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Setembro amarelo: saiba como prevenir o suicídio infantojuvenil

Setembro amarelo: saiba como prevenir o suicídio infantojuvenil

Durante a edição do Setembro Amarelo, movimento mundial de prevenção ao suicídio, o Hospital Pequeno Príncipe, referênci..

CBN Curitiba - terça-feira, 22 de setembro de 2020 - 17:26

Durante a edição do Setembro Amarelo, movimento mundial de prevenção ao suicídio, o Hospital Pequeno Príncipe, referência em atendimentos infantojuvenis, alerta para os casos registrados de autoagressão e tentativa de suicídio entre crianças e adolescentes.

Segundo o Hospital, a pandemia de coronavírus pode piorar este cenário. Em um momento de incertezas e isolamento, o medo de perder entes queridos e a recessão econômica podem tornar vulneráveis as crianças e suas famílias. Isso pode causar ou agravar o sofrimento e consequentemente os problemas de saúde mental, em especial a depressão e ansiedade, aumentando o risco do comportamento suicida.

No Pequeno Príncipe, de janeiro a agosto desse ano, foram atendidos 12 casos de tentativa e ideação suicida e autoagressão. No ano passado, foram oito casos registrados durante o mesmo período. Um aumento de 50%, com maiores incidências no mês de abril e agosto.

FATORES E SITUAÇÕES QUE LEVAM AO COMPORTAMENTO SUICIDA

Sobre este assunto, a CBN Curitiba conversou com Daniela Prestes, psicóloga do Hospital Pequeno Príncipe.

“Só neste mês de setembro nós já recebemos mais nove casos de tentativa de suicídio”, conta a psicóloga.

Segundo ela, existem diversas causas que levam a tentativa de suicídio. Podem envolver problemas de saúde mental, quadros psicopatológicos e histórico de suicídio familiar. “Quando recebemos uma criança ou adolescente que tentou se suicidar e averiguamos a família, é comum que isso já tenha acontecido anteriormente”, diz.

“Um ambiente familiar disfuncional e hostil, impulsividade, inconsequência, dificuldade de interação social, questões de religiosidade e socioculturais, todos esses fatores são predisponentes. E existem os fatores precipitantes, normalmente mais situacionais, como situações de separação, perda de ente querido ou emprego, diagnóstico de doenças, violências, conflitos em relação à própria sexualidade – muito comum nos adolescentes – situações de isolamento social e até mesmo a interferência da mídia”, esclarece.

Os fatores precipitantes podem incidir em uma pessoa que já tem os fatores predisponentes, desencadeando o cenário suicida.

A pandemia e a necessidade de isolamento social também levaram a um aumento dos casos de tentativa de suicídio, sobretudo nos meses de abril e agosto.

“O distanciamento e o isolamento social, a alteração na rotina de vida, as adaptações, as incertezas em relação ao término da pandemia e do futuro, o medo de contrair a doença, o medo de passar para algum familiar ou mesmo de perder as pessoas que ama. Muita das vezes, a recessão econômica acomete a família e vai refletir em todos os membros, mudando questões concretas e as inter-relações. As pessoas ficam mais intolerantes, agressivas”, afirma Daniela Prestes.

A psicóloga explica que toda essa realidade fez com que as crianças e adolescentes, que estão desenvolvendo e constituindo a sua personalidade, ficassem mais vulneráveis à ansiedade, ao medo e à depressão, decorrentes deste momento de pandemia. O sofrimento vivenciado gera um risco ainda maior para o comportamento suicida.

SETEMBRO AMARELO: COMO PREVENIR O SUICÍDIO NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA

Para prevenir, é preciso entender os sinais de tendências suicidas, mesmo que eles sejam sutis. A psicóloga Daniela Prestes afirma que “em torno de 75% a 95% dos pacientes que tem tendência suicida e cometem tentativa, deram algum sinal direto ou indireto para algum familiar, amigo ou pessoa com quem convive”.

Os sinais demonstram um estado depressivo, que pode se manifestar de diferentes formas. Veja alguns que são comuns:

  • Tristeza significativa e por um período prolongado
  • Sentimento de impotência, inutilidade
  • Baixa autoestima
  • Sentimento de inferioridade
  • Autorrecriminação
  • Dificuldade de concentração e memória
  • Agitação motora ou letargia
  • Alteração no solo ou alimentação
  • Desânimo às situações ou atividades que antes eram prazerosas
  • Irritabilidade
  • Pessimismo
  • Isolamento da família e dos amigos
  • Sentimento de vazio
  • Retraimento
  • Pouca comunicabilidade
  • Sentimento de vazio
  • Mudanças rápidas de humor
  • Interesse por conteúdos que falam sobre morte
  • Autolesão
  • Tentativas de suicídio anteriores

“É uma gama ampla de sinais. Aquele que estiver atento e perceber uma somatória de alguns desses, deve procurar ajuda para essa criança ou adolescente, pois todas essas manifestações demonstram o sofrimento psíquico que o paciente está passando”, afirma Daniela Prestes.

COMO PROCEDER DIANTE DOS SINAIS DE DEPRESSÃO

De acordo com a psicóloga, ao perceber os sinais, é importante que o familiar, amigo ou pessoa próxima se coloque à disposição da criança ou adolescente.

“Procure um ambiente adequado, tranquilo, reserve um tempo necessário para ouvir o que a criança ou adolescente está sentindo, não faça isso com pressa. É necessário ouvir efetivamente, estar preparado e dar vasão para que o outro possa falar. Isso já ajuda a criança ou adolescente a conseguir expor o que está pensando, as vezes até se reorganizando no discurso e diminuindo o desespero”, aconselha.

A empatia, ação de se colocar no lugar do outro e tentar entender seus sentimentos e argumentos, também é fundamental.

“Nós observamos em diversas situações que as pessoas se incomodam quase que agressivamente com uma ideação à uma tentativa de suicídio. O primeiro impulso é dar uma bronca na criança ou adolescente, fazer uma cobrança, alegar aquilo que oferece ou a forma como cuida na tentativa de condenar a ação, quando não é o momento, porque por mais que os familiares estejam investindo na criança ou adolescente, ele está sofrendo”, afirma.

A empatia também pode vir através de mensagens não verbais, como um abraço ou um carinho. A criança ou adolescente precisa sentir acolhimento, aceitação e respeito aos seus valores e opiniões. O familiar ou amigo deve investir em uma conversa próxima e honesta, que demonstre preocupação e esclareça que juntos vão procurar ajuda e as melhores soluções para aquela situação.

 

 

 

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