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Quer ter mais saúde? Cuide do seu dinheiro!

Quer ter mais saúde? Cuide do seu dinheiro!

In Loco: transmitindo informações e compartilhando experiências.Da série: pare, olhe, invista! Por Hildebrando Ma..

Janaina Chiaradia - segunda-feira, 28 de setembro de 2020 - 12:00

In Loco: transmitindo informações e compartilhando experiências.

Da série: pare, olhe, invista!

Por Hildebrando Matheus Pinheiro…

Mais uma da série, que vem causando impacto na sociedade, e que, veio da troca de conversas com o profissional na área financeira, Hildebrando Matheus e seus convidados… cada qual na sua área de atuação e com seus estudos… auxiliando a sociedade na arte de saber investir, mesmo em meio a pandemia instaurada.

Vamos aos diálogos da semana, afinal, você já pensou em:

 Quer ter mais saúde? Cuide do seu dinheiro!

Andrieli de Oliveira

Uma pesquisa intitulada Fear Factor (Fator de Medo), realizada pela Universidade de Cambridge, teve por objetivo mapear em diferentes culturas, graus de escolaridade e nível social, quais são os principais medos que as pessoas apresentam. Em primeiro lugar está o medo de falar em público representando mais de 80% dos entrevistados. Na escala usada para mensurar o medo (mediada de 0 a 100), o receito de enfrentar uma plateia aparece disparado em primeiro lugar com 90 pontos. Em segundo lugar com 69 pontos aparece o medo da morte. E marcando 65 pontos muito próximo ao medo da morte está o medo de não ter recursos suficientes para o próprio sustento. A preocupação com o futuro financeiro e, consequentemente, o relacionamento que temos com o dinheiro e finanças pessoais tem como pano de fundo um receio muito grande comparado com o que temos com a própria morte.

O célebre sociólogo polonês Zygmunt Bauman desenvolveu o conceito da modernidade liquida. Essa teoria, em resumo, aborda entre outras coisas a fugacidade das relações sociais, socioeconômicas e de produção. Ainda segundo essa concepção as relações econômicas sobrepujaram as interações humanas e a lógica do consumo deu lugar à lógica da moral, ou seja, as análises pessoais passaram a ser feitas com base no poder de compra.

É inegável que o mundo contemporâneo é marcado por uma mentalidade de consumo excessivo e imediato. Muitos são os pensadores cujas ideias acerca do tema se coadunam, entre eles o pai da psicanálise, Sigmund Freud. Em sua obra O Mal Estar na Civilização, ele escreveu que (…) “O que chamamos de felicidade no sentido mais restrito provém da satisfação (de preferência, repentina) de necessidades represadas em alto grau, sendo, por sua natureza, possível apenas como uma manifestação episódica. Quando qualquer situação desejada pelo princípio do prazer se prolonga, ela produz tão-somente um sentimento de contentamento muito tênue” (FREUD, 1930/1974, p. 95). Nesse trecho Freud encara a felicidade como um processo psíquico fortemente emocional e que quanto mais se prolonga, mais rápido passará. Com base nisso, percebe-se que para mostrar para a sociedade que se é bem sucedido e feliz, se faz necessário adquirir e acumular bens e produtos, exacerbando o consumismo irracional e desenfreado. Porém, a ideia de felicidade advinda dessa prática é passageira, quase instantânea, levando o indivíduo a novas compras. E assim o ciclo se reinicia: Comprar, ficar feliz, perder essa felicidade e comprar novamente.

“As pessoas gastam um dinheiro que não têm, para comprar coisas de que elas não precisam, para impressionar pessoas de quem não gostam” (Will Rogers)

O aparato forjado pelo capitalismo no decorrer de décadas levou muitos ao endividamento e continua fazendo vítimas cada vez mais frequentes e em maior número. Muito se deve às facilidades de pagamento, a falta de educação financeira e o acesso ao cartão de credito, o dinheiro plástico e alienado onde se gasta sem dor e de forma praticamente inconsciente, tem-se a ilusão de um poder aquisitivo superestimado comparado a realidade, no entanto é nisso que consiste o cerne da questão, perceber que a quantia dispensada para quitar as dívidas fica muito aquém da quantia utilizada para contrair as dívidas que geralmente fica além. Esse abismo entre utopia e distopia levam ao desenvolvimento de psicopatologias, de modo que o indivíduo não consegue alcançar o ideal imposto pela sociedade, e isso gera um estado mental de desânimo, tristeza, sentimentos de incapacidade, vergonha, culpa e insônia, tudo levando a quadros de estresse, ansiedade, irritabilidade, perda de apetite, apatia e depressão.

É bom ter dinheiro e tudo que o dinheiro pode comprar, mas também é bom, fazer um check-up de vez em quando para se certificar de que você não perdeu as coisas que o dinheiro não pode comprar.” (George Lorimer)

 

Um outro estudo também realizado pela Universidade de Cambridge chamado de Investment Phobia (Fobia de Investimentos), demonstrou reais impactos do medo ao falar sobre finanças pessoais. A pesquisa descobriu que 50% das pessoas tem aceleração do ritmo cardíaco quando lidam com suas contas pessoais. Dos pesquisados 11% declararam sentir mal-estar físico, como dores de estômago e de cabeça, quando precisam lidar com o próprio dinheiro; 15% declararam que, para evitar transtornos, evitam abrir envelopes bancários ou acessar frequentemente contas bancárias via internet. Por fim, 23% das mulheres e 18% dos homens ouvidos no estudo foram diagnosticados como portadores de fobia financeira, semelhante às fobias mais conhecidas como fobia de insetos e de altura. Trata-se de uma condição clínica de total aversão e pavor ao menor contato com o referido tema.

