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Os livros que nunca lemos

Os livros que nunca lemos

In loco: transmitindo informações e compartilhando experiênciasNova série: as palavras e as coisas, por Everton G..

Janaina Chiaradia - segunda-feira, 20 de julho de 2020 - 10:09

In loco: transmitindo informações e compartilhando experiências

Nova série: as palavras e as coisas, por Everton Gonçalves

Em mais um texto da sua série, dentro do In Loco, o amigo, professor de português e literatura, revisor de textos e escritor de ensaios e poemas, Everton Gonçalves, nos apresenta suas reflexões e ensinamentos… então vamos lá!

Os livros que nunca lemos

Falar sobre livros é sempre um prazer e um desafio. Um desafio porque o livro é muito mais que um objeto, mas um instrumento de liberdade. E falar de livros é um prazer porque sua função social e artística é fascinante. Quando falamos sobre livros devemos tomar cuidado para não impor nossos gostos literários e criar uma ditadura do que é bom e do que não é.

Para muitas pessoas ler livros de autoajuda pode ser algo benéfico, talvez esse seja o único tipo de leitura que essa pessoa possui. Mas não podemos deixar de comentar que o prazer da leitura vai muito além de ler textos técnicos, acadêmicos e de autodesenvovimento.

O livro como instrumento de liberdade é criado por autores que tratam a linguagem não apenas como elemento de comunicação e troca de informações, como o linguísta Roman Jackobson afirmava. Esses grandes autores promovem a linguagem que conhecemos em algo belo, sólido e incrível. Eles fogem das rodovias dos clichês e não permitem que a gramática os interrompa. São transgressores por natureza.

Falar de livros é falar de leitura. É falar de uma leitura feita sem a lógica da produtividade, é ler sem cronômetro. Como disse o crítico literário George Steiner:

“A arte da leitura precisa reencontra seu caminho, ainda que a duras penas.”

Em uma sociedade de mercado, ler livros que ultrapassem o “ler para aprender” parece quase impossível. As pessoas hoje em dia estão buscando cada vez mais informações, mas muito pouco contemplação. Elas querem aprender de tudo, mas não silenciam o mundo ao seu redor. Gostam de livros que ensinem algo, mas poucos aprenderam a ler de verdade.

O mundo nunca mais será o mesmo de algumas décadas atrás, as tecnologias fazem parte do nosso dia a dia, mas ainda sim, é possível ler com calma e com alma. E ler bons livros, bons autores. E o que é um bom livro ou um bom autor? Bem, isso pode ser subjetivo. Mas gosto da afirmação de Ítalo Calvino: “um clássico é um livro que nunca esgota tudo o que tem a dizer a seus leitores”.

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