Pedro Ribeiro
(Foto: divulgação)

 

O isolamento imposto pelo Palácio do Planalto ao vice-presidente, General Hamilton Mourão, sinaliza com ruptura nas eleições de 2022. Há tempos ele tenta saber, sem sucesso, por que Bolsonaro o deixa apartado das discussões no Palácio do Planalto, não o chama para reuniões ministeriais ou conversas reservadas e muito menos para viagens, como a desta quinta-feira, 27.

A jornalista Vera Rosa, repórter especial do Estadão em Brasília, informa que em visita a São Gabriel da Cachoeira (AM) para inauguração de uma ponte, Bolsonaro estava acompanhado de cinco generais, entre os quais o ministro da Defesa, Braga Netto; o comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, e o comandante militar da Amazônia, Estevam Cals Gaspar de Oliveira. Mourão preside o Conselho da Amazônia Legal e não foi convidado.

Segundo sua pesquisa, são vários os episódios que revelam o isolamento e a solidão do vice-presidente. Ao passar uma descompostura no ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, a quem chamou de mal-educado por não ter comparecido, nesta quarta-feira, 26, à reunião do Conselho da Amazônia nem mandado representante, Mourão escancarou seu mal-estar no governo. A portas fechadas, o vice avalia estar sendo sabotado pelo ministro, que tem o apoio de Bolsonaro. Salles é alvo de uma operação da Polícia Federal que investiga um esquema de exportação de madeira ilegal.

Na noite de 27 de abril, por exemplo, Bolsonaro promoveu um jantar no Palácio da Alvorada com a cúpula do PRTB, partido que tem Mourão como seu mais importante filiado, mas não convidou o vice para o encontro.

Com pressa em recuperar a popularidade perdida e em campanha pela reeleição, o presidente está em busca de um partido, mas as negociações com o PRTB não prosperaram. “Ninguém quer entregar o osso aí para a gente. Querem entregar só o casco do boi”, disse ele, recentemente, em conversa com apoiadores. Pelo PRTB, Mourão pretende se candidatar ao Senado, em 2022, pois tem certeza de que não será novamente chamado para compor chapa com Bolsonaro. E, mesmo que fosse, provavelmente não aceitaria.

O divórcio entre Bolsonaro e Mourão já está em curso, mas longe dos holofotes. Nos últimos dias, o presidente demonstrou extrema irritação com o vice por ele ter dito que Eduardo Pazuello havia posto “a cabeça no cutelo” e entendido seu erro ao participar de ato político no domingo, no Rio. Detalhe: quem passou o microfone para Pazuello falar foi o próprio Bolsonaro, que quer ver o ex-ministro como candidato a deputado federal e faz com ele uma espécie de treinamento intensivo de palanque.