Brasil não vai reconhecer províncias rebeldes da Ucrânia, diz Mourão

Itamaraty tenta se equilibrar no delicado tabuleiro internacional e não se indispor com o governo Putin, já que a Rússia é parceira do Brasil no Brics.

O vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) rejeitou, nesta quarta (23), a possibilidade de o Brasil seguir o gesto da Rússia e reconhecer a independência das autoproclamadas repúblicas separatistas do leste da Ucrânia.

Na segunda (21), o presidente russo, Vladimir Putin, reconheceu os territórios rebeldes de Donetsk e Lugansk e decidiu mandar tropas para essas localidades – desencadeando sanções dos EUA e de aliados ocidentais da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

“Acho difícil isso aí, não é da nossa visão de relações internacionais. A gente sempre advoga a soberania dos países, e essa questão de separatismo é algo complicado”, declarou o vice, ao ser perguntado se há chances de o Brasil também reconhecer Donetsk e Lugansk.

“Nós sempre achamos que, por exemplo, para haver uma separação dessa natureza teria que haver um plebiscito, algo assim, de modo que fosse manifestada por uma maioria étnica a vontade de se separar do país ao qual ela pertence”, seguiu Mourão. “Temos vários países com problemas [com movimentos separatistas], como a Espanha, e isso não pode ser levado da forma como está sendo levado”.

Nesta quarta, Putin disse que está disposto a negociar uma solução diplomática para a crise com o Ocidente, desde que respeitados os “interesses e a segurança” de seu país que, para ele, são “inegociáveis”.

Até a fala de Mourão, a posição do governo brasileiro sobre a crise havia sido manifestada na segunda (21) pelo embaixador do país na ONU, Ronaldo Costa Filho, durante sessão do Conselho de Segurança.

Na ocasião, o diplomata brasileiro defendeu um cessar-fogo imediato, bem como a “retirada abrangente de tropas e equipamentos militares no terreno”. No entanto, Costa Filho não mencionou Putin em seu discurso e evitou qualquer condenação específica à decisão russa de reconhecer os territórios e ocupá-los militarmente.

Com isso, o Itamaraty tenta se equilibrar no delicado tabuleiro internacional e não se indispor com o governo Putin. A Rússia é parceira do Brasil no Brics –bloco também formado por Índia, China e África do Sul– e foi destino, na semana passada, de uma visita do presidente Jair Bolsonaro.

Na entrevista na manhã desta quarta, Mourão avaliou que as tensões no leste ucraniano não devem escalar para um conflito amplo com países ocidentais. Falando sobre a crise, o vice disse que não vê predisposição das potências do Ocidente em “levar as coisas até a última consequência”.

Disse ainda que a Rússia –país ao qual, inicialmente, referiu-se como União Soviética, até fazer a correção na sequência – atingiria o objetivo estratégico almejado ao conquistar a separação de Donetsk e Lugansk, na região do Donbass.

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