Pedro Ribeiro
Foto: DER PR

Alceni Angelo Guerra

Atendi uma criança morrendo por insuficiência respiratória, em uma tarde fria em meu

consultório de pediatria, no interior do Paraná.

De minha bronca na mãe por não ter levado a criança antes, surgiu um ministro da

Saúde, 14 anos depois.

– Porque de manhã os senhores só atendem quem paga a consulta, depois atendem os

convênios, e eu só tenho INPS – disse-me a mãe, chorando. Contou-me que em sua rua, só ela

tinha INPS.

– E os outros? – perguntei.

– Os outros morrem, doutor!

Salvei a vida de menininha, e costumo dizer que ela salvou a minha. Entrei para a

administração pública, fui a todas as conferências nacionais de saúde, fui constituinte, e como

Ministro da Saúde conversei com milhares de brasileiros e fiz a Lei 8080 de junho de 1990, um

consenso nacional.

O Presidente da República vetou os artigos que lhe davam o controle social, e eu pedi

demissão. Collor não aceitou, e com muita grandeza me determinou que fizesse outra lei, com

os vetos, e surgiu a lei 8142, de dezembro de 1990. As duas leis construíram o SUS, o maior e

melhor sistema de saúde do mundo, disse Barack Obama, alguns anos depois.

Hoje, em plena pandemia, ninguém precisa apresentar carteira do INPS, nem qualquer

identificação do SUS, em nenhum posto de atendimento, o SUS é universal, gratuito, e igual para

todos. Mesmo para quem esqueceu a identidade em casa, o SUS atende antes e pergunta

depois. E não existe carteira do SUS.

*Alceni Ângelo Guerra, médico pediatra e ex-ministro da Saúde, responsável pela

implantação do Sistema Único de Saúde, comentário à respeito de falsas informações que

circulam nas redes sociais de que que seria obrigatório a apresentação de carteirinha do SUS

para quem deseja tomar a vacina contra a Covid-19