Pedro Ribeiro
(Foto: Geraldo Bubniak/AGB)

 

Em editorial publicado neste domingo, a Folha de São Paulo faz uma análise sobre os 40 anos do PT, sinalizando que o partido acumula motivos para júbilo, que decerto não serão desperdiçados, mas também para uma reflexão desapaixonada acerca de seus graves desacertos ao longo dessa trajetória, exercício que a sigla tem negligenciado.

Lembra que a agremiação tratou de dar voz e organização a parcelas da vanguarda do movimento sindical do país quando a ditadura caminhava para o ocaso. O movimento dos trabalhadores do ABC paulista rompia não apenas com o autoritarismo circunstancial, mas também com o modelo de cooptação estatal inventado sob Getúlio Vargas.

Os cargos eletivos conquistados pelo PT vieram crescendo em escala e importância até que, em 2003, produziu-se um salto quântico com a chegada de Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto, depois de três fracassos sucessivos.

O editorial mostra que favorecido pelas virtudes da política social e econômica da primeira gestão e pela conjuntura global, seu governo pôde comemorar expressiva redução das taxas de pobreza, associada à valorização do salário mínimo, ao Bolsa Família e à formalização de empregos.

Lula consolidou-se de vez como uma espécie de monarca do PT. O partido lucrava ao entregar-se ao jugo e ao culto de seu líder, mas ao mesmo tempo fechava as portas para a atualização e a autocrítica.

Com dinheiro e popularidade de sobra, e oposição escassa, o embrião oligárquico vingou. Velhos e novos cartórios de trabalhadores e patrões refestelaram-se nas verbas e na proteção do Estado. Empresas amigas e doadoras ganharam contratos multibilionários.

Dogmas fracassados sobre a condução da economia acoplaram-se à aventura do PT no governo para tentar justificar o desmantelo, como se os limites para a expansão da despesa e da dívida públicas tivessem magicamente desaparecido.

A metamorfose petista resultou em corrupção, escancarada no mensalão e na Lava Jato, depressão econômica e derrotas políticas.

Aos 40, perante a esfinge de Lula —ao mesmo tempo seu maior ativo popular e seu mais arraigado obstáculo à renovação—, é com esse legado que o PT terá de lidar. (Editorial da Folha).

NARCISO NO ESPELHO

Jornalista, escritor e publicitário, Alceo Rizzi, também escreve sobre o PT. “A cada manifestação que o sindicalismo populista faz como se de esquerda  fosse,  trazendo em seu reboque os  chamados marxistas de carona, mais estimulam a aversão a um conceito ideológico, certo ou errado, na cabeça de cada um. Parece haver uma capacidade impressionante, inexplicável e inesgotável, em empurrar antigos simpatizantes de esquerda para a social democracia, para o liberalismo de centro e mesmo para a direita. A cada dia que passa há uma superação no exercício narcisista de maniqueísmo, como se o público fosse apenas o que reflete o espelho. Tudo como se a mea-culpa fosse o obrigatoriamente  dele, e não da imagem distorcida. A presença samaritana de Mujica, ex-tupamaro e ex-presidente do Uruguai, sem condenação, ao lado de Lula no evento de 40 anos do PT,  é o retrato revelador e desfocado de uma ilusão. A triste mistura de um ideal com um oportunismo de   capa ideológica”.