Pedro Ribeiro
(Foto: Maxi Franzoi/AGIF/Folhapress)

 

Quando dissemos, aqui, que Jair Bolsonaro, hoje no cargo de Presidente da República, deveria ser mais discreto em suas declarações e até mesmo respeitar os cidadãos para que seja respeitado e fique fora dessa escalada autofágica, tivemos reações contras e a favor nas nossas páginas, principalmente nas redes sociais.

Um presidente da República tem que se pautar pela discrição. Não pode ficar batendo boca com todos os que não concordam com sua gestão, pois é um direito do cidadão em se manifestar dentro de um regime democrático. Se o chefe da nação se sentir ofendido, ele tem dezenas de assessores especiais e meios para resolver a questão.

Quando um presidente dá indícios claros de que ignora, em todos os aspectos, a liturgia e o peso político e institucional de seu cargo, estamos diante de um desgoverno”, diz o Estadão em editorial de hoje.

O mesmo Estadão traz matéria sobre reunião entre o presidente da Câmara Rodrigo Maia, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes e o governador de São Paulo, além de mais 10 parlamentares, que discutiram as escaladas autoritárias do presidente Bolsonaro.

O caso da jornalista Patricia Campos Melo, da Folha de São Paulo, inflamou os ânimos de segmentos da sociedade que não concordam com esse tipo de agressividade, principalmente por parte de um presidente da República. Estas declarações dão margem à críticas, como faz, agora, o governador de São Paulo, João Dória que voltou a cobrar “diálogo e entendimento” com o Palácio do Planalto.

Governar não é ofender – seja a honra das pessoas, seja a inteligência alheia”, observa editorial do jornal paulista.

Em relação à postura da jornalista da Folha de São Paulo e de tantos outros repórteres que estão em campo cobrindo ações que envolvam o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e as instituições representativas da justiça, publicamos uma análise sobre o papel da imprensa feita pelo jornalista Alceo Rizzi, colega dos tempos em trabalhava no jornal O Globo e eu na Gazeta do Povo.

IMPRENSA NOS BONS TEMPOS

Não há um jornalista sequer que não tenha um posicionamento ideológico pessoal, isso não é nenhuma novidade. Mas, sempre houve, em outros tempos, uma fronteira em que as diferenças ideológicas com o entrevistado eram manifestadas de forma implícita nas tentativas de perguntas capsiosas e respeitosas, em que se tentava romper as barreiras com inteligência para embaraçar o raciocínio do interlocutor, expondo suas contradições. Ele tinha percepção que deveria haver cuidado no uso das palavras.

Um jogo de certa forma inteligente, em terrenos de embates mais racional que instintivo de ambos os lados, antipatias a parte. Nenhum jornalista fazia questão de se identificar ideologicamente, a maioria de esquerda, tempos do regime militar.

O corte temporal entre o antes e o agora aconteceu com o tal do jornalismo investigativo, que se fez importante em uma época e que ainda cumpre seu papel. Mas por despreparo e nos embates mais devotados a uma causa que ao discernimento, com certo descuido com os latentes instintos da cabeça feita, acabou confundido gerações, criou falso lastro de convicção de protagonismo cujo princípio basilar é de se fazer jornalismo explícita e ideologicamente compatível. Parece haver antes de tudo uma necessidade explícita em se identificar ideologicamente, talvez por insegurança profissional na ansiedade de um aval de confrarias, da febre da autofirmacão em seu meio ou mesmo por despreparo e falta de capacidade no exercício de um pensamento independente, ainda que sob análise ideológica. Nada, porém, que justifique, passe recibo ou atribua grandeza à grosseria abjeta cometida por um presidente em relação a um jornalista. Mesmo que, sob certo aspectos de comportamento, ambos se igualem, ainda que recusem a admissão , de que habitam involuntariamente o mesmo território.