As mais recentes pesquisas realizadas no Brasil e no mundo mostram o avanço da obesidade em crianças, adolescentes e jovens, especialmente, nas famílias de baixa renda. Além dos dados oficiais divulgados, a procura por tratamentos para conter a obesidade em jovens também comprova este crescimento.
Em uma das maiores clínicas para o tratamento da obesidade de Curitiba os pacientes com sobrepeso e idade entre 15 e 24 anos aumentaram 30%, no último ano, se comparado com o mesmo período dos anos de 2013 e 2014.
“Os jovens que nos procuram, na maioria das vezes, já tentaram outros tratamentos, dietas, estão com a auto estima baixa e diagnóstico de doenças associadas à obesidade”, conta o cirurgião e especialista em obesidade, Caetano Marchesini, que atua na área há 16 anos.
Recentes pesquisas comprovam o crescimento da obesidade entre a população mais jovem, assim como uma mudança negativa em sua alimentação. A pesquisa Vigitel 2015 (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), lançado pelo Ministério da Saúde no último dia 7 de abril, mostrou que 28,5% dos jovens com idade entre 18 a 24 anos possuem alimentação com excesso de açúcar. Nessa faixa etária, 30% também costuma beber refrigerantes diariamente.
Para Marchesini, a alimentação das crianças e jovens está mudando para pior. “Vemos um aumento no consumo de produtos altamente calóricos e, ao mesmo tempo, a queda na prática de atividade física devido a escolha cada vez maior por jogos de videogame e uso constante de tablets ”, relata Marchesini.
Obesidade infantil
A obesidade infantil é crescente na maior parte das regiões, especialmente entre famílias de baixa renda. Os indicadores sobre alimentação adequada, divulgados no final de 2015 pela Secretaria de Direitos Humanos, constatou que 33,5% das crianças entre 5 a 9 anos estão acima do peso ideal, e, entre adolescentes, 20,5%.
Os dados foram coletados pelo IBGE, Ministério da Saúde, Programa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS), todos eles cooperando com a Secretaria de Direitos Humanos.
Nutrição
A professora e pesquisadora do departamento de Nutrição da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Regina Maria Vilela, explica que a substituição da alimentação simples e caseira por uma alimentação repleta de produtos processados e industrializados está refletindo na saúde dos jovens brasileiros.
“No passado a obesidade atingia mais os adultos. Hoje, o quadro mudou e a obesidade está atingindo também crianças e adolescentes. Isso significa que os hábitos atuais estão comprometendo a geração futura. Isso compromete a força de trabalho, sobrecarrega o sistema público de saúde e reflete na economia do país, além de afetar drasticamente a qualidade de vida da população” ressalta a pesquisadora.
Segundo ela, o Plano de Estratégias Globais da Organização Mundial da Saúde para Nutrição, Prevenção e Controle de Doenças Não Transmissíveis prevê, por exemplo, a redução no consumo do sódio, de bebidas alcóolicas, entre outras ações. “No entanto, o Brasil é um dos países que mais consome sódio no mundo. O nível tolerável é de 5 gramas por dia e o Brasil consome 11 gramas de sódio por dia. Vale lembrar, que o sódio está em quase todos os produtos industrializados, pois atua como conservante e aumenta o tempo de prateleira”, enfatiza.
Motivação
Além da reeducação alimentar e da prática de atividade física, a cirurgia bariátrica também tem sido um dos tratamentos mais procurados por jovens e pais de jovens que estão acima do peso. Este ano o Conselho Federal de Medicina publicou novas regras para a autorização de cirurgia bariátrica em adolescentes de 16 a 18 anos. “Nesses casos, já era necessária uma avaliação de risco e benefício, agora o CFM exige também presença de pediatra na equipe multiprofissional, além de exame comprovando consolidação do crescimento ósseo do paciente”, explica Marchesini.
A jovem Luana Scheffer Navarro, 21 anos, tinha uma alimentação completamente desregrada e tentou fazer diversos tipos de dietas e tratamentos para perder peso, todos eles sem sucesso. Com 115 quilos e 1,77 m de altura optou pela cirurgia bariátrica e foi operada em janeiro deste ano. Luana já perdeu 20 quilos. “Senti que fiz a coisa certa, porque havia tentado outros tratamentos e os resultados eram temporários”, afirma Luana. Ela conta que está praticando atividades físicas três vezes por semana e está fazendo reeducação alimentar. “Só depois de passar por um procedimento cirúrgico, consegui ver as consequências da alimentação errada e do sedentarismo para o meu corpo”, revela.
Já o estudante de medicina, Igor Vrubel, aos 23 anos chegou aos 140 quilos. Aliado ao excesso de peso, veio a hipertensão e crises de enxaqueca. Ele conta que a ansiedade e a insatisfação com a escolha da profissão contribuíram para o ganho de peso. “Fiz tratamentos e dietas e cheguei a perder 10 quilos em dois meses, mas ainda era pouco. A orientação médica foi para cirurgia bariátrica. Fiz a cirurgia há quatro meses e já perdi 40 quilos. Minha vida começou a mudar”, conta.
Atualmente, Igor faz exercícios físicos seis vezes por semana e respeita integralmente todas as recomendações médicas. “Nunca comi nada fora da dieta e sigo rigorosamente as orientações da minha nutricionista. É uma nova vida”, resume Igor.
Aos 24 anos, a jovem Sonia Crislaine Szwed tinha uma vida sedentária e nas refeições a opção era sempre pelo pastel, pelas frituras e massas.
Com isso, ela atingiu 110 quilos. “Tentei emagrecer com remédios naturais, iniciava academia, mas não continuava pois via pouco resultado”, conta. Além disso, Sonia também estava com pressão alta e baixa autoestima. “Me sentia horrível, as roupas não serviam e nada ficava bom”, completa.
Para Sonia a cirurgia bariátrica também foi recomendação médica. Hoje, dois anos após o procedimento, ela pesa 70kg e se sente mais disposta.
“Para os jovens que estão acima do peso digo: não desistam de mudar. Hoje me sinto feliz, bonita, tenho muito mais disposição, vontade de sair e praticar atividades físicas”, relata Sonia. Os hábitos alimentares também mudaram bastante. “Cortei frituras, doces e refrigerante, vou à academia pelo menos duas vezes na semana e jogo tênis”, revela.
Cirurgia pelo SUS
Das 88 mil reduções de estômago realizadas no Brasil no ano passado, menos de 10% foram pelo SUS. Em seis estados, a cirurgia ainda não é oferecida pelo sistema público. No Sistema Único de Saúde (SUS), a cirurgia de redução de estômago (bariátrica) é feita gratuitamente somente para pacientes diagnosticados com obesidade mórbida. Essa limitação tem um motivo: quem está classificado nesse perfil corre um alto risco de ter doenças graves e, por isso, recebe prioridade.
Para fazer a cirurgia bariátrica pelo SUS é necessário ter mais de 16 anos e passar por uma consulta com um endocrinologista que avaliará o caso. “Mas é importante saber que a redução de estômago só será feita no sistema público de saúde quando for a última opção. Ou seja, a pessoa terá que passar por um tratamento médico pelo tempo mínimo de dois anos para tentar emagrecer”, finaliza Marchesini.
Se o médico diagnosticar que o único caminho é a cirurgia bariátrica, ele fará o pedido da operação no SUS. O paciente entrará em uma fila de espera para ser encaminhado a um hospital público. Vale saber que essa demora pode variar de meses a anos.