José Pio Martins
(Foto: Real Madrid)

Mais que uma ilusão, é ingenuidade pensar que os governantes podem fazer com a economia o que bem entenderem sem pagar alto preço. É que as teorias econômicas, por não terem a precisão das ciências naturais, abrem espaço para os governantes tentarem inventar medidas esquisitas e disfuncionais, sobretudo nos países da América do Sul. Não raro, elas desorganizam o sistema e produzem atraso.

A tragédia socialista que vem destruindo a Venezuela, onde até o papel higiênico está sendo racionado, é mais um exemplo dos desaires cometidos por governantes que não se conformam com o fracasso econômico e moral do comunismo. A disposição para confrontar esse animal chamado capitalismo – que tem defeitos, mas é o melhor sistema para criar riqueza – é um demônio que insiste em povoar a cabeça de governantes ávidos de inventar seu próprio mundo.

A economia é uma ciência social e, por isso, não tem a precisão das ciências da natureza. Como diz Alan Greenspan, ex-presidente do Banco Central dos Estados Unidos, a natureza humana não influencia a forma como as partículas subatômicas interagem umas com as outras; entretanto, a propensão humana ao medo e à euforia podem definir os rumos da economia e das finanças. Apesar disso, a economia contém certas verdades inescapáveis.

  1. A melhoria do bem-estar médio só é possível se o produto crescer mais que a população. O produto é um bolo destinado a certo número de bocas. Se tanto o bolo quanto as bocas crescem à mesma taxa, na média nada muda. Nenhuma política social é capaz de alterar esse fato.
  2. O aumento do produto acima do crescimento da população somente é possível pelo aumento da produtividade/hora do trabalho. Ou seja, o produto por hora de trabalho humano tem de crescer, e isso pode ocorrer caso o trabalhador tenha melhores máquinas e melhores equipamentos à sua disposição. Para isso, o estoque de bens de capital tem de aumentar, isto é, mais investimento.
  3. O governo não dá para a sociedade nada que antes dela não tenha tirado. Tudo que o governo oferta em serviços públicos, infraestrutura e benefícios sociais é retirado da sociedade por meio dos impostos. Somente os ingênuos acham que as bolsas e as benesses caem do céu ou nascem da bondade dos governantes.
  4. Se gastar mais do que arrecada, o governo é obrigado a fazer mais dívida pública e/ou emitir moeda. Em toda eleição, os candidatos fazem duas coisas invariavelmente: xingam os banqueiros e gritam contra os juros da dívida pública. O que essa gente não entende é que só há juros a pagar porque o governo se endivida, e o faz porque gasta mais do que arrecada. É simples demais, mas os demagogos desconhecem isso.
  5. Emitir moeda acima do crescimento do produto causa inflação. Essa é uma das verdades mais óbvias em economia. Mas muitos homens de governo se recusam a aceitá-la, como se pudessem imprimir dinheiro impunemente.
  6. “Não ajudarás o assalariado se arruinares aquele que o paga.” Essa frase de Abraham Lincoln é óbvia, mas é agredida o tempo todo. Não existe emprego sem empregador. Apesar disso, o empresário é maltratado pelo Estado. O empresário não é anjo e também precisa ser regulado pela lei. Mas a regulação não pode ir até o ponto de matar o espírito de iniciativa e ímpeto empreendedor.

Embora simples e óbvias, essas verdades são agredidas por leis e normas que acabam por prejudicar aqueles a quem dizem defender.

José Pio Martins, economista, professor, palestrante e consultor econômico-financeiro.