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Brasil na pior fase, “Câmara de gás a céu aberto” e vida acima de tudo

Brasil na pior fase, “Câmara de gás a céu aberto” e vida acima de tudo

 A falta de coordenação nacional para a resposta à pandemia, o negacionismo do presidente Jair Bolsonaro, me..

Pedro Ribeiro - domingo, 7 de março de 2021 - 08:31

 

A falta de coordenação nacional para a resposta à pandemia, o negacionismo do presidente Jair Bolsonaro, medidas restritivas frouxas, baixa adesão da população e o surgimento de uma variante criaram uma “tempestade perfeita” para o aumento de casos e mortes, segundo especialistas da área da saúde.

“Temos alta mobilidade da população, resistência ao cumprimento de medidas de distanciamento, variantes mais transmissíveis, sistema hospitalar perto do limite e má gestão e comunicação por parte do governo. Aí se formou a tempestade perfeita”, diz o médico brasileiro Ricardo Parolin Schnekenberg, doutorando em Oxford e colaborador do Imperial College London, segundo registra o Estadão.

Com recorde de vítimas e hospitais colapsando, o Brasil vive a pior fase da pandemia. O Brasil registra, hoje, a maior alta no número de mortes por covid entre as dez nações com mais óbitos pela doença. A análise foi feita pelo Estadão, com base em dados do site Our World in Data, projeto da Universidade de Oxford.

Segundo o levantamento, dos dez países líderes em mortes no mundo, oito registraram queda na média móvel de novos óbitos na última sexta-feira em comparação com o dado de 14 dias atrás. No mesmo período, essa média subiu 30,5% no Brasil, passando de 1.037 mortes diárias em 18 de fevereiro para 1.353 na sexta. O único outro país da lista que também registrou alta foi a Índia, mas em patamar muito inferior ao brasileiro (8,9%).

Enquanto isso, o Reino Unido, quee também viveu o drama do surgimento de uma variante mais transmissível e da explosão de mortes em janeiro, acumula queda de 49,4%. Os Estados Unidos também registram algum alívio. No intervalo analisado, a média móvel de mortes baixou 8,7%. Também tiveram diminuição Espanha (-32,1%), Alemanha (-26,8%), México (-24,7%), França (-13%), Rússia (-9%) e Itália (-7,3%). A média de mortes em todo o mundo recuou 9,7% no período.

Entre os dez países, o Brasil tornou-se o primeiro em novas mortes por milhão de habitantes na quinta, superando os EUA. Na última sexta, o País era responsável por 15% de todos os casos e mortes do mundo (considerando a média móvel).

Outra diferença, segundo o levantamento,  é a velocidade da vacinação. O Reino Unido já tem 30,9% da população imunizada com ao menos uma dose – quase dez vezes mais do que o Brasil, com 3,5%. “Os Estados Unidos estão vacinando 2 milhões por dia e acabaram de contratar mais uma vacina, a da Janssen”, diz Marcia Castro, chefe do departamento de Saúde Global e População da Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard.

“O Brasil poderia vacinar rápido também. Tem experiência e conhecimento, só faltaram as doses”, completa.

A gestão Bolsonaro também falhou ao ignorar alertas de especialistas sobre o risco da nova onda avassaladora. “A taxa de queda dos casos começou a desacelerar e virou estabilização em outubro, o que já indicava reversão de tendência. Em novembro começamos a ver o aumento”, diz o cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt, da rede Análise Covid-19.

Ele monitora diariamente os principais indicadores da pandemia no País e, em 17 de dezembro, publicou nas redes sociais análise que mostrava que um “tsunami” se aproximava. Ele e outros especialistas refutam o argumento de que o surgimento inesperado da variante levou ao cenário atual. “A própria existência da variante se deu por causa do desrespeito das medidas de distanciamento. Fica parecendo que estávamos fazendo tudo certo e demos o azar de ter uma variante que acabou com nossos esforços. Provavelmente, não haveria variante se estivéssemos fazendo um bom controle”, diz Schrarstzhaupt.

O abismo entre o Brasil e os demais países no controle da pandemia deve aumentar nas próximas semanas, principalmente se o País seguir com uma campanha de vacinação lenta e se os governos estaduais recuarem rapidamente das quarentenas mais rígidas que ganharam espaço nos últimos dias.

Isso porque, com um patamar ainda alto de casos, o País deve levar muito tempo para reverter a tendência de aumento, enquanto outras nações mantêm as infecções em baixa com reaberturas cautelosas e vacinação em massa.

“Mesmo se tivermos um lockdown nacional rigoroso no Brasil, ainda demoraríamos de três a quatro semanas para ver uma queda nas hospitalizações e cinco a seis semanas para ter uma diminuição das mortes”, opina Ricardo Parolin Schnekenberg, doutorando da Universidade de Oxford e colaborador do Imperial College London nos estudos sobre covid-19 no Brasil.

