Pedro Ribeiro
Foto: Valdecir Lizarte

 

Ainda tem muita gente, principalmente ligada ao Governo do Estado, que fala aos quatro cantos que o Paraná é uma “ilha de prosperidade”. Em alguns casos, algumas regiões que se destacam, até pode ser. Mas há muito a fazer para que, efetivamente, se transforme em um exemplo de crescimento e principalmente desenvolvimento. A começar pelo IDH-M – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal Médio que é inferior ao dos estados vizinhos, como Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que se enquadram no nível de “alto desenvolvimento humano”, enquanto o Paraná está na categoria intermediária, como avalia, através de estudo técnico, o professor José Pio Martins, colunista econômico do Paraná Portal. Veja alguns dados de seu trabalho socioeconômico sobre o Paraná:

Segundo relata, a renda per-capita no Paraná é inferior à dos estados vizinhos. Os índices de rendimento escolar (proficiência em língua portuguesa e matemática) são inferiores às médias de nossos vizinhos. O Ensino Fundamental e 3ª série do Ensino Médio coloca o estudante paranaense abaixo dos estudantes dos outros dois estados sulinos. Os índices de mortalidade infantil também são superiores aos de nossos vizinhos.

No entanto, visto em perspectiva, o Estado do Paraná apresenta um desempenho macroeconômico invejável: de uma economia monocultural, baseada no café nos anos cinqüenta,

evoluímos sucessivamente para uma situação agrícola policultural (lavoura de soja, milho, algodão e trigo, por exemplo) de porte empresarial, uma pecuária bovina e suína de alto volume e qualidade, uma avicultura importante, uma agroindústria diversificada e crescente nos anos noventa. Temos uma indústria com alguns pólos de modernidade (automotiva, eletromecânica…) e um número crescente de clusters industriais no interior.

O PARANÁ NÃO É UMA ILHA DE PROSPERIDADE

O Paraná não é uma ilha de prosperidade em meio ao oceano de pobreza em que está metido o Brasil. Durante muitos anos afirmou-se que nosso Estado era diferente. Beneficiado por suas terras

férteis e com forte influência da colonização européia – italiana, alemã, japonesa, polonesa – o Paraná foi cantado em verso e prosa como um Estado que se diferenciou da pobreza resultante da colonização portuguesa, indígena e africana.

Afora preconceitos envolvidos nessa análise, ainda que possa ser melhor do que muitas regiões do Brasil em alguns indicadores sócioeconômicos, o fato concreto é que o Paraná é um Estado pobre, com enormes carências sociais e metido num beco de estagnação econômica que vem desde que perdeu a euforia dos tempos da cafeicultura.

Nosso Estado é vítima dos males que transformaram o Brasil em um país pobre: 1) excessivo número de leis; 2) regras não claras e instáveis; 3) governo grande demais, ineficiente e corrupto; 3)

cultura antiempresarial, antilucro, contrária ao investimento estrangeiro e desfavorável à iniciativa empreendedora; 4) pouca abertura para o mundo; 5) carga tributária excessiva e confusa; 6) federação disfuncional em que os papéis da União, dos Estados e dos Municípios estão mal definidos; 7) excesso de regulamentação e intervenção governamental na vida das pessoas e das empresas; 8) precário sistema legal-judicial; 9) péssima legislação reguladora das relações trabalho/capital; 10) crescimento populacional exagerado; 11) descaso com a educação básica; 12) déficits públicos crônicos nos últimos 40 anos; 13) perda da capacidade de investimento do setor público; além de uma lista enorme de mazelas que o mundo já baniu, mas que ainda vicejam por aqui.

O Paraná não escapou de sofrer os efeitos de todo esse quadro que, a meu ver, levará um século para ser resolvido, se é que será resolvido um dia. Parece canto de um pessimista, mas não dá para fechar os olhos para a pobreza, a miséria e as péssimas condições de vida de mais da metade dos 183 milhões de habitantes do Brasil. Somos um dos piores lugares do mundo para quem tem alguma iniciativa e pretende montar um negócio, conforme revelam relatórios de organismos internacionais insuspeitos.

Ademais disso, o Paraná teve seus próprios problemas: fomos beneficiários e vítimas da monocultura do café. Quando em 1975 fomos atingidos por uma forte geada, golpe mortal na cafeicultura, o Estado migrou para a soja, continuou com o gado e o algodão, desenvolveu timidamente a agroindústria, mas não conseguiu entrar em um ciclo de industrialização moderna, como a eletrônica, a telemática, a química fina, a farmacêutica, a biogenética e outras que fariam parte da chamada “indústria do futuro”. O Paraná saltou de um comboio, mas não entrou em outro: ficou no meio da estrada, vendo o tempo passar e, até hoje, não sabe bem qual é sua vocação, qual será seu futuro. A população do Brasil passou de 90 milhões em 1970, para 188 milhões atualmente.

Se nosso Estado tivesse seguido essa toada e duplicado a população que tem hoje, talvez estivéssemos vivendo um quadro de grande miséria.

Não culpo a nenhum governo especificamente. Nós superestimamos a capacidade do governo de fazer o bem e ser o motor do crescimento. Atualmente já se sabe que o Estado não é a locomotiva do progresso, porquanto ele não está dando conta sequer de três tarefas vitais para a prosperidade de uma região: uma boa infraestrutura, uma boa educação básica e um bom ambiente legal-institucional para a iniciativa empreendedora. O crescimento econômico e, por conseqüência, o desenvolvimento social dependem do setor privado, que é a mola do progresso, conforme mostram os países que lograram crescer. Entretanto, a capacidade do governo em fazer o mal e atrapalhar é imensa, papel que, aqui no Brasil, o setor público exerce com grande maestria, para nossa tristeza e tragédia.

O Paraná também não mergulhou fundo no desenvolvimento do setor terciário, onde estão os grandes subsetores de serviços que fazem o progresso das nações desenvolvidas. A economia mundial corre fortemente para ser, cada vez mais, uma economia de serviços. A agricultura se mecanizou e não é mais fonte de geração de empregos, a indústria está seguindo a agricultura e a máquina toma o lugar do homem de forma contínua. Criação e inovação tecnológica, indústria de serviços (telecomunicações, energia, portos, informática, turismo etc) e grande capacidade de exportação são a combinação capaz de levar uma região ao desenvolvimento. O que é o Paraná nessas áreas? Quase nada ou, pelo menos, muito pouco.

Se quisermos sair dessa fila de mediocridade que é o Brasil, ainda que continuemos vítimas do trágico quadro geral brasileiro, temos de tomar outro rumo; e esse rumo tem que levar em

consideração essas novas ondas capazes de transformar a economia de uma região, sem descuidarmos, é claro, daquilo que já está por aí, a exemplo da agricultura e do agronegócio. Infelizmente, a sociedade e os políticos acreditam demais na capacidade do governo de criar renda e emprego do nada, quando deveríamos acreditar que o governo pode, no máximo, auxiliar na criação daquilo que gera renda e emprego: empresas e negócios privados.

 

José Pio Martins, economista e professor