Otavio Duarte
“Nossa civilização tem muita influência do pensamento grego.
Pela busca da racionalidade, acima dos misticismos, que resultou na filosofia e na ciência, ainda que tardia.
E a ciência sempre teve resultados para demonstrar.
O computador, a tela dele e o que lá aparece são consequências da ciência.
A negação de evidências é contrária a ela.
Nosso presidente foi salvo pela ciência, pelos avanços da medicina, quando sofreu um ataque à faca.
Deve ter sido vacinado contra a varíola e a poliomielite quando criança, pois eram vacinas obrigatórias. Talvez contra outras doenças, como a febre amarela, pois foi militar, por um breve tempo, e viajou pelo país.
Também foi socorrido pela ciência quando acometido pelo conoravírus.
Ainda assim, a nega o tempo todo.
Disse que a pandemia era uma gripezinha.
Nenhuma atitude tomou contra ela e foi contra quem tomou.
Demitiu um ministro da saúde que se preocupava em prevenir a expansão da pandemia e outro, que não a negou.
No lugar dos médicos, colocou no Ministério da Saúde um general, com a função específica de cumprir ordens.
E a doença se espalhou pelo país.
Contra as vacinas, não procurou criar um programa que aproveitasse a grande experiência nacional em vacinações. Tentou boicotar a aliança do governador paulista com fabricante chinês na produção de vacina pelo Instituto Butantan.
Não encomendou a compra de vacinas pelos laboratórios internacionais, disputadas por muitos países. Não apoiou a produção de vacina pela Fiocruz, a qual nunca visitou, embora tentasse aproveitar esse resultado para minar a do adversário paulista.
Sempre apareceu em público sem máscara, não divulgou a necessidade de cuidados mínimos contra a disseminação do vírus e não tomou cuidados para prevenir a reincidência nos locais nos quais a doença matou milhares de brasileiros.
Agora, quando Manaus sofre nova e maior crise, vemos que não foram adotadas providências suficientes pelo governo federal para evitá-la e que as pessoas morrem por falta de equipamentos e produtos básicos, como cilindros de oxigênio.
Falta ar aos brasileiros.
Falta porque não temos um governo que se preocupe com isso.
Esse desprezo pela vida dos outros demonstrado o tempo todo pelo presidente Bolsonaro precisa ser analisado.
É uma doença? Uma psicopatia? Uma negação da realidade, um viver num outro mundo?
Parece que ele nutre um ódio profundo contra todos que são diferentes dele.
E é difícil parecer com ele.
Não é saudável.
Não é racional.
Não é bom para ninguém.”
Otavio Duarte é jornalista e escritor