Pedro Ribeiro

Na queda de braço entre o prefeito e Curitiba, Rafael Greca, e o empresário Camilo Turmina, presidente da Associação Comercial do Paraná (ACP), em relação à liberação do transporte coletivo da capital e região metropolitana para que o comércio volte à normalidade, embora respeitando os protocolos das autoridades da área da saúde, fica a grande dúvida: haverá um aumento do contágio?

Turmina diz que a entidade representativa do comércio curitibano quer que os “ônibus só transportem passageiros sentados”. Já o prefeito Greca, em um momento de irritação, criticou o grande número de pessoas idosas, que deveriam ficar em casa, utilizando os ônibus como meio de transporte para se locomoverem, o que seria nocivo ao contexto.

Ao mesmo tempo em que diz que “com saúde não se brinca”, Turmina pressiona o gestou municipal. Para ele, “é fundamental que todos cumpram o horário acordado para o funcionamento. Com a compreensão e colaboração de todos, poderemos diminuir as aglomerações. Lutamos pela retomada das atividades econômicas, mas com responsabilidade e sempre observando as normas sanitárias”.

Nesse embate, é preciso cautela e ouvir as vozes de cientistas e autoridades da área da saúde. O secretário de Estado a Saúde, Beto Preto, não entra no mérito da discussão entre o empresário do setor do comércio e o gestor municipal mas sempre traz, na ponta da língua, a frase que requer análise: “os melhores remédios são isolamento familiar, distanciamento social e higiene”.

Consultei um cientista da área da saúde para ver sua opinião em relação ao abre, fecha, libera ônibus ou não em Curitiba, se haveria um aumento no número de infectados caso houver flexibilização no uso o transporte coletivo. Eis sua resposta: “Via piorar. Temos visto um aumento de casos, muitas pessoas circulando. Qualquer flexibilização agora é sempre temerária”.

PROJEÇÕES PÉSSIMAS PARA O BRASIL

Em nivel nacional, a BBC Brasil traz, em sua edição deste sábado, uma análise onde diz que “Se não houver nenhuma mudança significativa no avanço da pandemia no país, o Brasil pode superar os Estados Unidos em número de mortes de covid-19 no dia 29 de julho, aponta a projeção de um dos principais modelos matemáticos usados pela Casa Branca para definir suas estratégias. Nesse dia, o Brasil teria 137,5 mil mortos e os EUA, 137 mil.

Para tal, o número atual de mortes precisaria quase quadruplicar nos próximos 50 dias. Um avanço com uma magnitude dessas ocorreu nos últimos 30 dias: havia 10 mil mortes registradas em 9 de maio e 38 mil em 9 de junho.

Ao atingir esse patamar, o Brasil teria tanto o recorde mundial de mortos por covid-19 quanto o do número de mortes em um dia. Seriam 4.071, quase o dobro do recorde atual, que ocorreu no pico da pandemia nos Estados Unidos, em 14 de abril, com 2.262 mortes registradas. Se for considerada a taxa de mortes por 100 mil habitantes, o Brasil deve superar os EUA em 10 de julho.

As projeções foram feitas pelo Instituto de Métricas e Avaliação da Saúde (IHME) da Universidade de Washington, mas não necessariamente vão se concretizar. Elas se baseiam em diversas variáveis que mudam ao longo do tempo, como o número de casos confirmados e a adesão ao distanciamento social. De todo modo, essas simplificações da realidade servem de baliza para autoridades traçarem suas estratégias.