Pedro Ribeiro
Foto: Divulgação

A questão das vacinas que, infelizmente, descambou para o lado político e especulativo, tem levado a população a se questionar se fica de um ou outro lado. Aparentemente, todos estão literalmente perdidos e à mercê do vento da biruta. A polêmica, instalada a partir do governador João Dória, de São Paulo, acabou colocando, no centro das discussões, o mais destacado instituto brasileiro: o Butantan. Em artigo que publicamos a seguir, o secretário de Estado da Saúde, procura tranquilizar a população e mostrar, nas entrelinhas, a necessidade da tutela do governo federal, que administra o Programa Nacional de Imunização (PAN).

Beto Preto

A estratégia da vacinação da Covid-19 no Brasil está ganhando contornos de esquizofrenia. Há várias décadas, mais especificamente desde os anos de 1970, do século passado, o nosso país estabeleceu diretrizes muito bem articuladas e eficientes de uma política de imunização. Ela se consolidou com o passar do tempo e também apesar dos diferentes governos.

O Programa Nacional de Imunização (PNI), do Ministério da Saúde, sempre foi o orientador das ações. Com ele, referência para o mundo, conseguimos inclusive eliminar muitas doenças, a exemplo do sarampo. O PNI é vertical e um grande guarda-chuva aberto para as estratégias dos estados e municípios.

Politizar a discussão sobre vacina A ou B não contribui para a busca da solução. A posição do Paraná é muito clara. É respeitar a linha orientadora do Programa Nacional de Imunização, que sempre foi o norte em todos os momentos da saúde pública. É surpreendente que agora isso parece ter sido esquecido.

E isso não é defender essa ou aquela posição político/ideológica. Mas reafirmar um programa que tem notoriedade, com equipes qualificadas e que têm expertise histórica na área, e que deu certo.

A vacina que previna o coronavírus deve ser segura, eficaz e acessível. E além disso, que tenha a certificação dos órgãos reguladores. Seja ela qual for.

Vacina não olha ranking social ou se vai imunizar alguém de direita ou de esquerda. Vacina é para salvar vidas, salvar pessoas.

A vacina tem que proteger do banqueiro àquele que usa o chinelo de dedo. Do empresário ao valoroso gari. Do chefe de Estado ao office-boy. Vacina precisa e deve ser universal.

Assim como são balizadores os princípios do Sistema Único de Saúde, da famigerada Lei nº 8080/1990, que asseguram universalidade, integralidade, equidade, dentre outros. É com este espírito que devemos trilhar, ainda mais no atual momento.

Por isso, aqui no Paraná, estamos preparados para colocar em ação a política e a diretriz nacional que, reafirmo, não representa defesa ou crítica de posição semelhante ou contrária de gestores ou suas opções de aquisição.

Temos, no Paraná, 1850 salas de vacina, distribuída pelas 399 cidades. Profissionais qualificados para fazer o procedimento. O Governo do Estado já reservou R$ 200 milhões para a compra de vacina para a Covid-19, se for preciso mesmo.

Mas delegar de forma independente aos estados e municípios um plano próprio de vacinação é desmontar a robustez, a qualidade e a prática que nos levou à excelência no quesito vacinação até os dias de hoje.

Essa corrida em busca de pactuação pela vacina com laboratórios diferentes por prefeitos e governadores sinaliza uma clara opção pela intenção de fragilizar o PNI, não necessariamente a garantia de alcance e atendimento a todos.

Por outro lado, se hoje clamamos pela necessidade de uma vacina para a retomada da normalidade, testemunhamos os baixos índices da cobertura vacinal para outras doenças. O sarampo, como citei, é uma delas. Erradicado no Paraná há mais de 20 anos, voltou!

Importante lembrar que temos outras tantas vacinas que estão à disposição da população também e são fundamentais.

Vacinar é um ato de amor, um ato de solidariedade humana, de solidariedade cristã.

 

*Beto Preto, médico, ex-prefeito de Apucarana, secretário de Saúde do Paraná

 

Leia também: Covid-19: Paraná confirma 39 mortes e 2.370 casos, mostra boletim