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OS REQUISITOS DA OPINIÃO

OS REQUISITOS DA OPINIÃO

José Pio MartinsO ignorante tem opinião sobre tudo. O sábio, somente sobre o que ele conhece. Essa foi a resposta..

Pedro Ribeiro - segunda-feira, 10 de agosto de 2020 - 13:20

José Pio Martins

O ignorante tem opinião sobre tudo. O sábio, somente sobre o que ele conhece. Essa foi a resposta que dei, num debate sobre economia, em réplica de opiniões feitas por pessoas sem instrução formal na ciência econômica, sem conhecimento dos dados e que não estudaram as experiências onde aquilo havia sido implantado. Afirmei que ninguém precisa ter diploma de economista para entender os temas econômicos, mas ser ignorante no assunto e não ter se dedicado a estudá-lo só pode resultar em opinião amadora, sem base teórica e sem respaldo na experiência.

Muitas são as pessoas letradas, mas ignorantes em assuntos fora de sua área, que não se sentem constrangidas em opinar sobre outras áreas.O hábito de emitir opinião sobre tudo, principalmente sobre assunto não conhece, é apenas chute e resulta da preguiça de estudar e adquirir conhecimento. Todos somos ignorantes, apenas em assuntos diferentes. Logo um argumento sobre temas complexos somente tem credibilidade e merece consideração se estiver respaldado em conhecimento,experiência e informação.

Claro, ninguém está proibido de opinar, mas uma coisa é a opinião genérica, sem pretensão, outra coisa é a opinião técnica, bem embasada e responsável. O mundo é complexo, as ciências e as tecnologias evoluem sem parar, as teorias se multiplicam, as inovações e as descobertas ocorrem todos os dias. Cada vez mais o ato de estudar e adquirir conhecimento é requisito da opinião e da solução de problemas.

Para o escritor Charles Colton (1780-1832), “a dúvida é o vestíbulo pelo qual todos precisam passar para adentrarem o templo da verdade”. Quanto mais sábio um homem, mais ele busca estudar, pesquisar e conhecer, para aprender e enunciar suas ideias e propostas. Ao mesmo tempo, o verdadeiro sábio é humilde diante da imensidão do universo e do volume de conhecimentos científicos acumulados, por isso ele sabe que deve submeter suas ideias e opiniões ao exame crítico da ciência e da razão.

Uma ressalva: quando falo em “ignorância” não me refiro à falta de títulos e diplomas, pois estes não garantem a ninguém o ingresso no clube dos cultos e dos sábios. Atualmente, os meios e os recursos à disposição de quem quer estudar e adquirir conhecimento são tão amplos que tornou-se fácil e barato estudar e aprender. Portanto, não se trata de cargo, título ou diploma. Trata-se de conhecimento.

O escritor George Iles (1852-1942) alertou para o fato de que “a dúvida é o início, não o fim, da sabedoria”, pois é da dúvida que nasce o desejo de estudar e pesquisar, o que implica vontade, dedicação, disciplina e apreço pelo saber. Há que separar a opinião amadora, típica das discussões de boteco, da opinião profissional derivada de conhecimento adquirido.E o aprendizado, seja nos estudos teóricos ou na experiência prática, requer certos pressupostos. Um dele é “método”.

Em filosofia, método pode ser definido como o conjunto sistemático de regras e procedimentos que, em uma investigação cognitiva, conduzem à verdade. De uma forma geral, pode ser procedimento, técnica ou meio de fazer alguma coisa, especialmente de acordo com um plano. Estudar não é uma atividade fácil, exige tempo e esforço. Em relação à população, o número de pessoas que leem é muito pequeno.

A empresa Picodi analisa os hábitos de leitura e de compra de livros pelos brasileiros e, conforme pesquisa feita por ela no começo de 2019, a constatação foi de que 31% da população não lê livros, não tem o hábito de leitura e/ou não se interessa por livros no geral. Em 2016, saiu a pesquisa Retratos da Leitura, mostrando que a média de leitura é 4,9 livros ao ano, que 44% da população brasileira não lê 30% dos brasileiros nunca compraram um livro. E também que é grande o número dos que compram livros e não leem até o fim.

O grande escritor Monteiro Lobato (1882-1948), nascido em Taubaté-SP, afirmou que “um país se faz com homens e livros”, mas parece que por aqui seu alerta não foi muito ouvido. É bem verdade que parte da população brasileira é pobre, ou miserável, sem recursos para comprar livros. Mas, certamente, mesmo entre os que têm condições de comprar, o nível de leitura é muito baixo. A educação é o grande desafio.

José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.

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