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Forças campesinas se preparam para fazer barulho este ano

Forças campesinas se preparam para fazer barulho este ano

Os movimentos campesinos prometem barulho neste ano. Olhando notícias em sites encontrei uma que chama a atenção, não pe..

Pedro Ribeiro - quinta-feira, 14 de janeiro de 2021 - 08:59

Os movimentos campesinos prometem barulho neste ano. Olhando notícias em sites encontrei uma que chama a atenção, não pelo silêncio temporário, mas pelas ameaças futuras: MST e as bandeiras para 2021.

Segundo o MST, nas palavras escritas pela jornalista Fernanda Alcântara, é comum a reflexão sobre algumas perspectivas e desafios que, de modo geral, enfrentaremos em 2021.

Segundo o MST, “diante de um governo que parece se alinhar com o vírus e se mostra todos os dias incapaz de lidar com as consequências da pandemia, temos reiterado que a esperança precisa vencer o horror destes tempos e, para isto, é preciso organizar e planejar as frentes de luta que nos aguardam neste novo ano. Ainda que as saídas não sejam simples e não se resumam a curto prazo, esperançar virou sinônimo destes novos desafios propostos para 2021”.

Nesta conjuntura é preciso organizar e mobilizar de todas as formas possíveis uma frente ampla e popular, que reúna os movimentos populares que integram a Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo, centrais sindicais, partidos políticos, movimentos interreligiosos, entidades civis, coletivos de juventude, artistas e intelectuais.

O MST selecionou 6 pontos de devem entrar na pauta deste movimentos este ano, que se baseiam em torno da defesa de medidas urgentes e dos interesses populares. Universalizar o acesso à vacina é apenas o primeiro passo destas lutas, que pode abrir espaço para mobilizar as massas, alterar a correlação de forças e ir pavimentando um caminho que represente um novo projeto para o país.

Segundo Stedile, as eleições de 2022 são uma etapa nesse processo para congregar as forças políticas em torno desse novo projeto. “Por isso, o debate não pode se limitar a disputas menores de nomes e partidos. Se não construirmos essas alternativas, certamente a crise se aprofundará e terá um custo cada vez maior para o nosso povo”, finaliza.

1. Vacina para todas e todos

Começamos 2021 com a luta pela vacina já, pública e para todos os brasileiros, de forma urgente e prioritária, fortalecendo o SUS com os recursos necessários. É imprescindível que todos caminhem juntos, solidariamente, sem exclusões, para a erradicação da covid-19 do mapa do Brasil.

É preciso vacinar toda a população brasileira, em especial aquele contingente de 60 milhões de adultos abandonados à sua própria sorte, sem emprego, renda e futuro. Não se vence uma pandemia isoladamente, e assim, a luta é de todos por saúde, saúde para todos.

Atualmente, a vacina contra o Covid-19 ainda não foi assegurada pelo governo Bolsonaro, principalmente para a parcela da população mais excluída desse processo, em razão do sucateamento do SUS feito pelo governo Bolsonaro. É urgente lutar para que a vacinação seja universal, enquanto um direito dos povos da cidade, do campo, dos rios e das florestas!

2. Auxílio Emergencial e emprego

Existe uma leitura mais estruturante e histórica de que nós estamos em uma fase de profunda crise do capitalismo e do modo de produção. A crise sistêmica e, portanto, vai ser prolongada, não vai terminar com a vacina.

Com o avanço da segunda onda da doença e o fim do auxílio, as perspectivas para o próximo ano não são nem um pouco otimistas já que o necessário recrudescimento das normas pela pandemia e o corte do auxílio emergencial vão causar danos consideráveis à economia.

A realidade é que as pessoas terão menos renda disponível no Brasil em 2021, já que dezenas de milhões perderão a renda do auxílio emergencial. Por isso, é necessário e urgente não só a garantia do auxílio emergencial, mas também um plano nacional de emprego para enfrentar a pandemia do desemprego.

3. Garantir o abastecimento e o acesso a alimentos saudáveis, com preços controlados

Essa pauta tem como base um projeto fundado na universalização dos direitos a educação, saúde, terra, moradia digna e de cultura. Só um projeto que combata a desigualdade social poderá construir uma sociedade mais justa, com igualdade e harmonia.