De acordo com um levantamento realizado pelo Sistema de Proteção ao Crédito (SPC) em parceria com a Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) cerca de 51% dos inadimplentes se sentem envergonhados perante amigos e familiares frente a essa situação o que acarreta mais problemas em suas interações, inclusive de trabalho cerca de 25% relataram queda da produtividade e 14% disseram já ter agredido fisicamente colegas pelo mesmo motivo. Outro dado apontado pela pesquisa é que 2 a cada 10 endividados recorrem ao consumo excessivo de álcool, cigarro e comida visando alívio para suas crises de ansiedade, so­bre­tu­do, as pes­soas das clas­ses C, D e E (17,5%). Ou­tros sen­ti­men­tos que a maio­ria pas­sou a ter fo­ram: in­se­gu­ran­ça em não con­se­guir pa­gar as dí­vi­das (69,9%), an­gús­tia (61,8%), an­sie­da­de (59,8%) e es­tres­se (57,6%). Foram entrevistados 602 inadim­plen­tes em to­do o Bra­sil com dí­vi­das com mais de 90 dias.

 Parafraseando novamente Freud, que afirmou na mesma obra, O Mal Estar na Civilização, que no intuito de suportar o sofrimento decorrente da vida em civilização, faz-se necessário o uso de medidas paliativas, ou seja, satisfações substitutivas que possibilitem ao indivíduo lidar com a dor da existência cotidiana, que é o momento em que o indivíduo pode acabar procurando formas de sair da realidade.

Outro grande filósofo e sociólogo, Karl Marx, observou em sua época um fetiche pelo consumo, mas o imperativo do ato de consumir revelou para, além disso, o fetiche pelas marcas, deixando de importar o produto em si, e aumentando a importância do fabricante e seu valor de mercado. Traçando um paralelo entre esse conceito e a ostentação vista e incentivada nas vitrines individuais enviesadas através das redes sociais, é fácil de entender por que o Brasil se tornou o país mais estressado e ansioso da América Latina. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), nos últimos dez anos o número de pessoas com depressão aumentou 18,4%, isso corresponde a 322 milhões de indivíduos, ou 4,4% da população da Terra. No Brasil, 5,8% dos habitantes – a maior taxa do continente latino-americano – sofrem com o problema. Uma pes­qui­sa do Ins­ti­tu­to de Psi­quia­tria da Uni­ver­si­da­de de São Pau­lo (USP) de 2017 mos­trou que 80% das pes­soas que acu­mu­lam dé­bi­tos so­frem de de­pres­são. Para se ter uma ideia, a Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic Nacional), realizada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), mostra que o percentual de famílias brasileiras que relataram ter dívidas alcançou 66,5% em maio de 2020. O número representa um aumento de 3,1 pontos percentuais em relação aos 63,4% registrados no mesmo mês de 2019. Mesmo diante de todos esses agravantes intensificados pelo quadro pandêmico que o mundo enfrenta, é essencial manter a calma, buscar racionalidade e reorganizar as finanças para conseguir traçar meios para se enxergar a saída do que parece ser um labirinto, ou até mesmo se preciso recorrer a ajuda profissional especializada como orientou José Vignoli educador financeiro do SPC Brasil. 

“Jamais gaste seu dinheiro antes de você possuí-lo.” (Thomas Jefferson)

 

Mudar o prisma pelo qual enxerga-se essa sociedade liquida e sua perspectiva de falsa felicidade é inevitável para quem deseja e necessita recuperar o seu controle financeiro, sua liberdade e sua saúde. “O segredo de progredir é começar” – Mark Twain.

 

 

 

 

 

Andrieli de Oliveira Acadêmica de odontologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), sócia do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial, Co-autora premiada pelo trabalho “Projeto Associação Beneficente Batista João Arlindo, vencedora do prêmio Itaú UNICEF Educação Integral Crer e Fazer, participou como voluntária do “Projeto Tocando em Frente” do Centro de oncologia Bucal (COB – UNESP). Desenvolve projeto de pesquisas na área de Dor Orofacial e Disfunções temporomandibulares (Núcleo da ATM FOA – UNESP). Formação complementar em cuidados paliativos pela Universidade de São Paulo (USP).

 Hildebrando Matheus Pinheiro é administrador; possui MBA Mercado Financeiro (FESP-PR), MBA em Gestão Financeira, Controladoria e Auditoria (FGV), Pós Graduação Internacional em Administração de Empresas (FGV) com extensão na University of Califórnia, San Diego-USA, formado em Financial Advisory (Proseek), Especialização em Mercado Financeiro pela University Yale.

 

MOSCA, Aquiles (2009) Finanças comportamentais: gerencie suas emoções e alcance sucesso nos investimentos. Rio de Janeiro: Elsevier.

) O mal-estar na civilização. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. XXI. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

 

https://site.cndl.org.br/69-dos-inadimplentes-sofrem-de-ansiedade-por-nao-conseguir-pagar-dividas-aponta-pesquisa-do-spc-brasil-e-cndl/

 

 

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