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“O PROFESSOR DE MUITOS, JORNALISTA COMPLETA 80 ANOS”

“O PROFESSOR DE MUITOS, JORNALISTA COMPLETA 80 ANOS”

Do Blog do Fábio Campana“Um dos principais nomes da imprensa paranaense completa hoje (29/7) 80 anos. Aroldo Murá..

Pedro Ribeiro - quinta-feira, 30 de julho de 2020 - 10:22

Do Blog do Fábio Campana

“Um dos principais nomes da imprensa paranaense completa hoje (29/7) 80 anos. Aroldo Murá G. Haygert, o professor Aroldo, como é conhecido por todos, foi entrevistado em 2017 por Marleth Silva na ocasião do lançamento do Vozes do Paraná 9, série em que se dedica a traçar perfis de personalidades do Paraná.

Parabéns, professor Aroldo!”.

Ele ouve as vozes do Paraná

Por Marleth Silva

Na história da imprensa do Paraná ele é “o professor Aroldo Murá”. Há 57 anos entrevista, escreve, descobre. Menino ainda, foi redator de uma revista dirigida por Dino Almeida, depois correspondente dos Diários Associados, repórter do jornal carioca Diário de Notícias (“Tinha que trabalhar de terno com aquele calorão do Rio. Um horror!”). Pela revista da Esso, circulou pela Amazônia. Trabalhou em vários veículos até que, nos anos 80 tornou-se o “professor Aroldo, do Indústria & Comércio”, jornal que dirigiu por 11 anos e por onde passaram dezenas de jovens jornalistas.

Como todo curioso, Aroldo Murá tem interesse em qualquer pessoa que cruze seu caminho, do motorista de táxi ao estudante que o procura em busca de um estágio, do capitão da indústria ao religioso silencioso. Sua memória impressiona: não esquece nada do que as pessoas lhe revelam, por mais singelos que sejam os fatos. Por isso não é de se estranhar que, aos 77 anos, uma de suas ocupações seja produzir, todos os anos, um livro de perfis jornalísticos em que retrata personagens que circulam ou circularam pelo Paraná. A nona edição da coleção “Vozes do Paraná – Retratos de Paranaenses” reúne 21 personagens, que são retratados em duas etapas: um jornalista conta a trajetória e Aroldo traça o perfil psicológico. É ele quem explica como seleciona seus personagens: “Sempre se fala do Paraná dos pioneiros. Esta é minha tentativa de mostrar quem está fazendo o Paraná hoje. Tem pessoas no livro que não são conhecidas. Mas eu sei que elas têm um contributo importante.” A ideia é colocar lado a lado pessoas mais antigas e mais jovens, conhecidas e menos conhecidas, representantes de vários segmentos.

“Vozes do Paraná” é um projeto cuja execução se estende ao longo de um ano e resulta em um livro de mesa, com muitas fotos. “Só consigo fazer o livro porque tenho a colaboração do Luiz Fernando Queiroz e da esposa, Elin, que bancam o projeto”, conta.

INFÂNCIA E JUVENTUDE

Aroldo Murá Gomes Haygert é gaúcho de São Francisco de Assis. Seu pai, Manoel, era estatístico e ingressou através de concurso no DASP (Departamento Administrativo do Serviço Público), que Getúlio Vargas criara para modernizar a administração pública. A trajetória profissional do pai fez Aroldo morar em várias cidades, entre elas Irati, onde passou os melhores anos de sua infância, Londrina, Lapa, Porto Alegre. De Manoel, ele recorda a inventividade: criou um curso por correspondência que batizou de Pombo Correio, para preparar candidatos ao concurso público para estatísticos. “Ele fazia tudo em mimeógrafo e enviava pelo correio.”

Em Curitiba, Aroldo estudou no Colégio Estadual, frequentou com entusiasmo a Juventude Estudantil Católica, na Catedral, e “morou” na Biblioteca Pública do Paraná – até dirigiu um jornalzinho chamado “A Voz da Biblioteca”. Atualmente, além do projeto Vozes do Paraná, ele produz uma newsletter e dirige o Instituto Ciência e Fé.

IDEIAS: O senhor tem feito descobertas interessantes com o projeto Vozes do Paraná?

Aroldo Murá: Sim, são muitas. Para citar uma, lembro o Rafael Museka. Eu peguei um táxi e comecei a conversar com o motorista, um rapaz que me contou que tinha voltado recentemente do exterior. Aí veio minha curiosidade jornalística e comecei a fazer perguntas. Ele contou que esteve na Legião Estrangeira! Para testar se aquilo era verdade, falei com ele em francês. Descobri um rapaz arredio, criado pelo avô ucraniano e pela mãe dentro de um acampamento do MST e que foi muito influenciado pela Igreja Católica. Ele botou na cabeça que queria ir para a Legião Estrangeira. Fez o serviço militar aqui na 5ª região, em Curitiba, vendeu o pouco que tinha e foi embora. Esteve até no Afeganistão.

