Pedro Ribeiro
(Foto: Bruno Slompo/CMC)

No Palácio do Planalto, o clima é tenso em relação ao vídeo gravado da reunião do presidente Jair Bolsonaro com os ministros dois dias antes de Sergio Moro pedir a demissão do cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública.

Na gravação que o próprio Moro quer que seja divulgada e o Planalto vem enrolando para não apresentar ao ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, contém palavras fortes de Bolsonaro que pressiona sua equipe.

Segundo apurou o Estadão, a reunião foi recheada de palavrões, discussão entre ministros, distribuição de cargos para o Centrão e ameaças do presidente de demissão a quem não adotasse a defesa das pautas do governo.

No vídeo haveria confirmação de que Bolsonaro teria pressionado Moro na frente dos demais ministros para trocar o comando da Polícia Federal.

O governo pediu que o ministro Celso de Mello reconsiderasse o pedido do vídeo por se tratar de “assuntos sensíveis de Estado.” O Planalto também cogitou alegar não ter o conteúdo na íntegra mas apenas trechos da reunião, pois as gravações são “pontuais e curtas”, segundo apurou reportagem do Estadão.

Este encontro e o conteúdo da gravação estão sendo considerados tensos pelo próprio governo.

Ainda nesta quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro atravessou, a pé, a Praça dos Três Poderes foi com um grupo de empresários até o Supremo Tribunal Federal (STF) para falar com o presidente Dias Toffoli como forma de pressão para culpar também as instituições e os governadores pelas tragédias que assolam o país.

Os mortos vão chegando a 10 mil e os sistemas de saúde e funerário entram em colapso, mas a prioridade do presidente não são a doença e as mortes. A ele parece só interessar o poder e a reeleição.

Toffoli não caiu nas provocações e não deixou se intimidar, dizendo a Bolsonaro que, para enfrentar a pandemia e seus efeitos sociais e econômicos, “é fundamental uma coordenação (do governo federal) com Estados e municípios”, cobrando do presidente a formação de um gabinete de crise efetivamente nacional, que nunca existiu.

O ministro Toffoli lembrou ainda ao chefe do Executivo que “a Constituição garante competências específicas para os entes” (União, Estados e municípios) e, por isso, o Supremo já definiu que governadores e prefeitos têm a prerrogativa de adotar medidas de isolamento. Logo, se Bolsonaro pretendia arrancar do ministro Toffoli algum compromisso com sua estratégia destrambelhada de enfrentamento da pandemia, deve ter saído frustrado do encontro.