Janaina Chiaradia

In loco: transmitindo informações e compartilhando experiências

Nova série: as palavras e as coisas, por Everton Gonçalves

Em mais um texto da sua série, dentro do In Loco, o amigo, professor de português e literatura, revisor de textos e escritor de ensaios e poemas, Everton Gonçalves, nos apresenta suas reflexões e ensinamentos… então vamos lá!

Fantasmas do ontem, espantalhos do hoje

O escritor Rubem Braga, conhecido por suas crônicas marcantes, conseguiu transmitir com precisão o conceito de verdadeiro e falso. Na crônica “louvação”, o capixaba escreve:

“Mergulhamos no frenesi das falsificações; nossos panos são falsos tecidos, os sapatos de falso couro, as garrafas de falsa bebida, as palavras de falsa moral de tudo isso nos queixamos aos falsos amigos; e todos nos fazem falsas promessas, e nos oferecemos falsos banquetes”.

A sociedade carece não apenas de estratégias políticas e econômicas, mas de realidade. Os discursos das redes sociais podem parecer belos, mas não necessariamente reais. As narrativas construídas pelos políticos, celebridades e subcelebridades, muitas vezes são apenas uma miríade linguística: muita palavra, mas pouca realidade.

Geralmente, as pessoas são convencidas por pessoas que admiram, se o seu ícone falou, então ele está certo. Mas isso pode ser perigoso, pode levar pessoas a tomarem decisões precipitadas, alimentarem fake news e viverem de acordo com a palavra do outro.

Nelson Rodrigues dizia: “mintam, mintam por misericórdia”. Muitas pessoas adotam uma vida falsa, um discurso mentiroso e uma expectativa rasa. Teorias da conspiração surgiram por uma expectativa juvenil do futuro, uma deturpação do presente e uma cegueira para o passado. Teóricos da conspiração são mentirosos em roupas de adolescentes.

Terra plana, homens-répteis, illuminatis são ideias que partiram de narrativas mentirosas, obscuras e alienadas. A mentira pode ser tão bem contada que pode virar uma realidade, pessoas podem se deparar com uma grande mentira depois de anos, elas percebem que acreditaram no espantalho, mas o espantalho não existia.

A falsidade não é apenas um conceito estético, mas um conceito ético. O sujeito que adota a falsidade como estilo de vida é um vendedor: ele vende uma imagem, uma imagem que criou de uma realidade alternativa e um visão corrompida de si mesmo, do outro e da sociedade.