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Em 60 dias, mil servidores pedem aposentadoria da Prefeitura de Curitiba

Em 60 dias, mil servidores pedem aposentadoria da Prefeitura de Curitiba

  Aroldo Murá Nos últimos 2 meses, cerca de 1.000 servidores municipais se aposentaram na P..

Pedro Ribeiro - quinta-feira, 4 de março de 2021 - 11:42

 

 

Aroldo Murá

 

Nos últimos 2 meses, cerca de 1.000 servidores municipais se aposentaram na Prefeitura de Curitiba. Somente no diário oficial 41, da última terça-feira,02/03, havia próximo de 150 pedidos de aposentadorias. Ninguém sabe explicar a causa do aumento dos pedidos de aposentadorias. Ainda. As indagações mais freqüentes, a partir de olhares mais atilados, centram-se numa dúvida metódica: ou são frutos da instabilidade na economia, criada pelo governo federal, ou pela instabilidade emocional do prefeito Rafael Valdomiro Greca de Macedo. Não haveria outra explicações para aquilo que já é classificado de “debandada”.

SECRETARIAS ESTRATÉGICAS

Os que pedem aposentadoria são servidores de diversas pastas, mas as maiores baixas acontecem em secretarias municipais estratégicas, como Saúde, Educação, Planejamento e Ippuc. O que impressiona a quem lê os editais no Diário Oficial do Município é que os pedidos estão abrangendo servidores ainda jovens, com faixa etária de 47 anos a 55 anos. Muito cedo para deixar a função pública, em qualquer país, e estranhável num Brasil marcado pelo desemprego e a falta de perspectiva de renda da população. Dona Matilde, atilada ouvinte e repórter desta coluna, ouviu no gabinete do alcaide, alguém perpetrar essa pérola: – É preciso contratar uma empresa de pesquisa para identificar essa estranha onda de aposentadorias…

ALTA VELOCIDADE

Independente de pesquisa, o que se sabe é que a velocidade de pessoas se aposentando está alta. Se no início da gestão de Rafael Valdomiro Greca de Macedo a Prefeitura contava com 34 mil servidores, hoje o número já caiu para quase 30 mil, sendo mil deles agora no início de 2021. A debandada trouxe à baila um leque de ideias e negócios duvidosos. A falta de servidores é vista como ampla oportunidade para a terceirização de serviços e espaços públicos. Tal como aconteceu – lembram-se? – quando o prefeito Greca de Macedo terceirizou a UPA da CIC, em agosto de 2018.

LEMBRA DA ATMED?

Na ocasião, a empresa Atmed, de Thyago Madureira, arrematou a gestão da UPA CIC, recebendo R$ 700 mil por mês. Em 2020, pessoas desse grupo de empresas, lideradas por Madureira, foram acusadas de irregularidades no governo Wilson Witzel. O que destituiu Witzel do cargo de governador do Rio de Janeiro.

O Ministério Público chegou a pedir para investigar o líder do governo de Greca, o vereador Pier Petruziello, porque havia indícios que ele atuava como lobista dentro da Prefeitura a favor do grupo Atmed. Nada ficou esclarecido. Petruziello estaria, pois, limpo, nesse caso.

 

NUCLEO DURO

As aposentadorias em séries trouxeram para mesa do núcleo-duro da Prefeitura o tema de terceirização. O foco continua sendo a Saúde onde há uma resistência grande da secretária da Saúde, Márcia Huçulak. Ela não gostou e até agora é avessa ao grupo Atmed. A posição de Márcia pode soar estranha a alguns bons observadores da política curitibana, pois ela é nome fortemente ligado a Luciano Ducci. E, ao mesmo tempo, uma fervorosa defensora da Feaes, fundação que contrata pessoal para Upas e o Hospital do Idoso. Essa fundação foi invenção do prefeito Ducci e do ex-secretário municipal da Saúde e deputado estadual, Michelle Caputo.

 

NO COMANDO DA FEAES

Dentro da Prefeitura dizem que a Feaes é comandada pela dupla Ducci e Caputo, tanto que a esposa de Caputo, Deise Sueli de Pietro Caputo, é a diretora de Compras da fundação. A retomada do interesse de terceirizar a Saúde vai gerar nova frente de batalha no gabinete de Greca.

E esse cenário pode piorar, pois há olhos grandes também pela ampliação dos serviços terceirizados em creches da cidade, considerados por homens e mulheres interessados em se utilizar do serviço público para seus projetos pessoais, como “uma poule de dez”. Afinal, as creches compram muito e contratam muitos serviços, sendo influentes nas áreas em que atuam.

CONTINUA FORTE

Saiu Mônica, e Jamur continua forte no gabinete. O Diário Oficial do Município de Curitiba da última terça-feira trouxe uma mensagem simbólica. Na mesma página em que se anunciava a exoneração de da jornalista do cargo de secretária municipal da Comunicação, havia a recondução de Luiz Fernando Jamur aos cargos de secretário municipal do Governo e a presidência do Ippuc. Jamur está forte, manda e desmanda. Ele se submete ao prefeito, que por vezes o trata duramente.

Tal como aconteceu recentemente quando foi chamado atenção pelo alcaide porque readmitira na Fundação de Ação Social uma competente ex-auxiliar de Gustavo Fruet. Mesmo assim, ele ganhou a autonomia para negociar com vereadores, decidir o destino de projetos, e também mandar na maioria dos secretários. Essas atribuições foram um dia divididas entre Jamur e Mônica, que era carne e osso com o prefeito. Essas mudanças, aparentemente surpreendentes, fazem parte da política que se pratica na Prefeitura: alguns ficam no meio da jornada…

Mônica volta para uma empresa de comunicação que praticamente sumiu do mercado quando ela passou a secretariar Greca. Admite-se que a jornalista, com o rol de relações no mundo oficial e a também com corporações que circundam o universo das coisas públicas, poderá dar um “up grade” na empresa que tem boa performance na área.

METAS NÃO CONCLUÍDAS

Em seu balanço, o Conselho Municipal de Saúde advertiu à Secretaria Municipal de Saúde da falta de cumprimento de metas estabelecidas em 2020. A maioria das metas demonstradas no balanço, como atendimento especiais a surdos e outras pessoas com deficiência, estava com 1% das metas atingidas. Apesar de apontar as falhas, o Conselho decidiu ponderar e dar uma chance para que a Prefeitura de Curitiba cumpra o que ficou para traz. E os conselheiros aceitaram que a pandemia da Covid-19 atrapalhou o trabalho da Saúde.

 

Aroldo Murá é jornalista

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