Pedro Ribeiro

 

Por Yuri Reck

Em podcast recente lançado pela renomada revista The Economist, intitulado de “The World in 2021”, apontam-se análises, previsões e especulações voltadas para o futuro.  O manifesto elaborado por mais de 50 especialistas lista avanços importantes já em andamento ou ainda como pautas e sugestões do que é possível fazer para nossa sociedade.

Entre as visões ali trazidas ou expostas por economistas, sociólogos, antropólogos, cientistas políticos, cientistas das ciências biológicas e das exatas, algumas chegam a assustar ou a preocupar. É o caso, por exemplo, das projeções para o mercado de trabalho.

É justamente sobre este ponto que gostaríamos de propor algumas reflexões, que nos parecem ausentes na matéria de The Economist. Como empreendedor do ramo da indústria, sinto-me à vontade para pensar alternativas e também para cobrar um plano das nossas autoridades.

Qual a natureza das mudanças para as quais devemos trazer respostas?

Acreditamos que as adaptações impostas pela grande pandemia de 2020, em escala mundial, se traduzem como novos hábitos que permanecerão. Propiciar uma rotina mais saudável e eficiente é o critério de fundo de muitas dessas mudanças, que vão da forma como nos alimentamos, comunicamos e trabalhamos, até a maneira de habitar e de nos transportar. A propósito, o percentual de deslocamentos a pé e de bicicleta cresceu muito nos centros urbanos nesses meses.

Seremos mais saudáveis, o que é muito bom; mas estaremos mais bem empregados?

Tanto o desemprego como a exclusão social são aspectos que acompanham, agravados, o novo cenário. Ao anunciar demissões em massa decorrentes do crescimento da inteligência artificial e da Iot – Internet das Coisas, The Economist argumenta que “o desemprego ocorre por motivos multifatoriais e não apenas por causa da crise econômica”.

De fato, a informação é verídica e já podemos sentir os reflexos disso. Várias profissões estão sendo extintas para que os avanços tecnológicos facilitem nossas vidas. Por outro lado, novas profissões surgirão e centenas de milhões de pessoas (ou até bilhões) precisarão inserir-se num mundo cada vez mais digital.

Como devem ser nossas respostas aos novos desafios que se apresentam?

Algumas das condições para que possamos sair da crise são instrumentais. É o caso do planejamento. Como disse recentemente o economista e ex-presidente do BNDES, Luiz Carlos Mendonça de Barros, “nosso país não tem planejamento estratégico, com começo, meio e fim”; insistimos em táticas e ações pontuais, sem a orientação de um plano.

Precisamos de liderança e planejamento, antes de qualquer outra coisa. E planejamento que incorpore a dimensão da sustentabilidade, agora já como qualidade indispensável (e não apenas desejável) a todo plano de recuperação econômica. Todo o desenvolvimento industrial, toda inovação tecnológica, todo investimento em infraestrutura, deverão estar alinhados às metas de redução do aquecimento global.

No curto prazo, aliás, Mendonça de Barros faz um alerta sobre a crise hídrica sem precedentes, que reduz em muito nossa capacidade energética para sustentar um crescimento suficiente à plena recuperação da economia.

Juntamente com a consciência do potencial de nosso País, dos seus recursos, mercado consumidor de centenas de milhões de pessoas e a imensa capacidade de desenvolvimento, temos ao menos umas poucas certezas para abrir o caminho do futuro. Já é possível assegurar que as mudanças climáticas serão o principal tema planetário após a pandemia da Covid.

Como deve ser o esforço de recuperação econômica no Brasil?

Já afirmamos acima que: 1. devemos fazer bom planejamento; 2. as metas de nosso planejamento devem ser metas sustentáveis. Falta dizer que o imperativo de conter e reduzir a mudança climática se traduz como uma profunda reforma da infraestrutura, das matrizes energéticas, da mobilidade (veículos elétricos entram fortemente na programação urbana), da relação com as águas e com os solos, dos padrões de habitação e consumo. Por exemplo, começando pelos nossos lares, com criação de políticas públicas e metas definidas para que as novas construções devam obrigatoriamente ter selo verde de sustentabilidade, que se tornei lei e não seja mais algo restrito e elitizado, como mote de propaganda. E ainda mais urgente e importante está a (in)segurança alimentar, a fome voltou a bater na porta da casa de milhões de brasileiros. É preciso universalizar o acesso a comida saudável e oriunda da agricultura familiar, onde se fortalecem os produtos orgânicos.

Em todos esses passos no sentido da transformação de nossa presença planetária, estarão presentes os avanços vertiginosos da tecnologia da informação. Breve deveremos completar a transição para a indústria 4.0 e para a Internet das Coisas.

A questão do futuro, porém, não estará pacificada se não incorporarmos, no conceito de sustentabilidade, o de bem-estar social. Haverá novos empregos neste novo mundo que se desenha? Haverá lugar para todos nesta nova sociedade? É possível criar empregos suficientes, ou renda suficiente, para todos os adultos em idade de trabalhar, neste novo mundo sustentável?

Das respostas que soubermos formular para essas grandes interrogações dependerá a qualidade da civilização brasileira do futuro. Pessoalmente, com base no talento da gente deste País, do nosso tamanho, protagonismo e nas proezas já realizadas, creio que temos razões para otimismo, no médio prazo.

Yuri Reck é curitibano, escritor e empresário do ramo da indústria de bicicletas compartilhadas, Diretor da Bike Fácil Soluções em Mobilidade Urbana

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