Pedro Ribeiro
(Foto: divulgação)

 

Dois textos de dois jornalistas amigos – velha guarda – publicados nas redes sociais deste final de semana, me chamaram a atenção. O do Jorge Mosquera (ex-Estadão raiz), pela propriedade com que analisou a passagem do Natal com foco no tecido fino da sociedade, onde desnudou a cortina de fumaça, de mentiras, que cobre a nação, com falsas promessas de ajuda aos excluídos, hoje, um batalhão que chega a 20 milhões de pessoas que passam fome.

Soma-se a este contingente, outros 13 milhões de brasileiros desempregados e a maioria endividada. Portanto, um Natal terrível. Jorjão se aprofundou no tema e, com seu texto crítico e afiado, atingiu o coração. Também deixou, nas entrelinhas, a culpa, a responsabilidade, de um Congresso Nacional omisso e um governo irresponsável, mais preocupado em se reeleger do que governar para o povo.

Texto do Jorjão

Muitos colegas e amigos passarão estas festas de fim de ano desempregados.

E os que assim estão há mais tempo estarão sem grana para presentear os pais, companheiros/as e filhotes, netos.

Isso é apenas uma espécie de etiqueta destes tempos malditos, que por baixo levaram à morte 600 e tantos mil brasileiros e jogaram milhões de zumbis escada abaixo.

Eu, que estou aposentado (minha situação é até confortável), mas gostaria de estar trabalhando, pra falar a verdade sinto saudade até daqueles malditos plantões de fim de ano. Aos que estão nessa situação passageira (espero), minha solidariedade e meu fraterno abraço. Lembro-me que já passei por isso em alguns natais e lhes digo: encerrar um ano e começar do mesmo jeito não é fácil.

Minha mãe, nos momentos difíceis, me ensinava: não há mal que sempre dure e nem bem que nunca se acabe. Essa visão ambígua, meio fatalista, é a da realidade. E a nossa é muito triste, trágica.

Acabou-se o pouco bem que havia e este mal enlouquecedor está durando demais.

Mas, apesar de tudo, nós até somos uns privilegiados da classe mérdia.

No limite ainda temos a rabanada e a Cidra Cereser.

E aqueles outros… eles sempre terão Paris.

Quem andou pelas ruas por este ano, meses, dias, deu de cara com um Brasil que os mais novos não conheceram. Estamos diante de uma miséria que mata nossos irmãos com menos sorte que vocês, nós, dia a dia, hora a hora.

Vejo um Brasil com cara de pré-revolução francesa, sem revolução à vista. Nossas crianças chorando de fome nas esquinas, velhos com papelões suplicando ajuda, qualquer ajuda, jovens oferecendo seu trabalho, qualquer trabalho por comida, qualquer comida.

O Brasil suplica por qualquer coisa, qualquer coisa, qualquer coisa que bem sabemos o que é.

Nossas, sim, nossas, famílias de favelados e seus carrinhos de sucata e de bebês – ou de bebês dormindo na sucata e chorando de dor de barriga de fome -, nossos moradores de rua, cristos sem cruz, nossos índios jogados nos gramados por nossos governantes (em Curitiba especialmente o odioso déspota esclarecido), nossos catadores que viraram mendigos, nossos mendigos que comem lixo, nossos vendedores de sinal vermelho com seus pacotinhos de balas Deus te Abençoe a doirreal esperam qualquer coisa, qualquer coisa, qualquer coisa…

Em 2022, qualquer coisa pode acontecer, muita coisa precisa acontecer, acontecer o quanto antes.

No ultralimite, você ainda terá seu voto para disparar.

Eles estão nos matando.

Em Brasília, 21h15.

Tic-tac, tic-tac.

 

O outro texto é de Alceo Rizzi (ex- Globo e Gazeta Mercantil) que, igualmente, carregou nas tintas ao condenar as ações do atual ocupante do Palácio do Planalto que negligenciou a saúde com a vacina durante o pico da pandemia e agora, igualmente, voltou a interferir na ciência na tentativa de coibir vacina para crianças. Uma insensatez, uma falta de responsabilidade e uma delinquência sem tamanho, pontua em suas linhas.

Como jornalista, agora na primeira pessoa e pessoal, concordo com os dois brilhantes jornalistas e com seus que devem colocar um ponto de interrogação ou, pelo menos, chamar a atenção dos futuros pretendentes a cargos no Executivo e no Legislativo, para que tenham, no mínimo, a responsabilidade civil e democrática de nos representar no Congresso nacional.

 

Texto do Alceo

O sujeito já não se contenta mais em ser apenas sócio do vírus e de ter ajudado a empilhar cadáveres pelo País afora desde o início da pandemia ao se negar e atrasar a compra de vacinas. Agora, tomado por espécie de furor de psicose infanticida, parece ter descoberto um novo motivo para dar sentido a sua existência, além de se tornar líder de uma rede de delinquentes que ameaçam de morte aqueles que se importam com a vida. Esse fundo de poço parece que nunca acaba.

 

Parabéns Jorjão e Alceo.