Pedro Ribeiro
(Foto: Maxi Franzoi/AGIF/Folhapress)

A morte de Euclides Scalco, aos 89 anos, é mais uma lamentável perda para o Paraná, ao lado do jurista e professor René Dotti, que também nos deixou há poucos meses. Sobre Scalco, recentemente, ao receber título de Cidadão Honorário de Curitiba, pude retratar um pouco da sua travessia como homem e políticos em terras paranaenses. Nas nossas mesas de almoço das terças-feiras (antes da pandemia) com a velha guarda do DER sentiremos a falta do Dr. Scalco.

Eram preciso, sim, algumas palavras de agradecimento a este político que nos honrou como paranaense, embora seja gaúcho  de nascimento, com seu trabalho, sua inteligência e ética ao Estado, onde se instalou em Francisco Beltrão, em 1959. Euclides Scalco, que dispenso aqui cargos que ocupou nas esferas dos governos estaduais e federal, foi agraciado com o título de Cidadão Honorário do Paraná.

Uma homenagem que emocionou o protagonista da história política recente do Paraná quando, ao lado de José Richa, deram lições de gestão pública que até hoje são lembrados pela velha e nova geração de políticos.

Ontem tive certeza disso quando ouvi do veterano Ademar Traiano, presidente da Assembleia Legislativa, que Scalco o introduziu e foi sua luz na política. Mais jovem, o deputado Michelle Caputto disse que ele foi um exemplo à nova geração de políticos, com uma carreira ilibada e um articulador de respeito nacional. Ainda mais jovem, o vice-prefeito de Curitiba Eduardo Pimentel não se intimidou ao afirmar que se trata de um espelho e um mestre que contribuiu com o nosso ensinamento.

Scalco, próximo de alcançar 90 anos de idade, é um daqueles homens e políticos que deve ser consultado a todo momento sobre qualquer grande decisão que um gestor público venha a tomar para não cometer erros. Ele é um daqueles políticos que já não vemos mais no Congresso Nacional onde, hoje, não existem mais lideranças e representações que deixaram o país tateando por um novo rumo.

Hoje vivemos uma fase profunda de transição na concepção e no conceito político, uma época de formação de novas lideranças que estão para surgir mas que ainda não deram as caras.

Quando vemos e ouvimos um político do calibre ou naipe do guerreiro Euclides Scalco falando, como na homenagem desta segunda-feira, podemos dizer que o Brasil está doente e carente de estadistas e não é por culpa do governo de plantão. Nunca na nossa História estivemos tão órfãos, com angustiante expectativa do que virá pela frente, confiantes sem termos certeza, amedrontados na aposta do que nos resta de esperança, com um entusiasmo mas cheio de involuntárias dúvidas.

O país passa por profundas modificações com decisões que estão para serem tomadas e que podem alterar o modo em que vivemos e não se vê e nem se ouve uma única voz do que acreditávamos serem lideranças políticas. Elas já não se aventuram a dar opiniões ou se manifestarem a respeito. Apodreceram junto, sumiram, se esconderam, já não tem mais o que dizer, acuadas em seus fracassos e desilusões, já pouco servem como referência na formação de uma parcela que seja de opinião pública a respeito desses novos tempos.

Mesmo lideranças que se apresentavam como o novo no cenário político estão mudas, pouco aparecem, quando se manifestam é timidamente e o País continua nesse enredo confuso e desordenado. Vamos precisar de algumas décadas, talvez, para nos depararmos com políticos com formação, com lideranças genuínas e perfis de estadistas, que nos façam acreditar na possibilidade de haver um projeto nacional, uma percepção visionária de futuro que seja capaz de despertar nosso ânimo e entusiasmo.

Entre estes políticos, destaco Euclides Scalco e José Richa.

O debate do novo país se dá por especialistas em áreas fragmentadas, gente que conhece determinado assunto. Não permeia mais a esfera de lideranças políticas que pudessem ter uma visão abrangente de estadista, de um projeto nacional, como se acreditava e que acabou se revelando não existirem, deixando o país nu em frente ao seu próprio espelho.

Scalco falou pouco em seu discurso no Salão Brasil da Prefeitura de Curitiba, onde recebeu a comenda em solenidade presidida pelo presidente da Assembleia Legislativa, Ademar Traiano e na presença do prefeito de Curitiba, Rafael Greca e dezenas de políticos, empresários e admiradores do  farmacêutico que ganhou Brasília, ajudou a transformar o Paraná e mudou o conceito de gestão da Itaipu Binacional.

Traiano foi mais eloqüente e confessou-se emocionado ao presidir a entrega do título a um político que o inspirou a entrar na vida pública. “Eu me emocionei hoje durante a entrega de do título de Cidadão Honorário do Paraná, ao ex-deputado estadual e federal, ex-ministro e ex-diretor geral da Itaipu, Euclides Scalco.

É uma justíssima homenagem a um gaúcho que se tornou um pioneiro e desbravador do Sudoeste do Paraná onde construiu uma história legendária de solidariedade ao próximo, de honradez e de ética na política. Ele foi um dos homens que me inspiraram a trilhar a vida pública e tenho um orgulho especial em ter participado dessa homenagem a um ser humano que escreveu uma história maravilhosa e que continua a ser um exemplo de dignidade e honradez”.

As contribuições de Scalco com o Estado do Paraná justificaram a honraria. Farmacêutico de formação, o homenageado ganhou destaque na política, considerado dono de uma personalidade discreta e articuladora. Scalco foi vereador, prefeito, deputado federal, diretor-geral da Itaipu Binacional, além de chefe da Casa Civil do Estado no governo de José Richa (1983-1986) e ministro-chefe da secretaria geral da presidência da República no segundo governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ao lado de outras autoridades, é um dos fundadores do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).

A solenidade, que reuniu políticos, secretários, parlamentares e autoridades, foi marcada pela emoção. Acompanhado da esposa, Teresinha Marcolin Scalco, Euclides Scalco recordou suas contribuições com o Brasil e o Paraná, em especial com a região Sudoeste, onde o gaúcho de nascimento iniciou sua carreira política. “Sempre busquei corresponder às necessidades da população. Sinto-me honrado de receber este título do Estado que me recebeu. Hoje sou um homem feliz”.

Michele Caputo, e o prefeito de Curitiba, Rafael Greca, também destacaram a trajetória e a importância política de Scalco para o Paraná. “Acompanho a vida pública de Euclides Scalco há quase quatro décadas. É um personagem de destaque na redemocratização, aliando capacidade técnica e política”, justificou Caputo. Ele lembrou ainda as contribuições do homenageado com o sistema público de saúde. “Como deputado federal e como secretário do governo José Richa, contribuiu com a defesa do cidadão paranaense”, completou. “Ele é uma pessoa que iluminou o Paraná com desenvolvimento social. É um homem que nunca faltou ao Brasil”, ressaltou Greca.