Pedro Ribeiro

 

“Das mãos de Deus recebemos um jardim; aos nossos filhos não podemos deixar um deserto”. (Papa Francisco)

Luiz Claudio Romanelli

Quando uma pessoa procura um médico, ao sentir algum sintoma diferente no organismo, ela busca um diagnóstico para, imediatamente, iniciar o tratamento e resolver o problema de saúde. Caso este roteiro lógico fosse aplicado quando o assunto é o bem estar do ambiente em que vivemos, poderíamos estar num estágio muito melhor que o atual.

Não faltam diagnósticos alertando que a natureza está doente. Também não faltam indicações de tratamento para sustar ou evitar uma degradação ainda maior do meio natural. Mas falta protagonismo à espécie humana para aplicar a profilaxia necessária. Falta que cada pessoa assuma a responsabilidade pela preservação e recuperação do Planeta.

Os sintomas das moléstias afetam o globo e são sentidos por todos. A crise hídrica vivida pelo Paraná é uma chaga bem próxima de nós. A onda de calor no Hemisfério Norte causou mortes em algumas das sociedades mais desenvolvidas do mundo. Temporais e incêndios apavoram a Europa e o norte da África. Não à toa, o fenômeno que causa estes estragos foi batizado de Lúcifer.

A estes eventos recentes se somam frequentes situações climáticas trágicas. Há diversas catástrofes registradas ao redor do mundo nos últimos anos. As ocorrências estão cada vez mais fortes e não há razão para não acreditar que isso tudo é consequência da ação do homem sobre o meio ambiente.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) divulgou dados nesta semana que nos colocam no banco dos réus. Em resumo, o estudo diz que as mudanças climáticas causadas pelos seres humanos são irrefutáveis, irreversíveis e causaram um aumento expressivo da temperatura do planeta.

O relatório do órgão, que é ligado à ONU, mostra que o mundo aqueceu cerca de 1,2°C desde o início da era industrial. E não há perspectiva de reversão. A realidade é muito ao contrário. A previsão é que o aquecimento avance de 1,5º C a 2º C nas próximas décadas se não houver profunda redução nas emissões de CO² e de outros gases de efeito estufa.

Ou seja, se nada for feito, as próximas gerações conviverão com um clima ainda mais descompensado e enfrentarão os efeitos disso na pele, literalmente.

Não é de hoje que há avisos da degradação ambiental e de suas consequências. Vamos nos concentrar nos últimos 50 anos. Em 1972, a Conferência de Estocolmo já alertava sobre os efeitos da poluição humana. Em 1988, o climatologista James Hansen deu outro grito de alerta. Aí vieram a conferência Rio 92 e o Protocolo de Kyoto, de 1997. Mais recente, foi assinado o Acordo de Paris, em 2015.

Desde 1992 as nações anunciam boas intenções, mas ainda nos confrontamos com os mesmos temas que animaram aquele encontro realizado pelas Nações Unidas no Rio de Janeiro. E o recente relatório do IPCC nos condena por aquilo que deixamos de fazer em favor do meio ambiente.

O estudo do IPCC demonstra que os governos, as empresas e os indivíduos falharam. Muitos dos compromissos assumidos nas últimas três décadas estão mais no papel do que na prática. A Carta da Terra, elaborada a partir dos preceitos acordados no início dos anos de 1990, parece que não chegou a todos os destinos.

Por óbvio, estamos mais conscientes. Houve algum aprendizado. Contudo, o resultado disso são conquistas que ocorrem numa espécie de voo de galinha, aquele que não tem sustentação, é desconjuntado e curto. Além disso, é bastante episódico e ocorre mais em razão de sustos ou necessidades imediatas.

A novidade em relação ao tema ambiental é a (re)entrada dos Estados Unidos neste debate, agora com a firme disposição do presidente Joe Biden de transformar o País numa economia mais sustentável. É como colocar em movimento uma potente locomotiva, com capacidade para puxar o trem da história, independentemente do número de vagões.

Está evidente que não podemos mais andar em círculos e que os problemas do ambiente só serão resolvidos por ações individuais e coletivas em larga escala. Sem novos comportamentos, o planeta Terra sofrerá, mas não tenha dúvidas de que sobreviverá à ação do homem. Já o inverso é bastante duvidoso.

Mudar nossos costumes só depende da gente. A pandemia do novo coronavírus ensinou que, quando quer, a humanidade se une em torno de uma causa comum. Que esta lição sirva para proteger o nosso planeta de nós mesmos. É hora de agir e garantir a vida das futuras gerações.

Luiz Claudio Romanelli, advogado e especialista em gestão urbana, é deputado estadual e vice-presidente do PSB do Paraná.