Pedro Ribeiro
(Foto: Bruno Slompo/CMC)

 

Em live com  empresários e políticos, o acionista da AB Inbev, Jorge Paulo Lemann, mostrou confiança na recuperação da empresa após o choque da covid.  “Depois da pandemia, que nos freou, vamos voltar a crescer”, disse Lemann. Mas, em  tom pessimista, Lemann mostrou desconforto com a situação política brasileira, sobretudo diante da falta de progresso nas reformas econômicas, como a tributária e a administrativa. “Não sabemos direito para que lado vai o Congresso, agora”, declarou.

Segundo ele,  a companhia vive processo de mudanças no conselho, como a substituição do CEO, Carlos Brito. “Pessoas mais novas e modernas vão entrar.”

Lemann, contudo, fez uma espécie de mea-culpa durante o evento virtual e evitou atribuir a perda de mercado da AB Inbev exclusivamente à crise econômica trazida pela covid-19. “Nós ficamos confortáveis na posição em que estávamos. Não tínhamos as pessoas certas e não prestamos atenção ao mundo consumidor que se formava, com mais opções de escolha”, reconheceu.

“Estamos em fase de adaptação a uma nova realidade. Empresas com muito sucesso têm dificuldades de se adaptar”, completou.

Em linha com a avaliação de economistas de diferentes correntes, Lemann afirmou que o Brasil precisa de política fiscal clara e baixar os números da covid-19 para atrair investimentos. “Precisamos ser ortodoxos e tratar bem os estrangeiros.”

Ele citou as recentes rusgas do governo brasileiro com líderes europeus em torno do desmatamento da Amazônia.

Na última segunda-feira, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (DEM-MG) foram eleitos presidentes da Câmara e do Senado, respectivamente, com as bênçãos do Palácio do Planalto. Apesar do discurso oficial pró-reformas, abraçado pelo mercado financeiro, a nova organização do Congresso representa um avanço do centrão, historicamente avesso a pautas como privatizações e redução da máquina pública.

A paralisação de reformas é um dos diagnósticos de Lemann para o que chamou, durante o evento virtual, de “pé atrás” de investidores com o Brasil. “Hoje, há muita liquidez. A economia anda mal e as bolsas não param de subir. Mas o Brasil não tem performado bem. A legislação não é constante, a regra muda toda hora”, declarou.

Lemann aproveitou a live para defender melhorias na educação pública brasileira, citando como exemplo positivo o caso de Sobral (Ceará), e para destacar o trabalho da Fundação Lemann no setor. “A economia você conserta. Mas sem educação, você não tem estabilidade social para tocar os projetos que o Brasil precisa”, afirmou. “Vamos treinar pessoas que queiram ir para o governo. A solução para o Brasil é ter gente mais preparada.”

A deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP) é um exemplo de figura política que estudou com bolsa da Fundação Lemann – e foi citada pelo empresário, durante a live. “Ela é mais de esquerda do que eu. E a turma bolsonarista já acha que sou de esquerda”, brincou com os presentes.

O ex-presidente Michel Temer participou da live e elogiou a atuação de Lemann dentro do empresariado brasileiro, que retribuiu o enaltecimento. “Saudades do seu governo. As coisas funcionavam naquela época”, declarou o empresário, que hoje mora na Suíça.

A live contou com a participação de grandes nomes do empresariado brasileiro, como o presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, o CEO da BR Distribuidora, Wilson Ferreira Jr., o diretor do Banco Safra Joaquim Levy, ex-ministro da Fazenda na gestão Dilma Rousseff e o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro. (Estadão).