Atualmente, a discussão gira em torno principalmente da Lei Assis Carvalho, que visava se antecipar para o enfrentamento ao risco de desabastecimento, alta no preço dos alimentos e ampliação ainda maior da fome. Mesmo com alguns pontos de fora, a Lei Assis Carvalho apresentou propostas muito importantes para o enfrentamento dessa crise alimentar e foi aprovado na Câmara e no Senado Federal, mas foi vetada pelo Governo Federal, sob argumentos falaciosos. Atualmente, a Lei se encontra em trâmite para Congresso, que tem o poder de derrubar os vetos do Bolsonaro.

4. Sem privatizações

Os direitos sociais, trabalhistas e previdenciários assegurados na Constituinte devem ser recompostos, e isso implica na defesa irredutível da Eletrobras, os Correios, a Caixa, o Serpro, a Petrobras.

Além disso, uma área equivalente a duas vezes a região Sudeste do Brasil corre o sério risco de ficar disponível para a compra por estrangeiros, caso vingue o Projeto de Lei (PL) 2.963/2019, que facilita o acesso de estrangeiros a terras brasileiras. Aprovado pelo Senado, a proposta autoriza a compra de até 25% da área de municípios brasileiros, trazendo riscos não só para a soberania nacional, mas para a segurança alimentar dos brasileiros.

5. Contra os vírus e as violências

Se por um lado falta representatividade, capacidade e moral por parte do governo em entender as pautas sociais e as lutas por igualdade, sabemos que a base do povo brasileiro tem em sua maioria é de mulheres, chefes de família, jovens, negros e que moram nas periferias das cidades. É preciso que a luta se firme na defesa dos direitos desta parte da população para que todos tenham condições de viver em uma sociedade mais justa.

A violência doméstica aumentou em todo o Brasil durante o período de isolamento social. Entre os meses de março e abril de 2020, durante a pandemia do coronavírus, apontou que os casos de feminicídio no País aumentaram em 5% em relação a igual período de 2019. Essa nova realidade em meio à pandemia também chega aos trabalhadores e trabalhadoras do campo, e como alternativa para combater os casos de violência doméstica e outros tipos de violência contra a mulher, em abril o MST lançou a Campanha “Mulheres Sem Terra: Contra os Vírus e as Violências”.

Campanha “Mulheres Sem Terra: Contra os vírus e as violências

Este ano também serão realizados debates e encontros sobre Diversidade Sexual e de Gênero e Reforma Agrária Popular, com o objetivo reunir militantes e intelectuais do Movimento LGBT sobre os desafios desta luta na atualidade a partir da perspectiva marxista, partindo das categorias de raça, patriarcado e capitalismo, e analisando como a LGBTfobia se materializa nas relações sociais, políticas e culturais.

Há também a perspectiva de 2021 é que a onda de denúncias do racismo que estrutura nossa sociedade continue este ano. Junto com o movimento negro, exigimos justiça pela brutalidade com que a população racializada se afronta todos os dias, de forma letal e não letal.

6. “Fora Bolsonaro”

Algumas análises políticas apontam que o resultado das eleições norte-americanas podem significar novos ares na América. “Vamos ter eleições em fevereiro no Equador, depois no Peru e depois no Chile. As forças progressistas vão ganhar essas três eleições, e isso vai então alterar a correlação de forças na América Latina. Praticamente vai ficar apenas o Brasil como um governo direitista”, explicou João Pedro Stedile, da direção nacional do MST, em entrevista ao Brasil de Fato.

Segundo Stedile, o atual governo não tem condições para enfrentar os problemas nacionais e, atualmente, há mais de 50 pedidos de impedimento dormindo na Câmara dos Deputados. Um relatório sobre a situação dos direitos humanos em mais de 100 países, realizado pela organização não governamental Human Rights Watch, aponta para a péssima atuação do governo do presidente Jair Bolsonaro diante da pandemia de covid-19 e do desmatamento na Amazônia.

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