociais deram para cada um de nós a capacidade e a responsabilidade de ser dono do próprio conteúdo. Investi numa equipe que me desse independência criativa. Sete pessoas trabalham exclusivamente no conteúdo das minhas redes.

Aí entra minha experiência em televisão. De agradar o diretor, o comercial, dar audiência. Diferente de um nativo das redes sociais que cria conteúdo dentro do quarto e não passa por nenhum crivo. Coloca no ar, a bolha festeja, mas não tem feedback verdadeiro.”

Um propósito

“Autismo não é só causa. É propósito ter um microfone poderoso para ser a voz do meu filho e dos mais de 2 milhões de autistas no país.

Duas pessoas importantes nessa caminhada são a Fátima de Kwant e a Berenice Piana . Vários partidos participaram do esforço de aprovação.

Uma das grandes dificuldades do autista é provar que é autista, por não ser uma deficiência física, visual. Qualquer pai de autista hoje pode dar uma carteirada pra conseguir prioridade nos serviços de saúde, Previdência, educação.”

Privilégios

“Não tenho como ficar passivo quando entendo o tamanho do meu privilégio. Vejo diariamente que essa não é a realidade da esmagadora maioria de brasileiros.

São centenas de mensagens no Instagram por hora e arrisco dizer que 70% são relacionadas ao autismo. Obviamente, não tenho como ajudar 100% dessas pessoas.

Daí surgiu a Comunidade Pró-Autismo, sacada que tive numa reunião com o Facebook, como forma de ajudar muita gente. São cinco moderadores que trabalham 24 horas. A própria comunidade começou a se ajudar.”

Evolução do filho

“Fomos para os Estados Unidos pela primeira vez quando Romeo tinha três anos. Voltamos todo os anos em busca de terapias e testes que não existem no Brasil.

Não existe tratamento que seja mais efetivo do que amor, paciência e dedicação. Não adianta ter os melhores profissionais e delegar seu filho a eles. É a presença constante dos pais que vai fazê-lo evoluir.”

Convívio social

“A evolução é traiçoeira. Vi meu filho perder ganhos em períodos de férias.

Uma conquista é o convívio social. Romeo é o relações públicas da família. É o mais educado. Toda vez que estou numa reunião, ele entra pra dar oi. É o Zé da live, um doce.

Na adolescência, está lutando para existir independentemente de mim e da Suzana. É uma vitória gigantesca um autista do nível do Romeo ter conhecimento de si mesmo.”

Vacina

“A gente tomou a vacina nos Estados Unidos, mas longe de estar feliz. Com uma vontade enorme de ver os meus amigos vacinados no Brasil.

O que mais me indigna é o negacionismo. E me incomoda demais o poder que a pandemia trouxe para as bolhas de preconceito, racismo, intolerância. Pessoas que se sentem respaldadas e protegidas com o mau uso das redes sociais. É uma involução.”

Saída da Record

“Em 2009, botei na cabeça que precisava me lançar no grande desafio de ser um comunicador de televisão aberta para a massa. Foram 12 anos que me deram a oportunidade de conquistar o meu lugar no coração do povo brasileiro. Quando você entende que tudo é cíclico, o fim fica mais aceitável. E que bom que foi no auge.”

Futuro profissional

“A ida para a Netflix é reconexão com minhas raízes. Explodi a zona de conforto. Ir para uma plataforma de streaming com liberdade e possibilidades de criação tão extensas, é a mesma sensação de entrar na MTV em 2000.

Por causa da pandemia, as coisas estão andando mais devagar do que gostaríamos. Enquanto minha agenda profissional está estacionada, fico em Miami estendendo o tratamento do Romeo. Com o pisca-alerta ligado e pronto para acelerar.”