Pedro Ribeiro

O presidente Jair Bolsonaro deixou a população brasileira na expectativa, para não dizer em estado de choque na tarde desta segunda-feira, quando reuniu seu Ministério com o firme propósito de demitir o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Depois de uma longa reunião que durou pouco mais de duas horas, Bolsonaro foi aconselhado pelos seus auxiliares de farda a não efetivar a demissão do ministro em função do momento em que vive o país com a população com os nervos à flor da pele.

Em entrevista à imprensa, Mandetta reafirmou posição do Ministério da Saúde de manter o distanciamento social pra salvar nossos idosos e nossas famílias. Disse que não é dôo da verdade e que é apenas um porta-voz do Ministério da Saúde, onde tem uma das melhores equipes de cientistas e técnicos para combater a pandemia. “Minhas gavetas já estavam sendo limpas, mas vamos continuar e focados no nosso inimigo que tem nome e sobrenome e se chama coronavírus”, observou.

“O médico não abandona o paciente e não vamos abandonar ninguém, embora tenhamos muitas perguntas ainda sem respostas. Vamos seguir as orientações dos governadores em manter o distanciamento social para que essa doença não se espalhe junto às pessoas mais vuleráveis, como nas favelas das grandes cidades”, disse o ministro.

Ao mesmo tempo em que o clima era tenso no Palácio do Planalto, no Ministério da Saúde, funcionários preparavam uma salva de palmas ao ministro Mandetta que deixou o prédio para se dirigir à reunião não sabendo se voltaria apenas para limpar as gavetas. As reações com sua possível saída tomou conta das redes sociais e seu nome foi o mais comentado no twitter em todo o mundo. Ninguém queria, neste momento, a saída de Mandetta, porque poderia haver atrasos na gestão da saúde em relação ao combate à Covid-19 e ao coronavírus.

Bolsonaro e Mandetta conversaram no Palácio do Planalto. Embora o diálogo não tenha sido de cordialidade, pelo menos houve o consenso de que, em primeiro lugar está a saúde do povo brasileiro. Mandetta disse que cumprirá as ordens da Presidência da República, mas manterá o programa de combate à Covid-19 e ao novo coronavírus.

O presidente, ao ignorar a imprensa na saída do Palácio do Planalto, demonstrou que o encontro foi tenso e que não conseguiu adotar as medidas que queria. Como os repórteres fez, recentemente, ao deixá-lo sozinho em frente ao Palácio do Alvarada, hoje foi a vez de Bolsonaro deixar os repórteres a ver navios. Saiu do encontro, se postou para entrevista, mas recuou e entrou no carro e foi embora.

A temperatura deve ter sido medida pelos seguidores de Bolsonaro nas redes sociais e a conclusão foi de que não seria o momento apropriado, pois o governo poderia sofrer revés político em todo o país. Em São Paulo houve panelaço tão logo a população ficou sabendo que Bolsonaro demitiria Mandetta.

Bolsonaro recuou e tomou a medida certa, porque isso poderia levar a população brasileira a um sentimento de desamparo, já que há um sentimento nacional de confiança nas ações da equipe de Mandetta. Recente pesquisa mostrou que o ministro que vem lidando com a Covid-19, tomando medidas drásticas e até contrárias ao mandatário Jair Bolsonaro tem 79% de aprovação.

Seria um balde de água fria numa população assustada com a doença que levou à lona as duas maiores potencias do mundo: Estados Unidos e China, além das nações desenvolvidas da Europa. Esperamos que o presidente Jair Bolsonaro, com sua decisão, saiba o que está fazendo para salvar vidas brasileiras porque, caso contrário, sucumbirá junto com Mandetta e terá sérios problemas de gestão pela frente.

Isso sem contar que Mandetta, como deputado federal, tem certa credibilidade no Congresso Nacional, hoje comandado por Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre. Todos sabem, até mesmo o presidente, que ele precisa do Congresso Nacional para aprovar justamente as medidas econômicas e sociais de combate à enfermidade que vem se espalhando pelo país.

Também no Supremo Tribunal Federal Bolsonaro poderia sofrer sucessivas derrotas a notar pelas declarações do ministro Gilmar Mendes que disse ao site jurídico Jota, que existe “um vácuo de liderança” não apenas no Brasil, mas em todo o mundo para o enfrentamento ao novo coronavírus.

Mendes disse que no cenário atual, ganham destaque a atuação de governadores, de prefeitos e do Congresso e defendeu a atuação dos militares na organização do país diante da pandemia. O ministro declarou ainda que, se Jair Bolsonaro baixar uma norma revogando o isolamento social como medida de contenção, provavelmente a medida será derrubada pelo Supremo.

” Tenho muita dúvida se algum tribunal vai validar eventual decisão do governo federal que contrarie as orientações da OMS. Acho que nenhum juiz do Supremo Tribunal Federal vai validar esse tipo de entendimento.” , disse o ministro do STF.