Pedro Ribeiro
(Foto: Rodrigo Felix Leal/Seil)

Ao expor o que chamou de “briga de lavadeiras” à beiro do rio, referindo-se aos episódios da semana envolvendo o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Eduardo Ramos, chamando-o de “Maria Fofoca” e chegando à Presidência da Câmara onde Rodrigo Maia teria sido apelidado por Salles – o mesmo – de Nhonho, o Estadão desnuda, também, com propriedade, a trágica situação do país, principalmente do ponto de vista da economia e do emprego.

Em editorial o jornal coloca à discussão o tamanho do problema em questão ao emprego no país. O desemprego atingiu 14,4% no trimestre encerrado em agosto e está em franca aceleração – o índice foi de 12,9% no trimestre encerrado em maio e de 11,8% no mesmo período do ano passado. Já são 13,8 milhões de brasileiros procurando emprego sem sucesso.

Segundo o Estadão, foram fechados 12 milhões de vagas em um ano, reduzindo a população ocupada em 12,8% em relação a agosto de 2019. Só nos últimos dois trimestres, a população ocupada diminuiu 5%, o equivalente a 4,3 milhões de desempregados, e a maior parte das vagas fechadas era com carteira assinada.

Considerando-se também os trabalhadores subocupados – que trabalham menos do que podem – e os desalentados – que poderiam trabalhar, mas desistiram de procurar emprego e, por isso, não são considerados desempregados –, chega-se a uma massa de 33,3 milhões de brasileiros em situação crítica neste momento de grave crise.

Enquanto isso, o governo não parece ter se dado conta nem do tamanho nem da urgência do problema que lhe cabe administrar. Nos últimos dias, ministros importantes dedicaram energia a trocar ofensas em redes sociais, a maldizer colegas no Congresso e a provocar em termos infantis o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, justamente no momento em que a articulação política inteligente se faz tão necessária.

Fernando Henrique Cardoso não aborda a questão das briguinhas de lavadeiras, com pedido de desculpas às lavadeiras, mas coloca o dedo na feria ao avaliar que existe a necessidade urgente de o governo promover as reformas da administração e tributária. Ao que parece, o governo prefere brigar com o presidente da Câmara e travar as discussões que vem sendo desenvolvidas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.

A votação do Orçamento está travada no Congresso, graças a uma obstrução patrocinada pelos próprios governistas; nenhuma reforma avança, como consequência da inação e das barbeiragens do governo; e o Pantanal continua a arder, sob o olhar indiferente do ministro do Meio Ambiente.

Enquanto seus ministros se comportam como lavadeiras a brigar na beira do rio, o presidente da República, líder de todos eles, dedica sua atenção integral à sua campanha pela reeleição, inaugurando trecho de obras, bebendo guaraná em botequins e prometendo “mandar embora o comunismo no Brasil”. Entre um evento e outro, o presidente achou tempo para dizer que “está dando certo a economia nossa” – frase em que o mau português é o menor dos problemas.

O caos em Brasília é o retrato de um governo cujo presidente fez carreira política com o discurso da destruição e da discórdia. Seus ministros brigões só estão se inspirando no chefe. (Mais detalhes no Estadão)