Pedro Ribeiro
Foto: Hully Paiva/SMCS

No início de maio, o Governo do Estado já sabia que haveria uma explosão de casos e de mortes pela Covid-19 no Paraná. O alerta foi feito pelo secretário da Saúde, Beto Preto, em entrevista que publicamos aqui no Paraná Portal, onde previa uma “explosão” com a chegada do inverno, no final de junho e início de julho.

Beto Preto se limitou, no entanto, a recomendar que haviam apenas três remédios que poderiam curar esta dor que, hoje, é chorada em mais de mil lares de paranaenses: isolamento familiar, distanciamento social e uso de máscaras.

O que podemos dizer, hoje, quando olhamos um quadro desolador com aumento de mortes anunciadas – quarta-feira foram 52 mortes que soma um total de 1.181 óbitos e 1.751 novos casos. Hoje, quinta-feira, foi registrado mais 2.263 casos e 46 mortes é que faltou ação mais rígida por parte das autoridades sanitárias e do governo.

Somado ao total no Brasil, que chega perto de 80 mil óbitos, podemos afirmar que se trata de um morticínio que poderia ter sido menor se não fossem as sucessivas trapalhadas de governos federal, estadual e municipal, todos na contra-mao da ciência.

No Paraná, o Governo do Estado, como disse, já havia alertado sobre a “explosão” e não conseguiu conter essa tragédia que ele mesmo anunciou.

O governo estadual – e muitos gestores municipais, principalmente de grandes cidades – continua testando a paciência dos paranaenses com decretos de fecha e abre do comércio e serviços não essenciais como se curvasse à pressões diante de uma pandemia sem precedentes na história recente do país.

A imprensa apenas divulga números contabilizados no dia anterior. Faltou comunicação técnica do governo, onde vimos, também, seu principal ator engessado em amarras políticas devido ao período eleitoral que se aproxima.

Falta clareza nas medidas do governo, pois são, constantemente, refutadas pelos municípios que têm autonomia, graças a medida adotada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, que acabou jogando mais gasolina no fogo e pelo próprio Ministério Público.

As medidas não são transparentes, nem em relação às restrições, nem em relação à duração, nem em relação aos critérios.

No último decreto, multa sequer foi regulamentada. 0 (zero) pessoas foram multadas nos termos do decreto porque a medida não foi colocada em prática. O recado é ruim para aqueles que estão dispostos a não cumprir as medidas sanitárias.

Excesso de decretos. Maringá, por exemplo, já editou 25 decretos diferentes desde o início da pandemia. Esse abre e fecha, pode e não pode, confunde a população.

A verdade é que pouca gente sabe, hoje, o que pode e o que não pode. São tantas regras e pormenores que a população está completamente à deriva. E quando vai a um shopping ou a um bar, por exemplo, é claro que não vai cumprir as regras. Muitos também não acreditam na doença.

Ausência de linha de crédito também é um ponto negativo. Empresários que querem contribuir com o combate à pandemia não conseguem acesso a linhas de crédito para manter a folha de pagamento e os fornecedores em dia enquanto permanecem de portas fechadas.

Apesar das perdas econômicas e do medo do novo coronavírus ter caído de 53% para 47% em relação ao primeiro levantamento, em maio, dados mostram que o brasileiro segue favorável ao isolamento social (84%).

O grupo das pessoas que saem de casa apenas para ações essenciais, como fazer compras ou trabalhar, aumentou de 58% para 67% entre maio e julho. Sobre o trabalho remoto, oito em cada dez entrevistados admitem que as tarefas que precisam entregar não podem ser feitas de casa.

A população está dividida quanto ao retorno das atividades do comércio de rua — 49% aprovam e 47% desaprovam —, mas sobre outros itens, como salões de beleza, bares e restaurantes, shoppings, escolas e universidades, academias e cinemas, a maioria dos brasileiros é contra a abertura. Os percentuais variam de 57% a 86% desfavoráveis a reabertura desses estabelecimentos. (Estes dados fazem parte da pesquisa CNI divulgada nesta quinta-feira).

O Paraná fechou a última quarta-feira (15) com os números mais elevados desde o início da pandemia. Foram 52 mortes causadas pela doença, elevando para 1.181 o total de óbitos. Os novos casos somaram 1.751, com o total atingindo 46.601.

No Brasil, com 1.261 mortes registradas em 24h, subiram para 75.523 os óbitos, sendo que a média diária da última semana foi de 1.067, crescimento de 8% em relação às mortes de 14 dias antes.

O percentual de ocupação dos leitos de UTI e de enfermarias destinados a pacientes com o novo coronavírus também atingiu patamar recorde.

No boletim epidemiológico desta quarta-feira, divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde, No informe epidemiológico divulgado no início de julho, o total de trabalhadores em saúde infectados era de 2.202, incluindo 343 médicos. A alta global foi de quase 60%, ou quase 40% entre médicos.

A Sesa não confirmou o período de intervalo entre as duas amostras. No primeiro período, o total de notificações estava em 16.688, com crescimento aproximado de 33%. Ainda não há estatística oficial sobre total de mortes de trabalhadores em saúde. Entre médicos paranaenses, há confirmação de cinco óbitos por Covid-19, sendo que um dos profissionais estava atuando na linha de frente. Nos últimos dias foram registrados óbitos entre profissionais de saúde, alguns deles da área de enfermagem e pelo menos um da área de radiologia e outro de asseio.

Existe um buraco muito grande de dor na alma do brasileiro. Esta ferida não tem cura, mas se deve evitar novos sofrimentos se as autoridades conseguirem, pelo menos, tirar lições dessa tragédia.