Pedro Ribeiro
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Ainda que houvesse eventual sentido nobre, de espírito cívico elevado, não deixa de preocupar determinadas decisões políticas, ditas populistas, que possam reverter a um cenário catastrófico com danos colaterais à dignidade e grandeza de um governante e manchar sua biografia.

È arriscado, portanto, por exemplo, a determinação do governador paranaense, Carlos Massa Ratinho Junior, de liberar as 27 praças de pedágios das concessionárias que administram mais de 2.500 quilômetros de rodovias do Anel de Integração a partir do dia 28 de novembro, quando se encerram os contratos que vigeram por 24 anos.

Mandar abrir as cancelas, não deixa de ser uma medida populista com fins eleitoreiros, a exemplo do “Auxílio Brasil” de R$ 400 anunciado pelo desesperado presidente Jair Bolsonaro sem se importar em furar o teto de gastos e explodir a inflação. Em outras palavras, jogar o Brasil para o vinagre com efeito nocivo à população de baixa renda.

Abrir as cancelas do pedágio será uma medida legal, porém, conforme o discurso, entendida como politiqueira. Acidentes em rodovias não mandam não avisam dia e hora e não mandam recados.

Os atuais usuários estão acostumados com serviço de excelência, embora reclamem do preço. Todo mundo sabia que o contrato terminaria no dia 27 de novembro. A pergunta óbvia: por que não tomaram providências tempestivas para evitar descontinuidade dos serviços.

HORIZONTE SOMBRIO

No caso do Paraná, o governador Ratinho Junior deveria ter pensado nas consequências futuras porque, certamente, vemos um horizonte sombrio nesta medida política que visa ampliar seus já confortáveis percentuais de votos para sua reeleição.

Em um piscar de olhos toda esta chicana poderá ir por água abaixo e Ratinho Junior jogar no lixo sua biografia que não se descarta um futuro promissor na esfera da política nacional.

Isto, porque a menos de 30 dias da “abertura das cancelas do pedágio”, as autoridades do Governo do Estado responsáveis pela mobilidade nas rodovias não tem um plano para administrar as praças de pedágio, não tem um plano eficiente para fiscalizar as rodovias e pior, não tem pessoal competente para salvar vidas, guinchar caminhões com 60 toneladas tombados em rodovias.

Teria, o Governo do Estado hoje, ou daqui a 30 dias, condições de, por exemplo, atender a um acidente em qualquer das rodovias pedagiadas com ambulância e pára-médicos em 30 ou 40 minutos?

O governo terá que retirar recursos para a manutenção das estradas de outros lugares, como saúde e educação. Lembre que, por conveniência política, o governo do Paraná abdicou da responsabilidade de licitar essa nova fase das concessões, transferindo a competência ao governo federal que, não temos dúvidas, é sempre mais lento. E o controle dos atos futuros também ficará na mão do governo federal.

RECURSOS A MUNICÍPIOS E DESEMPREGO

Existe também o impacto nas prefeituras que deixarão de receber o ISS (em vários casos a maior arrecadação do município), e as dezenas de milhares de desempregados de toda a cadeia de gera o programa de concessão. Em 23 anos a Rodonorte repassou mais de R$ 500 milhões municípios dos Campos Gerais e Apucarana.

Somente este ano a mesma concessionária distribuiu R$ 54 milhões. Esta empresa tem, na folha de pagamento, 870 empresados e mais 1.300 terceirizados. Ao todos, as concessionárias vão demitir perto de 6 mil trabalhadores.

Não podemos julgar as intenções do governador Ratinho Junior de abrir as cancelas e, daqui pra frente, ninguém paga mais pedágio até que se faça as licitações para o novo modelo de concessão que o Governo do Estado vem discutindo com o Governo Federal.

Todos sabem, principalmente os parlamentares da Frente do Pedágio, da Assembleia Legislativa, que essa licitação não sairá antes de um ano, isto sem contar com as ações judiciais que provavelmente serão adicionadas ao processo por empresas descontentes com os critérios da licitação.

Mas podemos pensar que a medida, populista ou não, eleitoreira ou não, é arriscada. É esperar para ver.