José Pio Martins

Apesar de ter fracassado em termos econômicos e ser praticamente o único experimento de engenharia social capaz de matar aos milhões pessoas desarmadas de seu próprio povo em tempos de paz, o comunismo ainda tem defensores e partidos políticos oficiais. Não se tem notícia de um partido nazista com registro oficial atual, mas há muitos partidos comunistas, apesar de ambos terem sido genocidas e cruéis. O comunismo foi muito pior, sobretudo porque durou muito mais, atingiu mais países e assassinou muito mais gente.

Esse assunto retorna a propósito da decisão do governo brasileiro de instalar o Comitê de Assistência aos Venezuelanos, motivado pela multidão de fugitivos que estão entrando no Brasil vindos da Venezuela, que no nome se diz uma “pequena Veneza”. Chega a ser ironia, além de incompreensível, que esse “socialismo bolivariano do século 21” se implante falando em inclusão social e lance o país na falência econômica e na ditadura política, pondo em andamento um dos maiores programas de exclusão social do mundo.

Na economia, o comunismo é inviável, incapaz de funcionar. Na política, gera sempre ditaduras sangrentas

Cuba, cujos admiradores gostam de exaltar seu lado social, tem 11,5 milhões de habitantes e, segundo dados oficiais, a ditadura comunista de Fidel Castro provocou a fuga de mais de 2 milhões e matou ou encarcerou outros 100 mil, perto de 20% de sua população atual. Um país que implanta forte programa de controle da natalidade (coisa que os comunistas brasileiros rejeitam no Brasil) e expulsa quase um quinto de sua população sob uma ditadura sanguinária é campeão em programa de exclusão social, não de inclusão.

Aplicando as porcentagens cubanas ao Brasil, temos o seguinte: nossa população saiu de 51,9 milhões em 1950 e atingiu 208,5 milhões em 2017. Se o Brasil tivesse expulsado para o exterior 20% da atual população, isso daria 41,7 milhões de emigrantes. Acabam de ser divulgados dados da Venezuela informando que, com menos de 32 milhões de habitantes, estima-se que 1,2 milhão já teria fugido do país. As ditaduras comunistas são especialistas em “exclusão social”, seja pela fuga de multidões que tentam se livrar do terror e da fome, seja pelo envio de almas a Deus via assassinatos e execuções sumárias.

O Comitê de Assistência aos Venezuelanos foi instalado pelo governo brasileiro para organizar a acolhida de famílias desesperadas que estão entrando no Brasil para não sucumbir sob o regime Chávez-Maduro, que tanto apoio recebeu de políticos brasileiros de esquerda. É estranho que esses políticos não sejam cobrados para dar explicações sobre seu apoio a um governo de terror. E são os mesmos que falam em democracia e liberdade.

Há questões que não são ideológicas, são fatos. O capitalismo e a democracia liberal não significam o paraíso na Terra, nem estão livres de problemas e falhas. Ocorre que o comunismo e as ditaduras de todos os naipes não são solução para os problemas humanos, nem os econômicos, nem os políticos. Na economia, o comunismo é inviável, incapaz de funcionar. Na política, gera sempre ditaduras sangrentas; nunca existiu comunismo com liberdade.

À luz dos fatos, e não de teorias, defender a ditadura criminosa da Venezuela é compactuar com o horror, a pobreza e uma tragédia social sem tamanho. Somente muito fanatismo pode ver algo de positivo em um regime dessa natureza. Se não for contida, a ditadura venezuelana, com seu tresloucado socialismo bolivariano, vai ser mais um projeto de engenharia social que tomará o destino de todas os regimes socialistas: pobreza, fome, morte e fuga de grande parte de sua população.

José Pio Martins é economista e reitor da Universidade Positivo.