Marcia Castro, professora da Escola de Saúde Pública da Universidade Harvard, concorda que uma melhora nos indicadores só será permitida em semanas. “A gente chegou a uma situação em que nada vai fazer o problema ser resolvido rápido. Para resolver rápido, tínhamos de ter começado antes. Mas quanto mais demorarmos para fazer algo, mais vidas perderemos. As medidas restritivas e a ampliação da vacinação, portanto, são para ontem”, afirma.

Para Schnekenberg, é também urgente no Brasil que ocorra a oferta de socorro a pessoas e empresas em situação financeira difícil, justamente por conta dos efeitos da pandemia alongada. “Não tem como exigir o cumprimento dessas restrições sem um auxílio financeiro tanto para trabalhadores quanto para empresários.”

Em 2020, o auxílio emergencial foi pago a trabalhadores informais, desempregados e beneficiários do Bolsa Família. Com o agravamento da pandemia, há pressão por uma nova rodada de benefícios que ainda não foi definida. (Estadão)

CÂMARA DE GÁS A CÉU ABERTO

Carta aberta à humanidade que acaba de ser divulgada no país mostra depoimentos que impressionam como o do padre Julio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua:

“O Brasil é uma câmara de gás a céu aberto. É preciso que grupos, instituições e entidades se manifestem pela vida, contra um genocídio que atinge nosso povo

Já são 264.446 o número de mortes no Brasil e o de casos chega  a10.939.320 desde o início da pandemia. Neste sábado, o Brasil registrou mais de 10 mil mortes pela doença em sete dias. É a primeira vez desde o início da pandemia que isso acontece.

País afora, as UTIs estão operado em suas capacidades máximas. Pressionado e no limite, o sistema de saúde público e privado se aproxima de cenário de colapso.

Na carta, os autores fazem um apelo para que STF (Supremo Tribuna Federal), OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Congresso Nacional, CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) e ONU (Organização das Nações Unidas) se manifestem e tomem providências: “Pedimos urgência ao Tribunal Penal Internacional (TPI) na condenação da política genocida desse governo que ameaça a civilização”.

Eles afirmam que “o monstruoso governo genocida de Bolsonaro deixou de ser apenas uma ameaça para o Brasil para se tornar uma ameaça global”.

O país completou neste sábado, 45 dias com média móvel acima de 1.000. O número de casos nas últimas 24 horas foi de 67.477.

Como tem ocorrido, o elevado número de mortes é acompanhado por altas taxas de contaminação. Os últimos três dias fazem parte do ranking de datas nas quais foram registrados mais casos da Covid. Na última sexta-feira (5), foram 75.337 casos, no dia 3 foram 74.376 e no dia 4 foram 74.285.

Os dados do país, coletados até às 20h, são fruto de colaboração entre Folha, UOL, O Estado de S. Paulo, Extra, O Globo e G1 para reunir e divulgar os números relativos à pandemia do novo coronavírus. As informações são coletadas diariamente com as Secretarias de Saúde estaduais.

A ação do consórcio ocorre em resposta às atitudes do governo Jair Bolsonaro (sem partido), que ameaçou sonegar dados, atrasou boletins sobre a doença e tirou informações do ar, com a interrupção da divulgação dos totais de casos e mortes. Além disso, o governo divulgou dados conflitantes.

LEIA A ÍNTEGRA DA CARTA:

“Vivemos tempos sombrios, onde as piores pessoas perderam o medo e as melhores perderam a esperança.”

Hanna Arendt

O Brasil grita por socorro.

Brasileiras e brasileiros comprometidos com a vida estão reféns do genocida Jair Bolsonaro, que ocupa a presidência do Brasil, junto a uma gangue de fanáticos movidos pela irracionalidade fascista.

Esse homem sem humanidade nega a ciência, a vida, a proteção ao meio-ambiente e a compaixão. O ódio ao outro é sua razão no exercício do poder.

O Brasil hoje sofre com o intencional colapso do sistema de saúde. O descaso com a vacinação e as medidas básicas de prevenção, o estímulo à aglomeração e à quebra do confinamento, aliados à total ausência de uma política sanitária, criam o ambiente ideal para novas mutações do vírus e colocam em risco toda a humanidade. Assistimos horrorizados ao extermínio sistemático de nossa população, sobretudo dos pobres, quilombolas e indígenas.

Nos tornamos uma “câmara de gás” a céu aberto.

O monstruoso governo genocida de Bolsonaro deixou de ser apenas uma ameaça para o Brasil para se tornar uma ameaça global.

Apelamos às instâncias nacionais – STF, OAB, Congresso Nacional, CNBB – e às Nações Unidas. Pedimos urgência ao Tribunal Penal Internacional (TPI) na condenação da política genocida desse governo que ameaça a civilização.

Vida acima de tudo!

 

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