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Francis Ricken

Em 2018, tivemos uma eleição atípica, com a vitória de Jair Bolsonaro para a Presidência da República e de arrasto, um grupo político que o apoiou, o que foi visto com a ascensão do PSL na Câmara dos Deputados, com a vitória de governadores que declararam apoio a Bolsonaro, com o crescimento de bancadas nos Estados com posicionamentos políticos próximos ao presidente. Como comumente se fala, houve uma “onda” que trouxe com ela candidatos próximos à postura política do presidente e que se alinhavam à ideia de uma “nova política”. Juntamente com esse movimento, verificamos a ascensão de grupos ligados às forças de segurança e ao Poder Judiciário, ascendendo a cargos no Poder Legislativo nos Estados e no âmbito nacional, algo que já havia sido verificado, mas não com a mesma intensidade de 2018.

Outro fenômeno que chamou muito a atenção foi a derrota de políticos tradicionais e partidos historicamente estabelecidos nas eleições de 2018 e 2020, algo diferente do que estávamos acostumados desde a redemocratização. Mas, a dúvida que sempre pairou na cabeça daqueles que analisam o cenário político era da sobrevivência e desempenho desses grupos dentro do ambiente profissional da política nacional, e pelo que tudo indica, o fracasso se aproxima em 2022.

Na política, assim como em qualquer atividade profissional, o que prevalece é a especialização, a organização e o preparo. A ideia de uma pretensa vontade não se sobressai em um ambiente em que o nível de profissionalização é alto, e isso vale para a política brasileira. Se você analisar o ambiente do Congresso Nacional, vai verificar que a política não é para amadores. Não que novos grupos não possam assumir cargos ou se eleger e desempenhar bons trabalhos no ambiente político. Podem e devem, mas isso necessita de preparo e da adaptação ao ambiente. O político debutante geralmente se choca com a realidade que se mostra nos primeiros dias de atividade. Diante da diferença entre o ambiente eleitoral e os debates da política real, começa a verificar-se que nem tudo é possível, que existe um ordenamento jurídico que deve ser respeitado, e que terá que se adaptar a um ambiente partidário e de debates que muitas vezes ele desprezou.

A onda política de 2018 demonstrou que ganhar a eleição não é o suficiente. É necessário que o político possa demonstrar por meio de realizações e políticas públicas consistentes suas visões de mundo, sua assinatura. O discurso na política é essencial, mas ele sozinho não sustenta a estrutura de um governo, afinal, a população sente na pele quando um governo patina, quando o desenvolvimento econômico é inconsistente, quando a fala se diferencia das realizações.

Acredito que a eleição de 2022 será o momento da retomada da política profissional, com o retorno dos partidos políticos tradicionais e de nomes muito conhecidos do eleitorado nacional. Esse movimento se deve a uma série de fatores, mas, principalmente, ao fracasso daqueles que se diziam inovadores no ambiente eleitoral, mas se demonstraram pouco eficientes na política real.

Francis Ricken é advogado, mestre em Ciência Política (UFPR) e professor da Escola de Direito e Ciências Sociais da Universidade Positivo (UP).