Qual o papel dos perfis in memoriam e da nova geração?

Eu incluo estas duas categorias quando sinto que localizei alguém interessante, relevante. No conjunto, eu procuro ajudar as pessoas a refletir sobre a importância de algumas personalidades. A sociedade às vezes não conhece a dimensão da contribuição daquele personagem. Nesta nova edição uma grata descoberta é o arcebispo metropolitano de Curitiba dom José Antônio Peruzzo, um religioso equipadíssimo do ponto de vista cultural. O que me impressiona nele é a formação. Sem dúvida é um dos melhores quadros da Igreja Católica no Brasil. É um exegeta que foi dominando as línguas básicas para estudar a bíblia. Para estudar as escrituras é melhor fazê-lo nos originais, que foram escritos em grego, hebraico e aramaico. Ou seja, ele precisou dominar estes idiomas.

O senhor vê um caráter histórico nesse trabalho que está fazendo?

Não, vejo uma documentação jornalística, que fornece elementos para análises históricas futuras. Por exemplo, para ficar nos personagens que já citamos aqui, a hora em que alguém for pesquisar os exegetas brasileiros, o que pensam sobre a atualidade da Bíblia, vai encontrar o registro que fiz com dom Peruzzo. Eu não escrevo história, eu escrevo perfis biográficos, que é completamente diferente. O que eu faço não beira a história porque eu não me socorro de ciências auxiliares. Eu dou o fato com uma visão jornalística, mas dou muita importância para a minha visão daquela pessoa. Se eu fosse biógrafo eu teria que mostrar os prós e os contras. Eu não pretendo omitir nada, mas escolho os ângulos que mais me sensibilizam.

Fazer estes textos é uma fonte de prazer para o senhor?

Muito. É verdade que alguns são difíceis, mas existe a redescoberta de pessoas que, às vezes, eu já conhecia. Por causa do livro tenho a oportunidade de me sentar diante dela e descobrir como ela conta a história de sua vida. Com o (médico) Jayme Guelmann, que eu entrevistei alguns meses antes de ele morrer, foi assim. Também foi assim com o (artista plástico) Fernando Velloso. Além disso me sinto recompensado por revelar ou lembrar atores de trabalhos silenciosos, como o Ricardo Pussoli, que tinha uma história belíssima, um homem de origem humilde que se transformou em um empresário importante.

As pessoas gostam de falar sobre si mesmo ou se intimidam?

Algumas ficam ansiosas porque têm tanto para contar e tão pouca oportunidade. Eu tenho a chance de ouvir histórias fantásticas, de conhecer pessoas com vidas muito ricas. Estou sempre aprendendo.

Qual o papel do catolicismo na sua vida? As pessoas relacionam o senhor com catolicismo.

O que eu tento ser é cristão. Nunca fui de participar de movimentos com exceção da Ação Católica, na juventude. O catolicismo sempre foi importante, teve períodos em que me afastei e depois voltei, mas eu procuro acima de tudo ser cristão. Com o tempo o que me interessou foi estudar o fenômeno religioso, que eu passei a ver como importantíssimo. Descobri Mircea Eliade, que é o grande estudioso do fenômeno religioso. Comecei a me interessar muito pelos pentecostais já no início dos anos 60. Fiz os primeiros registros sobre a existência da igreja Brasil Para Cristo, cujo pastor Manoel de Melo eu vi no Parque da Redenção, em Porto Alegre, numa manhã, pregando. Ele era um pedreiro, analfabeto. Dois anos depois ele havia se tornado poderoso, atraia multidões. Fui entrevistá-lo e, como bom repórter, fiz perguntas que ele julgou marotas. Ele me disse: “Acontece que eu não sou um jornalista que ganha salário mínimo como você” (risos). Mas a partir disso, sem nenhum rancor, eu comecei a estudar os fenômenos de cura.

E esse interesse persiste?

Muito. Eu cheguei a preparar um livro sobre o assunto, mas eu fui obrigado a deixar de lado por causa da necessidade de manter a vida profissional. Tudo isso me levou a discutir a criação do Instituto Ciência e Fé, que começou na sala do meu apartamento com o professor Newton Freire-Maia e a Eledi, o Euclides Scalco, o Belmiro Jobim Castor e a Elisabeth, o Luiz Carlos Martins e a esposa. O Instituto é uma forma de manter um debate de bom nível. Da minha parte, continuo com minhas leituras e minhas descobertas.

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